quarta-feira, 10 de maio de 2017

A CERTEZA

Não sei se existe céu e inferno ou é balela
Se tudo é branco ou pintado de aquarela
Se há som de harpa e banquete com baixela
Se há lagosta e galinha à cabidela
Ou só marmita, fel e enxofre na tigela

Para onde eu vou?

Se há clarão de labareda ou só uma vela
Se há barreira ou guarita com cancela
Se há tapete, chão batido ou passarela
Se há porteiro, se há vigia ou sentinela
Se o acesso é livre ou precisa de tutela

Só sei que eu vou

Quando ela chega toda paz se esfacela
E toda a gente se pergunta com cautela
(que a Parca vem e não precisa de chancela)
Se crava os dentes e estraçalha ou é se banguela

Não sei, mas vou

Se incendeia, se destrói ou desmantela
O esconderijo onde a esperança se aquartela
Mata de febre, gripe, tifo ou salmonela
Mata de coice, queda ou males com sequela

Eu sei, mas vou

Não sei se há estrada, avenida ou viela
Se há um lago, rio ou mar com barco a vela
Não sei se há ponte, viaduto ou pinguela
Nem sei se a entrada é portinhola ou janela
Se é na barca de Caronte ou caravela

Um dia irei

7 comentários:

  1. Bom pra caralho, JB. Me lembrou um pouco, na ideia, O Poder, de Arnaldo Antunes.
    https://www.letras.mus.br/arnaldo-antunes/91729/

    em tempo e sem querer ser chato, mas cabe aqui, acredito, uma pequena reparação mitológica : Creonte foi o rei de Tebas que sucedeu a Laio - o pai do Édipo; a barca à qual acredito que tenha feito referência é a de Caronte, Caronte era o barqueiro do Hades.

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    1. Como diria o pessoal do Pasquim, “Ah, essa falsa cultura!”. Valeu pela dica, pois estava tão embalado em tentar dar nexo às frases que ia imaginando, que me esqueci de dar uma conferida na mitologia. Só faltou eu escrever “Belzonte”.

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    2. Complementando: o meu "vasto" conhecimento sobre mitologia grega foi adquirido na leitura dos livros do Monteiro Lobato (O sítio do Picapau Amarelo, O Minotauro e Os Doze Trabalhos de Hércules). Quanto ao Arnaldo, só conheço basicamente o que fez nos Titãs (para mim, o melhor letrista da banda, disparado). Aliás, um texto anterior a este de hoje ("Não sei que nome dar a isso") foi super ultra mega inspirado na letra da música "O Pulso". Vas vou procurar. valeu!

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    3. Pãããããta que o pariu!!! Meu interesse por mitologia também foi despertado pelos Doze Trabalhos de Hércules, do Lobatão. Inclusive, estou a lê-lo pro meu filho, que tem sete anos. Quase todos os dias, eu leio um trecho pra ele, o quanto ele aguentar. Quem sabe não contamino o moleque?

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    4. Foi com uns dez ou onze anos que eu li esses livros. E eles weram (são) não do caralho que eu não consigo entender a crítica e condenação politicamente (e ignorantemente) corretas que fazem dele e de sesu personagens. Pé no saco!

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  2. Acabei de ouvir "O poder", com o Arnaldo Antunes. Super legal, com o carimbo de fera que o Arnaldo tem. O que me divertiu foi a absurda desafinação que ele conseguiu nos tons mais graves. Mudando de assunto, o comentário anterior tem mais erros de português (digitação apressada) que um discurso de analfabeto.

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  3. Vai ver que é influência do depoimento do Lula.

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FOLHA DE PAPEL

  De repente, sem aviso nenhum, nenhum indício, nenhum sinal, você se sente prensado, achatado, bidimensional como uma folha de papel. E aí....