quarta-feira, 31 de março de 2021

PORRADA!

Eu sempre achei legal assistir lutas de boxe de pesos pesados pela televisão. Mesmo cagando de sono e tendo de trabalhar no outro dia, às vezes eu ficava acordado até tarde da noite, só para ver a luta principal. Aí chegou o Tyson e acabou com a graça, pois os nocautes aconteciam já no primeiro round!

O boxe, apesar de a porrada comer solta, tem até cara de esporte, pois faz parte dos Jogos Olímpicos. O mesmo não se pode dizer das disputas de MMA e UFC (não sei a diferença nem tenho interesse em saber). Para mim, as lutas tipo Anderson Silva parecem mais combates de gladiadores, de tanto sangue que esguicha. Só que estamos no século XXI !!!!

A coisa já começa mal com o uso de um octógono telado. Fico pensando se a tela é para impedir que o saco ou um pedaço de orelha de um lutador saia voando e bata na cara de alguém da plateia. Vai saber!

A luta é tão feia que cheguei a pensar em uma alteração bacana para esse "esporte": botar criminosos condenados para lutar entre si. Cada vitória reduziria “x” dias na pena. Aí dava até morte, igual em Roma.

Depois, percebi que essa violência talvez seja só aparente. Se você estiver próximo ao octógono, pode acontecer de ouvir diálogos assim:


(20/09/2014)

terça-feira, 30 de março de 2021

VACÚNATE ACA

 
“La virginidad da cáncer. Vacúnate aca". Esta frase estava escrita em uma plaquinha dependurada na parede da república onde na década de 1970 moravam dois panamenhos de quem fui colega na faculdade. Lembrei-me disso hoje, pois recebi a primeira dose de Coronavac. Eba!!!
 
Os leitores incrédulos e também os incautos poderão perguntar - “Como assim? Você é um profissional da área da Saúde?” E eu serei obrigado a responder com a máxima delicadeza: - “Nem profissional nem amador da Saúde. O mais perto disso que consigo chegar é ser um 'frila', um free lance da insanidade”.
 
E, mesmo que alguns perguntem se já tenho idade para receber a vacina, serei forçado a lembrá-los de minha matusalêmica idade, pois completarei 71 anos no próximo dia 07 de junho, fato que me leva a dispensar abraços que pedi mas não posso receber e presentes que não pedi nem quero receber, tais como pares de meia ou lenços.
 
E se esses fatos atordoantes provocam atordoamento nos incrédulos mais resistentes, aí está a prova (porque, sempre que necessário, eu mato o pau e mostro a cobra):

"When I get older, losing my hair many years from now..."





 

 

domingo, 28 de março de 2021

PERDI UM AMIGO

 

Perdi um amigo. Calma, não "priemos cânico", ninguém precisa se assustar, pois como dizia uma antiga marchinha de carnaval "não tem problema, ninguém morreu". Apenas perdi um amigo virtual. Estava todo pimpão pelo Blogson ter atingido a marca de doze amigos virtuais, mas hoje me dei conta de que um deles se excluiu da lista de seguidores do blog (não gosto dessa expressão!) ou me “cancelou”. Até aí nada demais. Se as amizades reais surgem e se vão ao longo da vida, por que esperar que fosse diferente com as virtuais?
 
As amizades reais, aquelas onde ocorrem contatos de terceiro grau” acabam por muitos motivos distintos: mudança de ambiente de trabalho, mudança de bairro, mudança de cidade, estado, país. E até mudança de estado civil.
 
Alguns puristas poderão dizer que amizades terminadas assim não eram amizades verdadeiras. Pode ser, mas confesso não ter isenção para julgar essa afirmação, pois TODAS as “amizades” que fiz ao longo da vida acabaram sofrendo o impacto de um ou mais dos motivos citados acima. E a essência comum a todos eles é a perda de contato diário ou frequente, tornando constrangedores eventuais reencontros depois de passado algum tempo.
 
