Quando tinha uns dezesseis ou dezessete anos,
talvez preocupado com a pinta cabeluda que tenho no rosto, meu pai me levou a
um dermatologista mega foda e pra lá de velho, mas velho mesmo, pois já devia
ter mais de oitenta anos. Como já estava com a vida ganha (creio que no caso
dele talvez fosse melhor dizer “vida
perdida”), gostava de conversar e contar casos.
Naquele dia fiquei sabendo que a “barata” que
me acompanha até hoje tinha um nome. Não nome de batismo, por favor, que eu
nunca tive esse tipo de loucura, mas nome do dialeto que os médicos utilizam para
identificar doenças ou problemas que acometem aqueles que os procuram. O nome
da minha pinta é “nevo”. Gostaria mais que tivessem escolhido “Nero”, acho que
ficaria bacana. Mas é nevo. Hoje, por ter perdido a cor e os cabelos terem
ficado brancos, acho que poderia dizer que tenho um neavô no rosto (tá bom, piada ruim).
Voltemos ao médico matusa (de matusalém), que
é melhor. Lembro-me de ter ficado vivamente impressionado ao saber que guardava
em sua casa uma relíquia, uma mesa de madeira que fora de seu avô. Mas não era
um móvel qualquer, era a mesa que seu avô usava para amputar pernas ou braços
de quem tivesse a má sorte de precisar desses serviços.
Segundo ele, a mesa era um pranchão grosso
com quatro argolas de ferro, presas uma em cada canto. Essas argolas serviam
para amarrar e impedir que o infeliz (o cliente) se debatesse e atrapalhasse
serviço tão delicado. Dois escravos
parrudos (“negrões”, segundo ele)
ajudavam a imobilizar a vítima (o
cliente!), já devidamente anestesiada com cachaça, éter ou o que quer que fosse.
Deve ter sido por situações dramáticas como essa (talvez não tão dramáticas) que
meu pai me aconselhou a não pensar em ser médico.
Desde então a medicina evoluiu muito. Em
ortopedia, por exemplo, em vez de serrote ou facão, serras elétricas e
furadeiras são instrumentos rotineiramente utilizados. Aliás, a prática médica tem
evoluído tanto que segundo um prognóstico do escritor Yuval Harari, médicos-robôs
utilizando algoritmos poderosíssimos e Inteligência Artificial substituirão
gente de carne e osso nos diagnósticos e outros procedimentos, com muito mais
eficiência. Pelo que entendi, os médicos não terão mais CPF, mas ID, código de
barra ou QR Code (outra piadinha
horrível!).
Se esse é o futuro, o que eu quero é falar do
passado. Na época do vestibular, minha mãe queria que eu escolhesse medicina,
mas isso nunca passou pela minha cabeça, apesar de meu pai e seus irmãos (os
homens) serem médicos. Sei lá, talvez a pindaíba em que vivíamos pode ter reforçado
o conselho de Seu Amintas para que eu não pensasse nisso, pois “medicina é uma profissão que só mexe com o
sofrimento das pessoas”. É, pode ser. Mas viver na merda por se recusar a
exercer a profissão para a qual se preparou e estudou durante cinco longos anos
não deixa de ser uma espécie de idealismo reverso de meu pai.
Hoje, continuo pensando que não errei por não
escolher a opção “medicina” ao fazer a inscrição para o vestibular. Mas uma
coisa é certa: esse pessoal ganha bem demais. Cobram tão caro que às vezes
tenho a impressão que pode ser preciso vender um rim para fazer uma cirurgia. Mas
surreal mesmo seria o sujeito fazer isso para operar o outro rim.
Parêntese: Por isso, acho que vou mudar de
médico, ou melhor, de assunto. Até pensei em um trava-língua médico: “quem tem
gana ganha grana”, mas não ficou bom. Fecho o parêntese e – agora sim – falo de
outra novidade médica (devia ter escutado minha mãe!).
Li em um portal de notícias (confesso que não
me lembro de qual) uma reportagem “tão a
minha cara”, que não pude deixar de copiá-la. Saca só este trecho:
“Estudo
conduzido na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) sugere que
profissionais de saúde podem detectar precocemente o declínio funcional em um
paciente idoso, ou seja, a redução na capacidade de realizar tarefas do dia a
dia de forma independente, observando seu desempenho em tarefas simples, como
sentar e levantar de uma cadeira, se equilibrar parado ou andar uma curta
distância. Segundo a pesquisa, divulgada no American Journal of
Clinical Nutrition, esse indicador é válido principalmente para homens com
obesidade abdominal e fraqueza muscular”.
Idoso com
“obesidade abdominal e fraqueza muscular”? Porra, esse cara sou eu! Falando
sério, meus amigos e amigas virtuais podem até nunca ter pensado nisso, mas eu
sou um coach de envelhecimento! Acho
até que vou preparar um coaching de
envelhecimento. Mas, ao contrário da Maira Cardi, que cobra o
preço de um rim (o sadio!) para quem quiser fazer seu treinamento para
emagrecer, não cobrarei nada. Meu treinamento será gratuito. Até porque, se eu
cobrar, é bastante provável que eu me esqueça de receber.
Voltando à reportagem (este texto está tão
sem pé nem cabeça que chega a lembrar o monstro de Frankenstein, de tantos
pedaços mal emendados está sendo formado. Aquela mesa de quatro argolas não me
sai da cabeça...), olha que palavras animadoras:
“O
comprometimento no desempenho físico é o primeiro indicador de função
prejudicada em idosos e é considerado uma fase de transição pré-clínica para
incapacidade, ou seja, aparece antes das dificuldades em atividades cotidianas,
como usar transporte, fazer compras, cuidar da casa e roupas, preparar
refeições, tomar banho, se vestir, ir ao banheiro e se alimentar” (já estou até
pensando em começar a estocar pacotes de fraldas geriátricas!).
E para encerrar, o trecho que me deixou mais
feliz foi este: “De acordo com o novo
estudo, apenas um grupo específico de homens idosos apresentou maior
comprometimento no desempenho físico ao longo do tempo de acompanhamento:
aqueles que tinham a combinação de obesidade abdominal e fraqueza muscular –
condição conhecida como dinapenia. Esse fenótipo é comum entre idosos e
reconhecido no meio científico pelo nome de ‘obesidade abdominal dinapênica’”.
Rapaz, eu sou dinapênico e nem desconfiava! A merda é que talvez não deva comentar
isso com as senhoras idosas que conheço. Sei lá, podem não entender essa novidade
médica (idosos têm perda auditiva, entende?) e reclamar, dizendo algo parecido
com isso:
- "Dinapênis"? Você está ficando muito inconveniente!. Ninguém está interessado em suas coisas!
Rapaz, eu também já devo ter entrado nessa fase do dinapênis. O meu não desentorta nem a pau - trocadilho Jotabélico. Tô há mais de ano testando uma caralhada de tratamentos e nada. Procurei um cirurgião do caralho e ele não recomenda cirurgia no meu caso. O ônus pode ser mais maior que o bônus. Disse que pode perder tecido (e eu não tenho essa reserva toda), perder sensibilidade etc. Tá parecendo um anzol. De pegar lambari, lógico.
ResponderExcluirDiz que devo tentar me adaptar.
Pããããããta.....
Peyronie? https://uromed.com.br/artigos/doenca-de-peyronie-tem-como-tratar/#:~:text=A%20doen%C3%A7a%20de%20Peyronie%20%C3%A9%20tratada%20com%20medicamentos%20via%20oral,recomenda%2Dse%20o%20procedimento%20cir%C3%BArgico.
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