sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

O BRASIL NÃO CHORA POR BOLSONARO - RICARDO NOBLAT

 
Há um ditado popular que diz que "não se chuta cachorro morto". E eu concordo integralmente, pois é perda de tempo, rancor represado e coisas assim. Mas tenho também um traço talvez adquirido do exemplo de meus pais: eu sinto pena real das pessoas que sofrem mesmo que as odeie ou não tolere. E não é jogo de cena nem estou jogando "para a arquibancada". 

Eu senti isso ao ver a imagem do Bolsonaro com os olhos marejados, mesmo imaginando que o choro possa ter motivos dos mais condenáveis. Hoje, para mim, ele personifica o "cachorro morto" do dito popular. Por isso, parei de falar nele. Mas ontem ele se emocionou, lacrimejou e senti pena dele. Fiquei pensando no motivo. Talvez ele pense assim: "nunca mais um capitão vai receber continência de general". 

Mas pouco importa o motivo. O fato é que o choro mereceu uma crônica do Ricardo Noblat, que diz tudo o que eu já pensei do chorão. Olha aí.

Brasil não chora por Bolsonaro. Ele é que chora por ele. Mas quem não se lembrará do seu desgoverno?

O pastor evangélico Magno Malta (PL-ES), agora eleito senador, foi uma das primeiras pessoas a penetrar na sala do hospital de Juiz de Fora na noite de 6 de setembro de 2018, quando Bolsonaro, candidato a presidente da República, recuperava-se da cirurgia depois da facada que quase o matara.
Malta puxou várias orações e, enquanto o fazia, descobriu o corpo do enfermo e tirou uma fotografia para mostrar a extensão da cicatriz que acompanharia Bolsonaro pelo resto da vida. Postada nas redes sociais, a fotografia viralizou e até hoje reaparece de vez em quando. Bolsonaro ficou-lhe grato pela ideia que teve.
É, pois, com a autoridade de quem sempre esteve perto de Bolsonaro, que Malta, depois de visitar recentemente o único presidente brasileiro que tentou se reeleger e acabou derrotado, confidenciou a Valdemar Costa Neto, chefe do PL: “Bolsonaro já era”. Foi a impressão que ele lhe deu. Costa Neto ouviu calado.
Malta não é um caso de infidelidade a Bolsonaro, mas Tarcísio de Freitas (Republicanos), eleito governador de São Paulo com o apoio do presidente amorfo, deprimido e, como se não bastasse, vítima de uma crise de erisipela, pode, sim, ser considerado um caso de infidelidade. Em entrevista à CNN, Freitas disse:
“Eu nunca fui bolsonarista raiz. Comungo das ideias econômicas do governo Bolsonaro. A valorização da livre iniciativa, os estímulos ao empreendedorismo, a busca do capital privado, a visão liberal. Sou cristão, contra aborto, contra liberação de drogas, mas não vou entrar em guerra ideológica e cultural”.
É porque perdeu que Bolsonaro chora, como se viu ao receber, no Clube Naval de Brasília, os cumprimentos de fim de ano dos mais altos oficiais das Forças Armadas. Foi a terceira aparição pública dele em eventos militares nos últimos 10 dias. Se tivesse chorado pelos que morreram de Covid, talvez seu destino fosse outro.
Mas não. Além de não ter chorado, além de ter receitado drogas ineficazes para combater a pandemia, além de ter retardado a compra de vacinas, em março do ano passado, quando o país lidava com uma média de 4 mil mortos por dia, Bolsonaro afirmou em um vídeo inesquecível:
“Chega de frescura, de mimimi, vão ficar chorando até quando?”
Dissera antes:
“Eu não sou coveiro”.
Foi o coveiro de sua própria candidatura. É por essas e outras que o país não chora por ele.

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