quinta-feira, 26 de maio de 2022

MEU CARO AMIGO

 
As redes sociais são a horta mais adubada, a terra mais fofa, o terreno mais fértil para que algumas pessoas “plantem” seus preconceitos, suas verdades eternas e visão estreita de mundo. Tenho tentado passar direto quando percebo alguma dessas cobranças de comportamentos ou receitas de vida bitoladas ou preconceituosas.
 
Conheço superficialmente um sujeito por quem tenho pouca ou nenhuma simpatia, justamente por ser do tipo que bate na mesa, eleva a voz e fala abobrinhas que dariam para lotar duas centrais de abastecimento. Como parece ser incapaz de pensar por conta própria, às vezes publica textos do tipo que mencionei acima. O mais recente foi este:
 
Depois de ler esse lixo, resolvi mandar uma mensagem privada para ele com meu comentário. E a postagem de tudo isso atende a vocação “blogoteca” do Blogson, ou seja, é apenas o arquivamento de uma “carta digital” (a vantagem é que não preciso comprar o selo). Olhaí.

 
Cada pessoa teve um tipo de infância, um tipo de cobrança, um tipo de exemplo. Não há modelo único. Por isso, resolvi te contar a criação que tive. Nasci em 1950 e morei na casa de minha avó materna até me casar, pois meu pai quebrou quando eu ainda era criança e nunca se recuperou plenamente nem do ponto de vista financeiro nem mentalmente (imagino que tinha depressão quase incapacitante).
 
Provavelmente usei fralda de pano - o que não é nenhuma vantagem, pois meus filhos usaram também. Na casa de minha avó não se cozinhava com banha de porco e nunca tive bicicleta. Na casa onde eu morava viviam duas crianças e doze adultos. Nunca apanhei na minha vida e só comecei a trabalhar quando entrei para a faculdade.
 
Durante muito tempo não teve aparelho de televisão na casa de minha avó. Por isso, eu ia assistir TV na casa de minha tia, que morava pertinho. Não me lembro se fiz juramento à bandeira mas sabia cantar o hino nacional e o hino da independência.
 
Nunca bebi água de torneira e sofri MUITO bullying na escola. Celular, tablet e computador pessoal surgiram quando eu já era adulto (o primeiro microcomputador em que coloquei minha mão foi comprado por um colega de trabalho, lá por volta de 1982).
 
Nunca ajudei minha mãe em nada e ela nunca me cobrou isso. A única coisa que meus pais fizeram foi me incentivar a estudar. Uma das tias comprava coleções de livros de literatura vendidos em banca de revista e eu passei o final da minha infância e boa parte da adolescência lendo tudo o que passava na reta.
 
Como pode ver, não há infâncias nem lembranças iguais. Algumas pessoas tendem a romantizar sua infância e juventude e até a reclamar que os jovens de hoje não tenham o comportamento “exemplar” que havia no “seu tempo”, mas só sei que tudo muda e que eu não tenho NENHUMA saudade daquela época. Abraços.

 


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