segunda-feira, 15 de junho de 2020

VAMOS FALAR DE CLOROQUINA?


Depois de ficar sabendo que um "ex-amigo de facebook"  (fui excluído por ele) tinha publicado em seu perfil esta pérola de ignorância - "Chega de mimimi, somos do tempo que creme dental Kolynos era com cloroquina!" (era clorofila!) - comecei a ficar agitado de novo e resolvi escrever um texto suave sobre a cloroquina, um pouco para desabafar, um pouco para provocar os bolsominions.

Pouco depois de ter sido publicado no Facebook já tinha rendido uma troca de longos comentários com um “amigo” com quem eu nunca conversei pessoalmente. É primo de um primo de minha mulher, o que dá a dimensão da empatia que rola nessa “amizade”. Só por isso, resolvi publicar no blog mais esta provocação endereçada aos bolsominions (e funcionou!). O texto é este:

Eu não tenho nada contra o uso medicinal da cloroquina a partir de recomendação médica. Tenho contra o uso político desse medicamento, contra o cabo de guerra disputado entre os que defendem seu uso e aqueles que o desaprovam. Porque um dos dois lados estará errado!

Repetindo, eu não sou contra a cloroquina, sou contra pessoas que não têm formação em medicina ou farmácia estimular seu uso em qualquer situação, pelo simples fato de acreditarem que funciona, mesmo que até ex-ministros da saúde, ambos médicos, sejam contrários ao uso indiscriminado dessa substância.

A cloroquina não é vacina. Se fosse, centenas de pesquisadores e cientistas em todo o mundo não estariam agora correndo atrás da primeira vacina eficaz para prevenção da Covid-19. Se fosse vacina, bastaria tomar essa droga preventivamente e estava tudo bem. Mas não é assim que funciona nem seu uso indiscriminado é recomendado pelos médicos. Se ela é tudo o que pensam os bolsonaristas estimulados por um sujeito que não é médico e que despreza as recomendações dos profissionais de saúde do mundo todo, ela ainda é só um remédio que pode auxiliar no tratamento de quem já está doente.

Alguns amigos proclamam já ter tomado o medicamento sem ter acontecido nada de grave. Alegro-me por não terem tido nenhum efeito colateral grave, mas imagino que não tomaram para curar Covid-19. E é isso que me deixa triste, tentar banalizar o uso do medicamento como se ele fosse apenas um antiácido para combater azia, só porque o ídolo, o mito fica fazendo marola em torno disso. Se todos parassem com essa discussão polarizada sobre um remédio, e quisessem se concentrar em brigar e discutir, que escolhessem falar mal ou a favor apenas do presidente, não a defender suas crenças particulares.

Independente de seu uso político, fico sinceramente feliz se a cloroquina auxilia na recuperação de pessoas hospitalizadas em consequência do corona vírus, como no caso recente do Edir Macedo. Se ela auxilia o tratamento e a recuperação dos doentes, ótimo.

Mas fico com essa ideia na cabeça: se puder escolher, prefiro tomar uma vacina que vá me imunizar contra o corona vírus (mesmo que a vacina seja chinesa) que tomar cloroquina já hospitalizado, na esperança de ser curado. Ou seja, prefiro a sabedoria popular que diz ser melhor prevenir que remediar.


4 comentários:

  1. a politização dos debates chegou em um patamar absurdo
    a escolha de uma droga agora depende do presidente da república e não de uma autoridade médica
    daqui a pouco, as pessoas vão aguardar orientação presidencial para escolher o metodo contraceptivo ideal


    abs!

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  2. Você tem razão! Recentemente publiquei um post interessantíssimo contendo opiniões de psicanalistas renomados sobre o presidente. No texto publicado há um trecho que transcrevo como resposta ao que você comentou:
    Para o psicanalista Christian Dunker, professor do Instituto de Psicologia da USP, o bolsonarismo tem na criação de inimigos o mecanismo de seu funcionamento. “A pandemia viola muito fortemente essa lógica. Porque aí é um inimigo que não foi você quem criou, portanto não é você quem manipula”, afirma Dunker.
    Outra das marcas do comportamento do presidente na pandemia foi a defesa da hidroxicloroquina, medicamento ainda em fase experimental no tratamento para a Covid-19.
    Para Dunker, a insistência tem raízes na formação do discurso messiânico. “É dele que tem que vir a palavra: ‘A cura está aqui’”.
    Se quiser ler o texto na íntegra, o link é este:
    https://blogsoncrusoe.blogspot.com/2020/05/os-psicanalistas-e-o-presidente.html

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