Por exemplo, reunião anual de ex-alunos. Tem gente que quase dá a vida por esse tipo de (re)encontro. Eu, ao contrário, nunca fui a nenhum deles, mesmo quando ainda era convidado a participar. Como recusei todos os convites, os organizadores acabaram por me excluir da lista de participantes.
E, fala sério, quer coisa mais tediosa que um encontro desses? Os que participam geralmente têm um ponto em comum: depois de certo tempo de formados alguns tornaram-se profissionais de sucesso, empresários ou diretores de empresas. Os assuntos que rolam ou são reminiscências do tempo de escola,  ideais para ressuscitar bullying em alguns ou para exaltar as conquistas individuais, as viagens internacionais, o carrão carésimo, a mansão em Angra, o caso extra-conjugal com alguma gostosa quinze anos mais nova, etc. Duvido que alguém se anime a ir nesses encontros de egos super inflados se estiver desempregado na época, duvido mesmo.
 
Uma amizade pode terminar pelo fato de estar construída em cima de fundações instáveis. Fiz amizade com um sujeito que namorava uma de minhas cunhadas. Esse cara tinha perdido o irmão mais velho em um acidente no dia do casamento da irmã, situação mais que traumática. Pois bem, como saíamos da casa das meninas no mesmo horário, íamos batendo papo pelo caminho e ficávamos horas conversando fiado.  Esse sujeito, talvez por me identificar com seu irmão falecido, não demorou a se transformar em meu fã incondicional. Eu também gostava dele, tanto que também se tornou meu melhor amigo. Ia à sua casa, bebia cachaça com ele, ficávamos os dois tocando violão, coisas assim. Acabou ficando noivo da irmã mais nova de minha mulher, noivado que durou pouco, pois minha cunhada amarelou, teve medo de se casar tão nova e lhe aplicou um providencial e definitivo pé na bunda. A partir daí tudo mudou.

Como ele era apaixonado por ela, não suportou bem a separação. Começou a fumar maconha, deixou o cabelo crescer, passou a usar umas roupas mais despojadas (de hippie) e a beber muito, logo ele que era um sujeito certinho, caretão, de roupas bem comportadas. Até aí nada demais. O problema é que quando resolvia nos visitar (nós estavamos recém casados), cismava de se sentar no chão e conversar abobrinhas que não estávamos com a menor paciência para ouvir. O resultado é que passamos a desencorajar e até evitar essas visitas e a amizade (pelo menos da minha parte) foi esfriando até se acabar, mesmo ele que continuasse a exibir a máxima alegria quando nos reencontrava. Depois, casou-se com outra moça, teve filhas (a quem deu nomes tipo indígenas), vindo a morrer alguns anos depois em virtude de um acidente doméstio.

Bom, esses são exemplos de amizades reais, ancoradas em contato diário ou quase isso, quando sabemos o que está contecendo com nossos amigos, o que pensam, quais sonhos têm, para que times torcem, o que fazem, onde trabalham, coisa assim.

Nada disso vale para as amizades virtuais. Pelo menos não para as que surgem na lista de seguidores de um blog. Quem são essas pessoas? Como aportaram no blog? O que sentem, de que gostam, quais posts os atrairam mais? Impossível saber, principalmente se não comentarem nada. O que posso dizer (e estou sempre dizendo) é que devo ser mais velho - bem mais velho em alguns casos  - que todos os leitores que acessam esta bagaça. E mesmo que me comporte frequentemente como um sujeito sem noção e sem filtro (ao ponto de às vezes meus filhos dizerem em tom de brincadeira que irão me interditar), na pratica sou um velho, um idoso de setenta anos, com rancores e sentimentos rançosos, com preconceitos explícitos na maioria das vezes e com um posicionamento político e religioso que abomina, critica e rejeita radicalmente os extremos.

