sábado, 20 de junho de 2020

REEDUCAÇÃO ALIMENTAR

Parece que é nos graves momentos da caminhada do homem sobre a Terra que são conhecidos aqueles com têmpera de aço (E aço de Toledo!), que exibem sua determinação férrea e sua força de vontade inquebrantável (acho que esta introdução ficou muito elegante, muito chique!). Creio que graças à pandemia estamos em um desses momentos. A merda toda é que eu não tenho nada parecido com isso. Toledo, por exemplo, era só um sujeito que alugava bicicletas para andar na orla da lagoa que emprestou seu nome ao município de Lagoa Santa. E o mais próximo de têmpera de aço que eu chegaria seria em um churrasco, quando alguém dissesse "tempera e assa!". Como diria o cineasta Orson Welles ao imaginar um título para seu filme não terminado: "It’s all true!”.

Aliás, tenho a suspeita de que não deve ter concluído o filme justamente por ser ambientado no Brasil. Imagino que deve ter pensado com seus charutos: "ninguém entende esta zona! Só se eu contratar alguém muito experiente para servir de decodificador desta esculhambação toda". Provavelmente foi assim  que começaram a dizer que "o Brasil não é para principiantes".

Pois bem, estou tentando me lembrar de o que eu queria dizer neste post. Ah, sim, o assunto era o efeito do isolamento social em meu abdômen, mais precisamente na circunferência da minha barriga. Isso começou ontem a me deixar muito preocupado. Como estava muito frio, resolvi tirar do armário uma calça de moletom, pois, graças ao isolamento social fico só de cuecas dentro de casa. Aliás, tenho pensado que o motoqueiro que vem entregar o pão aqui em casa já me viu tantas vezes de cueca que já está quase empatando com minha mulher. Se bobear, é até capaz de identificar as cores e seu estado de conservação.

Mas, voltando à calça de moletom, ela é daquelas confortáveis que o elástico antigo torna ainda mais folgadas, ao ponto de ter que ficar sempre dando uma ajeitada, uma segurada para não mostrar a bunda. Isso inclusive prova que não basta ficar dentro do armário para que o elástico fique com sua elasticidade preservada (acho que hoje estou divagando muito!). Pois bem, confesso que me surpreendi ao vesti-la, pois estava constrangedora e inesperadamente justa na barriga e até na coxa! E olha que eu sou um sujeito que minha mãe diria ter pernas de saracura, significando ter dois cambitos - o que também significa "pernas finas", entenderam?

Essa descoberta me deixou desacorçoado (às vezes eu gosto de usar palavras "difíceis" só para passar a impressão de que tenho cultura). Mas ficar desacorçoado não faz ninguém reagir como deveria. Eu até consigo imaginar um daqueles nobres ingleses vestindo um robe de chambre e sentado em um confortável sofá perto de alguma janela de seu castelo, enquanto medita fumando calmamente seu cachimbo. A governanta (ou mordomo) orienta a nova funcionária encarregada da limpeza, dizendo: "ele não gosta de ser incomodado quando está desacorçoado" (acho que vou me candidatar a redator assistente da série "The Crown").

Vamos de novo: o sujeito precisa ficar decepcionado, assustado ou puto da vida para tomar algumas providências. E a primeira delas é comprar nova calça. Como isso não esgota nem resolve o problema, ele precisa também ter um mínimo de vergonha na cara e prometer a si mesmo que começará a se exercitar e a fazer uma reeducação alimentar. Por isso mesmo, estou pensando em fazer caminhadas diárias aqui dentro de casa mesmo, mais precisamente no quintal. Creio que segunda-feira é um bom dia para começar. Já a reeducação alimentar, por ser mais efetiva e urgente (eu preciso perder 16,71 kg!), comecei hoje mesmo. E comecei em grande estilo, pois a primeira coisa que cortei da minha alimentação foi cerveja. IMC=25? Aguardem-me, eu chego lá!

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