sexta-feira, 30 de setembro de 2022

DEOLHO NAS ELEIÇÕES

 UPADRE
Imagino que – ou deveria ser assim – o assunto mais comentado hoje deve estar sendo o último debate entre os candidatos à presidência da república Ciro Gomes, Bolsonaro, Lula, Felipe d'Ávila, Simone Tebet, Soraya Thronicke e padre Kelmon.
 
Comecei a assistir o debate-boca, mas, tal como sempre faço com filmes ruins, dormi no final. Só um dos personagens me surpreendeu: Kelmon, upadre. Em determinado momento da troca de insultos, o Lula o chamou de cabo eleitoral do Bozo e candidato “laranja”. Na hora já pensei que o Partido Novo estava com dois representantes, o Felipe d’Ávila e o “agente laranja” Kelmon, mas a piada era muito ruim e sem sentido, pois upadre é na verdade o laranja do mensalado e preso domiciliar Roberto Jefferson.
 
Mesmo que não seja eleito (graças a Deus), upadre contou a melhor piada da noite ao se confrontar com a marruá Soraya Thronicke (a onça cutucada com a vara curta do Bozo), do União Brasil. Em determinado momento o Kevin disse “vocês da esquerda” bla bla bla, “aqui são dois contra cinco”, “elegendo” como de direita só ele e o Bozo. Hilário!
 
Bom, não vou ficar aqui enchendo linguiça, meu pensamento é este: nunca votar em padres, pastores ou militares que tentam aproveitar-se da respeitabilidade e credibilidade da instituição à qual pertencem (ou pertenceram) para alavancar votos, especialmente se lembrarmos de que deixarão sua ocupação original se forem eleitos. 
 
Porque ninguém se apresenta como “advogado Zé das Couves” ou “médico proctologista Beltrano”. Já “pastor Sicrano”, “cabo Fulano de Tal” é relativamente comum, não é mesmo, “padre Kevin"?
 

RI MAKE
O último debate entre os presidenciáveis aconteceu após a novela Pantanal. Como eu acho que o ambiente estava meio pantanoso, fiquei pensando que talvez desse para usar os candidatos em um remake da novela, ou melhor, um rimake. Como eu não assisto essa novela, talvez as associações não sejam as melhores, pois não conheço o physique du rôle de cada personagem (e, menos ainda, a física da rola) de cada um. Em todo caso, com a ajuda da internet tentei escalar os atores. Olha só:
 
Bolsonaro: Tenório - o vilão do enredo, falso, cínico, moralista e preconceituoso;
Kelmon, upadre: Maria Bruaca – já no início do debate demonstrou estar casado com o Bozo;
Vitor d’Ávila: ave tuiuiú – só serviu para compor o cenário;
Soraya Thronicke: Juma Marruá – a onça cutucada com a vara curta do Bozo;
Lula: Velho do rio ou José Leôncio– antagonista do Bozo, idoso, fala difícil;
Simone Tebet: Filó – gente fina, serena e equilibrada;
Ciro Nogueira: Tadeu ou o Tibério – peão da fazenda, com seu jeito meio rude, meio bronco, meio caipira.
 

quinta-feira, 29 de setembro de 2022

ALGORITMOS

Algoritmo é uma palavra de que só recentemente aprendi o significado. Antes de ouvir falar nisso, eu utilizaria “programa” ou “equação” para resolver algum pepino mais complexo. Como fui um estudante relapso nunca aprendi a soube usar comandos com nomes em inglês tais como “IF”, “GOTO”, "THEN", “GOSUB” e assemelhados.
 
Entretanto. depois de entender para que pode servir um algoritmo até rastejei de satisfação imaginando inúmeras utilidades para uma sequência de instruções bem definidas, normalmente usadas para resolver problemas de matemática específicos, executar tarefas, ou para realizar cálculos e equações”.
 
Neste período que antecede as eleições, vendo tantas propostas “maravilhosas” imaginadas pelos candidatos, comecei a pensar em como seria fantástica a criação de um ou mais algoritmos voltados para a administração pública. Sua função principal seria avaliar o custo-benefício de cada ideia megalomaníaca saída da cabeça dos poderosos de plantão. O bonitão eleito se beneficiaria das melhores escolhas propostas pelos algoritmos e ainda poderia dedicar seu precioso tempo a tirar selfies, viajar, coçar saco e ficar por conta de todo tipo de patifarias e tarefas árduas e cansativas a que os políticos se dedicam.
 
Mas o algoritmo de maior sucesso seria criado para monitorar as reclamações surgidas em todo tipo de relacionamento conjugal. Tenho a impressão de que à medida que as mulheres envelhecem (pode trocar por “homens” ou "conges", se quiser) a quantidade diária de reclamações vai aumentando. Não sei se essa evolução é uma progressão aritmética ou geométrica, se linear ou exponencial, mas suspeito que seja uma curva logarítmica. Porque, falando sério, a partir de certa idade as reclamações são tantas que só falta ser contestada a estrutura molecular de um biscoito salpet ou posto em dúvida o DNA de uma salamandra da Guiné.
 
Por isso, pensei em um algoritmo ligado a algum tipo de sensor de humor ou de reclamações. Não me perguntem como, pois  não me formei em ciência da computação ou tecnologia de processamento de dados. Meu negócio é criar, não construir. Só imagino que emitiria uma mensagem de voz ou daria pequenos choques indicando que a cota diária de reclamações atingiu seu limite. Algo assim, dito com voz metálica:

“A senhora (o senhor) atingiu o limite de 3.500 reclamações diárias. Favor aguardar a próxima liberação.”
 
Só ideia boa! Devia ter estudado linguagem de computador; ia ficar mais rico que o Steve Gates e o Bill Jobs! 

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

MAS O QUE EU QUERO É LHE DIZER

 
Tenho certeza de que os amigos e amigas virtuais do velho e enrugado Blogson são pessoas cultas e bem instruídas, pois este blog é contraindicado para analfabetos funcionais. Por isso, certamente já ouviram falar da carta de Pero Vaz de Caminha. Por serem muito novos (irritantemente muito novos) talvez não a tenham lido na íntegra. E aqui, falando sério, não sabem o que estão perdendo, pois é uma leitura saborosíssima e surpreendente, além de ser considerada a certidão de nascimento do Brasil.
 
Eu não a conhecia até poucos anos atrás, e me surpreendi com dois registros inimagináveis. O primeiro foi descobrir a provável origem do sobrenome de Jotabê, uma origem que combina bem com o caráter evasivo e flutuante deste blogueiro. Confere aí:
 
E assim seguimos nosso caminho, por este mar de longo, até que terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram 21 dias de abril, topamos alguns sinais de terra, estando da dita Ilha -- segundo os pilotos diziam, obra de 660 ou 670 léguas - os quais eram muita quantidade de ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho (...)
 
Chique demais! Mas o outro registro insuspeitado é a comprovação da primeira tentativa de corrupção no país - apenas uma semana depois do “descobrimento”! Olhaí:
 
E pois que, Senhor, é certo que tanto neste cargo que levo como em outra qualquer coisa que de Vosso serviço for, Vossa Alteza há de ser de mim muito bem servida, a Ela peço que, por me fazer singular mercê, mande vir da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro - o que d'Ela receberei em muita mercê. Beijo as mãos de Vossa Alteza.
Deste Porto Seguro, da Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500.
Pero Vaz de Caminha.
 
