segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

PEGANDO UM BRONZE

 
Hoje eu quero falar um pouco sobre falta de vergonha na cara. Mas que ninguém espere que eu vá falar de políticos, pois não estou interessado no estudo do pleonasmo. Meu negócio é comigo mesmo, com o passado, a memória. E se alguém ficar espantado ou até um pouco escandalizado peço desculpas, pois isso aconteceu mesmo (acho que senti alguma inquietação no ar. Por isso, sem mais delongas e decurtas vamos aos fatos).
 
No inimaginável ano de 1970 meu irmão namorava uma menina que eu também conhecia. Nunca confirmei essa história, mas ouvi dizer que embora ela namorasse meu brother, estava mais interessada em mim. Porra, por que ficou escondendo jogo? Eu jamais trairia meu irmão, mas sempre fui a favor do ditado “rei morto, rei posto”. Mas não é sobre essa figura geométrica euclidiana sentimental e platônica que quero falar. Por isso, continuemos.
 
Os pais dessa menina resolveram passar uns dias em Guarapari, em um hotel ou apart-hotel em que tinham feito reserva ou a que tinham direito de se hospedar, não me lembro mais.   Arrumaram malas e cuias em uma Vemaguete, puseram as três filhas dentro e se mandaram.  
 
Além da namorada de meu irmão, a irmã mais velha também tinha seu boy friend, um cara gente boa pra caramba (eu conhecia a família toda). Por isso, com a viagem já definida, os namorados também resolveram pegar uma praia (pois já estavam pegando as meninas). Aqui um pequeno parêntese: meu irmão sempre me chamou para também fazer o que achava bom. E esse carinho de irmão mais velho eu jamais esquecerei (mesmo que hoje não converse mais com ele). Por isso, perguntou se eu também não quereria pegar um bronze na praia dos mineiros.
 
O “lógico!” talvez não tenha sido instantâneo, pois não tinha grana, não tinha onde ficar e continuava com dor de corno pelo término do namoro com o Amor da minha vida. Mas resolvi encarar. Conhecia uma menina deliciosa (que me pergunto por que nunca tentei uma aproximação, mas acho que a resposta estava na minha indigência, magreza e feiura), que me emprestou dois sacos de dormir (os sleeping bags da música do Gil). Depois disso, partiu Guarapari!
 
A viagem foi feita de trem até Vitória, aonde chegamos com a bunda quadrada por volta das 16 horas (e depois de umas dezoito horas de viagem, sem sacanagem). Durante as próximas duas horas ficamos coçando saco na cidade até pegar um ônibus cheio que nos deixou em Guarapari. Como estávamos varados de fome por não ter almoçado, resolvemos comer alguma coisa primeiro, antes de procurar as meninas (pelo menos naquele momento, creio que nenhum dos dois estava pensando em comer as namoradas. Piada ruim e machista!).
 
Paramos em um botequim copo sujo cuja porta, segundo a lenda, havia dez anos que não fechava (mas creio que não era charme, era ferrugem mesmo). Eu era um caipira que nunca tinha comido um PF; por isso, avisei aos dois companheiros de sofrimento que comeria tudo o que viesse no prato. E comi.
 
Os pratos que chegaram tinham uma forma montanhosa, de tal forma que ao atacar o arroz um pouco de feijão caia na mesa. Se o foco era o ovo ou o bife de carne de segunda, era a vez do arroz cair. Comi macarronada (que odeio até hoje), e cebola crua, que passei a amar. Para quem já estava meio puto e de saco cheio, aquela comilança foi um providencial antidepressivo natural.
 
Depois disso, sabendo o endereço onde estavam hospedadas as meninas, saímos à procura do hotel. Esse hotel ficava separado da praia por uma espécie de falésia, pois era construído sobre um platô uns trinta metros acima do nível do mar.
 
Mas agora, vocês me desculpem, pois a vontade de continuar escrevendo passou. Mas volto amanhã, no mesmo bat canal. Hasta mañana!
 

Um comentário:

  1. Continua hoje. O texto estava meio grande. Por isso e também por falta de inspiração eu o dividi em três. Ainda estou revisando os dois últimos.

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