segunda-feira, 1 de junho de 2020

ARTIGO DE JORNAL - JUAN ARIAS

Recebi pelo Facebook este “textão”, na verdade um artigo escrito por Juan Arias no jornal El País. Não tenho a menor ideia de onde vêm os dois nem sua linha editorial, apenas fiquei tão bem impressionado com o texto que resolvi guardá-lo, por ser muito eloquente e otimista (para mim!).

Como tenho andado às voltas com minhas séries idiotas nem pensei em aproveitá-lo no Blogson. Entretanto, depois de ver "o vídeo" e ouvir o que se disse na última reunião de que o Moro participou, mudei de ideia. Menos pelas patacoadas ditas pelo presidente, pois todos sabem que ele é uma cavalgadura que se acha o paladino da luta anticorrupção - mas não aceita que seus filhos e amigo sejam investigados.

O que realmente me deixou consternado foi ouvir o que disseram os ministros da Educação e do Meio Ambiente. A exclamação "eu odeio a expressão 'povos indígenas'!", repetida de forma enfática pelo sinistro da Educação me deixou perplexo. "Só há um povo, o povo brasileiro", e "quem não gostar que saia de ré"Que idiotices são essas?  Se tivesse nascido na Espanha, queria vê-lo falar para os bascos ou catalães que só há um povo espanhol!

Talvez minha transcrição não seja literal, pois apenas guardei de cabeça. Mas cabe lembrar que independente do que diz a Constituição sobre a população indígena, se há um povo genuinamente brasileiro são os índios. Nós somos apenas descendentes dos invasores e de seus exterminadores. Talvez por isso ainda existam pessoas que não acham nada demais acabar com a população indígena.

Já o ministro do Meio Ambiente, outro babaca que mostrou as garras, teve a desfaçatez de propor "passar a boiada" ou fazer uma "baciada" para mudar regras que podem ser questionadas na Justiça enquanto a atenção da mídia está voltada para a Covid-19(!!!) Segundo ele, "Tem uma lista enorme, em todos os ministérios que têm papel regulatório aqui, para simplificar. Não precisamos de Congresso". Grandessíssimo filho da puta!

Na época do PT, eu sentia o mesmo desconforto e a mesma raiva em relação ao Lula e ao partido da Gleisi, especialmente quando o nove dedos exibia seu comportamento de semianalfabeto (sim, eu sou elitista). Mas o PT dançou, o Lula foi preso e eu INFELIZMENTE ajudei a eleger o Bozo, pois votei nele no segundo turno. Então, por tudo que disse acima, resolvi postar o texto na íntegra, sem edição, sem destaque nenhum, sem sublinhado e sem negrito, porque eu não suporto mais saber das barbaridades que o presidente e sua gangue de adoradores cometem, tuitam ou falam quase todos os dias. Apenas reforço o fato de que o autor é Juan Arias e que esse artigo teria sido publicado no jornal “El País”. Olhaí o artigo:


Por que o bolsonarismo-raiz engendrado nos gabinetes do ódio não terá futuro no Brasil?
Uma seita com essa força destrutiva e niilista nunca será a vocação de um país que, apesar de todos os defeitos, não renuncia à alegria de viver em paz
JUAN ARIAS 28/04/2020