O Jorge de Osório, genro do “Pero, Vais co'a Minha”, estava degredado na África, na Ilha de São Tomé por ter sido preso e condenado por assalto e agressão. E o sogrão tentou aliviar sua barra.
 
Então (then), quando ouço ou leio pessoas de bem criticando a corrupção passada, presente ou futura deste ou daquele candidato, eu fico na minha, ou melhor, co’a minha, pois sei que se esse é um gravíssimo defeito, sei também que a corrupção nas altas esferas (também nas médias, baixas e até nas bolas de boliche) está presente na história do Brasil, mais entranhada na sociedade (especialmente na anônima) que gordura nos bifes marmorizados das carnes Angus ou Wagyu.
 
Por isso, meu caro (e)leitor, minha cara (e)leitora, desencane, relaxe (e paro por aqui porque este é um blog que se dá ao respeito), pois o pior dos males pode ser não conseguir enxergar com clareza o que está bem à sua frente ou acreditar em tudo o que lhe dizem.

terça-feira, 27 de setembro de 2022

A LETRA

Para tirar sarro da propaganda eleitoral que dizia ser o laranja do Partido Novo quase vermelho, eu comparei o “marqueteiro doido” que a criou com o “crioulo doido”, personagem do samba composto por Stanislaw Ponte Preta (para uma peça de teatro ou coisa parecida). Os leitores desta bagaça são jovens, muito jovens, irritantemente jovens, alguns com até um terço da minha idade. Por isso, talvez não conheçam os versos hilários dessa música. Para corrigir essa “lacuna” (pois Blogson Crusoe também é cultura), resolvi publicar a letra non sense do samba. Olhaí.
 
Foi em Diamantina, onde nasceu JK
Que a princesa Leopoldina arresolveu se casar
Mas Chica da Silva tinha outros pretendentes
E obrigou a princesa a se casar com Tiradentes
O bode que deu vou te contar
Joaquim José, que também é da Silva Xavier
Queria ser dono do mundo e se elegeu Pedro Segundo
Das estradas de Minas seguiu pra São Paulo e falou com Anchieta
O vigário dos índios aliou-se a Dom Pedro e acabou com a falseta
Da união deles dois ficou resolvida a questão
E foi proclamada a escravidão
E assim se conta esta história
Que é dos dois a maior glória
A Leopoldina virou trem
E Dom Pedro é uma estação também
Ô, ô, ô, ô, ô, ô, O trem tá atrasado ou já passou

A SAGA DO MARQUETEIRO DOIDO

 
“Este é o samba do crioulo doido. A história de um compositor que durante muitos anos obedeceu ao regulamento e só fez samba sobre a História do Brasil. E tome de Inconfidência, Abolição, Proclamação, Chica da Silva e o coitado do crioulo tendo que aprender tudo isto para o enredo da escola. Até que, no ano passado, escolheram um tema complicado: a atual conjuntura. Aí o crioulo endoidou de vez e saiu este samba:”
 
Assim começava, na voz de barítono do próprio compositor, a gravação do “Samba do Crioulo Doido” feita pelo Quarteto em Cy em 1967. O jornalista Stanislaw Ponte Preta compôs essa música como crítica bem humorada à obrigatoriedade imposta pelo Departamento de Turismo do antigo estado da Guanabara aos compositores, para só abordar temas da História do Brasil nos sambas-enredo dos desfiles de carnaval. Apesar de bizarra uma ordem dessas, precisamos lembrar que ainda estávamos no longínquo e censurado ano de 1967, onde se podia usar despreocupadamente a palavra “crioulo”, mas falar mal do governo dava até cadeia.
 
Sérgio Porto era o seríssimo jornalista por trás do pseudônimo Stanislaw Ponte Preta, criado para dar vazão à veia satírica do autor e às críticas hilárias feitas por ele a todo tipo de idiotice que surgia no Brasil. E a “matéria prima” era tanta que levou o jornalista a lançar dois ou três livros divertidíssimos, a que deu o nome de “FEBEAPÁ: O Festival de Besteiras que Assola o País” (nós temos o primeiro e o segundo volume).
 
Encontrei na internet uma sinopse precisa do conteúdo desses livros:
 
“O fato é que nossos políticos capricham. Inventam leis estapafúrdias, castigam o idioma, têm mão leve, adoram um agradinho e são loucos por um esquema. E não é de hoje. Há mais de cinquenta anos, Stanislaw Ponte Preta fustigava os despautérios cometidos pelos donos do poder em textos brilhantes e devastadores que eram lidos no jornal por todos os brasileiros. Febeapá, o “Festival de besteiras que assola o país”, reúne hilariantes textos em que generais, capitães, deputados, prefeitos e outras figuras da cena política são pulverizados pela verve satírica do autor. Não sobra nada. Foram poucos os escritores brasileiros que tiveram coragem de “peitar” a Ditadura com tanta corrosão e petulância”.
 
O workaholic Sérgio Porto morreu em 1968, mas se ainda estivesse vivo já teria escrito uns cem volumes do Febeapá. Lembrei-me dele e do Samba do Crioulo Doido ao ouvir no rádio do carro uma propaganda eleitoral de político mineiro (que infelizmente não consegui identificar), que me deixou totalmente chapado pelo non sense do texto.
 
A maluquice ouvida é mais ou menos assim: dois caipiras conversam sobre as próximas eleições e um deles argumenta que não votará em fulano, pois “está sempre em cima do muro”. E é “laranja, que é quase vermelho”.
 
Pensem bem, “laranja” é a cor adotada pelo Partido Novo, quase tão de direita quanto o Bolsonaro. Dizer que “laranja é quase vermelho” é uma insanidade tão grande que me fez sentir pena de quem criou essa “Saga do Marqueteiro Doido”.

Mas, pensando melhor, essa propaganda só reflete o comportamento "os fins justificam os meios" que tenho criticado ultimamente, pois candidatos e marqueteiros parecem estar seguindo fielmente o conselho do Tim Maia: “Vale tudo, Vale o que vier, Vale o que quiser...”

domingo, 25 de setembro de 2022

NÃO ME LEVE A MAO

 
Meu amigo Ozymandias Realista – a quem amistosamente chamo de Ozy – é o segundo amigo virtual a ancorar seu barco neste porto mal construído e cheio de defeitos que é o Blogson. Só isso já o faria merecedor de toda a minha estima e consideração. E é exatamente isso que dedico a ele.
 
Por ter feito um longo comentário sobre um post que resolvi alterar radicalmente após tê-lo publicado, resolvi transformar minha resposta em novo post (este é o blog da reciclagem!). Vamos lá, bem devagar.
 
Nunca soube quem é o autor da frase “os fins justificam os meios”. Minha única certeza é não ter sido eu o autor de uma frase tão imoral e antiética assim. Porque é exatamente isso o que essa frase é ao explicar e abençoar comportamentos desonestos, desleais, condenáveis e imorais.
 