Por isso, se um "amigo virtual" lê e se enfurece com minhas críticas ao PT, ao Lula e sua gangue ou, no extremo oposto, ao "intrépido" Bolsonaro e sua milícia de seguidores radicais e/ou psicopatas, nada mais natural que resolva me "cancelar", tal como fiz com alguns "amigos de Facebook" que me matavam de ódio ao postar sandices e fake news só para apoiar o Bozo. No caso desses conhecidos de Facebook optei por manter o contato cordial ao vivo e a cores, descartando apenas a intoxicação provocada nas redes sociais. 

Mas não se pode desconsiderar nem esquecer a falta crescente de assunto e de interesse dos posts que consigo escrever atualmente. Nada mais natural que alguém pense que não vale mais a pena manter-se como meu "amigo virtual" (por mais bem vindo e festejado que tenha sido) e ficar lendo só esses papos de idoso chato. A esse "ex-amigo" (que preferi não tentar identificar) só posso desejar - a título de despedida - a saudação suméria de bons augúrios "Pão e Cerveja" (esperando que ele goste de tomar uma)


PRÓPRIO PARA MENORES

Quando tive a ideia de remanejar textos publicados no blog (desde sua criação em 2014 até o o final de 2019), estava pensando em oferecer aos novos “amigos virtuais” (que tiveram um aumento quase exponencial nos dois anos) a oportunidade de ler posts que teriam mais qualidade, melhor humor e que fossem atemporais, não datados, sem a necessidade de fazer uma pesquisa "arqueológica" que ninguém normalmente tem curiosidade em fazer.

Além disso, tinha decidido também jamais mover um texto ou desenho que não fosse de minha autoria. Bem, essa era a intenção original e pretendo continuar seguindo essa linha. Mas no post do "blogsonês" escrevi que não me sinto à vontade de publicar textos com referências explícitas ao sexo e à prática sexual. Nada contra os que curtem fazer isso, mas acho muito difícil manter a linha que separa a elegância da vulgaridade explícita, a sensualidade insinuada da crueza escancarada.

Justamente por ter dito isso lembrei-me de um texto hilário do Millôr Fernandes publicado aqui no blog em 08/05/2017, tão engraçado, tão erudito (além de tão pertinente ao momento atual, em que é quase proibido falar mal do presidente sem tomar um processo na cara), que resolvi abrir uma exceção no meu "protocolo de movimentação de textos" só para trazer para 2021 um texto publicado no jornal "Pasquim" em março de 1970, em plena ditadura militar. E o tema é a censura prévia a que o jornalzinho tinha começado a sofrer, mas tratada de forma hilariante. Olhaí o texto original do post de 2017 (que apresenta a crônica de 1970).


Recentemente, o blog “A Marreta do Azarão” foi classificado como blog “de conteúdo adulto”. Em minha opinião, esse blog foi vítima de equívoco, injustiça ou descuido. Equívoco e injustiça porque cada um lê (ou vê) o que quer. Eu por exemplo, gosto de sua ironia afiada, mas passo a “léguas” (mineiro ainda fala assim) de distância de imagens e textos mais cabeludos (às vezes literalmente). Assim, alguém reeditar a censura a uma forma ou meio de comunicação é querer viver no passado.

A outra explicação é descuido. Ora, se esse blog mereceu agora essa classificação censória, alguém andou cochilando, pois ele é exatamente assim desde que foi criado há uns seis anos talvez. Só agora notaram isso?

Mas o que está feito, está feito (isso foi profundo!). Para contornar esse problema, minha sugestão é que ele crie um blog alternativo, algo como um suplemento-infanto-juvenil do Marreta, à maneira dos que existem ou existiam nos jornais de grande circulação. Em geral, esses anexos trazem ou traziam nomes diminutivos como título: Globinho, Folhinha, Tribuninha, Diarinho, Estadinho, etc.

E o nome poderia ser “A Marretinha do Azarão” ou “A Marreta do Azarinho”. Como indicativo claro de sua pureza e inocência, poderia ainda ter um mote assim: “próprio para menores”. Esse novo blog poderia trazer imagens e textos sobre “oncinhas pintadas, zebrinhas listradas e coelhinhos peludos", mas, pelamordedeus, jamais de coelhinhas peludas ou peladas (não vos deixeis cair em tentação)! Fica aí a sugestão.

