"Eu
passei muito tempo aprendendo a beijar outros homens como beijo meu pai", assim cantou
Gilberto Gil. Ao longo do tempo, fui libertando e liberando emoções reprimidas
pela cultura machista existente. A primeira vez que chorei já adulto foi no
enterro de minha avó. Eu tinha 22 anos e nunca tinha visto ninguém ser
enterrado. Por isso, momentos antes do caixão ser colocado na sepultura, aquela
conjunção de choro e tristeza de minha mãe, tios, tias e demais pessoas fez com
que eu tivesse um espasmo de choro. Mas não era de dor nem de tristeza, era
apenas algo como se o leite se derramasse da leiteira ao entrar em ebulição.
Tempos depois, já casado, comecei a abraçar e
beijar nossos filhos, hábito que mantive à medida que iam crescendo e
tornando-se adultos. Continuo fazendo isso até hoje, quando já são casados e
têm filhas, mas nunca beijei meu pai. Embora ele me beijasse a testa, talvez
não se sentisse à vontade para beijar meu rosto, e talvez eu ficasse
constrangido de fazer isso com ele.
Passou mais um pouco de tempo e comecei a ser
beijado por alguns de meus cunhados machões quando já estavam bêbados, momentos
em que declaravam seu amor por mim. Não demorou muito para que eu também passasse a
beijá-los no rosto quando nos abraçávamos em aniversários, Natais e passagens
de ano, pois já nos tratávamos como irmãos. E assim eu me descobri um sujeito
emotivo e me permiti chorar de emoção e tristeza e beijar marmanjos barbados de
quem gosto muito.
Mas não consegui aprender a ser ignorado por
familiares. Quando minha mulher criou um perfil no Facebook para mim, achei que
era o momento de ter contato mais frequente com meus primos e tios. Comecei a
pesquisar e fui encontrando alguns, mas descobri que tinha chegado tarde à
internet, pois a maioria dos perfis encontrados ficava meses sem nenhuma
atualização ou acesso, como aconteceu com um primo que disse "- Oi, Zé", seis meses após eu
ter solicitado sua amizade. E depois disso, não postou mais nada, sinal de que
o Facebook para ele era um livro de páginas viradas.
Mas definitivamente o que mais me irritou foi
o fato de alguns primos e primas simplesmente se lixarem para o que eu escrevia
para eles. Apesar da grande diferença de idade e do pouco contato que tivemos
quando eram crianças, são primos e primas de primeiro grau por quem tenho
genuína e gratuita simpatia. Hoje essa diferença de idade é irrelevante, pois
alguns já são até avós. Acessam o Facebook com alguma regularidade, mas não
demonstram o mínimo interesse em ter pelo menos esse contato comigo - mesmo que
eu me alegre e demonstre isso ao encontrá-los em algum velório de tios ou casamento de filhos.
Esse tipo de comportamento de alguns de meus familiares me faz refletir se sou eu o ogro
que penso ser.
Não entendi. Qual parte do texto seria uma "benção" para você?
ResponderExcluirJB, eu até desativei meu Facebook por não usar. Realmente, considero uma rede social de "página virada". Kkkkk
ResponderExcluirAcredito que o que Fabiano quis dizer é que a "benção" seria o afastamento dos parentes, mas posso estar enganada.
Não te percebo como ogro, não. Mas demonstração de afeto via internet é realmente algo a ser discutido.
Você não me percebe como ogro porque é uma lady. Eu sou como o pequi, cascudo (tosco) por fora, carnudo por dentro e la no fundo, bem lá no fundo, um caroço cheio de espinhos (hoje eu estou inspirado! Deve ser pela sua volta). Maaas, voltando aos parentes, eu sempre gostei dessa cambada, mas perdi o contato e não visito ninguém. Por isso, achei que o facebook faria a liga do parentesco, mas me enganei. Acho que vou entrar no Instagram só para detonar todo mundo (hoje eu estou com a cachorra!).
ExcluirFabiano, às 6h13 eu disse não ter entendido seu comentário. Às 8h44 a Maju comentou. Às 9h02 eu respondi à Maju. Às 12h35 você supôs que a Maju tivesse influenciado o comentário destinado a você (feito às 6h13). Como pode ver, eu leio e presto atenção em tudo o que se comenta neste e em outros blogs.
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