Outro dia acordei pensando em como deve ser estranha uma realidade paralela à nossa, refletida como em um espelho, onde o esquerdo vira direito e o direito esquerdo. Até pensei em tentar escrever um conto sobre isso, mas percebi que esse tipo de assunto está mais visitado que puteiro em fim de semana. Além disso, escrever ficção é chato demais, pois você precisa imaginar situações que não existiram, etc. Por isso, “para variar” (até por ter algum conhecimento acumulado sobre o "assunto"), pensei em falar de mim mesmo, ou melhor, do que minha imagem rebatida diria de mim ou o que eu esperaria de um clone pelo avesso. E saiu este texto:
Você já pensou alguma vez em como seria curioso
um universo paralelo ou mesmo só um planeta onde tudo fosse a imagem espelhada
do que existe na Terra? Não se preocupe em se desculpar dizendo ter coisas
mais importantes ou urgentes para pensar que em uma bobagem como essa, tudo bem. Mas muita gente já deve ter pensado
nisso. E o resultado desses devaneios podem ser livros, filmes e até histórias
em quadrinhos. Caso, por exemplo, do planeta em forma de cubo onde nasceu Bizarro, um Super-Homem tosco e esquizofrênico (deve ser de lá que tiraram a
terra plana).
Hoje, em mais uma das minhas madrugadas com
sonhos e pesadelos esquisitíssimos, acordei com a palavra Esoj na cabeça. Quando era criança ou adolescente às vezes escrevia
meu nome ao contrário, só para ler a maluquice assim formada. E Esoj, como já
deu para perceber, é José ao contrário. Fazia isso também com o nome dos
irmãos, dos pais e tios, demonstrando assim a mais absoluta falta do que fazer.
Enquanto alternava a vigília com o sonho,
comecei a tentar imaginar esse universo paralelo, esse mundo onde vivesse Esoj,
meu clone espelhado. Aliás, não seria um clone, mas alguém em tudo um oposto de
mim mesmo.
Seria, talvez, do sexo feminino? Não, não chegaria a tanto, pois não me
agradou a ideia de passar de “consumidor”
a “fornecedor”. Esses termos (machistas,
diga-se) foram usados por um conhecido, um garanhão incorrigível, quando
comentou com um sorriso sacana no rosto que por ter tido apenas filhas, mudara de status, tinha passado
de consumidor a fornecedor. Frase de garanhão filho da puta, lógico.
As alterações físicas deveriam ser menos
perceptíveis, pois determinantes mesmo seriam as mudanças comportamentais.
Mesmo assim um Esoj sem a pinta cabeluda no rosto e com cabelos lisos seria
divertido, pois os apelidos Pintinha, Zé da Pinta e Mancha Negra perderiam o
sentido. E o cabelo naturamente liso aboliria as toucas de meia feminina da adolescência
(que tornavam o resultado alcançado muito pior e mais ridículo que os cabelos
naturalmente anelados).
E o nome? Talvez tivesse evitado gozações se
a junção do sobrenome de um bisavô materno com o de meu pai resultasse no inofensivo Martins Pinto, em lugar do Botelho Pinto de duplo sentido (meu irmão economizaria o trauma e a grana
provavelmente gasta para tirar o Botelho do nome). Mas não livraria o "clone" de ser
convocado por um chefe sem noção, quando ele dissesse em voz alta, audível em quase
todo o andar: "Ô Pênis, dá um pulinho
aqui”.
As mudanças comportamentais e novas escolhas
é que definiriam o Esoj. Creio que as mais importantes seriam estas:
- Ele seria menos tímido e inseguro na
infância e juventude. Isso certamente influenciaria positivamente nos seus relacionamentos
com o sexo oposto.
- Não teria cursado engenharia, mas economia. E, obrigatoriamente, seria um cu de ferro na faculdade, mas chegado a uma esbórnia fora dela. Talvez até gostasse de cerveja!