Essa situação fez com que eu me lembrasse de um texto engraçadíssimo do genial Millôr Fernandes, publicado em um passado mais ou menos recente, quando a censura comia solta, na época da ditadura (designação de que aparentemente meu amigo Marreta discorda. Mas que era, era). Assim, para dar um pouco de qualidade a este post oportunista (ou opostunista), resolvi encerrá-lo com a transcrição desse hilariante texto. Olhaí.
   

UM PRESENTE PARA O LEITOR
(O Pasquim n.º 39)
Em absoluta sintonia com o alto espírito cívico que preside todas as nossas edições, qualquer de nossos artigos, a menor de nossas palavras e o mais íntimo de nossos gestos, O PASQUIM, sempre a favor da causa pública e da manutenção dos costumes atuais - que acreditamos imutáveis - oferece, hoje, a seus inúmeros leitores da TFM - não confundir com a Tradicional Família do Millôr - este magnífico regalo que pensamos seja o instrumento mais indicado, para manter a Estrutura, o Conceito e a Paz. De quê? Ah, bom, pô!
Com este instrumento na mão - o que, já de início, evitará que ponha a mão em qualquer outro instrumento o têéfeêmísta – teéfepista ou qualquer outro teéfista – estará a salvo de todos os ataques dos imorais desagregadores que pululam em todas as nossas publicações, sejam elas livros, revistas, jornais, opúsculos, bulas, alfarrábios, compêndios, cadernos, folhetos, panfletos, miliários, códigos, incunábulos ou enciclopédias. Com esta tesoura, dentada mas silenciosa, o leitor em questão deverá percorrer as bancas de jornais, estantes de livrarias, bibliotecas públicas, discotecas, cinematecas e outros ambientes deletérios, cortando, com a coragem e a tranquilidade dos justos, tudo aquilo que de malsão se lhe antolhar: seios femininos alguns masculinos também partes pudendas, atos iníquos, cenas eróticas, atitudes dúbias, comportamentos negativos, frases de duplo sentido, demonstrações, enfim, de impudicícia, carnalidade, ultraje ao pudor, pederastia, sodomia, polução voluntária, indecência, impureza, despudor, lubricidade, sedução, transvio, desvirginamento, estupro, sensualidade imoderada e mesmo algumas moderadas, meretrício, degradação, masoquismo, inversão sexual, orientação e pornografia tout court . O dito impertérrito cidadão, nossa tesoura mágica e dentada em punho - compre dois exemplares para o caso de um se gastar rapidamente - deve, ainda, estar atento a qualquer referência ou ilustração de: concupiscência, ereção, priapismo, concúbito, lascívia, luxúria, carne, desejo, filoginia, voluptuosidade, obscenidade, ditos fesceninos, turpilóquios, pretextata verba, rebolados, batuques, cheganças, órgãos genitais, regiões púbicas, acasalamentos, inseminações - artificiais e naturais - libidinagem, frascarias, desregramento, pecados - todos os sete - pouca vergonha, carnis desideria, apetite venéreo - amor livre, má vida, meretrício, safismo, safadeza, lesbianismo, adultério, menage à trois - ou a mais pessoas – concubinagem, mancebia, amizades ilícitas e... surubas.
Cumpre ainda estar de aviso para referências a locais ou regiões geográficas específicas, tais como; harém, bordel, alcoice, conventilho, lupanar, prostíbulo, calógio, bramadeiro, casa-da-tia, casa-de-passe, randevu, e das pessoas aí encontradiças: libertinos, cevões, bargantes, pistoleiros, mulheres da vida, lotários, proxenetas, cáftens, caftinas, madames, adúlteros, prevaricadores, cortesãs, traviatas, transviados, viados propriamente ditos, bichas e bichonas, cabras, troquilheiros, mulheres de rebuço, decaídas, meretrizes, rameiras, perdidas, ambulatrizes, culatronas, bandarras, bêbedos, pinóias, maganas, bagaxas, hetaíras, bandalhos, messalinas, mundanas, corsárias, mulheres de vida fácil, cabriolas, manolas, frinéis, gueixas, cocotes, marafonas, inculcadeiras, barregãs, sátiros, bordeleiras, mulheres-damas, michelas, piranhas, bacantes, teúdas e toda essa gente que perambula pelas vielas lúgubres da prostituição.
Evidentemente, como diria um prolixo nato, o espaço é pouco para que enumeremos todos os vícios, erros, desvios, perigos, anomalias, tortuosidades, desregramentos, indecoros, depravações, abjeções, infâmias, falporrições, relaxamentos morais, degenerescências de caráter, podridões, lascívias e execrações que o simples brandir de nossa tesoura alvinitente - papel acetinado de primeira - pode destruir e evitar. Lutando apenas contra o que enumeramos acima, o cidadão teéfeêmista já poderá dormir tranquilo, na sua retidão física e probidade moral. Os que, contudo, quiserem levar ainda um pouco mais longe seu zelo consular devem procurar também cortar pela raiz o mal terrível de palavras que se escondem perfidamente em outras, como abundante, acuidade, iconografia, culatra, acuado, recuar, anseio, asseio, passeio, parapeito, despeito, meditabunda, moribunda, vagabunda e tremebunda; nomes de logradouros que mal e mal disfarçam a imoralidade de quem os batizou: Cupertino Durão, Aquino Rego, Bulhões de Carvalho, Jacinto Leite. E expressões aparentemente triviais mas tremendamente desagregadoras em sua sonoridade dúbia: "Que time é o teu?", "Se eu cozinho não lavo", "Jacaré no seco, anda?", "Cachorro que late nágua, late em terra?" "A rosa no cume nasce". Enfim, todo cuidado é pouco. Tesoura em riste e mãos à obra. Qualquer desvio de atenção pode ser fatal.


