sexta-feira, 13 de maio de 2022

"RESPOSTA GRANDE VIRA..."



Ganhei um presente de meu amigo virtual Scant quando ele fez duas perguntas em seu blog, que diziam mais ou menos assim:
- Você é do tempo do Hal Foster? Leu as histórias que ele criou?
 
Eu iria apenas responder, mas, de repente, bati com meu sessual nariz no portal, que avisou: Parece que você não foi convidado para ler este blog. Se achar que trata-se de um engano, recomendamos que você entre em contato com o autor do blog e solicite um convite.
 
Saber-me de repente pertencendo à ralé, à escória, é muito frustrante. Por isso, resolvi pegar o limão azedo recebido e usar para temperar uma carninha (fazer limonada já virou clichê, entende?). Aí vai a resposta (o “presente” é o post que está sendo escrito agora).
 
Não sei se sou exatamente do “tempo” do Hal Foster, pois segundo li na internet, o Príncipe Valente foi criado por ele em 1937, treze anos antes que eu nascesse. Ainda segundo minhas leituras, ele morreu em 1982, três anos depois de parar de desenhar. Não deveria ter feito isso, mas passou a bola pra frente em 1979, com a previsível e indesejada alteração no estilo e qualidade dos desenhos. Mas não conheço essas histórias, pois, nessa época, eu já quase não lia HQs (tinha histórias infantis acontecendo em casa, muito mais interessantes).
 
Creio que meu primeiro contato com as histórias do Príncipe Valente aconteceu através das duas páginas diárias de tirinhas que o jornal O Globo publicava nas décadas de 1950 e 1960. Essas páginas traziam as histórias de vinte a trinta personagens diferentes – Fantasma, Tarzan, Mandrake, Ferdinando, Pafúncio, Brucutu, Águia Negra, Nick Holmes, Dick Tracy e outros personagens “conhecidos” de todo mundo.
 
E eu lia todas, depois do jornal do dia anterior ser descartado por meu avô. Tentei encontrar na internet uma imagem dessas páginas, mas não teve um filhadaputa para postar pelo menos uma. Por isso, continuo acreditando que foi assim que conheci os desenhos ultra realistas do Hal Foster.
 
No início da década de 1970, uma de minhas tias pediu para que eu ensinasse matemática ou alguma outra matéria para um de seus filhos, uns oito anos mais novo que eu. Lembro-me de ir à sua casa quase todos os dias. Mas, em vez de só estudar, eu e meu primo ficávamos lendo histórias em quadrinhos.
 
Por ele ter nascido rico e morar a uns vinte metros de uma ótima banca de revistas, comprava tudo o que queria e que era publicado. Comprava tanto que o dono da banca aceitou pegar as revistas já lidas e em bom estado, trocando-as pelas recém-publicadas. Claro, com um “pequeno” deságio, coisa que nem era levada em consideração por meu primo.
 
Mas algumas publicações ele nunca quis devolver ou trocar. Eram edições de colecionador, espetaculares, capa dura, publicadas em um tamanho que estimo ser equivalente quase a um formato A3 (420 x 297 mm). Outro diferencial eram as histórias que traziam, clássicas, originais. Lembro-me nitidamente de duas dessas publicações: “Flash Gordon no Planeta Mongo”, de 1936(!), e “Príncipe Valente” (a partir de 1937).
 
Se a umidade ou os cupins não destruíram essas revistas, meu primo ainda as tem, guardadas em algum canto de um prediozinho de propriedade da família, no hipercentro de BH. Na última vez que nos encontramos, tentei convencê-lo a doá-las para mim, mas ele apenas sorriu, o filho da puta.
 
Para não cansar, vou me deter apenas na criação do Hal Foster. Esses álbuns (li vários) traziam a história do príncipe desde sua infância até a fase adulta. Segundo li há muitos anos, o autor envelhecia o personagem na razão de um ano para cada dois de publicação). Assim, mesmo que em um ritmo mais lento, a criatura acompanharia o envelhecimento do criador. Seguindo esse raciocínio, as histórias foram mostrando o crescimento do personagem, sua entrada na adolescência, seu primeiro romance (a moça morreu), seu casamento, a morte do pai, o nascimento dos filhos gêmeos e por aí vai.
 
Outra curiosidade é que as pranchas de desenho que utilizava eram enormes, permitindo um detalhamento fodido. Assim, quando a imagem era reduzida para publicação, apresentava uma riqueza de detalhes inimaginável caso tivesse sido originalmente realizada em tamanho menor. Tive a oportunidade de ver um desses originais na “Shazam”, antiga loja de BH especializada em quadrinhos e revistas antigas. Um único quadro era quase do tamanho de uma folha de papel A4.
 
O dono dessa loja era professor universitário de Publicidade e teria começado a colecionar, comprar e vender HQs apenas para subsidiar suas aulas. No início da década de 1970, quando me contou isso, possuía TODOS os exemplares de TODAS as revistas de histórias em quadrinhos já publicadas no Brasil. Para guardar sua coleção utilizava três cômodos de um apartamento que possuía. Como precisei “crescer” depois de me casar, nunca mais fui a essa loja e nem sei se ainda existe (provavelmente, não).
 
Que mais eu poderia dizer? Acho que nada, pois mais do que escrevi só se transcrevesse textos da internet. Gostou, Scant? Gostou também, Ozy? Fui.

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