quarta-feira, 31 de julho de 2024

TODOS ACHAM QUE EU FALO DEMAIS

 
A cantora Maysa era especialista em interpretar músicas "de fossa", que eu chamaria hoje de "proto sofrência". Os versos iniciais de uma dessas canções têm muito a ver hoje comigo: "todos acham que eu falo demais e que ando bebendo demais".
 
Tirando o fato de que eu não bebo nada, o restante está bem de acordo com meu comportamento atual, pois eu ando falando demais. Pelo menos é assim que sou criticado por minha mulher e meus filhos. Ao ouvir suas críticas, percebo que me tornei um boquirroto, um sujeito prolixo, um mala sem alça, que magoa, constrange ou ofende sem perceber que está fazendo isso. E mais uma prova dessa minha nova "especialidade" aconteceu hoje.
 
A padaria onde compro o pão nosso de cada dia tem mais rotatividade de funcionários do que um hotel suspeito localizado na periferia do centro da cidade tem de clientes. É um entra e sai lascado (estamos falando dos funcionários, ok?).
 
O motivo dessa rotatividade é o fato de o estabelecimento ser uma espécie de válvula de escape para os mais necessitados (estamos falando da padaria, ok?). Duas são as causas para isso: os baixos salários e uma gerente de maus bofes que, por qualquer motivo, cola o saco nos subordinados. Por isso, há sempre anúncios de que estão contratando gente.
 
Hoje, quando já ia pagar minha compra, vi afixado na parede, atrás do caixa, o seguinte aviso: “Contrata-se balconista. Interessados, trazer currículo”. O que posso dizer é que logo surgiram em minha mente desocupada duas atualizações para o mesmo anúncio:
 
Esta: “Contrata-se balconista. Interessados por baixos salários, trazer currículo”.
 
Ou esta: “Contrata-se balconista. Interessados com baixa autoestima, trazer currículo.”
 
Se eu tivesse apenas pensado e guardado a piada para publicar no blog, estaria tudo bem, mas eu disse as duas "graxinhas" para o funcionário que estava no caixa, que riu meio constrangido. Só depois percebi que não tinha sido nada engraçado para o funcionário, que está trabalhando nessas condições por pura necessidade.
 
Por isso, acho que vou alterar os versos da música de fossa para que fiquem ajustados ao meu comportamento inconsequente e leviano:
"Todos acham que eu falo demais, magoando e ofendendo osdemais”
 
Mas talvez a melhor versão seja esta:
Todos acham que eu falo demais e que ando postando demais.

5 comentários:

  1. dizem que quando vamos ficando mais velhos vamos ficando ranzinza e falante. Deve ser mesmo. Ano que vem faço 60 e minha mulher já disse que se eu ficar velho chato ela me interna num asilo. Eu replico que tudo bem, desde que o asilo seja chique e que tenha trabalhadoras gostosas lá...ela responde "deixa de ser safado" eu faço a tréplica "velho pode tudo". Então, fala, escreve, só tenta não ofender que aí já é demais.

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    1. Perto dos meus 74 você é uma criança "peralta". Mas eu nunca aceitei ofender ninguém, nunca fui barraqueiro, sou quase um lord inglês de tão afável, sorridente e educado. Isso é literalmente verdade, mesmo que eu não me interesse por ninguém a quem trato bem. É estilo. O problema é quando ofendo sem perceber isso, pois tenho falado demais, tenho tentado ser engraçado o tempo todo e aí às vezes a piadinha vira ofensa sem que eu me dê conta disso. Vou reproduzir um caso já contado aqui no blog: entrei em uma framácia de bairro para comprar qualquer bobagem. No caixa estava a esposa do proprietário. Ao lado do caixa uma balança. Subi na balança e ao ver o peso (105kg, por aí), comentei: "esta balança só me dá tristeza!" A esposa do proprietário, muito simpática, retrucou: "pois hoje ela me deixou muito feliz!". Aí o simpaticão engraçado reagiu: "Por que, estava desligada?" Jamais pensaria em ofender alguém por ser magra ou gorda, feia ou bonita, pois não é esse meu estilo. Mas saiu.

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    2. hahahahhh boa. Ora , não é pra se ofender, hoje também tudo ofende, tudo é policiado, o humor está com os dias contados...vamos resistir. Existe uma grande diferença entre uma piada e uma ofensa real.

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  2. Penso que todo o ser humano, alguma vez na vida, falou de mais. Faz parte da essência humana.
    Cumprimentos poéticos

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