Recebi pelo Facebook este “textão”, na
verdade um artigo escrito por Juan Arias no jornal El País. Não tenho a menor ideia
de onde vêm os dois nem sua linha editorial, apenas fiquei tão bem impressionado
com o texto que resolvi guardá-lo, por ser muito eloquente e otimista (para
mim!).
Como tenho andado às voltas com minhas séries
idiotas nem pensei em aproveitá-lo no Blogson. Entretanto, depois de ver "o vídeo" e ouvir o que se
disse na última reunião de que o Moro participou, mudei de ideia. Menos pelas
patacoadas ditas pelo presidente, pois todos sabem que ele é uma cavalgadura
que se acha o paladino da luta anticorrupção - mas não aceita que seus
filhos e amigo sejam investigados.
O que realmente me deixou consternado foi
ouvir o que disseram os ministros da Educação e do Meio Ambiente. A exclamação "eu odeio a expressão 'povos
indígenas'!", repetida de forma enfática pelo sinistro da Educação me deixou perplexo. "Só há um povo, o povo brasileiro",
e "quem não gostar que saia de
ré". Que idiotices são essas? Se tivesse nascido na Espanha, queria vê-lo falar para os bascos ou catalães que só há um povo espanhol!
Talvez minha transcrição não seja literal, pois apenas guardei de cabeça. Mas cabe lembrar que independente do que diz a Constituição sobre a população indígena, se há um povo genuinamente brasileiro são os índios. Nós somos apenas descendentes dos invasores e de seus exterminadores. Talvez por isso ainda existam pessoas que não acham nada demais acabar com a população indígena.
Talvez minha transcrição não seja literal, pois apenas guardei de cabeça. Mas cabe lembrar que independente do que diz a Constituição sobre a população indígena, se há um povo genuinamente brasileiro são os índios. Nós somos apenas descendentes dos invasores e de seus exterminadores. Talvez por isso ainda existam pessoas que não acham nada demais acabar com a população indígena.
Já o ministro do Meio Ambiente, outro babaca
que mostrou as garras, teve a desfaçatez de propor "passar a boiada" ou fazer uma "baciada" para mudar regras que podem ser questionadas
na Justiça enquanto a atenção da mídia está voltada para a Covid-19(!!!) Segundo
ele, "Tem uma lista enorme, em todos
os ministérios que têm papel regulatório aqui, para simplificar. Não precisamos
de Congresso". Grandessíssimo filho da puta!
Na época do PT, eu sentia o mesmo desconforto
e a mesma raiva em relação ao Lula e ao partido da Gleisi, especialmente quando o
nove dedos exibia seu comportamento de semianalfabeto (sim, eu sou elitista).
Mas o PT dançou, o Lula foi preso e eu INFELIZMENTE ajudei a eleger o Bozo,
pois votei nele no segundo turno. Então, por tudo que disse acima, resolvi
postar o texto na íntegra, sem edição, sem destaque nenhum, sem sublinhado e
sem negrito, porque eu não suporto mais saber das barbaridades que o presidente
e sua gangue de adoradores cometem, tuitam ou falam quase todos os dias. Apenas reforço o fato
de que o autor é Juan Arias e que esse artigo teria sido publicado no jornal “El País”. Olhaí o artigo:
Por que
o bolsonarismo-raiz engendrado nos gabinetes do ódio não terá futuro no Brasil?
Uma
seita com essa força destrutiva e niilista nunca será a vocação de um país que,
apesar de todos os defeitos, não renuncia à alegria de viver em paz
JUAN
ARIAS 28/04/2020
É
difícil ser profeta nesses tempos conturbados, mas pelo que conheço de
Brasil o bolsonarismo-raiz, o que se nutre nas cloacas do gabinete do
ódio do clã familiar Bolsonaro, não terá futuro nesse país. Logo ficará
reduzido a uma excentricidade política que ainda poderá fazer barulho, mas que
não será um movimento de peso. Acabará sendo marginal quando aparecer uma
proposta democrática alternativa capaz de tirar o país do pesadelo
autoritário e grotesco no qual está chafurdando.
Em que
me baseio? No fato de que o chamado bolsonarismo nasce do radicalismo da
política vista como guerra, como confronto permanente, como morte mais do que
vida.
É bom
lembrar que o pai da psicanálise, Sigmund Freud, descobriu, inspirado
na filosofia grega, que o mundo se move entre duas grandes pulsões: a
do eros, que seria o amor pela vida, à procriação, à sexualidade, ao
prazer e ao amor, e de tanatos, que lembra o deus da morte. É o impulso da
destruição, da violência e do sadismo.