Por isso, lá no início do blog, eu publiquei sua releitura ao fazer um jogo de palavras moralizante onde acrescentei a ideia da necessidade de se ter princípios. Naquele momento eu criticava a Dilma e a turma do PT. Hoje eu utilizo a mesma frase para criticar a fábrica de ódio e fake news do Bolsonaro.
 
Resumindo, a frase “os fins justificam os meios” não é minha e é absolutamente odiosa. Já a frase Que se pode dizer de alguém para quem os fins justificam os meios? Que não tem princípios, lógico.” é minha e serve para denunciar a falta de vergonha na cara de muita gente. Eu a republiquei usando o artifício do próprio Facebook que permite escolher temas para frases curtas. Por ter considerado bobo e esteticamente ruim o resultado obtido, resolvi ampliar o assunto e isso causou a confusão.
 
Quanto ao meu comentário de que os textos de minha autoria não deveriam ser publicados no Ozymandias Realista pois devem incomodar a maioria de seus leitores” é uma percepção ou opinião antiga e parcialmente independente de política ou ideologia, pelos seguintes motivos:
- provavelmente sou o leitor mais velho que acessa o blog do Ozy. E não é só isso, devo ser MUITO mais velho que a maioria dos seus leitores;
- Os assuntos que me atraem geralmente são idiotices ou resultam em textos onde tento fazer piada, “gracinhas”. Pelos comentários que leio sobre outros autores, seu público é muito sério, muito nerd;
- Os interesses principais da imensa maioria dos autores publicados em seu blog parecem ser filmes de ação e quadrinhos que desconheço. E falam com profundo conhecimento sobre coisas que já não me atraem mais. Exemplo: eu odeio mangás e filmes baseados nos super heróis Marvel ou D.C. Comics;
- Uma grande parte de seus leitores parece ser de direita o que já não sou mais – mesmo também não sendo de esquerda. Sou de centro e a favor da “ideologia de gênero”, do aborto, do casamento gay e contra o uso político de religião em um país laico. Ouvir falar em “Deus acima de tudo” me incomoda bastante, por ser hoje um católico quase ateu - ou um ateu quase católico.

Essa percepção de ser “um estranho no ninho” em seu blog é que me levou a dizer que as coisas que escrevo “devem incomodar a maioria de seus leitores”. Mas está de boa, quer publicar, fico lisonjeado e agradeço.
 
Finalizando, preciso deixar claro que jamais me decepcionei com você, justamente por ser um sujeito que considero do bem, amistoso, generoso e moderado na forma de se expressar. Sim, eu percebo em você uma sintonia com o pensamento de direita, fazendo com que você abomine o Lula e sua gangue enquanto tolera o Bozo e sua corja. Eu já não penso assim, pois eu tanto odeio o Lula quanto o mito. A diferença é que odeio mais o mito – e o motivo real é por considerá-lo diretamente responsável pela morte por Covid de milhares de coitadinhos que poderiam ainda estar vivos se pudessem ter sido vacinados a tempo – quando ainda havia tempo para isso e já existiam vacinas para comprar, mas a cloroquina foi mais importante no pensamento delirante de um idiota.
 
Eu e você detestamos radicalismos e autoritarismo e é isso que nos aproxima. Mas jamais darei novamente o benefício do meu voto para reeleger uma pessoa com aparentes problemas mentais. Você fala em corrupção e está certo de condenar essa prática. Eu também odeio mas posso te dizer que já ouvia falar de corrupção desde quando Brasília estava sendo construída. Aliás, vem de mais longe ainda, pois está documentada na carta de Pero Vaz de Caminha (verdade!). Mas, sinceramente falando, prefiro corrupção a um governo de quem fala em “liberdade”, “democracia” e em “jogar dentro das quatro linhas” e faz exatamente o contrário disso. 

E, cá pra nós, comunismo é uma coisa muito fora de moda. Até brinquei recentemente ao dizer que na Rússia a única coisa ainda comunista é o túmulo do Lênin. Por isso, fazendo um trocadilho jotabélico horroroso, "não me leve a Mao"
 
Enfim, cada um, cada um, mas respeito integralmente sua visão e gosto muito de seus comentários. Não deixe de fazê-los. Abraços.

NÃO PODEMOS NOS ESQUECER DISSO

 Que se pode dizer de alguém para quem os fins justificam os meios? Que não tem princípios, lógico.
 
Ainda que seja um jogo de palavras (muito bem bolado, diga-se) traz uma verdade irretorquível. Antes de continuar, preciso dizer que este aforismo perfeito é de minha autoria (eu me amo!) e foi publicado em um post lá do início do Blogson.
 
Mas por que fazer uma auto citação tão descarada? Pela sua pertinência e atualidade, se pensarmos no ambiente de guerra psicológica que está sendo travada por nosso atual presidente, seus cupinchas e seguidores radicais.
 
Seu comportamento instável, histérico, irritadiço e agressivo diante dos resultados desfavoráveis das pesquisas - agravado pelas determinações (legais) do STE - dá a impressão de que se bobear deve estar faltando balde no mercado, tantos foram os já chutados por ele. E como militar que já foi, vive ameaçando “chamar o cabo corneteiro para tocar o toque de foda-se”.
 
Pelo andar do cavalão, ou melhor, da carruagem, se você quiser ficar protegido de uma verdadeira “tempestade no deserto” de fake news, meias verdades e grosserias até o dia das eleições o melhor que faz é deixar o celular descarregado e passar a assistir só filmes (recomendo as comédias do Mel Brooks ou Monty Python).
 
Mas se quiser ver a verdadeira face do Messias continue ligado em todas as redes sociais e canais abertos de televisão. Apenas lembre-se da frase do princípio, meio e fim (genial!). E agora, para relaxar, voltarei à leitura das crônicas do Rubem Braga.


sábado, 24 de setembro de 2022

THE 2022 IG NOBEL PRIZE GOEWS TO...

 
Já disse isso várias vezes e repetirei quantas vezes mais eu cismar: “felicidade” para mim é um sentimento puro, de primeira linha, pois quando alguém está feliz, está feliz consigo mesmo e isso basta. Já “orgulho” é um sentimento de segunda linha, pois pressupõe comparação, competição. Felicidade é o sentimento de quem está sentado na areia da praia curtindo o vai e vem ininterrupto das ondas. Orgulho é o sentimento presente nas competições esportivas.
 
Justamente por isso, só de sacanagem, eu digo que orgulho é coisa de pobre (pobre de espírito). Mas como estamos a poucos dias do final do mês meu saldo bancário está no vermelho (vermelho Ferrari, obviamente). Justamente por essa dureza, por essa indigência financeira eu hoje me permito sentir orgulho (duh!). E tenho motivos para isso, pois o Brasil foi laureado com um dos prêmios mais "importantes" internacionalmente, o prêmio (Ig)Nobel. Chupa, descrente!
 
Para quem não conhece, o Prêmio IgNobel é uma espécie de paródia do Nobel e concedido para a descoberta “científica” mais estranha do ano. Algumas dessas “pesquisas” são engraçadíssimas. O bizarro dessa história é que a cerimônia de premiação muitas vezes conta com a presença de ganhadores reais do Prêmio Nobel.
 
