domingo, 14 de janeiro de 2024

SELO DE AUTENTICIDADE

 
Minha mulher ama acompanhar realities show e em especial o BBB. Eu até dou umas olhadas, mas durmo na maior parte do tempo. E isso se justifica não só pelo cansaço permanente em que vivo como pela predominância 
de mocréias e bagulhos na versão atual. Mas destaca-se naquele mar de gente feia e sem graça uma ilha de beleza e bom humor, que atende pelo nome de Yasmin Brunet.

Nas redes sociais a moça já é considerada uma “filósofa” pelas frases engraçadas e descontraídas que vai soltando em suas conversas com os brothers e sisters. Uma dessas frases, a melhor delas até agora, é esta:
Não existe nenhum homem no mundo que vai te tratar tão bem como o homem que quer te comer pela primeira vez, essa é a real. Ninguém!
 
***
 
Neste meio tempo li no site da revista Carta Capital uma notícia quase tão engraçada quanto a frase da sister. Segundo a reportagem, Editora francesa cria selo para certificar que livro foi escrito por ser humano”, pois “Cada vez mais livros autopublicados, especialmente em plataforma da Amazon, são escritos usando software de inteligência artificial generativa”. E a reportagem continua:
“Este livro foi realmente escrito por um ser humano, e não em poucas horas por uma inteligência artificial”: essa é a promessa de um selo de garantia editorial criado pela editora Librinova, em parceria com a empresa de certificação francesa Label création humaine, para autentificar a autopublicação de obras literárias, setor em plena expansão na França.
 
Achei tão divertida a criação desse selo de autenticidade, que tive vontade de ver o resultado proposto pela IA a partir da frase dita pela gata do BBB. Para isso, apresentei ao ChatGPT o seguinte pedido:
 
Gostaria que escrevesse uma crônica bem humorada de até duas páginas em formato A4 e fonte arial 12, usando como base a reflexão a seguir (e copiei a frase da filósofa).
 
Imediatamente surgiu este texto em inglês:
This content may violate our content policy. If you believe this to be in error, please submit your feedback — your input will aid our research in this area.
 
Mesmo sem saber falar inglês eu percebi a inutilidade do selo de autenticidade, pois quem desenvolveu o ChatGPT fez dele um aplicativo moralista e caretão, avesso a palavras e expressões vulgares ou de baixo calão. Por isso, refiz o pedido trocando o “quer te comer” para “te levar para a cama”. Aí o merdinha do aplicativo escreveu isto:
 
A vida é repleta de verdades inconvenientes, daquelas que preferíamos ignorar, mas que, vez ou outra, nos encaram de frente, rindo ironicamente. Uma dessas verdades, que muitos se esquivam de admitir, é que não existe nenhum homem no mundo que vai te tratar tão bem quanto o homem que quer te levar para a cama pela primeira vez. Ah, a sinceridade desconcertante da busca pelo romance!
Não sou uma filósofa do relacionamento, mas, por experiência própria e observação, percebo que o primeiro encontro é como um espetáculo cuidadosamente ensaiado. O homem, muitas vezes, se transforma em um misto de príncipe encantado e gentleman, disposto a conquistar até mesmo o coração mais cético.
A primeira vez é um ritual sagrado para esse ser em busca de afeto, e ele desbrava o território do cavalheirismo com maestria. Abre portas, puxa a cadeira, elogia a escolha do restaurante e até mesmo se interessa genuinamente pela sua história. Parece que você está sendo cortejada por um personagem de um romance clássico, pronto para oferecer flores e declarações apaixonadas.
Os elogios são como poesia declamada ao anoitecer, e o olhar fixo nos seus olhos faz parecer que você é a protagonista de um filme romântico. A química está no ar, e cada gesto é orquestrado para criar uma sinfonia de encantamento. Você se sente especial, desejada e como se estivesse prestes a viver um conto de fadas moderno.
Mas, minha amiga, não se engane! Esse desfile de gentilezas tem um propósito claro, um objetivo que, lá no fundo, ambos conhecem muito bem. O homem, em sua busca pelo amor, é capaz de encenar um espetáculo digno de Oscar, mas sabemos que, na maioria das vezes, o prêmio desejado não é uma estatueta dourada, mas sim a porta do quarto se abrindo.
No entanto, não quero soar como uma crítica amarga do jogo do amor. Na verdade, acho essa dança inicial bastante engraçada e, de certa forma, até admirável. Há algo de hilário na seriedade com que ambos interpretam seus papéis, como se estivessem em uma peça teatral onde o final é previsível, mas a jornada é cheia de surpresas.
Assim, enquanto somos cortejadas nesse espetáculo romântico, podemos nos permitir rir da ironia da situação. Porque, afinal, quem não gosta de ser tratada como uma rainha, mesmo que seja apenas por uma noite? E quem disse que o teatro do romance não pode ser um terreno fértil para boas risadas e histórias divertidas?
Então, da próxima vez que se deparar com um homem encantador na busca pelo primeiro encontro, abra um sorriso e entre na dança com leveza. Afinal, se a comédia do amor nos reserva momentos tão preciosos, por que não aproveitar cada ato como se fosse o mais divertido de todos? Afinal, o riso, assim como o romance, é um dos melhores remédios para a alma.
 
