Meu pai nasceu no jurássico ano de 1911, em
São José dos Oratórios, antigo distrito de Ponte Nova. Isso significa que se
ainda fosse vivo seria muito, muito velho, pois teria inacreditáveis 111
anos. Provavelmente sentiria orgulho de saber que seu amado distrito
transformou-se no município de Oratórios, com a gigantesca população de 4.486 habitantes, segundo o censo de
2010.
Às vezes me pergunto como teria sido sua infância naquele cu de mundo (que ele amava), pois me lembro de pouca coisa que contou sobre essa época. Passados tantos anos, é necessário muito esforço para tentar imaginar a vida levada por um menino na faixa dos sete aos onze anos, em um distrito de uma cidadezinha do interior mineiro, no início do século XX, um lugarejo com população que talvez não chegasse a mil almas.
Sei que tinha uma carrocinha puxada por um bode branco (a que deu o nome de "Cabritito"), achava a coisa mais linda uma repulsiva galinha garnizé de pescoço pelado, devia andar descalço, nunca aprendeu a nadar, soltava pião, coisas assim. Outra lembrança é a reprodução de um ditado local, uma espécie de "Lei de Murphy caipira", que estabelecia que "menino bobo é que acha canivete".
Meu pai explicava essa "lei probabilística", dizendo que naquele fim de mundo, a melhor coisa que um garoto esperto podia desejar possuir era um canivete, tantas as utilidades que podia ter. Assim, encontrar um canivete que alguém teria perdido era como ganhar na loteria, uma possibilidade remota, aparentemente reservada apenas aos meninos idiotas, ignorantes de suas múltiplas aplicações.
Mas quais seriam essas utilidades? Descascar laranjas certamente seria uma delas. Cortar e afeiçoar uma forquilha de goiabeira para fazer estilingue (ou bodoque) seria outra. Fazer entalhes em madeira, talvez. Que mais, que mais poderia ser feito? Sinceramente, não consegui imaginar mais nada, sinal claro de que se eu tivesse vivido naquele lugar, naquela época, fatalmente teria achado um canivete. Pensando bem, um só não, talvez dois ou até mais.
Às vezes me pergunto como teria sido sua infância naquele cu de mundo (que ele amava), pois me lembro de pouca coisa que contou sobre essa época. Passados tantos anos, é necessário muito esforço para tentar imaginar a vida levada por um menino na faixa dos sete aos onze anos, em um distrito de uma cidadezinha do interior mineiro, no início do século XX, um lugarejo com população que talvez não chegasse a mil almas.
Sei que tinha uma carrocinha puxada por um bode branco (a que deu o nome de "Cabritito"), achava a coisa mais linda uma repulsiva galinha garnizé de pescoço pelado, devia andar descalço, nunca aprendeu a nadar, soltava pião, coisas assim. Outra lembrança é a reprodução de um ditado local, uma espécie de "Lei de Murphy caipira", que estabelecia que "menino bobo é que acha canivete".
Meu pai explicava essa "lei probabilística", dizendo que naquele fim de mundo, a melhor coisa que um garoto esperto podia desejar possuir era um canivete, tantas as utilidades que podia ter. Assim, encontrar um canivete que alguém teria perdido era como ganhar na loteria, uma possibilidade remota, aparentemente reservada apenas aos meninos idiotas, ignorantes de suas múltiplas aplicações.
Mas quais seriam essas utilidades? Descascar laranjas certamente seria uma delas. Cortar e afeiçoar uma forquilha de goiabeira para fazer estilingue (ou bodoque) seria outra. Fazer entalhes em madeira, talvez. Que mais, que mais poderia ser feito? Sinceramente, não consegui imaginar mais nada, sinal claro de que se eu tivesse vivido naquele lugar, naquela época, fatalmente teria achado um canivete. Pensando bem, um só não, talvez dois ou até mais.
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