Pois bem, o cientista brasileiro Glauco Machado dividiu com Solimary García-Hernández da Colômbia o prêmio de BIOLOGIA de 2022, por estudar se e como a constipação afeta as perspectivas de acasalamento dos escorpiões, com os resultados apresentados em “Efeitos a curto e longo prazo de um caso extremo de autotomia: a perda da cauda e a constipação subsequente diminuem o desempenho locomotor de escorpiões masculinos e femininos?”
 
Os outros laureados e seus respectivos trabalhos são estes:
 
CARDIOLOGIA APLICADA: Eliska Prochazkova, Elio Sjak-Shie, Friederike Behrens, Daniel Lindh e Mariska Kret, por buscar e encontrar evidências de que quando novos parceiros românticos se encontram pela primeira vez e se sentem atraídos um pelo outro, seus batimentos cardíacos se sincronizam.
 
LITERATURA: Eric Martínez, Francis Mollica e Edward Gibson, por analisarem o que torna os documentos legais desnecessariamente difíceis de entender.
 
MEDICINA: Marcin Jasiński, Martyna Maciejewska, Anna Brodziak, Michał Górka, Kamila Skwierawska, Wiesław Jędrzejczak, Agnieszka Tomaszewska, Grzegorz Basak e Emilian Snarski, por mostrarem que, quando os pacientes são submetidos a algumas formas de quimioterapia tóxica, sofrem menos efeitos colaterais prejudiciais quando o sorvete substitui um componente tradicional do procedimento.
 
ENGENHARIA: Gen Matsuzaki, Kazuo Ohuchi, Masaru Uehara, Yoshiyuki Ueno e Goro Imura, por tentarem descobrir a maneira mais eficiente de as pessoas usarem os dedos ao girar um botão.
 
HISTÓRIA DA ARTE: Peter de Smet e Nicholas Hellmuth, por seu estudo “Uma abordagem multidisciplinar para cenas rituais de enema (lavagem intestinal) em cerâmica maia antiga”.
 
FÍSICA: Frank Fish, Zhi-Ming Yuan, Minglu Chen, Laibing Jia, Chunyan Ji e Atilla Incecik, por tentarem entender como os patinhos conseguem nadar em formação.
 
PRÊMIO DA PAZ: Junhui Wu, Szabolcs Számadó, Pat Barclay, Bianca Beersma, Terence Dores Cruz, Sergio Lo Iacono, Annika Nieper, Kim Peters, Wojtek Przepiorka, Leo Tiokhin e Paul Van Lange, por desenvolverem um algoritmo para ajudar os fofoqueiros a decidir quando contar a verdade e quando mentir.
 
ECONOMIA: Alessandro Pluchino, Alessio Emanuele Biondo e Andrea Rapisarda, por explicarem, matematicamente, por que o sucesso na maioria das vezes não vai para as pessoas mais talentosas, mas sim para as mais sortudas.

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

AUTOFAGIA

 
Você sabe o que é “Autofagia”? Segundo o dicionário do Aurélio, este é o significado:
 
“Autofagia – S,f. 1- Nutrição ou sustento de um organismo à custa de sua própria substância”.
 
In other words, hold my hands (perdão, estava pensando na música “Fly me to the moon”). De novo: em outras palavras e em sentido figurado (que é o que nos interessa), é o ato de comer a si mesmo. Bacana, não?
 
Pois bem, qualquer que seja o resultado das próximas eleições, pode-se pensar que o desempenho do nosso atual presidente deve-se ao fato de ter-se comido ao longo de seu mandato. Cada burrada cometida, cada comportamento condenável que ia apresentando, mais ele afastava eleitores que nele votaram e que torceram por ele (eu, por exemplo), horrorizados demais com suas atitudes inacreditáveis, condenáveis, lamentáveis, reprováveis.
 
Em sentido mais figurado ainda, pode-se dizer que apesar da patente de capitão, ele foi o maior cabo eleitoral do voto contrário a ele. Com isso, acabou fodendo a si mesmo, prova de sua inquestionável imbroxabilidade.

MANTEIGA A PALITO

 
Quando eu tinha pouco mais de dois anos de formado, fui contratado como engenheiro de orçamentos por uma micro construtora com características realmente únicas. Nove irmãos de uma mesma família chefiavam os setores fundamentais da empresa - e outros nem tanto assim. Presidência, diretoria técnica, diretoria administrativa, compras, tesouraria, equipamentos, medicina do trabalho, secretaria geral e paisagismo. Além desses ainda havia o auxiliar de tesouraria, que era marido da tesoureira.
 
Outra particularidade era o relacionamento da família com a Igreja católica. Fixando-me apenas no presidente gente finíssima: sobrinho de bispo, irmão de freira e pai de padre. E hospedeiro do vigário de sua paróquia. Assim, por trabalhar em ambiente rigorosamente familiar, fiquei sem falar palavrão nos três excelentes anos em que trabalhei ali.
 
Outra característica interessante – e essa sim, que motivou este post – era o uso de estagiários em atividades administrativas para aliviar o trabalho dos engenheiros de obra.
 
Havia um ciclo desenhado para isso acontecer. Os estagiários eram admitidos para trabalhar no setor de orçamentos; quando já estavam familiarizados com projetos e levantamento de quantitativos eram deslocados para o setor de planejamento e acompanhamento de obras. Nesse setor recebiam uma obra para “cuidar”. Faziam medições de serviços executados, acompanhavam a programação de compras necessárias, mantinham contato com a fiscalização dos órgãos e empresas contratantes, monitoravam o pagamentos das faturas e outras atividades, deixando o engenheiro livre para focar apenas a execução e o andamento da obra, orientar os encarregados, etc. Quando já estavam craques no assunto e próximos da formatura eram deslocados para as obras, para auxiliar diretamente os poucos engenheiros que a construtora possuía, pois às vezes o mesmo engenheiro era responsável por duas ou três obras. E era aí que entrava o suporte do estagiário.
 
Eu ficava no início do ciclo. E como sempre havia muito serviço, pedi que se contratassem apenas estagiários de horário integral, estudantes de cursos noturnos. Foi dessa forma que conheci Tomás, estudante paraguaio e um dos mais interessantes estagiários que a construtora admitiu.
 
Às vezes, quando eu lhe passava algum serviço mais trabalhoso, resmungava alguma coisa em voz baixa. Como trabalhávamos no mesmo espaço eu ouvia os resmungos ditos em espanhol, achava graça mas não entendia nada. Um dia perguntei a ele o que significava aquilo:
- “É bueno, dijo la mula al freno”.
- Comequié?
- “É bueno, dijo la mula al freno”!
- Que significa essa maluquice?
- “É bom, disse a mula para o freio”. Freio é aquele ferro que colocan na boca dos cavalos e mulas.
 
A partir daí, sempre que fico de saco cheio por alguma coisa já vou logo dizendo - “É bueno, dijo la mula al freno!”.
 