Falando sério, eu escrevo mal e minha escrita é cheia de topadas com a gramática, mas o texto acima é tão sem graça que eu me pergunto se precisa mesmo de um selo de autenticidade! Quando eu escreveria uma frase tão clichê como esta: "
Os elogios são como poesia declamada ao anoitecer"? Resposta: Nunca!

 


7 comentários:

  1. Lá no início da década de 1970 eu assisti a um filme que me marcou muito e de que sempre lembro quando penso nos realities A Fazenda e BBB. O filme tratava de um concurso de dança na época da Depressão, onde na quadra de um ginásio esportivo vários casais disputavam para ver quem seria o último a sair da disputa, com direito a um prêmio. Dançavam o tempo todo, com pequenos intervalos para ir ao banheiro e lanchar. Em determinados momentos a banda começava a tocar furiosamente, quando os casais tinham de fazer um carrossel em volta da quadra, correndo até a música lenta recomeçar. Foi um filme angustiante e com um final de que sempre me lembro, pela carga de tragédia que carregava.
    Os reality shows atuais têm um pouco dessa tragédia ao explorar os conflitos, as humilhações e constrangimentos a que os participantes são submetidos só para tentar ganhar um belo prêmio em grana. A exposição excessiva de sua vulgaridade, suas limitações, falta de educação e cultura enchem os olhos de quem assiste e de comentários as redes sociais.
    É um espetáculo deprimente, se você parar para pensar, mas é um espetáculo. E se é assim, não tem sentido para mim a participação de gente feia ou sem inteligência. O que eu espero ver nesses zoológicos de gente enjaulada? Ou a beleza dos “animais” ou suas habilidades de “caça” e de sobrevivência.
    Nada sabia da Yasmin, exceto o fato de ser filha de uma mulher tão gostosa quanto ela. Com sua fala transcrita no texto deste post percebi que também possui senso de humor e inteligência. Mas não torço por ninguém, justamente por estar dormindo na hora em que é exibido o resumo do dia.
    E, acredite se quiser, o tema principal deste post é o selo de autenticidade para livros escritos por gente de carne e osso.
    Se você quer saber o final do filme que assisti, a protagonista morre no final.

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  2. Vou discordar: urge, sim, a criação de um selo de autenticidade que seja eficiente. O texto, concordo, é chato e recheado de clichês, mas ainda assim superior a muito Paulo Coelho de carne e osso por aí.

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    1. Nesse caso até já sugiro um nome para esse selo: Selo YB de autenticidade (sacou, né?)

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    2. Tô vendo que se encantou mesmo pela Yasmim, né?

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    3. Eu sou do tempo em que sua esplêndida mãe exibia todos os seus atributos em poster de borracharia.

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    4. E que atributos, meu caro, e que atributos...

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  3. Mantenha-me fora dessa! No meu caso específico a realidade contesta seu julgamento.

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