“Eu sou um pobre homem do caminho novo das minas dos matos gerais”. Com esta magnífica frase Pedro Nava deu partida a “Baú de
Ossos”, o primeiro dos sete sensacionais livros de memória que escreveu (o sétimo, infelizmente, não foi concluído, pois o autor suicidou-se antes de
terminá-lo).
O
motivo de ter começado este post com uma citação deve-se ao fato de, talvez pela
primeira vez, ter feito uma reflexão sincera e serena sobre mim. Sou um pobre
homem medíocre que acabou de fazer setenta anos em plena pandemia, o que não é
definitivamente um bom negócio.
Mas,
por que medíocre? Essa conclusão eu tomei emprestada de meu querido amigo
Pintão. Um dia, enquanto conversávamos, eu me classifiquei como uma pessoa
mediana, ao que ele ironicamente retrucou, dizendo que eu era medíocre. Fiquei
puto, reclamei e ele esclareceu que medíocre significa exatamente isso (apenas com
um pouquinho a mais de tempero): de qualidade média, comum, mediano.
E é isso o que realmente sou
– medíocre. As pessoas famosas o são ou por terem feito coisas notáveis ou por
serem filhos de famosos. Não sou filho de famosos e nunca fiz nada de notável,
nunca me destaquei em nada e, mesmo sendo reconhecidamente inteligente (não
tenho problema com falsa modéstia), não sou gênio e, pior, nunca soube ou quis
aproveitar a herança genética recebida de dona Lia e de seu Amynthas.
Formado em engenharia,
sempre quis ser economista ou psicólogo. Recém-formado, sonhei em montar uma
empresa construtora, mas o medo de submeter minha mulher e filhos a privações
paralisou meu sonho. Nunca fui engenheiro calculista (a nata da engenharia) nem
tocador de obras (a nata dos assalariados). Fui ao longo da vida um burocrata,
um engenheiro de escritório que delirava ao fazer contas e mais contas para a
empresa participar de licitações (fraudadas ou não). Então, fui apenas um
engenheiro inseguro de seus conhecimentos (que foram sendo desatualizados com o
passar do tempo). Que descobriu tardiamente ser muito bem avaliado mas não
necessária e adequadamente pago pelo desempenho.
O blog nem tinha ainda nascido quando fiz essa avaliação "literária" de mim mesmo (que considero bastante realista): Às vezes sinto-me como se fosse o resultado de um projeto ambicioso que não deu certo, seja por defeito de concepção, seja por erro de dimensionamento, talvez pela má qualidade dos materiais empregados, por falhas no processo produtivo ou, até mesmo, por vícios de utilização.
O blog nem tinha ainda nascido quando fiz essa avaliação "literária" de mim mesmo (que considero bastante realista): Às vezes sinto-me como se fosse o resultado de um projeto ambicioso que não deu certo, seja por defeito de concepção, seja por erro de dimensionamento, talvez pela má qualidade dos materiais empregados, por falhas no processo produtivo ou, até mesmo, por vícios de utilização.
Refletindo sobre isso,
fiquei pensando o que, afinal, poderia definir como minha maior e melhor
realização? A melhor parte de minha vida é preenchida por minha mulher, nossos
filhos, filhas (do coração) e netinhas. Mas eles não são produtos! E, ainda que
fossem, a responsabilidade maior pelas pessoas incríveis que são é de minha
mulher, pois eu fui um pai ausente, mais preocupado em tentar manter-me nos
empregos que tive.
Então, o que restou? Fiquei
pasmo ao me dar conta de que minha maior realização foi a criação do Blogson
Crusoe, ou melhor, as quase duas mil postagens
feitas nos seis anos de sua existência. E se isso for um parâmetro para medir significância,
então sim, sou uma pessoa definitivamente medíocre. Mas, sinceramente, fiquei
feliz por chegar a essa conclusão. Talvez agora não me enfureça ou me
decepcione mais quando ninguém comenta nada sobre o que publico. Se sou eu que
estou em cada exclamação, em cada ponto, em cada vírgula (e como eu as
utilizo!) dos textos e imagens que criei, então basta que eu saiba que cada uma
delas faz parte da minha maior criação. Patético, não?
Se o senhor for medíocre, temo em pensar sobre mim, no mínimo 50 degraus abaixo. Quando fiz 21 anos, reconheci que sou medíocre também, que serei sempre definido por não ser nada, não poder ser nada, e ter em mim todos os sonhos do mundo. Eu jamais viverei tanto, Jotabê, eu só... Não consigo enxergar tão longe. Esse seu texto me lembrou de um que escrevi em 2014, parei de escrever eles justamente por ter medo de me encarar e me torturar mais do que o normal diariamente: https://ozymandiasrealista.blogspot.com/2014/12/21-que-parece-40.html
ResponderExcluirMeu caro Ozy (e quando eu digo "caro" é caro mesmo, uma pessoa com que me alegro de conversar, mesmo que só através de comentários neste ou no seu blog), uma das máximas não oficiais do blogso é que "resposta grande vira post". Mesmo sendo público o seu comentário, apenas me inspirarei nele para responder, mas não o copiarei. Aliás, uma dica: se um dia quiser comentar alguma coisa que não deseje ver publicada, avise-me antes, para que eu exclua o comentário.
