terça-feira, 31 de maio de 2022

BREAK A LEG!

 
Sou um leitor silencioso dos blogs de meus amigos virtuais. Claro, só daqueles que posso acessar, certo, Scant? Às vezes comento alguma coisa, mas, por uma espécie de pudor, na maioria das vezes permaneço calado, pois tenho receio de fazer comentários muito ingênuos, idiotas, pedestres ou dispensáveis (mas dou notícia de tudo).
 
Recentemente li uma resposta dada por meu amigo virtual Marreta a um dos leitores de seu blog. O que chamou minha atenção foi o fato de, pela primeira vez, ler uma referência à depressão que estava sentindo. Logo ele, o cara que descarta o favo de mel e come abelha, o discípulo fiel do Bukowski, o pós graduado em cervejas boas e baratas!
 
Fiquei pensativo com essa novidade. Quem ou o que deu a ele de presente um cachorro preto igual ao do Churchill? Obviamente não espero resposta nenhuma nem ele tem satisfação a me dar. Para mim, por ter alguma intimidade com esse sentimento, o assunto serve apenas para divagações.
 
Ele é bem mais novo que eu, ainda se emputece no trabalho e imagino que tenha vários motivos para levar uma vida normal. Mas não é assim que as coisas acontecem. Pelo menos, não comigo. E mesmo que alguém possa pensar que isso é frescura ou jogo de cena, preciso dizer que não é, pois às vezes os sentimentos extravazam como água em caixa d’água com boia estragada.

Só para exemplificar o poder que alguns sentimentos negativos possuem, vou contar rapidamente um fato que está acontecendo agora. Conheço há alguns anos uma pessoa a quem sempre admirei (não, não sou eu). É super competente, super profissional, professora universitária, morou na França, independente financeiramente e agora aposentada. Resumidamente, uma pessoa muito foda. De repente, como disse o Vinícius, “não mais que de repente, do riso fez-se o pranto” e essa mulher começou a exibir todos os sintomas de uma síndrome do pânico pra lá de pesada, chorando frequentemente, sem conseguir sair de casa nem para se vacinar.
 
Aprendi que síndrome do pânico não é depressão (mas pode levar a isso). Mesmo assim, esses são sentimentos negativos que você não controla facilmente. Como não sou psicólogo, quero apenas comentar minha experiência pessoal com os estados depressivos (os meus).
 
Porque depressão é uma coisa estranha, muito estranha. Às vezes, assim do nada, o disjuntor da alegria e bem estar desarma e a melancolia invade e afeta todos os "circuitos integrados". A partir daí é mergulho em apneia, torcendo para que o oxigênio do pulmão não acabe.
 
Eu sei que tenho mil motivos a mais que o Marreta para ter depressão – sou idoso (a idadenos torna mais propensos a isso), não trabalho, não tenho amigos com quem conversar. Por isso, às vezes a única vontade que tenho é ficar abraçado com meu black dog em um canto escuro da casa, babando fel e esguichando tristeza.
 
Esses apagões emocionaais acabam se refletindo no que escrevo ou penso. E isso não é frescura. Uma forma boa de tentar voltar à superfície é falar ou escrever sobre isso (correto, GRF?). Por não ter com quem falar “ao vivo e a cores”, escrevo e posto no blog. Mas essa é uma opção minha (sou exibicionista, entende?)
 
E esta é a mensagem para meu amigo Marreta: escreva, escreva, escreva, sem filtro, apenas para você. Não precisa (talvez nem deva) postar no blog. Isso pode ajudar a iluminar e oxigenar seu cérebro. Como dizem entre si os atores britânicos antes de entrar em cena: “break a leg!”.

3 comentários:

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