 
Lendo um texto muito interessante no blog "Casa do Conde", lembrei-me de um caso contado pelo Tomás. Tudo aconteceu quando desejou ir a uma festa e estava sem dinheiro. Alguém comentou sobre uma obra que estava contratando serventes de pedreiro para encher uma laje. Dentro daquela linha de raciocínio de que “já que não tem tu vai tu mesmo”, foi lá, conseguiu ser contratado e passou o dia inteiro trabalhando feito um burro de carga, subindo com latas de concreto no ombro até a laje que estava sendo concretada. Ao fim do dia, recebeu o pagamento mas estava tão cansado e dolorido quando acabou o serviço que acabou dormindo e não foi à festa.
 
Mas, de todas as histórias que contava, a da fome é disparado a melhor, pois me fez literalmente chorar de rir.
 
Aluno conveniado, logo que chegou ao Brasil, Tomás hospedou-se em São Paulo, na casa de um parente ou conterrâneo. Que lhe entregou uma cópia da chave da casa. Ainda acostumando-se com o país, confundiu as datas e veio para BH uma semana antes do início das aulas, sinônimo também de antes do início de funcionamento do bandejão da escola.
 
Não sabia o que fazer, não conhecia ninguém e só tinha no bolso a chave da casa paulista do parente. Sem ter o que fazer, ficava parado na calçada ao lado de um orelhão, olhando o movimento. Alguém tentou usar o telefone, a ficha agarrou, não saiu e a pessoa foi embora, provavelmente puta da vida.
 
Tomás pegou a chavinha, tentou, tentou e conseguiu retirar a ficha. A luz se acendeu no cérebro. Continuou por ali, outra pessoa tentou telefonar, a ficha também agarrou e mais uma ficha foi para seu bolso. E assim ficou uns dois ou três dias até alguém reclamar do mau funcionamento e a companhia substituir o aparelho.
 
Com pouquíssimo dinheiro e sem as fichas que trocava em algum bar ou padaria, começou a comer um pãozinho francês por dia, acompanhado de água. Disse nunca ter sentido tanta fome assim... até encontrar um conterrâneo que já estava no segundo ou terceiro ano; comentou com ele o miserê em que se encontrava, etc. Diante disso, o amigo resolveu pagar um rodízio para ele.
 
- Eu nunca tinha ido a um lugar assim. O garçom trouxe o couvert - paezinhos torradinhas, azeitonas, picles e umas bolas amarelas que eu nunca tinha visto. Comecei a comer todos os panes e torradas, as azeitonas, os picles, peguei um palito, espetei uma das bolas amarelas e comi. Só depois de ter comido algunas foi que eu descobri estar comendo manteiga pura. Nunca tinha visto aquilo! Mas a fome era muita ainda. Pedi uma colher ao garçom e tomei o caldo do picles como se fosse sopa. Aí as carnes começaram a chegar. Tudo o que o garçom oferecia eu aceitava e comia. E comi, comi até non aguentar mais. Chega! Aí ele trouxe um carrinho com sobremesas diversas. Comi unas três!
 
Nesse ponto eu estava rolando de rir, principalmente por causa das “bolas de manteiga a palito”. Ele riu também e concluiu:
 
- Botelho, cheguei em casa, deitei-me na cama até passando mal, de tan estufada estava a barriga. Mas eu estava tan feliz!

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

CARTA DE DESISTÊNCIA - LEONARDO HABERKORN


 
Recebi este texto de um amigo que já foi diretor do colégio onde minha mulher lecionou, escreve poesias, é extremamente culto, gente finíssima, continua na área de educação (mas não sei em qual função), etc., etc. E virou meu amigo real apesar do pouquíssimo contato que temos. Pois bem, recebi dele este texto que dedico integralmente a meu amigo Azarão (ou Marreta), titularíssimo do blog A Marreta do Azarão. Olhai, Marreta.

 
O jornalista e acadêmico uruguaio Leonardo Haberkorn deixou o cargo de professor no Programa de Comunicação da Universidade ORT, em Montevidéu. Sua despedida foi um alerta para todos os educadores do mundo:
 
Depois de dezenas de anos lecionando, dei hoje a minha última aula nesta universidade. (...) Cansei de lutar contra os celulares, contra o WhatsApp e o Facebook. Eles me derrotaram, eu desisto, jogo a toalha. Cansei de falar de assuntos que me apaixonam diante de jovens que não conseguem tirar os olhos do celular e receber selfies.
 
É verdade que nem todos são assim. Mas há cada vez mais alunos desse tipo em todas as aulas. Até três ou quatro anos atrás, a proibição de usar o celular durante os noventa minutos de aula ainda surtia efeito — nem que fosse para que o aluno se sentisse culpado.
 
Isso acabou. Talvez seja eu... talvez eu tenha me desgastado e esteja cansado desse combate. Talvez até esteja errado. Uma coisa, porém, é certa: muitos desses jovens não têm consciência do quanto é ofensivo e prejudicial o que eles fazem. É cada vez mais difícil explicar como o jornalismo funciona para pessoas que não o consomem ou não veem sentido em se informar.
 
Esta semana na aula surgiu o tema da Venezuela. Só um aluno em vinte conseguiu explicar os fundamentos do problema. Só o básico, do resto ele não fazia a menor ideia. Perguntei se eles sabiam o nome do uruguaio que estava no meio da tempestade. Obviamente, nenhum deles sabia.
 
Perguntei-lhes se sabiam quem era o uruguaio Luis Almagro (secretário-geral da OEA). Silêncio. Por fim, do fundo da sala, uma jovem gaguejou: "Ele não é o Ministro das Relações Exteriores?"
 
 “O que está acontecendo na Síria?” Silêncio. (...)
 
“Qual partido é mais liberal, ou mais à esquerda nos Estados Unidos, os democratas ou os republicanos? Silêncio.
 
"Você sabe quem é Vargas Llosa?" Sim!
“Alguém aqui já leu um livro dele?" Ninguém.
 
Tentar conectar pessoas tão desinformadas com o básico do  jornalismo é complicado. É como ensinar botânica a alguém de um planeta onde não existe vida vegetal.
 
No exercício em que os alunos tiveram que sair para procurar uma notícia nas ruas, um deles voltou com esta notícia: “Jornais e revistas ainda são vendidos!” (...)
 
Existe um momento em que o jornalista funciona contra você. Porque você é treinado para se colocar no lugar de outras pessoas, cultiva a empatia como ferramenta básica de trabalho. Esses alunos ainda têm a mesma inteligência, simpatia e cordialidade de sempre, e a culpa dessa situação não é só deles. A falta de cultura, o desinteresse e a alienação não nascem por conta própria.
 
A curiosidade deles morreu aos poucos, a cada vez que um professor deixou de corrigir seus erros ortográficos. Aos poucos, lhes ensinaram que tudo tem mais ou menos o mesmo valor. E quando você percebe que eles também são vítimas, acaba baixando a guarda quase sem se dar conta.
 
Nesse momento o aluno mau é aprovado como mediano; o medíocre passa por bom; o aluno simplesmente bom, nas poucas vezes em que consegue uma boa nota, é celebrado como se fosse brilhante. Não quero mais fazer parte desse círculo perverso. Nunca fui assim e me recuso a ser.
 