sábado, 27 de março de 2021

BLOGSONÊS, A LÍNGUA DO BLOGSON


Uma vez eu folheei um livro interessantíssimo sobre as línguas faladas no mundo. Não me lembro mais de quase nada, mas quase nada mesmo. A única lembrança mais confiável que restou é sobre a língua falada na Suméria. Segundo o livro, era uma língua tecnicamente extinta e só falada (ou compreendida) por uns 200 ou 300 linguistas ou arqueólogos. As outras línguas citadas no livro também traziam esse tipo de informação, além de sua origem, a qual tronco linguístico pertenciam, etc. Achei bacana demais esse livro e lamento até hoje não tê-lo comprado.
 
A necessidade de comunicação mais complexa provavelmente fez com que os primeiros grupos de humanos – certamente afetados e influenciados pelo ambiente onde tentavam sobreviver - fossem criando formas de linguagem, palavras, gestos e expressões cada vez mais diferenciadas dos recursos similarmente utilizados por outros grupos para trocar um lero fiado ou planejar um churrascão.
 
Palavras aparentemente sofisticadas como “hipopótamo”, por exemplo, jamais seriam imaginadas ou inventadas na Finlândia. Aliás, a propósito desse animal há uma lenda reproduzida pelos anciãos de algum agrupamento humano daquela época (pessoal com uns trinta anos, pouco mais pouco menos, assim imagino) para demonstrar que o cuidado com a clareza da comunicação deve ser permanente.

Essa lenda narra o ocorrido em uma balada pré-histórica, onde todo mundo já estava pra lá de bêbado (parece que já tinham inventado uma ancestral das cervejas baratas mas boas), rindo pra cacete, totalmente alheios aos perigos que a noite africana podia trazer (eles estavam na África). Foi quando apareceu um hipopótamo roliço, grande pra cacete (estava mais para “hiperpótamo", de tão grande que era), puto da vida por causa da cantoria desafinada (eles já cantavam alguma coisinha) e da algazarra que aqueles magrelos faziam. Infelizmente, ninguém percebeu sua aproximação - nem tão sorrateira assim -, exceto o gaguinho da tribo, que de olhos arregalados tentou alertar a cambada, gritando (sem conseguir completar a palavra, pois o nervosismo acentuou ainda mais sua gagueira) “Hip...”, “Hip...”. Foi quando os bebuns reagiram gritando em uníssono (bonita palavra!) “HURRA”! E ele ainda tentou mais uma vez: “HIP...”, “HIP...!!!”. E seus amigos responderam novamente “HUR...!”, mas o hiperpótamo não deixou nem que terminassem, passou o rodo em quem encontrou pela frente e pôs todo mundo pra correr.
 