Segundo
Freud, o mundo continua de pé porque o impulso da vida é superior ao da morte.
Do contrário, já não existiria. Nós teríamos nos autodestruído.
Acontece
o mesmo na política. Há momentos em que o impulso de morte e destruição, o
totalitarismo, parece triunfar, mas por fim vencem os valores da vida e da
liberdade como aconteceu na Europa após a tragédia da Segunda Guerra Mundial.
Há
países que sempre foram mais inclinados a viver sob o tanatos destrutivo e
outros preferem crescer sob a força da vida e da liberdade que são as chaves da
felicidade.
E o
Brasil? Esse é um país que, apesar de um passado de bárbara
escravidão que deixou marcas na pobreza e no abandono milhões de
pessoas largadas a sua própria sorte, não pertence aos propensos a
fomentar fantasmas de morte. Se o Brasil tem pecados, em certos momentos de sua
história, é mais por passividade e servilismo ao poder do que pela guerra.
É um
país com vocação, em suas diferentes e ricas culturas, ao desfrute da
vida. Um país que não é geneticamente guerreiro.
De modo
que o bolsonarismo, tal como se apresenta hoje sob a bandeira da violência
e da morte, da política vista como um ringue de bairro, não pode criar raízes
profundas nesse país.
Eu me
atreveria a dizer que o bolsonarismo extremo, o da gritaria, que às vezes pode
assustar, não é mais do que uma dessas seitas fanáticas que nascem e
morrem sem deixar rastro. Essa política se nutre somente de negatividade. Cria
inimigos imaginários e por fim se mostra de uma infantilidade espantosa.
Essas
seitas são destrutivas, procuram brigas e se alimentam de símbolos de morte.
Basta ver o caixão que levam nas manifestações como símbolo de sua morte
anunciada.
Querem
sempre guerra e luta porque a paz os assusta. E quando não existem inimigos os
criam. Destroem tudo o que evoca o gosto pela vida, a alegria e a liberdade.
Por isso não suportaram e assassinaram a jovem negra e favelada, a ativista
Marielle Franco.
Essas
seitas religiosas e políticas precisam de um mito para suprir sua
nulidade como manada. Sofrem de complexo de castração. Professam uma
sexualidade doentia adornada com símbolos que beiram a pornografia.
Cultivam
os símbolos da morte e da destruição porque viver lhes dá medo. Sua vocação é a
satânica de dividir. Agem nos meandros da obscuridade que é o reino da mentira.
Quando
não encontram inimigos os inventam. Precisam manter vivo o diapasão do ódio.
Por isso nadam com maestria nas águas escuras das fake news.
Negam a
compaixão. A bile e o amargor são os primeiros ingredientes de suas cozinhas.
Essas
seitas da morte acabam por fim como canibais devorando uns aos outros. A maior
curiosidade mórbida, os melhores orgasmos políticos do bolsonarismo-raiz, vêm
da paixão pelas armas e por todo o ritual gestual e simbólico da guerra.
O Deus
da seita é o dos trovões e dos medos, o vingador, o deus que se compraz com a
destruição dos inimigos. Eles que se dizem seguidores da Bíblia nunca
entenderão a emoção de Jesus de Nazaré ressuscitando seu amigo Lázaro e ao ver
um leproso curado.
Ao
final, toda essa agressividade e fome de guerra e conflitos do
bolsonarismo-raiz revelam sua incapacidade à felicidade. Eles se afogam em seus
próprios instintos de destruição.
Os diferentes
sexualmente lhes dão pânico porque ameaçam sua falsa virilidade. A ternura lhes
dá medo porque condena sua índole machista.
Eles se
sentem melhor às portas de um cemitério do que diante do berço de um
recém-nascido. Seus impulsos de morte sempre superam os de vida.
Esses
seguidores de morte e luta se assustam diante dos mansos porque definitivamente
os desarmados lhes dão medo. Mostram coragem somente diante dos frágeis porque
os verdadeiros fortes, que são os que não temem a morte, desnudam sua falsa
hombridade.
Não,
uma seita com essa força destrutiva e niilista nunca será a vocação de um
Brasil que, apesar de todos os seus defeitos, não renuncia à alegria de viver
em paz. Só poderão impô-la com a força dos tanques de guerra.
Os dois
populares ministros, o da Saúde, Mandetta, e o da Justiça, Moro, ambos
recentemente expulsos do Governo, representam juntos, de acordo com as últimas
pesquisas, 75% do consenso popular. O que evidencia que o gabinete do ódio está
se esgotando. Quem lhes resta? O Brasil não está mais com eles.
Muito
otimista? Talvez, mas o pessimismo já deixou nossas gargantas secas demais.
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