INJÚRIA SECRETA

Meu filho mais velho é multitalentoso e megainteligente. Pode parecer conversa de pai coruja, mas não é. Embora ele seja uma das pessoas mais doces e gentis dentre as cinco que conheço, o cara é mesmo uma fera. Entre outras qualidades possui duas que admiro muito - não quis ter filhos – pois "este mundo é muito louco" e desenha bem pra caramba.
 
Há pouco mais de um ano, talvez pela falta de uma fralda para trocar ou de um leite regurgitado para limpar na blusa de lã usada que ganhou no bingo da igreja, resolveu fazer um desenho por dia. E fez! A imensa maioria é formada por personagens fantásticos de filmes e HQs (o Ozy adoraria ver!) e mulheres voluptuosas e "bem fornidas" (o Marreta adoraria ver!).
 
Gostei tanto da ideia que resolvi plagiar meu filho. Mas por não ter sua intimidade com o uso de lápis, borracha, compasso, esquadro, transferidor e régua T, escreverei um texto por dia. Não um texto qualquer, mas páginas de um diário onde registrarei as emoções sentidas e acontecimentos ocorridos a cada novo dia (claro, senão não seria um diário!).

Ainda que não seja algo do tipo “acordei, almocei e dormi”, jamais serão juras secretas, porque jura secreta mesmo, das boas,  só conheço a que foi composta por Sueli Costa e Abel Silva. Que música linda, meu senhor! Que versos potentes, minha senhora!
 
E aqui cabe um parêntese: As palavras “potência” e “potente” têm sido frequentemente utilizadas em programas de culinária, para indicar um sabor intenso ou alguma coisa parecida (“este molho apresenta uma potência muito grande"; "esta fruta tem um sabor ácido e potente"). Fico me perguntando se essas receitas sofisticadas utilizam algum pó de pirlimpimpim (eu acho que tenho complexo de Peter Pan) ou algum condimento natureba com as mesmas qualidades do citrato de sildenafila moído para atingir essa "potência". Sei lá, vá saber!

 
Mas, voltando ao meu querido diário, meu desejo é chutar o pau da barraca, meter o ferro, enfiar o pé na jaca, tocar o terror, socar o malho, passar a régua em meus desafetos e, até mesmo, em meus dez afetos. Ou seja, quero detonar mais que empresa mineradora pouco preocupada com o meio ambiente. Em resumo, nas páginas de meu diário não existirão comentários gentis nem registro de gracinhas e tchutchuquices, só minhas injúrias secretas. "Te cuida, Latoraca!"