Sempre gostei de fazer bem feito tudo que faço, com o melhor de minha capacidade. (...) Vejo rostos apáticos. Desinteresse. Um rapaz largado, olhando o Facebook. O ano inteiro foi igual. (...)
 
Silêncio. Silêncio. Silêncio. Nessas horas, o que eles mais queriam é que eu terminasse a aula.
 
Eu também.

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

LENDO SEM MODERAÇÃO

 
Como sabem os leitores mais constantes desta bagaça eu fui um menino preso até os onze anos, um prisioneiro do amor de meus pais, que morriam de medo de me deixar sair sozinho de casa. Depois disso, mesmo sendo autorizado a perambular pelas redondezas, tive poucas oportunidades de conviver com a molecada da vizinhança sem ser vítima de bullying. Talvez por isso eu tenha ficado mais introvertido e me auto-aprisionado dentro de casa, tendo por companhia todo tipo de leitura que caía em minhas mãos.
 
Alguns dos melhores momentos da minha infância e pré-adolescência eu passei lendo os livros infantis de Monteiro Lobato. Os assuntos eram os mais variados e, podem acreditar, muito instrutivos, sem ser cansativos. Exemplos: Viagem ao céu; História do mundo para as crianças; Emília no país da gramática; Aritmética da Emília; Geografia de Dona Benta; História das invenções e muitos outros.
 
Para mim, o mais interessante de todos os infantis é “A Chave do Tamanho”. Para quem não conhece, o tema é o seguinte: a boneca Emília decide ir a algum lugar onde estão as “chaves” que controlam tudo, para desligar a "Chave da Guerra" (esse livro foi escrito durante a Segunda Guerra Mundial). Como ela era muito pequena e os "disjuntores" ficavam lá no alto, ela erra a mão e, em vez da chave da guerra, desliga quase totalmente a chave do tamanho, fazendo com que toda a humanidade fique reduzida a uma altura menor que a de um passarinho, se não me engano. Creio que as pessoas são confundidas com "baratas descascadas".
 
Lembrei-me desse livro ao ler um poema de meu amigo virtual Marreta inspirado nos personagens da história alucinógena de Alice no País das Maravilhas, pois o livro do Lobato também é uma viagem.
 
Hoje, quando ouço falar de críticas a esses livros por seu conteúdo "racista", tenho vontade de vomitar. Só falta alguém propor que sejam reescritos ou que sejam retirados os trechos que "ofenderam" algum leitor mais sensível (e ignorante). É claro que se esse revisionismo vingar, a cada nova década qualquer livro de qualquer autor poderá ser submetido à revisão e nova censura, nova crítica, até que nada mais reste da obra original. Espero já estar morto se isso um dia acontecer. Mas, até lá, meu sentimento é de gratidão ao sobrancelhudo escritor (porque ele tinha as sobrancelhas!) por ter-me ajudado a atravessar a infância com poucos arranhões na alma. E se alguém quiser uma vacina contra a ignorância fica a dica: dispa-se do preconceito e leia sem moderação! Tudo, qualquer coisa, de qualquer época, prosa ou poesia, apenas leia, consciente de que cada época tem seu zeitgeist.





terça-feira, 20 de setembro de 2022

OS AMIGOS NA PRAIA - RUBEM BRAGA

Nem tudo na vida é polarização, medo, intenções de voto, notícias falsas, ódio ou gabinetes. A vida pode ser também sinônimo de prazer, de alegria e descontração, tudo isso às vezes reunido e resumido em uma única crônica. Claro, desde que seja crônica escrita por um master no assunto. Como já disse outras vezes, "adotei" o Rubem Braga como ídolo, tal a sua capacidade de escrever de forma leve, lírica e bem-humorada. Ele não inventava moda, seus textos têm sempre uma fluidez incrível e de leitura extremamente prazerosa. Olhaí, EcT, se quiser escrever muuuito bem, sugiro que leia e releia as crônicas do mestre Rubem Braga. Como esta: 
 

Éramos três velhos amigos na praia quase deserta. O sol estava bom; e o mar, violento. Impossível nadar: as ondas rebentavam lá fora, enormes, depois avançavam sua frente de espumas e vinham se empinando outra vez, inflando, oscilantes, túmidas, azuis, para poucar de súbito na praia. Mal a gente entrava no mar a areia descaía de chofre, quase a pique, para uma bacia em que não dava pé; alguns metros além havia certamente uma plataforma de areia onde o mar estourava primeiro. Demos alguns mergulhos, apanhamos fortes lambadas de onda e nos deixamos ficar conversando na praia; o sol estava bom.
Éramos três velhos amigos e cada um estava tão à vontade junto dos outros que não tínhamos o sentimento de estar juntos, apenas estávamos ali. Talvez há 10 ou 15 anos atrás tivéssemos estado os três ali, ou em algum outro lugar da praia, conversando talvez as mesmas coisas. Certamente éramos os três mais magros, nossos cabelos eram mais negros... Mas que nos importava isso agora? Cada um vivera para seu lado: às vezes um cruzara com outro em alguma cidade e então possivelmente teria perguntado pelo terceiro. Meses, talvez anos, podem haver passado sem que os três se vissem ou se escrevessem; mas aqui estamos juntos tão à vontade como se todo o tempo tivéssemos feito isso.
Falamos de duas ou três mulheres, rimos cordialmente das coisas de outros amigos ("aquela vez que o Di chegou de S. Paulo"... “o Joel outro dia me telefonou de noite...") mas nossa conversa era leve e tranquila como a própria manhã, era uma conversa tão distraída como se cada um estivesse pensando em voz alta suas coisas mais simples. Às vezes ficávamos sem dizer nada, apenas sentindo o sol no corpo molhado, olhando o mar, à toa. Éramos três animais já bem maduros a entrar e sair da água muito salgada, tendo prazer em estar ao sol. Três bons animais em paz, sem malícia nem vaidade nenhuma, gozando o vago conforto de estarem vivos e estarem juntos respirando o vento limpo do mar - como três cavalos, três bois, três bichos mansos debaixo do céu azul. E tão sossegados e tão inocentes, que, se Deus se nos visse por acaso lá de cima, certamente murmuraria apenas - “lá estão aqueles três" – e pensaria em outra coisa.
Março, 1956

  

domingo, 18 de setembro de 2022

FLOPOU!

 
Estava distraidamente assistindo com minha mulher o programa “Caldeirão com Mion” passado aos sábados pela Globo (pois é, o único canal da TV aberta que eu consigo assistir é a Globo – que nunca foi lixo para mim), estava lá distraidão quando a Nany People usou a palavra “flopou” para elogiar alguém que tinha feito uma apresentação espetacular. Aquilo logo causou uma reação de seus colegas de júri, que avisaram que “flopar” é o contrário de elogio. O Mion até tentou aliviar a barra, ao comentar que o mico foi pago por alguém “de outra geração”.
 
Ser chamada implicitamente de velha depois de pagar mico ao vivo e a cores, um mico com todas as cores do arco-íris (porque a “idosa” é uma legítima e simpaticíssima representante da tchurma LGBTQIA+) é de foder.
 
