quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

QUE OGRO SOU EU?


"Eu passei muito tempo aprendendo a beijar outros homens como beijo meu pai", assim cantou Gilberto Gil. Ao longo do tempo, fui libertando e liberando emoções reprimidas pela cultura machista existente. A primeira vez que chorei já adulto foi no enterro de minha avó. Eu tinha 22 anos e nunca tinha visto ninguém ser enterrado. Por isso, momentos antes do caixão ser colocado na sepultura, aquela conjunção de choro e tristeza de minha mãe, tios, tias e demais pessoas fez com que eu tivesse um espasmo de choro. Mas não era de dor nem de tristeza, era apenas algo como se o leite se derramasse da leiteira ao entrar em ebulição.
 
Tempos depois, já casado, comecei a abraçar e beijar nossos filhos, hábito que mantive à medida que iam crescendo e tornando-se adultos. Continuo fazendo isso até hoje, quando já são casados e têm filhas, mas nunca beijei meu pai. Embora ele me beijasse a testa, talvez não se sentisse à vontade para beijar meu rosto, e talvez eu ficasse constrangido de fazer isso com ele.
 
Passou mais um pouco de tempo e comecei a ser beijado por alguns de meus cunhados machões quando já estavam bêbados, momentos em que declaravam seu amor por mim. Não demorou muito para que eu também passasse a beijá-los no rosto quando nos abraçávamos em aniversários, Natais e passagens de ano, pois já nos tratávamos como irmãos. E assim eu me descobri um sujeito emotivo e me permiti chorar de emoção e tristeza e beijar marmanjos barbados de quem gosto muito.
 
Mas não consegui aprender a ser ignorado por familiares. Quando minha mulher criou um perfil no Facebook para mim, achei que era o momento de ter contato mais frequente com meus primos e tios. Comecei a pesquisar e fui encontrando alguns, mas descobri que tinha chegado tarde à internet, pois a maioria dos perfis encontrados ficava meses sem nenhuma atualização ou acesso, como aconteceu com um primo que disse "- Oi, Zé", seis meses após eu ter solicitado sua amizade. E depois disso, não postou mais nada, sinal de que o Facebook para ele era um livro de páginas viradas.
 
Mas definitivamente o que mais me irritou foi o fato de alguns primos e primas simplesmente se lixarem para o que eu escrevia para eles. Apesar da grande diferença de idade e do pouco contato que tivemos quando eram crianças, são primos e primas de primeiro grau por quem tenho genuína e gratuita simpatia. Hoje essa diferença de idade é irrelevante, pois alguns já são até avós. Acessam o Facebook com alguma regularidade, mas não demonstram o mínimo interesse em ter pelo menos esse contato comigo - mesmo que eu me alegre e demonstre isso ao encontrá-los em algum velório de tios ou casamento de filhos. Esse tipo de comportamento de alguns de meus familiares me faz refletir se sou eu o ogro que penso ser.


4 comentários:

  1. Não entendi. Qual parte do texto seria uma "benção" para você?

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  2. JB, eu até desativei meu Facebook por não usar. Realmente, considero uma rede social de "página virada". Kkkkk
    Acredito que o que Fabiano quis dizer é que a "benção" seria o afastamento dos parentes, mas posso estar enganada.
    Não te percebo como ogro, não. Mas demonstração de afeto via internet é realmente algo a ser discutido.

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    1. Você não me percebe como ogro porque é uma lady. Eu sou como o pequi, cascudo (tosco) por fora, carnudo por dentro e la no fundo, bem lá no fundo, um caroço cheio de espinhos (hoje eu estou inspirado! Deve ser pela sua volta). Maaas, voltando aos parentes, eu sempre gostei dessa cambada, mas perdi o contato e não visito ninguém. Por isso, achei que o facebook faria a liga do parentesco, mas me enganei. Acho que vou entrar no Instagram só para detonar todo mundo (hoje eu estou com a cachorra!).

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  3. Fabiano, às 6h13 eu disse não ter entendido seu comentário. Às 8h44 a Maju comentou. Às 9h02 eu respondi à Maju. Às 12h35 você supôs que a Maju tivesse influenciado o comentário destinado a você (feito às 6h13). Como pode ver, eu leio e presto atenção em tudo o que se comenta neste e em outros blogs.

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