Provavelmente já devo ter contado este caso antes,
mas uma novidade fez com que eu tivesse vontade de recontá-lo.
Ainda na época do “Círculo do Livro”, minha mulher comprou ou ganhou o “Duzentas Crônicas Escolhidas”, de Rubem
Braga. À medida que fui lendo esse livro fiquei tão encantado que tive vontade de selecionar as cinquenta melhores crônicas (segundo minha avaliação, lógico) e enviá-las por e-mail para
todo mundo que conhecia.
Comecei a procurar o “Duzentas crônicas” na
internet, mas só achava a opção "comprar". E assim mesmo o livro
físico. “Mas eu sou brasileiro e não
desisto nunca” - sinônimo de chato pra caramba. Por isso, sem me dar por
vencido continuei a busca. Ralei bastante e acabei achando algumas crônicas do
capixaba, mas nem sempre eram as que eu queria.
Aí tive a ideia (mente vazia é a morada do
capeta!) de pesquisar frases e trechos das crônicas desejadas para ir colando até ter as
cinquenta. Já imaginou que talvez até hoje eu estivesse fazendo isso, não é? Só
que aconteceu o inesperado: descobri o livro inteiro em word em um site
alemão!!!!
Estava tudo lá, mas era nitidamente um
arquivo gerado a partir do escaneamento com OCR, com todos os defeitos desse
aplicativo - letras trocadas, sinais gráficos soltos nas páginas e o mais
trabalhoso: tinha sido escaneado de um livro pequeno. Por isso, os textos tinham
"a cara" das páginas do livro escaneado, coladas no Word. Tentei vários
artifícios, mas nunca consegui que o arquivo encontrado ficasse decentemente
formatado em página A4.
E esse foi o maior trabalho. Comecei
pacientemente a arrumar cada uma das aproximadamente quinhentas páginas do
arquivo encontrado. Aí surgiu a pandemia e o Fabiano Caldeira, meu coach de publicação de e-books "de grátis". Resolvi então publicar na Amzon minha própria produção “literária”. E as “Duzentas” do velho e bom Rubem
Braga foram ficando esquecidas no computador.
Talvez ficassem assim um bom tempo, mas
ganhei de um dos filhos um livro muito bom. “Qual?”, dirão os leitores mais
afoitos.(mentira, não tenho leitores tão afoitos assim). Ora, só poderia ser o
livro “Duzentas Crônicas escolhidas”!
Não falei nada com meu filho (que ficou puto
com meu silêncio):
- Por
que não falou que já existia um aqui em casa? Eu trocaria por outro!
Mas eu queria ficar com o livro, porque se eu
escrevesse com um décimo da elegância e lirismo do Rubem Braga eu ficaria muito
convencido, pois o cara era brilhante. As crônicas abrangem um período de uns
trinta anos e podem ser engraçadas, líricas, melancólicas, de quase todo tipo. E esse livro foi extremamente útil para ajudar na formatação final do texto em Word.
Hoje a trabalheira de alguns anos finalmente acabou. Esta é a novidade a ser comemorada.
E minha nora, casada
com esse filho finalmente ganhará o livro prometido há tanto tempo (“o bom filho à casa torna”).
Para terminar este irrelevante post-memória, nada melhor
que uma frase do mestre Rubem Braga que encontrei na internet, uma amostra da ironia, estilo e elegância que eu gostaria de um dia conseguir emular:
Sempre
tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que
São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso
quando eu lhe disser em voz baixa:
"Eu
sou lá de Cachoeiro..."
Valeu pela dica. Vou conferir.
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