Sr. Irany, Dona Laura, Sr. Ormindo, Dona
Ester, Zé Japonês, Seu Plínio, Dona Jovita... Que essas pessoas têm em comum? Algumas faleceram recentemente, outras não
reconhecem mais ninguém e outras, apesar da lucidez preservada não conseguem
mais sair de casa sozinhas. O que essas pessoas têm em comum é o fato de serem
octogenárias, nonagenárias e até centenárias. Gente que o Tempo atingiu de
forma mais visível e mais implacável.
Outro ponto em comum é o fato de terem tido
uma participação expressiva na vida e nas lembranças sócio-afetivas que o
bairro continua a guardar – apesar da demolição de casas humildes ou casarões
antigos, substituídos por prédios de muitos apartamentos e ainda sem nenhuma
história para contar.
Quando havia um toca-discos aqui em casa eu
pegava os LPs mais arranhados que queria escutar e despejava álcool com o disco
em movimento. Graças à ação da força centrífuga, logo, logo o álcool despejado
no centro ia sendo levado até à borda do disco. Eu acreditava que isso reduzia ou
eliminava o chiado produzido pelo uso excessivo e descuidado dos bolachões
prediletos.
Associando essa lembrança com os idosos que
me acostumei a cumprimentar e trocar dois dedos de prosa na padaria, na farmácia,
no armazém ou na igreja do bairro onde moro (mais idosos ainda que eu!), pensei
que a velhice é algo parecido com meus discos arranhados: enquanto a agulha vai percorrendo os sulcos do disco da primeira à última faixa, às vezes pulando, às vezes chiando, uma força centrífuga nos impele para a borda da
Vida, até que o disco finalmente pare de tocar.
Por ser o Legião Urbana uma banda ouvida por nosso filho mais velho (distante, portanto, da minha faixa etária), conheço muito pouco de suas músicas, só mesmo as mais manjadas. Mesmo assim, acho uma perda inadmissível a morte do Renato Russo, um poeta e compositor cem mil vezes melhor que o incensado Cazuza.
ResponderExcluirA música é ótima, mas, para ser sincero, só comecei a entender a letra lendo os comentários do Youtube. O que mais me sensibilizou foi este: “Essa música me resgata um misto de tristeza por lembranças e pessoas que se foram e um sentimento de exaustão por tudo o que perdi e fracassei”.
Eu não sou contra o Cazuza, sou contra o endeusamento que fazem dele. Ele não compunha melodias, era só o letrista. E mesmo que suas letras fossem inspiradas, ele não era muito bom de rima. Outra coisa que eu imagino que tenha tido é um convencimento muito grande de sua "genialidade". Ele devia ser chato pra caramba, essa é a impressão que tenho de suas entrevistas, declarações e postura, talvez por ter nascido rico e sem freio.
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