- Não se casaria tão cedo nem com a mesma garota (pois não a teria conhecido). Provavelmente se casaria com alguma paixão de juventude, não tão linda como minha mulher. E já estaria divorciado. Provavelmente teria filhos, mas, infelizmente para ele, não os “Fab Four” que alegram e dão sentido à minha vida. Fazer o quê, não é mesmo? Como disse o Vinícius, “se não os temos, como sabê-los?”
- Toparia trabalhar em qualquer canto do Brasil, em vez de manter-se acorrentado à cidade onde nasceu.
- Teria se dedicado exaustivamente a ser um profissional de altíssima performance (o que provavelmente seria a causa do divórcio) e mega bem remunerado.
Não teria medo de andar de avião e conheceria todos os países de cultura ocidental (o resto só através de documentários).
- Seria fluente em inglês, italiano e até mesmo em alemão e moraria depois de aposentado em uma cidadezinha da Itália.
Ou seja, seria em tudo diferente de mim e do
Jotabê do Blogson (que talvez nem tivesse sido criado). Não sei se mais ou
menos feliz, mas totalmente diferente.
Já completamente acordado, fiquei pensando na
total impossibilidade de imaginar todas as consequências, desdobramentos e
ramificações de cada uma dessas escolhas. Mal comparado, seria o mesmo que eu tentar
resolver o cubo de Rubik, que, segundo as más línguas, possibilita 4,325 x 1019 combinações
diferentes - e só uma solução.
Refletindo sobre isso, ocorreu-me a ideia de que a
Vida é como um cubo de Rubik que cada pessoa recebe no nascimento e que deve tentar
resolver. Entretanto, poucos são os que conseguem deixar cada um dos seis lados apenas com
uma única cor.
E já que comecei falando de universo paralelo, se existisse um Esoj, eu o imaginaria um idoso de olhar tristonho e angustiado. Mas, claro, isso é só um delírio meu, pois o retrato de Jotabê é o santo graal do blog.
- Não teria cursado engenharia, mas economia. E, obrigatoriamente, seria um cu de ferro na faculdade, mas chegado a uma esbórnia fora dela. Talvez até gostasse de cerveja!
- Não se casaria tão cedo nem com a mesma garota (pois não a teria conhecido). Provavelmente se casaria com alguma paixão de juventude, não tão linda como minha mulher. E já estaria divorciado. Provavelmente teria filhos, mas, infelizmente para ele, não os “Fab Four” que alegram e dão sentido à minha vida. Fazer o quê, não é mesmo? Como disse o Vinícius, “se não os temos, como sabê-los?”
- Toparia trabalhar em qualquer canto do Brasil, em vez de manter-se acorrentado à cidade onde nasceu.
- Teria se dedicado exaustivamente a ser um profissional de altíssima performance (o que provavelmente seria a causa do divórcio) e mega bem remunerado.
Não teria medo de andar de avião e conheceria todos os países de cultura ocidental (o resto só através de documentários).
- Seria fluente em inglês, italiano e até mesmo em alemão e moraria depois de aposentado em uma cidadezinha da Itália.
Rapaz, também criou coragem de mostrar a cara?
ResponderExcluirPra ser sincero, pelo que você sempre autodescreveu, pensei que você fosse mais feio. Até que não chega a matar criancinha de susto, não!!!
E falando (ou tentando) mais sério, a foto ficou bem legal, bem expressiva. O que você está expressando nela, nem desconfio, mas que tá expressiva, tá!
A inspiração era essa.
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ExcluirJotabê, confesso que te imaginava bem diferente pelo que sempre li por aqui.
ResponderExcluirSobre seu comentário no Latíbulo, escrever também é pra mim uma forma de terapia e autoconhecimento. O ciclo que se encerra que você citou, é em relação a que?
Este comentário foi removido pelo autor.
Excluir"me sinto com noventa anos e esse é o motivo de ter me exposto, pois me sinto no final da vida, no final do blog". Esse é o ciclo a que me referi. Creio não ter mais nada de útil, criativo ou interessante a dizer. E esse é o fim da vida útil do blog. Continuará a existir, continuarei tentando postar alguma coisa, mas o blog e eu somos como que um satélite enviado ao espaço cuja bateria está no final do final.
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