sexta-feira, 19 de junho de 2020

21 QUE PARECE 40 - OZYMANDIAS REALISTA

Em dezembro de 2014 um jovem prestes a completar 21 anos publicou em seu blog o texto a seguir. Apesar da diferença de idade quase surreal entre nós dois e o fato de não nos conhecermos, tive a sorte de contar com sua confiança, pois em um dos comentários que já fez aqui no Blogson enviou-me o link de seu post. Li o texto com interesse e surpresa, pois pareceu-me que o autor era bastante maduro para sua pouca, pouquíssima idade.

E esse foi o motivo para querer publicá-lo. Além dos autores famosos que publiquei aqui no blog, descobri textos fantásticos escritos por pessoas desconhecidas do grande público, mas nem por isso menos criativas, hilariantes, instigantes ou surpreendentes. O texto deste post enquadra-se nisso.

Não pude deixar de me comparar com o autor quando eu tinha sua idade atual. Descobri que assim como imagino que aconteça com todo mundo, tínhamos vários pontos em comum, mas éramos radicalmente diferentes no restante. "Esmagar um por um" de meus inimigos, por exemplo, é coisa que nunca passou pela minha cabeça. Aliás, se pensar bem, creio só ter tido um inimigo na vida. Muitas foram as pessoas que me odiaram e/ou desprezaram, mas só conheci o ódio em estado puro vindo de uma única pessoa (de quem gostava muito). Creio que era um sujeito psicótico, mas isso é outra história. Gostaria de comentar mais alguma coisa sobre o que li, dizer que o Tempo pode nos ensinar muita coisa, mas acho que vou deixar para outra ocasião, pois este post é do meu amigo virtual Ozy, o autor do texto. A propósito, a ilustração é a mesma que utilizou no post original. Olhaí.






Daqui a algumas horas será o meu aniversário, vou fazer 21. “Parabéns”, o Sr pensa ou diz sem titubear, e eu pergunto: pelo quê? Antes de tudo eu aviso: esse texto foge em boa parte da temática do blog, é mais um texto feito na intenção de chegar a algum significado além do óbvio sobre se ficar mais velho enquanto se comemora com um bolo. Para começar: existe sempre uma comemoração demasiada das pessoas, hoje eu vejo o mundo como um lugar onde melhor do que comemorar, é comemorar com resultados. E algo que é bom saber sobre mim, caso não tenha reparado, é que eu sou um moleque pretensioso, e infelizmente inquieto insuficientemente para fazer algo significante na vida.
Leio e assisto coisas como Muhammad Ali ser um profissional nocauteando campeões fazendo todos engolirem suas palavras, Garry Kasparov se tornando o melhor enxadrista do mundo, vencendo a própria Rússia envenenada pela ditadura comunista, Arnold Schwarzenegger fazendo o impossível ao sair de um buraco de lama para os EUA e tornando o melhor fisiculturista de sua época, Garth Ennis assumindo Hellblazer, fazendo histórias tão geniais que após mais de 20 anos elas ainda não foram superadas... O que eles tinham em comum? A minha idade. Essa idade tão subestimada com o argumento vazio de “tá muito novo, a vida nem começou direito”, discordo totalmente: Grandes mentes já sabem o que querem logo que começam a ligar os pontos nas tarefinhas do maternal, e crescem se enraizando naquilo até se tornarem grandes exemplos para a humanidade. O problema é justamente eu não ser assim, e sim uma múltipla personalidade onde a cada dia eu acordo querendo fazer e ser algo, desenhista, roteirista, enxadrista, fisiculturista, boxeador, diretor, ator, professor, ilusionista ou mesmo na maioria dos dias apenas um otário que gostaria de ficar dormindo e passar umas duas semanas trancado em casa sem ver a luz do dia, apenas vendo bons filmes, lendo minhas HQs e tentando desenhar umas sem ver a cara de ninguém, como eu conseguia antigamente... Pois é, eu tenho 20 (ou 21, depende da hora), e sabe como quem eu mais me identifico? Não com Batman, Constantine, Homem-Aranha ou Ozymandias, mas com Ulisses: lá no fundo, eu sei que meus próximos anos serão longos, que eu vou passar por grandes desgraças em guerra interrupta, para como prêmio final eu conseguir esse aparente simples prêmio do meu espaço de volta. E consequentemente a vida perder o sentido e eu virar um Fury da vida, na procura de outra guerra para se viver. Afinal o que queriam? Se a vida não fosse um paradoxo do ser humano com desejos não realizáveis, Deus ou quem criou tudo, já teria se entediado com tudo;
Hoje eu até discutia com um colega no trabalho sobre o quanto nós devemos respeitar aqueles que realmente sustentam o que dizem, como no caso do Muhammad Ali, o que ele fez em não servir o exército eu discordo em grande parte, mas estaria mentindo se dissesse que não tenho um profundo respeito pela atitude viril dele de jamais ceder às escolhas que fez. É isso que eu tento seguir na vida, eu sei que é impossível viver sem recuos, muitas vezes chega-se em situações extremas onde ou se recua ou se perde tudo o que conquistou, mas é por tal, que eu luto todos os dias. Sabe a “ira passageira da juventude”? Ainda considero um mito, quem realmente se indigna de verdade pela injustiça que vê, jamais vai dar as costas ao certo. O que eu estrou aprendendo “precocemente” é que existe o reclamar e o estar contra e não participar, hoje enxergo que reclamar do que inquieta a vida, seja no trabalho, amoroso ou qualquer outro é papel de mimadinho que sai na chuva sem querer se molhar, que quer viver a vida sem nenhum arranhão, no extremo cuidado, hoje eu vejo e agradeço por cada ensinamento que me foi passado, tenham tirado vantagem de mim ou não, assim como agradeço por cada um a que me foi e é inimigo, pois esses justamente me mostraram o que eu sempre vou me esforçar para não ser: Vagabundo, covarde, mentiroso fluente e ladrão. Hoje mais velho eu peço que essa gente se multiplique, para que eu possa ter o prazer de esmagar um por um, porque pedir por pessoas mais conscientes, nacionalistas e honestas nesse país é pedir demais, e com o passar dos anos, dessa fantasia eu vou desistindo.

Se você conseguiu ler até aqui, o que eu quero dizer, é que parabenizações só valem a pena, quando se há algo a parabenizar, e eu estou tendo a sinceridade de dizer que hoje ainda não há, pelo menos não da minha parte, mas você que lê isso pode fazer algo melhor: Me ensinar. Porque lições são a essência da vida, são seus prêmios, incentivos, moldadores. Em vez de colocar um “parabéns”, me conte uma história da sua vida nos comentários, passe adiante algum conhecimento, e acima de tudo: pare de se acomodar com o pretexto de que “tudo estar como Deus quer”. Comece a buscar como eu, motivos de verdade para comemorar, e quem sabe, um dia vamos cantar parabéns para algo significativo, e não só como mais um ritual ridículo para dar a falsa sensação de que as pessoas lembram umas das outras.

Força e honra.



2 comentários:

  1. Obrigado por republicar, Jotabê. Foi um fail em audiência, mas o que valeu foi a intenção.

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    1. "Fail"? Rapaz, para os padrões blogsonianos seu texto é um sucesso, pois até agora teve 17 visualizações, 50% a mais que a média de cada postagem autoral.

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