Já tinha ouvido falar em flop ligado a computadores (um “teraflop”, coisas assim), mas “flopar” era novidade. Corri ao Google, o pai dos bípedes que zurram e andam de quatro e descobri que o equivalente de "flopou” é “fracassou”, "deu ruim", "foi mal". E que o contrário disso é “hitou”, do verbo “hitar” (fazer sucesso, bombar). Juro, fiquei muito irritado com essa descoberta.
 
Eu sou um cara que sempre buscou manter-se atualizado com as novas gírias e expressões da moda, mas “hitar” eu não uso nem a pau. Foda-se a “perca” de comunicação com os mais jovens! Para não ficar muito vulgar esta frase, posso substituir “foda-se” por “fuck you all”, mais internacional.
 
Aqui cabe um parêntese: mesmo que eu considere “orgulho” um sentimento de segunda linha, acho que o brasileiro pode sentir orgulho de ter um leque de palavras chulas e vulgares muito mais extenso, rico e variado que os americanos. Lá para os gringos parece que “fuck” é uma espécie de prefixo para uma série de expressões, um pau para toda obra (ou obra para todo pau). Como não sei inglês fico na minha. Mas fiquei comovido e alegre ao aprender com a finada rainha Elizabeth que “fuck” é uma palavra anglo-saxônica que significa “espalhar a semente”. Nada mais delicado, concordam?
 
Mas estou me desviando do assunto, que é atualização de vocabulário. Sinceramente, nada entendo de língua portuguesa. O máximo que consegui foi conhecer algumas línguas brasileiras, mas isso foi a tanto tempo que é melhor deixar pra lá. Afinal, sou um matusalêmico idoso (com dificuldade para dar sequência ao texto).
 
Graças à minha idade provecta, uso gírias de várias épocas e décadas. Por exemplo, mesmo que sejam antigaças, continuo falando à beça, bacana, barato, boa pinta, careta, dançou, grilado, sacou? e outras que têm cheiro de naftalina ou formol; mas tenho aversão, ojeriza a gírias da época da Jovem Guarda. Não dá para usar gamado, barra limpa, broto, carango, é uma brasa, mora? ou pão. Numa boa, essas palavras têm gosto de manteiga rançosa, cheiro de leite azedo.
 
Outro grupo de palavras causadoras de azia vem do “setor” evangélico. “Nação” e “Tribulação” por exemplo, ou “Varão” (que alguém mais distraído pensaria tratar-se de um atributo do Kid Bengala); já “Espada de fogo” remete aos sabres de luz da série Star Wars; “Tá amarrado” (essa eu realmente não suporto) ou “Livramento”, que me faz pensar nas cidades de Livramento (Paraíba) ou Santana do Livramento (Rio Grande do Sul). Coisas desse tipo.
 
Apesar disso, continuo utilizando expressões surgidas de tecnologias hoje ultrapassadas, tipo “pegar o bonde andando”, “caiu a ficha”, “vire o disco” e outras que estou com preguiça de explicar ou lembrar.
 
Para continuar tentando me comunicar com os 13,4 leitores do blog, seguirei na busca por gírias novas para atualizar meu vocabulário (afinal, tenho que impressionar a moçada!), mas aviso que utilizar “hitar, hitou” está fora de cogitação. Já “flopar, flopou” é um caso a pensar. Talvez eu até utilize uma palavra derivada desse verbo na próxima vez em que me consultar com um urologista. Talvez diga para ele de forma displicente:
 
- Doutor, o senhor poderia me receitar um remédio bom para flopau?

 

RUBOR

 
Sempre me causou espanto a desinibição dos apoiadores do Bozo em divulgar meias verdades e notícias falsas, mas creio que hoje encontrei a explicação para isso.

Quem cria ou compartilha nas redes sociais as abomináveis fake news não tem vergonha na cara. Só isso? Claro que não! 

Quem tem vergonha na cara se ruboriza, fica vermelho ao contar uma mentira. E tudo o que um bolsonarista menos quer é ficar vermelho. Issa!

sábado, 17 de setembro de 2022

PENSE EM UM TRIÂNGULO

 
As eleições se aproximam, já teve um babaca me acusando de me sentir acima do bem e do mal, já fui chamado de fascista por alguns esquerdistas, de comunista ou isentão por bolsonaristas (como esse pessoal gosta de rotular!). Por isso já de saco cheio desta época tão tóxica resolvi republicar um texto que escrevi lá no início do blog, por considerá-lo bastante pertinente e didático. Esta republicação só ficará visível por poucos dias, tempo suficiente para que algum interessado leia o texto. Depois disso, só procurando nos arquivos do blog.



Eu nunca tive nenhuma simpatia pelas opiniões e ideias extremadas; sempre tive imensa antipatia e desprezo por todo tipo de extremistas, por ver neles um comportamento do tipo "vocês todos que não pensam como nós, estão errados. Só nós conhecemos a Verdade e o que é bom para todo mundo". Nesse modelo de intolerância, de intransigência, de radicalismo e empáfia, cabe um bocado de pessoas – muitas vezes bem intencionadas – e até mesmo instituições.
 
Se o assunto é religião, encontramos os fundamentalistas islâmicos e os cristãos criacionistas, os pentecostais, os evangélicos radicais. Em termos de cultura, basta lembrar a passeata contra o uso de guitarras elétricas na MPB, posição defendida pelos puristas e ignorantes brasileiros na década de 60 (o Gilberto Gil estava entre eles) ou a proibição e queima de livros, praticada por alguns regimes (nazista, entre outros).
 
Em termos de comportamento, eu vejo a cobrança de atitudes conhecidas pela expressão "politicamente correto" como uma coisa lamentável, autoritária e cheia de censura, tão imprópria que eu a coloco no mesmo "balaio da intolerância".
 
E aí, chegamos à política. Para mim, tanto faz o radicalismo ser de direita ou de esquerda, pois sou contra os dois. Em 1964, eu tinha 14 anos. Eu só sei que tinha pavor dos radicais de um e de outro lado. Em vários muros e prédios havia uma pichação da sigla CCC, que significava "Comando de Caça aos Comunistas". Do lado da esquerda radical existiam os grupos que tentaram lutar (armados) contra a ditadura. Tudo isso me enchia de pânico e de medo de ser atingido de bobeira por um ou por outro lado.
 
Mas não precisa pensar em Brasil para ver a extensão e os efeitos danosos do radicalismo, da barbárie e da intolerância. É só lembrar o Hitler, Stalin, Mao Tse Tung, generais argentinos, Khmer Vermelho, Che Guevara, para constatar que grande merda é o pensamento radical.
 
Eu sempre pensei que se você olha a vida apenas de um lado, seja ele um olhar de esquerda ou de direita, você perde (ou recusa-se a ter) uma visão mais ampla e equilibrada do todo. Pior ainda é querer que essa visão parcial e deformada da Realidade prevaleça na marra. Aí a coisa já fica até doentia.
 
Há muito tempo, quando ainda trabalhava, criei para mim uma frase que traduzia razoavelmente minha forma de pensar, que é a seguinte: "eu temo o Poder (pelo potencial de perversidade que ele pode conter) e admiro o Conhecimento (que é adquirido com muita dedicação), mas só respeito mesmo a Inteligência". Essa auto-citação, embora presunçosa, é só para dizer que eu não reconheço "Inteligência" nos pensamentos e ações radicais. Pelo contrário!
 
