terça-feira, 9 de janeiro de 2024

PAREI DE DAR ESMOLAS - FABIANO CALDEIRA

 
Uma das cláusulas (quase) pétreas que regem o Blogson Crusoe é esta: “resposta grande vira post”. Em 99,9 % dos casos sou eu o autor da resposta. Hoje, entretanto, recebi um tijolaço do leitor Fabiano Caldeira. E como o blog é uma arena livre para que os leões comam os cristãos e os cristãos tentem comer as leoas, aqui as manifestações dos 2,1 leitores são sempre publicadas (mesmo que eu me enfureça com o que foi dito) e nunca se apagam comentários. Feitos os necessários esclarecimentos, aqui vai o comentário do Fabiano Caldeira deixado no post “Uma vez por semana”:
 
Parei de dar esmolas em quem fica na frente das entradas de supermercados e padarias justamente porque é o que pessoa quer: comover. E vendo que ganha uns trocos, ela não sai mais dali e ainda fala pros outros, que também usam a mesma tática em outros lugares.
Normalmente ando com moedas. Sim. Moedas. Quando me pedem na rua, acabo dando as moedas. Mas no caso em que planejam ficar em frente a estabelecimentos, jamais, pois eu estou ajudando o estabelecimento a falir, porque onde fica 1, ficarão 2, 3 e menos pessoas pagantes vão frequentar o lugar.
Várias dessas pessoas simplesmente pedem porque pedem.
Aqui tem muita gente dormindo na rua e sempre alguém em semáforos, mas já escolheram quais. Provavelmente onde veem que ganham algum.
Já comprei alimentos que me pediram, numa boa, passando no meu cartão. Nunca foi em dinheiro vivo, que é o que eles querem pra droga. Também tem aquele olhar clínico que faz a gente deduzir quem nos aborda uma vez e percebemos que a pessoa realmente precisa e podemos fazer uma ação, daqueles chupins drogados e vagabundos que simplesmente não querem nada com nada. Aqui muitos se viram vendendo balinhas, catando recicláveis, latinha, por que esses pedintes chupins não podem fazer o mesmo?
Esse é um tema muito complexo. Não dá pra resumir todo o contexto em um comentário. Existem pessoas e pessoas, pedintes e pedintes, o que faz negar esmola a um é dar a outros são detalhes na pessoa, o nosso humor, a fase da lua etc. Não é tão simples falar sobre isso.
Uma vez um cara me pediu pra comprar um lanche com mortadela e presunto que era vendido no lugar tal (perto dali). O cidadão não tinha nenhum defeito nas pernas, nada que indicasse mazelas, pelo contrário, tinha o abdômen trincado corpo bem trabalhado, só que sujo e largado. Falei pra ele que o lanche que ele queria eu não compraria, mas eu tinha em minha bolsa dois pacotes de bolacha que poderia lhe dar. Quando ele viu as bolachas, não quis. Insisti, ele não quis mesmo. Ainda perguntei, "você não disse que tá com fome? Essa bolacha é gostosa." Ele respondeu que só aceitava as bolachas Passatempo. Comecei a conversar com ele, mas o cara simplesmente falou "não quero bater papo, Vaza daqui." Não devia ter mais do que 25 anos a peça.
Como vê, é muito complexo. Mas o que estipulei pra mim é: não dou esmolas em quem fica na porta de estabelecimentos. Esse pessoal começou a entrar em shoppings aqui. Imagine você optar em ir ao shopping pensando que não verá esse povo lá e, de repente, você se depara com eles lá abordando você. Se ganharem esmolas, não sairão de lá e ainda se multiplicarão porque "aquele lugar de grã-fino rende". Daí adeus sossego. Se não der, eles procuram outro lugar porque o lugar grã-fino só tem gente sem coração, então ali não vira. Chegaram a abordar pessoas em frente ao caixa eletrônico, intimidando elas. Fui na administração, contei e desde então não vi mais esse incidente lá. Imagino que não fui o único a reclamar, pois eles não fazem nada com apenas uma reclamação.
Quando tive cachorro-quente, dava lanche de graça todo dia para uma mulher. Daí começaram a aparecer outros e com o tempo percebi que todos se conheciam. Então continuei a dar o lanche para a mulher, mas deixei bem claro e fui firme com ela, pra ela não falar de mim pra ninguém. Ela entendeu que eu não estava brincando.
 
Uma vez um cara pediu cinco reais para tirar os matinhos que cresciam na minha calçada. Normalmente eu mesmo os tiro, mas, para ajuda-lo eu topei. Ele fez um serviço tão bom que dei dez reais em vez de cinco. Sempre que posso, eu gosto de ajudar. Eu me coloco no lugar do outro. Sei que a vida é dura. Mas existe uma série de detalhes que me levam a ajudar ou não.


3 comentários:

  1. Texto engraçado que gostei de ler
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    Deixando cumprimentos. Feliz semana.
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    Poema: “ Como não te amar “
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    Respostas
    1. O Fabiano Caldeira, além de ser um dos seus 747 seguidores, é um grande desenhista.

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    2. Já te falei que no blog eu sou sincero.

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