No início da década de 1980, eu era o feliz proprietário de um automóvel Brasília, e minha mulher estava grávida do nosso terceiro filho. Depois de ser aprovada no exame de habilitação e tirar sua carteira de motorista, resolvi dar a ela um carro para que pudesse ir aqui e ali sem depender de mim. No entanto, eu não tinha dinheiro para comprar mais um carro.
Expliquei que tinha seguro e que ele não
precisava se preocupar. Consultada, a minha seguradora sugeriu que ele levasse
o carro a uma concessionária. Trocaram a tampa do porta-malas, as lanternas
traseiras e tudo o que foi possível trocar. E eu paguei uma baba por isso, pois
meu seguro contra terceiros era muito pequeno, valor sugerido por um corretor
pouco profissional.
Por ser o Polara um modelo fora de linha, fui
obrigado a levá-lo a uma oficina não autorizada, ainda que muito conceituada. O
carro ficou uns dois meses parado, esperando as peças cada vez mais difíceis de
encontrar. Nessa altura do campeonato, já tinham se passado seis meses ou mais
desde quando o tinha comprado.
Carro consertado, continuei a usá-lo
normalmente. Um dia, apressado para voltar ao trabalho após o almoço, deixei o
Polara estacionado na porta de nossa casa. De repente, ouvi um barulho
gigantesco de colisão entre dois carros. Curioso, fui lá fora para ver o que
tinha acontecido e quem eram os coitados envolvidos no acidente. Descobri que um
deles era eu.
O motorista do outro carro desceu para
comprar carne no açougue que ficava a quase duas quadras de minha casa. Talvez
tenha puxado mal o freio de mão ou o tenha deixado desengrenado. Só sei que o
carro desceu sem motorista, cada vez com mais velocidade. Atravessou uma das
ruas principais do bairro sem encontrar nenhum obstáculo, continuou descendo
até encontrar o velho e bom Polara.
Depois de destruir a traseira do nosso carro, ainda desceu mais um pouco até se
arrebentar em um poste.
O dono desceu correndo, disse que tinha
seguro, que pagaria todo o conserto e bla bla bla. O carro foi para a oficina
indicada e ficou quase dois meses parado, culpa das peças cada vez mais
difíceis de encontrar no mercado (lanternas, para-choque cromado, frisos,
etc.). No prazo de doze meses desde sua compra, o carro tinha ficado quase
metade do tempo em oficinas. Resolvi vender aquele carro de má sina, pois já
estava de saco cheio de não poder contar com ele para trabalhar, levar o filho
recém-nascido ao pediatra, etc.
Depois de anunciado, apareceu um comprador
que gostou do carro, pois estava realmente bonito e lustroso. Também, depois de
tanto tempo na oficina, tinha mais é de estar! Perguntou se já tinha sido
batido e eu, candidamente, disse não saber. Realizada a venda, quase suspirei
de alívio por me ver livre daquele carro que parecia atrair acidentes.
O comprador morava em uma rua a duas ou três
quadras de distância da nossa. Um dia, passando em frente à sua casa, vi que o
carro contava agora com quatro pneus novinhos. Fiquei feliz por isso,
felicidade que durou pouco. Mais ou menos um mês depois, passei novamente pela
casa do comprador. O Polara estava dentro da garagem com a frente totalmente
destruída. Foi aí que eu me convenci de que ele realmente era um carro do
demônio. Mesmo que eu não acredite nisso.
Eu passei algo parecido com um Escort. Não teve um final feliz e até hoje, uns quinze anos após, não dirijo mais. Renovava minha carta à toa. Venceu de novo, tem um tempo e não sei se renovarei.
ResponderExcluirMas rapaz, que coisa...
ResponderExcluirSei não, já pensou em uma maldição lançado pela Brasília vendida?
Pode ser. Talvez ela tenha ficado amarela de ciúmes...
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