Por isso, eu deploro e vejo com desconfiança e até desprezo todo tipo de radicalismo, todo tipo de fundamentalismo, toda forma parcial e intolerante de viver e agir, seja no campo da religião, seja no campo dos costumes ou da política, pois para mim nada é cem por cento certo, verdadeiro ou ideal. Somos pessoas singulares, não somos iguais (embora devamos ter oportunidades básicas iguais).
 
Eu e meu irmão éramos paupérrimos quando crianças, não tínhamos casa, morávamos com minha avó, vestíamos as roupas que não serviam mais nos meus primos ricos. Onde eu morava, a quase totalidade dos meus companheiros era também filhos de pobres ou miseráveis (gente que vasculhava o lixo para sobreviver). A diferença entre nós e eles é que, apoiados e incentivados por nossos pais, nós estudamos. Se alguém me perguntar o que aconteceu com nossos companheiros de infância, eu posso dizer que um virou sapateiro, outro virou fotógrafo desses de batizado, alguns viraram vendedores, outros viraram cachaceiros desocupados, dois foram assassinados, um enlouqueceu, e por aí vai. Então, o que conseguimos – mesmo que essas conquistas não sejam espetaculares – foi por mérito próprio, ralação, muito sapo engolido, etc.
 
Agora, imagine que eu tivesse conseguido comprar uma puta fazenda, mesmo que fosse só para especular. Como aceitar que o que eu consegui suando fosse ocupado por um bando de manés que são hoje o que eu fui na infância? Não dá, né?
 
O que eu quero dizer com isso? É que eu compartilho integralmente a visão do poeta Ferreira Gullar. Em uma entrevista à revista Veja, ele disse (o grifo é meu) que "A natureza é injusta. A justiça é uma invenção humana. Um nasce inteligente e o outro burro. Um nasce inteligente, o outro aleijado. Quem quer corrigir essa injustiça somos nós”.
 
É lógico que devemos tentar corrigir as injustiças, mas devemos sempre nos lembrar de que os resultados não serão iguais para pessoas que são diferentes entre si. A única forma de tentar corrigir isso, em minha opinião, é pela educação de qualidade. É isso que eu chamei de "oportunidade básica".
 
Enquanto alguns (bem intencionados!) tentam defender os miseráveis, os "sem isso", os "sem aquilo" com ações equivocadas ou até reprováveis, eu defendo a criação de dois novos movimentos: o “MSR” e o “MSIQ”, respectivamente “Movimento dos Sem Radicalismo” e “Movimento dos Sem Instrução de Qualidade”.
 
Brincadeiras à parte, eu pensei em uma forma de demonstrar “matematicamente” (o hábito do cachimbo faz a boca torta) que o comportamento radical não está com nada. Vejam só: Imaginem três triângulos de bases iguais, sendo um deles isósceles e os outros dois escalenos. Os dois escalenos são espelhados (um “pende” para a esquerda e o outro “pende” para a direita).
 
Agora, imagine um observador localizado no vértice oposto à base. Quanto mais esse vértice for para a esquerda ou para a direita, mais parcial será a visão do observador. Não acredita? Veja bem, a abrangência de visão do observador é definida pela área do triângulo. Como a base é a mesma, a área dos triângulos será afetada pela altura do vértice oposto (quanto mais "agudo" ficar o triângulo, menor será a área obtida). Elementar, meu caro Euclides!

Se alguém quiser fazer a experiência “ao vivo e a cores”, prenda as duas pontas de um cordão em uma superfície, de modo que ele fique frouxo. O segmento de reta que une as duas pontas é a base do triângulo. Agora, estique o cordão até ele formar um triângulo isósceles. Sem soltar o cordão, deslize esse vértice para a esquerda e para a direita. Embora a base e o cordão sejam os mesmos, a área obtida com o vértice à esquerda ou à direita será sempre menor que aquela obtida quando se forma o triângulo isósceles.

A RESSURREIÇÃO DO INEXISTENTE

 
Quem acredita em verdades eternas e imutáveis ou é um otimista incorrigível (também pode ser pessimista) ou um ingênuo de nascença. Há pessoas com crenças tão arraigadas e inexpugnáveis que nada é capaz de mudar. Terra plana é fichinha perto de algumas crendices que estão circulando nas redes sociais. Deixando a enrolação de lado, estou me referindo à “ressurreição” do comunismo no Brasil.
 
Pois é, quem diria que isso ocorreria 58 anos depois dos generais terem feito de “um tudo” para acabar com essa porra no país? Aliás, esforçaram-se tanto que acabaram ficando 37 anos no poder, imagino que para evitar uma possível recaída, uma recidiva.
 
Hoje em dia, segundo o Google (aquele mentiroso filho da puta), existem apenas cinco países comunistas no mundo atual. China, Vietnã, Laos, Coreia do Norte e Cuba. Eu ainda incluiria a Venezuela, mas cinco ou seis já está de bom tamanho. Rússia? A mãe do comunismo ateu (como bradava nas ruas a TFP)? Que bobagem! A única coisa ainda comunista na Rússia é o mausoléu do Lênin.
 
Mas no Brasil existe, foi ressuscitado (estou falando do comunismo ateu, não do Lênin). Vejam bem, segundo o Google (de novo!) existem dois partidos comunistas no Brasil (PCB e PCdoB) e mais um (PCO) com projeto revolucionário (criado por completos idiotas). Querem saber a soma do número de filiados nos três? Em torno de 500 mil pessoas em um pais com população de 215 milhões de habitantes. Uma ameaça de 0,2% da população. Que perigo!
 
Mas engana-se quem acha que a ameaça de 0,2% dos amantes da foice e martelo é o maior dos perigos. Não é, claro, ainda mais em uma época onde as foices foram substituídas por colheitadeiras. O perigo mesmo, o perigo real está escondido no seio da sociedade, mais ou menos como a gordura intersticial encontrada em um bife de carne marmorizada das raças Angus ou Wagyu. E quem diz isso não sou eu, são justamente os adoradores do mito! Ultimamente, pelo menos.
 
Aparentemente deu a louca nos bolsonaristas raiz (acho que isso é pleonasmo), pois basta um zé mané fazer uma crítica ao Cavalão para ser quase escoiceado aos gritos de “comunista!”. Qualquer bobagem dita contra o Bozo, qualquer ironia, qualquer pergunta julgada inconveniente, qualquer declaração de voto que não seja no Jair é considerada uma manifestação de gente comunista.
 
Nessa linha de pensamento o Brasil deve ter hoje mais de cem milhões de comunistas (chupa, Lênin!). E a culpa desse delírio é dos bolsonaristas, pois se ninguém mais se lembrava desse anacronismo, foram justamente os que defendem o extremo oposto que conseguiram tirá-lo do túmulo. E aí eu percebo que a característica comum a todos os mito-manos (os manos do mito) é o cagaço, o medo, um medo infantil, ilógico, paranoico, tudo o que o Bozo e seus marqueteiros gostam de manipular. Dureza!

MARCADORES DE UMA ÉPOCA - 4