Em dezembro de 2014 um jovem prestes a
completar 21 anos publicou em seu blog o texto a seguir. Apesar da diferença de
idade quase surreal entre nós dois e o fato de não nos conhecermos, tive a
sorte de contar com sua confiança, pois em um dos comentários que já fez aqui
no Blogson enviou-me o link de seu post. Li o texto com interesse e
surpresa, pois pareceu-me que o autor era bastante maduro para sua pouca,
pouquíssima idade.
E esse foi o motivo para querer publicá-lo.
Além dos autores famosos que publiquei aqui no blog, descobri textos
fantásticos escritos por pessoas desconhecidas do grande público, mas nem
por isso menos criativas, hilariantes, instigantes ou surpreendentes. O texto
deste post enquadra-se nisso.
Não pude deixar de me comparar com o autor
quando eu tinha sua idade atual. Descobri que assim como imagino que aconteça
com todo mundo, tínhamos vários pontos em comum, mas éramos radicalmente
diferentes no restante. "Esmagar um por um" de meus inimigos, por
exemplo, é coisa que nunca passou pela minha cabeça. Aliás, se pensar bem,
creio só ter tido um inimigo na vida. Muitas foram as pessoas que me odiaram
e/ou desprezaram, mas só conheci o ódio em estado puro vindo de uma única
pessoa (de quem gostava muito). Creio que era um sujeito psicótico, mas isso é
outra história. Gostaria de comentar mais alguma coisa sobre o que li, dizer que o Tempo pode nos ensinar muita coisa, mas acho
que vou deixar para outra ocasião, pois este post é do meu amigo virtual Ozy, o
autor do texto. A propósito, a ilustração é a mesma que utilizou no post original.
Olhaí.
Daqui a algumas horas será o meu aniversário,
vou fazer 21. “Parabéns”, o Sr pensa ou diz sem titubear, e eu
pergunto: pelo quê? Antes de tudo eu aviso: esse texto foge em boa
parte da temática do blog, é mais um texto feito na intenção de chegar a algum
significado além do óbvio sobre se ficar mais velho enquanto se comemora com um
bolo. Para começar: existe sempre uma comemoração demasiada das pessoas, hoje
eu vejo o mundo como um lugar onde melhor do que comemorar, é comemorar
com resultados. E algo que é bom saber sobre mim, caso não tenha reparado,
é que eu sou um moleque pretensioso, e infelizmente inquieto insuficientemente
para fazer algo significante na vida.
Leio e assisto coisas como Muhammad
Ali ser um profissional nocauteando campeões fazendo todos engolirem suas
palavras, Garry Kasparov se tornando o melhor enxadrista do mundo,
vencendo a própria Rússia envenenada pela ditadura comunista, Arnold
Schwarzenegger fazendo o impossível ao sair de um buraco de lama para os
EUA e tornando o melhor fisiculturista de sua época, Garth
Ennis assumindo Hellblazer, fazendo histórias tão geniais que após
mais de 20 anos elas ainda não foram superadas... O que eles tinham em comum? A
minha idade. Essa idade tão subestimada com o argumento vazio de “tá muito novo,
a vida nem começou direito”, discordo totalmente: Grandes mentes já sabem
o que querem logo que começam a ligar os pontos nas tarefinhas do
maternal, e crescem se enraizando naquilo até se tornarem grandes exemplos para
a humanidade. O problema é justamente eu não ser assim, e sim uma múltipla
personalidade onde a cada dia eu acordo querendo fazer e ser algo,
desenhista, roteirista, enxadrista, fisiculturista, boxeador, diretor, ator,
professor, ilusionista ou mesmo na maioria dos dias apenas um otário que
gostaria de ficar dormindo e passar umas duas semanas trancado em
casa sem ver a luz do dia, apenas vendo bons filmes, lendo minhas HQs
e tentando desenhar umas sem ver a cara de ninguém, como eu conseguia
antigamente... Pois é, eu tenho 20 (ou 21, depende da hora), e sabe como quem
eu mais me identifico? Não com Batman, Constantine, Homem-Aranha ou Ozymandias,
mas com Ulisses: lá no fundo, eu sei que meus próximos anos serão longos, que
eu vou passar por grandes desgraças em guerra interrupta, para como prêmio
final eu conseguir esse aparente simples prêmio do meu espaço de
volta. E consequentemente a vida perder o sentido e eu virar um Fury da
vida, na procura de outra guerra para se viver. Afinal o que queriam? Se a vida
não fosse um paradoxo do ser humano com desejos não realizáveis, Deus ou quem
criou tudo, já teria se entediado com tudo;
Hoje eu até discutia com um colega no
trabalho sobre o quanto nós devemos respeitar aqueles que realmente
sustentam o que dizem, como no caso do Muhammad Ali, o que ele fez em não
servir o exército eu discordo em grande parte, mas estaria mentindo
se dissesse que não tenho um profundo respeito pela
atitude viril dele de jamais ceder às escolhas que fez. É isso que eu
tento seguir na vida, eu sei que é impossível viver sem recuos, muitas
vezes chega-se em situações extremas onde ou se recua ou se perde tudo o que
conquistou, mas é por tal, que eu luto todos os dias. Sabe a “ira passageira da
juventude”? Ainda considero um mito, quem realmente se indigna de verdade pela
injustiça que vê, jamais vai dar as costas ao certo. O que eu estrou
aprendendo “precocemente” é que existe o reclamar e o estar contra e não
participar, hoje enxergo que reclamar do que inquieta a vida, seja no
trabalho, amoroso ou qualquer outro é papel de mimadinho que sai na chuva sem
querer se molhar, que quer viver a vida sem nenhum arranhão, no extremo
cuidado, hoje eu vejo e agradeço por cada ensinamento que me foi passado,
tenham tirado vantagem de mim ou não, assim como agradeço por cada um a que me
foi e é inimigo, pois esses justamente me mostraram o que eu sempre vou me
esforçar para não ser: Vagabundo, covarde, mentiroso fluente e ladrão. Hoje
mais velho eu peço que essa gente se multiplique, para que eu possa ter o
prazer de esmagar um por um, porque pedir por pessoas mais conscientes,
nacionalistas e honestas nesse país é pedir demais, e com o passar dos anos,
dessa fantasia eu vou desistindo.
Se você conseguiu ler até aqui, o que eu
quero dizer, é que parabenizações só valem a pena, quando se há algo a
parabenizar, e eu estou tendo a sinceridade de dizer que hoje ainda não há,
pelo menos não da minha parte, mas você que lê isso pode fazer algo
melhor: Me ensinar. Porque lições são a essência da vida, são seus
prêmios, incentivos, moldadores. Em vez de colocar um “parabéns”, me conte uma
história da sua vida nos comentários, passe adiante algum conhecimento, e acima
de tudo: pare de se acomodar com o pretexto de que “tudo estar como Deus quer”.
Comece a buscar como eu, motivos de verdade para comemorar, e quem sabe, um dia
vamos cantar parabéns para algo significativo, e não só como mais um ritual
ridículo para dar a falsa sensação de que as pessoas lembram umas das outras.
Força e honra.
Obrigado por republicar, Jotabê. Foi um fail em audiência, mas o que valeu foi a intenção.
ResponderExcluir"Fail"? Rapaz, para os padrões blogsonianos seu texto é um sucesso, pois até agora teve 17 visualizações, 50% a mais que a média de cada postagem autoral.
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