É difícil ser profeta nesses tempos conturbados, mas pelo que conheço de Brasil o bolsonarismo-raiz, o que se nutre nas cloacas do gabinete do ódio do clã familiar Bolsonaro, não terá futuro nesse país. Logo ficará reduzido a uma excentricidade política que ainda poderá fazer barulho, mas que não será um movimento de peso. Acabará sendo marginal quando aparecer uma proposta democrática alternativa capaz de tirar o país do pesadelo autoritário e grotesco no qual está chafurdando.
Em que me baseio? No fato de que o chamado bolsonarismo nasce do radicalismo da política vista como guerra, como confronto permanente, como morte mais do que vida.
É bom lembrar que o pai da psicanálise, Sigmund Freud, descobriu, inspirado na filosofia grega, que o mundo se move entre duas grandes pulsões: a do eros, que seria o amor pela vida, à procriação, à sexualidade, ao prazer e ao amor, e de tanatos, que lembra o deus da morte. É o impulso da destruição, da violência e do sadismo.
Segundo Freud, o mundo continua de pé porque o impulso da vida é superior ao da morte. Do contrário, já não existiria. Nós teríamos nos autodestruído.
Acontece o mesmo na política. Há momentos em que o impulso de morte e destruição, o totalitarismo, parece triunfar, mas por fim vencem os valores da vida e da liberdade como aconteceu na Europa após a tragédia da Segunda Guerra Mundial.
Há países que sempre foram mais inclinados a viver sob o tanatos destrutivo e outros preferem crescer sob a força da vida e da liberdade que são as chaves da felicidade.
E o Brasil? Esse é um país que, apesar de um passado de bárbara escravidão que deixou marcas na pobreza e no abandono milhões de pessoas largadas a sua própria sorte, não pertence aos propensos a fomentar fantasmas de morte. Se o Brasil tem pecados, em certos momentos de sua história, é mais por passividade e servilismo ao poder do que pela guerra.
É um país com vocação, em suas diferentes e ricas culturas, ao desfrute da vida. Um país que não é geneticamente guerreiro.
De modo que o bolsonarismo, tal como se apresenta hoje sob a bandeira da violência e da morte, da política vista como um ringue de bairro, não pode criar raízes profundas nesse país.
Eu me atreveria a dizer que o bolsonarismo extremo, o da gritaria, que às vezes pode assustar, não é mais do que uma dessas seitas fanáticas que nascem e morrem sem deixar rastro. Essa política se nutre somente de negatividade. Cria inimigos imaginários e por fim se mostra de uma infantilidade espantosa.
Essas seitas são destrutivas, procuram brigas e se alimentam de símbolos de morte. Basta ver o caixão que levam nas manifestações como símbolo de sua morte anunciada.
Querem sempre guerra e luta porque a paz os assusta. E quando não existem inimigos os criam. Destroem tudo o que evoca o gosto pela vida, a alegria e a liberdade. Por isso não suportaram e assassinaram a jovem negra e favelada, a ativista Marielle Franco.
Essas seitas religiosas e políticas precisam de um mito para suprir sua nulidade como manada. Sofrem de complexo de castração. Professam uma sexualidade doentia adornada com símbolos que beiram a pornografia.
Cultivam os símbolos da morte e da destruição porque viver lhes dá medo. Sua vocação é a satânica de dividir. Agem nos meandros da obscuridade que é o reino da mentira.
Quando não encontram inimigos os inventam. Precisam manter vivo o diapasão do ódio. Por isso nadam com maestria nas águas escuras das fake news.
Negam a compaixão. A bile e o amargor são os primeiros ingredientes de suas cozinhas.
Essas seitas da morte acabam por fim como canibais devorando uns aos outros. A maior curiosidade mórbida, os melhores orgasmos políticos do bolsonarismo-raiz, vêm da paixão pelas armas e por todo o ritual gestual e simbólico da guerra.
O Deus da seita é o dos trovões e dos medos, o vingador, o deus que se compraz com a destruição dos inimigos. Eles que se dizem seguidores da Bíblia nunca entenderão a emoção de Jesus de Nazaré ressuscitando seu amigo Lázaro e ao ver um leproso curado.
Ao final, toda essa agressividade e fome de guerra e conflitos do bolsonarismo-raiz revelam sua incapacidade à felicidade. Eles se afogam em seus próprios instintos de destruição.
Os diferentes sexualmente lhes dão pânico porque ameaçam sua falsa virilidade. A ternura lhes dá medo porque condena sua índole machista.
Eles se sentem melhor às portas de um cemitério do que diante do berço de um recém-nascido. Seus impulsos de morte sempre superam os de vida.
Esses seguidores de morte e luta se assustam diante dos mansos porque definitivamente os desarmados lhes dão medo. Mostram coragem somente diante dos frágeis porque os verdadeiros fortes, que são os que não temem a morte, desnudam sua falsa hombridade.
Não, uma seita com essa força destrutiva e niilista nunca será a vocação de um Brasil que, apesar de todos os seus defeitos, não renuncia à alegria de viver em paz. Só poderão impô-la com a força dos tanques de guerra.
Os dois populares ministros, o da Saúde, Mandetta, e o da Justiça, Moro, ambos recentemente expulsos do Governo, representam juntos, de acordo com as últimas pesquisas, 75% do consenso popular. O que evidencia que o gabinete do ódio está se esgotando. Quem lhes resta? O Brasil não está mais com eles.
Muito otimista? Talvez, mas o pessimismo já deixou nossas gargantas secas demais.



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