ExcluirMeu caro, caríssimo Ozy, seu texto é estupendo! Este comentário era para ser publicado no seu blog. Como não vi meu nome aparecer, nem sei se você o verá publicado. Por isso, mesmo não sendo a opção ideal, resolvi transformá-lo em comentário aqui nesta bagaça. Ele é hipnoticamente bom de ler, sempre tentando quem o lê a para a leitura para comentar alguma coisa. É incrível que um jovem de 21 anos tenha e3scrito um texto tão denso, tão coerente assim. E talvez o segredo seja este: você escreveu sobre o que conhecia bem (ou imaginava conhecer). Hoje eu tenho 70 anos e custei muito a começar a escrever (principalmente sobre mim), pois estava mergulhado numa névoa de incertezas, ignorância e imaturidade. Mas descobri que o que eu faço melhor é contar casos pessoais ou de pessoas que conheci. é isso que dá alguma densidade aos textos e é isso que me conecta com outra pessoas. Sinceramente, gostaria de publicar seu texto lá no blog, pois é muito impactante. Se quiser, pode editá-lo, suprimir alguma coisa ou corrigir o que achar que deve. Mande-me como comentário e eu o copiarei e publicarei. Parabéns pela lucidez e pela forma muito agradável de escrever.
ExcluirFiquei surpreso em ter gostado, leio que as coisas que eu escrevia naquela época, e me enxergo como um metidinho a intelectual, escrevi mesmo porque tava sufocando no dia, tava foda. A parte boa é usarmos a escrita como uma forma de colocar as coisas em ordem. Pode republicar sim, a honra é toda minha. E pode deixar todos os comentários públicos, precisamos deixar fluir. E não esqueça de conferir o Velho Logan, ou começou a assistir e achou uma porcaria? A história é um tipo de Western, só que com os personagens da Marvel em uma realidade pós-apocaliptica. Particurlamente, aprecio bastante aquele universo, é um dos contos que melhor sintetiza o quanto o mal pode crescer e se ramificar, quando aqueles que podem agir, se recusam. Embora Logan na história tenha razões plausíveis para ter se recusado a voltar a usar a violência contra qualquer um. Mas, para mim, o Gavião na história rouba boa parte das cenas.
ExcluirE toda vez esqueço de dizer, gostaria de republicar esse texto aqui no Ozymandias por esses dias, mas só depois de eu lhe apresentar algumas plaquinhas de autor, para eleger com qual vai ficar. Baixei o quadrinho aqui do velho Logan, e vou fazer alguns recortes, aguarde.
ExcluirJá te disse antes e vou repetir: o Blogson é que nem aquelas despensas de Master Chef: pode pegar o que quiser, apenas não altere o texto.
ExcluirMeu caro Ozy, vou dar um spoiler aqui: talvez graças à ansiedade provocada pela pandemia, já estou com 24 posts prontos e programados. Como alguns têm data de validade, não posso ficar remarcando ,mais do que já fiz. Mas existem alguns que dá para empurrar pra frente. Aguarde e verá. Abraços.
ExcluirEscolha uma das quatro.
Excluirhttps://imgur.com/s8XG5Jv
A quarta (com dois dedos na testa)
ExcluirImaginei que fosse ser essa, vou tentar montar agora mesmo.
ExcluirRapaz, você é o dono do blog! Pode fazer o que quiser, o que for mais fácil!
ExcluirDevia ter ido dormir às 23h, acordar às 7h, e tentar ser,produtivo pra qualquer coisa. E aqui tô eu, em plena quase 4 da manhã. Seu blog faz jus ao nome, é o blog da solidão ampliada. Os textos são bons, para chegar em mais gente só teria que "se render ao moderninho" como eu fiz, mudando layout, conseguindo mais parcerias, instalando o Disqus, usando mais imagens nos posts. E assim vai.
ResponderExcluirEu não tenho essas manhas!
Excluir"Desfazer-se e ser de si, um mero ouvinte.
ResponderExcluirNa avenida, me observo sendo aquilo que nem sei.
Definir-se? Algo complicado e de pouca precisão.
"Comum". Essa é a palavra que gostaria de ouvir.
Um amigo disse que ser "medíocre" é o ápice.
Sempre concordei. A média basta."
Escrevi isso ano passado, na série de poesias de nome "Conciliação pragmatista entre eus" (são as cinco poesias que mais gostei de ter escrito, das milhares). Recordei imediatamente dela quando li sua publicação. Que, aliás, é dilacerante. Pega na espinha.
Posso utilizar alguns parágrafos em uma crônica?
Rapaz, sinta-se à vontade! Ter gostado do texto já me basta, nem precisa citar o autor.
ExcluirEntão, deixemos assim, Gianndre : fica pra outro dia sermos uma obra-prima.
ExcluirNão capturei a ironia, mas não precisa explicar.
ResponderExcluirConheço o GRF há alguns anos, ele foi meu aluno, e sei da grande admiração dele pelo Engenheiros do Hawai. Meu comentário é uma citação à música Tchau, Radar, que deveria ser ouvida e muito bem ouvida por todos que se tem em conta muito alta.
Excluirhttps://www.letras.mus.br/humberto-gessinger/tchau-radar-a-cancao/
Estranho, você achar o Blogson sua maior realização? Estranho para quem, cara-pálida? Também me sinto assim em relação ao Marreta.
Que coisa curiosa! Mas você é professor, teoricamente tem o poder de transformar as pessoas através da instrução, do conhecimento. Eu não não tenho nada parecido. E descobrir isso sobre mim foi novidade, pois nunca tinha passado nem perto dessa constatação. Eu sabia que os anônimos só "vivem" enquanto alguém sabe alguma coisa deles, conhecem seus nomes, lembram-se de sua fisionomia. Depois disso é só "poeira de estrelas". Mas eu nunca tinha tido uma visão tão clara de mim e do blog (como meu "elixir da vida eterna"
ExcluirFoi quase. Consegui salvar uma miniatura ainda, que apareceu na notificação lá do meu blog.
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