quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

PEGANDO UM BRONZE - PARTE III

 
Continuando:
 
Eu estava de cabeça raspada, era super magro mas ainda tinha uma barriga de tanquinho (herança dos tempos da natação) e usava uma sunga super minúscula. Saí da água e sentei-me na areia. Coincidência ou não, logo um sujeito fortão, um maçaranduba uns vinte anos mais velho que eu sentou perto. E puxou conversa. “Água boa, sol quente, vai pular carnaval?” Fiquei meio cabreiro, imaginando que ele poderia estar com algum tipo de pensamento inadequado. "Comigo não, mané, aqui não rôla nada, ou melhor, não rola”. Mas logo percebi que só estava interessado em fazer negócio, estava só prospectando clientes potenciais.
 
Contou-me que era o chefe da segurança do clube local e perguntou se eu iria pular carnaval, pois o Rei Momo já estava prestes a começar seu reinado de quatro dias (naquela época). Disse a ele que não, que estava duro, mas perguntei se me deixaria entrar na festa sem pagar. Falou que tentaria, que era para aparecer lá na porta e mandar chamá-lo. Beleza!
 
Na primeira noite, à falta de roupa melhor, vesti só uma calça jeans (não tinha bermuda) e peguei um colar riponga emprestado das meninas, feito todo de continhas multicoloridas. Imaginou a figura? Magro, careca, sem camisa e com um colar idiota balançando no peito. A quem eu iria interessar?
 
Cheguei à porta do clube, cheio de gente querendo entrar, comprar ingresso, etc. e pedi para chamar o fodão. Chegou e já foi avisando: “se você conseguir uns dez caras para comprar ingresso na minha mão eu te deixo entrar.” O cara precisava era de cambistas e embolsaria todo o dinheiro conseguido assim!
 
E lá foi o mané chegando perto de todo mundo e oferecendo essa pechincha. Não me lembro de ter “batido a meta” da contravenção, mas insisti para que me deixasse entrar. Meio a contragosto, concordou.
 
Ao entrar no salão o pau já estava quebrando, mas era diferente de BH. Na minha cidade as moças desacompanhadas e os casais ficavam “giramarchando” em volta do salão, enquanto os homens solteiros ficavam à espreita, prontos para atacar a primeira que olhasse em sua direção (foi assim que comecei a namorar minha Amada). Mas lá, não. Lá as gostosas ficavam brincando em cima das mesas, deixando o salão para casais e homens desacompanhados. Tentei convencer algumas  a descer da mesa, mas fui totalmente ignorado.
 
Ainda deu para ver a chegada de um cantor “famoso”. “Famoso” e seboso, conhecido depois como Fábio Stella graças a seu único sucesso conhecido (“Stella-a-a! em que estrela você se escondeu?”).
 
Lá pelo meio da noite, sem grana para tomar uma mísera coca cola, sozinho, desacompanhado e sem conseguir pegar ninguém, a solução foi voltar para a Vemaguete. Nas noites de domingo e segunda-feira aconteceu a mesma coisa. Só o que mudou foi ter devolvido a porra daquele colar idiota. Na terça feira gorda não quis nem saber se índio queria apito ou não, pois já estava de saco cheio de tanto programa de índio.
 
Se você, cara leitora, estimado leitor, espera uma lição de moral extraída de uma fábula praiana, só posso dizer que esse episódio deprimente foi tudo, menos uma fábula. E que moral mesmo só existe em fábulas. Na vida real sempre é possível encontrar alguma imoralidade, amoralidade ou as duas juntas. E fim.

4 comentários:

  1. Quem me dera! É estranho falar isso, mas não me arrependo de muitas das coisas que fiz ao longo da vida, mas sinto vergonha de tê-las feito.

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  2. A vergonha e o arrependimento não andam sempre juntos. Neste caso, por exemplo, nunca me arrependi de ser cúmplice de uma ilegalidade, mas morro de vergonha de ter agido assim, por mais paradoxal que isso seja.

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  3. Kkkkk
    Confesso que, assim como Fabiano, esperava um clímax relacionado a paqueras. Mas adorei a história.

    Lembranças de praia, pra mim, são sempre muito especiais, guardadas num cantinho único da memória. Você já teve um amor de verão, JB?

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    Respostas
    1. Olha, Maju, provavelmente posso ter tido, mas tenho plena convicção que era platônico, pois eu era horrível para pegar alguém. A primeira namorada me chifrou no carnaval, a segunda idem. E minha mulher, essa sim, eu a conheci no carnaval.

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