Depois de tomar conhecimento dessa lenda gravada em tecnicolor na parede de alguma gruta que acabaram de descobrir (essa indeterminação de uma frase é ótima para dar credibilidade a qualquer notícia), percebi mais uma vez a necessidade de dar a conhecer a língua própria do blog, para que tudo fique explicadinho, explicadinho. Com essa ideia em mente, resolvi registrar suas principais características para que as futuras gerações pós-Apophis entendam e absorvam a sabedoria profunda guardada nos textos ancestrais do Blogson (ancestrais sim, pois muitos anos terão se passado, claro). Por isso, sem mais delongas nem mais decurtas, vamos lá.
 
O Blogsonês é uma língua falada?
Bom, falada, falada mesmo não é, está mais para balbuciada e assim mesmo, só por Jotabê quando entra em transe criativo (ou seja, quase nunca). Na prática, é a língua escrita do Blogson, uma escrita com overdose de vírgulas e agressões à gramática. Como o blogueiro que vos fala (escreve!) sempre pensa mil coisas enquanto conversa com outras pessoas, acaba tendo uma fala hesitante, quase tatibitate, pois faz muitas pausas (até para tentar se lembrar sobre que estão conversando, de que estão falando, qual assunto está sendo abordado). Além disso, tem a mania de prender a respiração enquanto emite seus conceitos e pensamentos de alta sabedoria, o que acaba resultando em muitos suspiros. Mas é bom não confundi-los com os “Suspiros Poéticos e Saudades”, pois esses são de Gonçalves de Magalhães.
 
Estilo da linguagem:
Por sua ignorância formal das normas cultas da última flor do Lácio (paradoxalmente inculta e bela), o blogsonês pode ser considerado uma linguagem 90% coloquial, só não atingindo a taxa de 100% porque Jotabê detesta radicalismo. Esse coloquialismo ajuda a disfarçar a profunda ignorância que sempre é exibida no blog.
 
Palavrões, palavras de baixo calão e tijoladas:
Essa talvez seja a característica mais marcante do blogsonês, a  ausência quase completa de palavras vulgares em seu dicionário (a ser ainda escrito), pois, quando utilizadas, as palavras chulas aparecem totalmente despidas (naked) de conotações sexuais. “Caralho”, por exemplo, só aparece no Blogson em expressões utilizadas para designar intensidade ou quantidade, e em situações do tipo “Feio pra caralho” ou “Esse livro é do caralho!" Ou ainda em exclamações iradas (raivosas, ok?) do tipo “Vai é o caralho!”, que tem como equivalente a expressão “Vai porra nenhuma!” Outra palavra chula muito utilizada (tantas vezes que até parece estarmos na França) é “merda”, que no blog adquire a característica de comum de dois gêneros: “Esse cara é um merda!” ou “Aquela situação transformou-se na maior merda”. Há outras mais, como “puto da vida” “filhadaputa”, etc., mas sempre desidratadas de conotação sexual.

Por isso, enganam-se os leitores desavisados que acreditam poder encontrar no Blogson cenas e palavras explicitamente relacionadas a sexo explícito, pois esta não é a praia do blog, um blog próprio para maiores, menores e anões. Tudo aqui funciona só na base da ironia, da sutileza, da insinuação (mesmo que ninguém perceba). Como disse uma vez uma conhecida do blogueiro, “Eu não gosto de falar de sexo, eu gosto de fazer”. Tanta sabedoria assim merece ser sempre lembrada e até usada para terminar este texto sem noção. Eu disse "lembrada"? Ah, pois é, como era bom!
 

sexta-feira, 26 de março de 2021

ISSO PRA MIM É GREGO!

