Já fazia muito tempo que eu não agredia o
pessoal que acessa este blog mambembe com meus “versos fabulosos”. Mas tive um sonho. Nada parecido com a grandeza
da frase “I have a dream”, dita por
Martin Luther King. Meu sonho estava mais para pesadelo, talvez um
sonho-pesadelo, onde recitava um poema de cordel. Aquilo ficou na minha cabeça
e eu resolvi me enrolar nesse barbante.
Até tentei aprender como é a estrutura dessa
forma de poesia, mas, por impaciência, desisti. E como eu sou quase um jegue
nordestino, resolvi criar minha versão dessa manifestação popular. Está pronta
e já na sala de embarque, ansiosa pela viagem, logo depois desta parola flácida.
Mesmo que ninguém tenha nada com isso,
amanheci com vontade de conversar fiado, de jogar conversa fora. Maaas, como
não tenho ninguém com quem falar besteiras, resolvi entupir a orelha do blog
com uma conversa mole bem descompromissada, bem coloquial, sem nenhuma intenção
de usar palavras e expressões difíceis,
do tipo “parola flácida”.
Segundo o Aurélio, parola é sinônimo de conversa fiada, sequência de palavras ocas, tagarelice, justamente o que
estou fazendo agora. Há muito tempo – isso significando que talvez a juventude
que acessa este bolog não conheça –
uma das brincadeiras colegiais era utilizar palavras mais chiques, eruditas,
para redefinir expressões populares. Como esta, por exemplo: “É de mais valia um bípede alado na destra
que dois deles desafiando a lei da gravidade” ou “mais vale um pássaro na mão que dois voando”.
Mesmo que não estejam com a intenção de fazer
piadinhas, há muitas pessoas que acreditam ser muito chique escolher palavras
“difíceis” para escrever seus textos meia boca. E não se preocupem, pois minha
carapuça (essa palavra é muito feia!) já está colocada. Como bem disse
Graciliano Ramos (obrigado, Google!), “Dicionário,
para mim, nunca foi apenas obra de consulta. Costumo ler e estudar dicionários.
Como escritor, sou obrigado a jogar com palavras. Logo, preciso conhecer o seu
valor exato”.
Apesar de super mal humorado, ele sabia das coisas. Porque algumas palavras
são tão “difíceis”, refinadas e
chiques, que para usá-las o sujeito deveria precisar apresentar carteira de
identidade e atestado de bons antecedentes. Sério! Tenho tentado me livrar da
tentação de utilizar palavras que conheço só de vista, a que mal fui apresentado. Claro, ajudado pela “cebola da memória”.
O britânico Winston Churchill deu esta
receita: “Das palavras a mais simples; das mais simples, a menor”. Como eu
nunca serei primeiro-ministro, estou pouco me lixando para o conselho do inglês. Prefiro prestar atenção no nordestino João
Cabral (aquele, o de Melo Neto) quando diz (mesmo sem ter nada a ver com este texto) que “Escrever é estar no extremo de si mesmo”.
Por isso, como prévia do que irão encontrar
no próximo post, resolvi preparar o espírito da moçada que acessa o blog com
este comentário sobre o Graciliano (o Ramos!):
Graciliano
era exigente com tudo o que escrevia
Revia, revirava, riscava, cortava, polia
Gostava
de textos enxutos e de adjetivos corria
Eu, ao
contrário dele (e isso não é qualidade)
Não
reviso quase nada, utilizo mal as vírgulas
Gosto
de unir sinônimos e dos parênteses abusar
Escolho
mal as palavras (excesso de vaidade)
Pois tudo o que eu quero mesmo
É ver
do texto o final só pra poder publicar.
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