quinta-feira, 19 de outubro de 2023

FALANDO DE VICKYS, ZULUS E CLEONICES

 
Nunca pude ter um cachorro quando era criança, mesmo que fosse louco para ter um. Morávamos na casa de minha avó materna, uma casa pequena onde convivíamos com oito tios e tias. Gato então, nem pensar. E a vontade de ter um companheiro com quem brincar acabou passando, como tudo tem de passar.
 
Ao entrar na adolescência meu interesse voltou-se para as gatas, um tipo especial de gatas, mas eu era feio, tímido, bobo e inexperiente. Por isso, sempre que eu tentava me aproximar de alguma era ignorado, desprezado e até ridicularizado. Isso só mudou quando uma gata lindíssima de olhos ainda mais lindos se interessou em ouvir o que aquele sujeito bobo, tímido, feio e inexperiente tentava lhe dizer.
 
Entre 1976 e 1987 nasceram nossos quatro filhos. Assim, durante vinte anos tivemos crianças em casa, muitíssimo mais adoráveis que qualquer animalzinho de estimação. E foi justamente o filho mais novo o responsável por uma grande mudança em nossas vidas.
 
Depois de finalmente convencer a mãe a lhe deixar ter um cão, pediu para a madrinha um labrador de presente. Graças ao bom senso da madrinha, ganhou um filhote de dachshund, uma cadelinha de pelo preto e focinho cor de caramelo, que recebeu o nome de Vicky, uma referência indireta à vitória da persistência de nosso filho.
 
Essa cadelinha foi aos poucos minando as resistências à sua presença em nossa casa e conquistando o coração de todos os moradores. Ou quase todos, pois talvez por eu ter crescido sem nenhum contato com algum pet, não dava muita confiança à Vicky.
 
Um dia, alguns anos depois, fruto de nossa inexperiência, ela ficou com as patas traseiras paralisadas. Ficamos mortificados por essa novidade, mas a situação agravou-se ainda mais e fomos obrigados a sacrificá-la. Meu sobrinho nos levou a uma clínica veterinária, onde fiquei com ela no colo até que a retirassem definitivamente de nosso convívio.
 
Enquanto fazia carinho em sua cabeça e corpo sentia meu peito ardendo, a boca seca e uma vontade imensa de chorar, o que fiz muito ao voltar para casa sem ela. Todos também choraram, especialmente minha mulher, que pediu para nunca mais ter um bichinho de estimação em nossa casa.
 
Um dia, já casado, nosso segundo filho perguntou se poderia deixar seu Staffy Bull alguns dias em nossa casa, pois estava de mudança para outra cidade, etc. O aloprado Zulu ficou nove anos, mas também vítima de nosso desconhecimento acabou sendo sacrificado. Sentimos muita falta dele, mas ninguém chorou dessa vez.
 
Hoje não temos mais e talvez nunca mais tenhamos um animal de estimação para nos irritar, sorrir e nos fazer companhia. Talvez seja melhor assim.

3 comentários:

  1. Confesso nunca ter ouvido falar de Felipe Luis Teixeira. E a história da égua foi muito boa.

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  2. Sabe o que é, meu caro? Mesmo que eu tenha publicado quatro (hoje só três) e-books com sua inestimável assessoria e ajuda, eu não tenho dispositivo para ler livros digitais. Além disso, mal dou conta de ler os livros físicos que ganho de presente de meus filhos. E, para ser sincero, não curto mais ficção. Então, autor novo - mesmo que excelente - só se vier em papel, capisce?

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  3. Eu também só expliquei. Estou tentando ler três livros que ganhei simultaneamente, mas está dificil

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