sexta-feira, 6 de maio de 2022

FAMIGLIA EQUIDAE

 
Eu entendo e aceito que muitas pessoas tenham um perfil conservador, que valorizem o nacionalismo, Deus, pátria e família (ou tradição, família e propriedade), que sejam contra o aborto e o casamento gay e que se pautem por valores e exemplos herdados de seus antepassados, que achem que o homem tem que ser machão, daquele tipo que não come mel, já come logo a abelha, etc. Eu já fui assim, nasci em uma família assim, religiosa, temente a Deus e anticomunista até a medula (quando ainda havia motivo para temer o hoje moribundo, inexpressivo e inútil comunismo). E continuo um pouco assim.
 
Sou cheio de defeitos, cicatrizes emocionais, traumas de infância, juventude e fase adulta, esquivo, vaidoso, pretensioso, egoísta, egocêntrico e incapaz de estender a mão a quem precisa de ajuda. Mas, apesar disso, não me considero uma pessoa má, pois não consigo celebrar ou desejar o mal para ninguém - mesmo aqueles a quem odeie ou despreze. Ainda que seja incapaz de consolar, de me aproximar, de me envolver, fico comovido ou consternado com o sofrimento de alguém. Isso é que me diferencia de nuestro presidente, pois nunca torci pela ruína nem jamais desejei ou aplaudi o sofrimento de quem quer que seja.
 
“Ele”, ao contrário, no ápice da pandemia de Covid foi capaz de demonstrar desprezo ou descaso pelo sofrimento dos doentes e familiares dos que morreram por não ter tido tempo de se vacinar (com a vacina que ele se recusou a comprar quando lhe ofereceram!), ao dizer obscenidades do tipo "Eu não sou coveiro", quando perguntado sobre a quantidade de mortes por Covid, ou “E daí, lamento. Quer que eu faça o quê? Sou Messias, mas não faço milagre”, ao comentar o recorde de mortes atingido naquele mês.
 
Mas se atitudes como essas apenas demonstram seu despreparo, ignorância e insensibilidade para exercer uma função para a qual foi eleito, o mesmo não se pode dizer quando é capaz de aplaudir e elogiar um torturador sádico julgado e condenado (existe torturador que não seja sádico?). Isso é inadmissível e é o bastante para que eu o considere uma pessoa inquestionavelmente má, cruel, perversa. E que nunca consiga me identificar com ele.
 
Justamente por isso, foge à minha capacidade intelectual compreender a adesão incondicional a um sujeito que  (para mim, pelo menos) personifica a versão brasileira da “banalidade do Mal”. Dizendo mais claramente, um sujeito cujas ações, falas e comportamentos indicam que ele não é do Bem, que é uma pessoa que se fosse meu vizinho eu me recusaria a cumprimentar e de quem até sentiria medo. 
 
Assim, quando vejo a foto de uma estátua equestre del presidente, o primeiro pensamento que me ocorre é que, metaforicamente falando, seus apoiadores raiz são como jegues, burros, mulas, asnos,  jumentos e todo tipo de alimária, por aplaudir, apoiar e aprovar um Cavalão. Deve ser mesmo uma questão de identificação. Afinal, todos pertencem à famiglia Equidae.

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