quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

DUZENTAS CRÔNICAS

 
Provavelmente já devo ter contado este caso antes, mas uma novidade fez com que eu tivesse vontade de recontá-lo.
 
Ainda na época do “Círculo do Livro”, minha mulher comprou ou ganhou o “Duzentas Crônicas Escolhidas”, de Rubem Braga. À medida que fui lendo esse livro fiquei tão encantado que tive vontade de selecionar as cinquenta melhores crônicas (segundo minha avaliação, lógico) e enviá-las por e-mail para todo mundo que conhecia.
 
Comecei a procurar o “Duzentas crônicas” na internet, mas só achava a opção "comprar". E assim mesmo o livro físico. “Mas eu sou brasileiro e não desisto nunca” - sinônimo de chato pra caramba. Por isso, sem me dar por vencido continuei a busca. Ralei bastante e acabei achando algumas crônicas do capixaba, mas nem sempre eram as que eu queria.
 
Aí tive a ideia (mente vazia é a morada do capeta!) de pesquisar frases e trechos das crônicas desejadas para ir colando até ter as cinquenta. Já imaginou que talvez até hoje eu estivesse fazendo isso, não é? Só que aconteceu o inesperado: descobri o livro inteiro em word em um site alemão!!!!
 
Estava tudo lá, mas era nitidamente um arquivo gerado a partir do escaneamento com OCR, com todos os defeitos desse aplicativo - letras trocadas, sinais gráficos soltos nas páginas e o mais trabalhoso: tinha sido escaneado de um livro pequeno. Por isso, os textos tinham "a cara" das páginas do livro escaneado, coladas no Word. Tentei vários artifícios, mas nunca consegui que o arquivo encontrado ficasse decentemente formatado em página A4.
 
E esse foi o maior trabalho. Comecei pacientemente a arrumar cada uma das aproximadamente quinhentas páginas do arquivo encontrado. Aí surgiu a pandemia e o Fabiano Caldeira, meu coach de publicação de e-books "de grátis". Resolvi então publicar na Amzon minha própria produção “literária”. E as “Duzentas” do velho e bom Rubem Braga foram ficando esquecidas no computador.
 
Talvez ficassem assim um bom tempo, mas ganhei de um dos filhos um livro muito bom. “Qual?”, dirão os leitores mais afoitos.(mentira, não tenho leitores tão afoitos assim). Ora, só poderia ser o livro “Duzentas Crônicas escolhidas”!
 
Não falei nada com meu filho (que ficou puto com meu silêncio):
- Por que não falou que já existia um aqui em casa? Eu trocaria por outro!
 
Mas eu queria ficar com o livro, porque se eu escrevesse com um décimo da elegância e lirismo do Rubem Braga eu ficaria muito convencido, pois o cara era brilhante. As crônicas abrangem um período de uns trinta anos e podem ser engraçadas, líricas, melancólicas, de quase todo tipo. E esse livro foi extremamente útil para ajudar na formatação final do texto em Word. Hoje a trabalheira de alguns anos finalmente acabou. Esta é a novidade a ser comemorada.

E minha nora, casada com esse filho finalmente ganhará o livro prometido há tanto tempo (“o bom filho à casa torna”).
 
Para terminar este irrelevante post-memória, nada melhor que uma frase do mestre Rubem Braga que encontrei na internet, uma amostra da ironia, estilo e elegância que eu gostaria de um dia conseguir emular:
 
Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:
"Eu sou lá de Cachoeiro..."

 

Um comentário:

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