segunda-feira, 29 de julho de 2024

SUCESSO DE VENDAS

 
Hoje, conversando com um sobrinho que tem um escritório no hipercentro de BH, ele me contou sobre os casos curiosos e até bizarros que ouve falar diariamente. Tanto que já pensou em chamar um jornalista para registrar em um livro essas histórias e os personagens que as protagonizam. Disse ainda que quer usar a Lei Rouanet para financiar o projeto. Achei engraçado, sinal de que ele não lê muito, pois hoje, no Brasil – e talvez eu esteja errado – só escritores consagrados conseguem ganhar dinheiro com a publicação de sua produção literária.
 
Mesmo assim, incentivei a conversa e o estimulei a gravar os relatos usando um aplicativo que converte fala em texto escrito. Disse também que ele só teria o trabalho de corrigir e acrescentar a pontuação ignorada pelo aplicativo.
 
Sua resposta foi que não tem tempo nem sabe como transformar um texto ditado em algo agradável de ler. E acrescentou:
- Você não quer fazer isso para mim?
 
Disse que poderia tentar ajudar, mas mentalmente recusei a sugestão. Se já é difícil “tirar leite de pedra” para escrever os textos que publico no Blogson, como conseguiria transformar as histórias narradas por meu sobrinho em capítulos de um livro que ele acredita ter potencial para transformar-se em um sucesso de vendas?
 
Prefiro pensar neste ensinamento de Mestre Ariano Suassuna:
- Arte pra mim não é produto de mercado. Podem me chamar de romântico. Arte pra mim é missão, vocação e festa.
 
E sabem por que aproveitei esta frase encontrada na internet? Porque escrever é uma tarefa ingrata, ainda que prazerosa. O trabalho que dá corrigir nossos descuidos durante a digitação não é fácil. Sem falar no uso inadequado de palavras com as quais temos pouca intimidade e na falta ou excesso de vírgulas e outros sinais gráficos.
 
Muitas vezes, leio textos agradáveis e divertidos, mas repletos de erros, como se quem os escreveu não se desse ao trabalho de reler o que foi escrito nem de usar um corretor ortográfico antes de publicá-los. Esse é o motivo de não aceitar a proposta de meu sobrinho: além da trabalheira insana para corrigir e formatar os textos ditados, ainda precisaria transformar relatos banais ou desinteressantes em histórias divertidas e pitorescas.
 
Citando mais uma vez o paraibano Suassuna: “Você pode escrever sem erros ortográficos, mas ainda escrevendo com uma linguagem coloquial”. E esse é meu maior problema: mesmo escrevendo sempre em linguagem coloquial por não ter a erudição e cultura necessárias para usar um vocabulário mais rico e sofisticado, fico enlouquecido quando percebo ter deixado passar algum erro de digitação ou gramatical. Porque ninguém merece ler textos cheios de erros! E essa dica vale para todo mundo que gosta de escrever.

4 comentários:

  1. Eu geralmente escrevo tudo de uma assentada só. Depois releio e aí vou corrigindo o que eu consigo detectar como erro. E o que mais faço nessa segunda leitura é cortar frases. Cortar o desnecessário. Creio que é isso que faz grande parte dos escritores. Drummond dizia que escrever era cortar. Eu, como não sou expert em gramática mas sou satisfatoriamente alfabetizado, conheço mais ou menos a dita norma culta, não sou tão crítico a erros aqui e ali em algum texto, se o conteúdo for bom. Já estou há anos tentando escrever uma novela que seria uma biografia romantizada dos meus pais e não consigo, em grande parte, por preguiça, mas meu filho está me incentivando a começar.

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    1. Eu tenho obsessão com erros de digitação. Eu escrevo no word, passo o corretor, releio tudo, altero a ordem, mudo frases e só aí é que coloco no blog. E mesmo assim às vezes fico puto ao reler o texto. Quando isso acontece, recerto o texto para rascunho, altero, dimunuo ou acrescento alguma coisa, mudo o título e só aí republico. Por estar perdendo memória (real), às vezes não consigo me lembrar de alguma coisa. Nessas horas peço ao ChatGPT para revisar e criticar o que escrevi. Na maioria das vezes fica tudo por isso mesmo, mas acontece de aceitar alguma sugestão da IA moralista e careta.
      Quanto à biografia, sugiro que utilize a ferramenta disponível no whatsapp (dizem que existe também no word, mas não tenho microfone). Você dita e o aplicativo vai convertendo em texto o que está dizendo. É o maior barato, pois poupa o tempo de digitação (sou péssimo!). Depois, é só corrigir, pontuar, formatar. Já contei essa história aqui. Minha mulher escreveu a mão mais de 20 páginas em papel ofício, que depois de ditadas pausadamente e corrigidas renderam 6 páginas em formato A4, fonte arial 12. Recomendo.

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    2. recerto é reverto (mais um erro de digitação por ter escrito direto no blog)

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    3. Talvez não tenha visto ou nem se interessado, mas anexados ao marcador "Memória" eu já contei histórias das famílias de meu pai e de minha mãe. Nunca me preocupei com biografia (até por não ter informações suficientes), sempre gostei de tentar fazer um "desenho" meio sacana, meio crítico de como eu vi esse povo todo que eu amo e amei tanto. Os títulos são Nascidos na fazenda, Os filhos de Francisco e Julieta, As filhas de Julieta e Francisco e Vivendo entre os séculos 19,7 e 20,3. Quem leu na época em que publiquei, gostou muito.

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