Este é um texto "dragado" das profundezas de 2014. De 18/11/2014, para ser exato. Não me lembro mais por que sugeri à minha amiga virtual Maju que o lesse. E ela não só leu como comentou, um comentário gigante nunca respondido completamente. Por isso, mesmo que continue sem respondê-lo de forma adequada, preciso dizer: Maju, adorei seu comentário, me diverti profundamente com a referência à minha idade "provecta" e jamais me senti ofendido por isso. Acredito que o remanejamento seletivo de alguns posts para estes tempos pandêmicos poderá aos poucos montar a resposta definitiva que estou te devendo. Dito isso, vamos ao texto "dragado".


De tanto ver documentários sobre a vida selvagem nos canais Animal Planet, Nat Geo e Discovery (Jotabê também é cultura!), posso dizer que fiz um curso de extensão em zoologia (talvez fosse melhor dizer zéologia).

Neles aprendi que alguns animais que andam em bando – lobos, por exemplo – tem a figura do “macho Alfa”, aquele que é o líder, o mais forte, o mais feroz, o que come gostoso, enfim. (Tá rindo de quê? Tô errado?)

Fazendo uma analogia com a espécie humana, percebo que tem muita gente por aí que se acha "o" macho alfa, aquele pessoal que é metido a garanhão, que tenta impor sua vontade ou seu pensamento, que é ou tenta ser o líder de qualquer merda.  Ou seja, o fodão (só na cabeça deles, lógico).

Repassando todo esse conhecimento enciclopédico, fiquei pensando onde eu me enquadraria. Afinal, não bebo cerveja, não gosto de futebol, não sei brigar, não sei mandar, não sou líder de porra nenhuma. Para piorar, gosto de música, de poesia, falo “adoro isso”, “adoro aquilo”. E se eu tivesse as características do metrossexual, talvez eu até fosse considerado um “meio-metrossexual”.

Por tudo isso, cheguei à conclusão de que jamais poderei ser considerado um macho Alfa. Com muito favor, seria um macho Beta. Em uma opção ainda mais radical, um macho Zeta, ou melhor, ta. Depois desse humor periclitante (da terra de Péricles), só posso finalizar exclamando: "Eita"! (ou "Eta!", como diriam os pirados que circulam pelas imediações do Pireu).

da Série “Sem Medo de Ser Ridículo

quarta-feira, 24 de março de 2021

UM LEGÍTIMO BLOG DE AMENIDADES

 
Tarso de Castro foi um dos fundadores do icônico O Pasquim, tabloide que fez e aconteceu durante a década de 1970. Em 1971 afastou-se da sociedade e criou um jornalzinho em formato de revista com o título “JA – Jornal de Amenidades”. Não sei por qual motivo esse jornalista desligou-se do Pasquim, mas um sujeito por quem a atriz norte-americana Candice Bergen (no auge de sua beleza) foi apaixonada está dispensado de dar explicações. E nem é esse assunto o tema do micro-post de hoje.
 
Lembrei-me hoje do jornalzinho-revista "JA", ao me dar conta de que o Blogson está muito chato, ou melhor, que EU fiquei muito chato. Desde que foi criado eu enxergava o blog como uma espécie de “Almanaque do Biotônico”, um costurado de piadas sem graça, desenhos mal feitos, lembranças pessoais sem nenhum filtro, coisas assim. Seria, portanto, um autêntico “BA – Blog de Amenidades”, versão digital do extinto JA – Jornal de Amenidades.
 
Mas o tempo e os políticos afetaram um pouco essa rota, pois comecei a criticar as falas, as atitudes, decisões e patetices primeiro cometidas pelo Lula, substituído tempos depois pela Dilma, pelo Temer e, agora, pelo Bozo. Mas isso me incomoda, pois nunca planejei transformar o Blogson em palanque para nada ou para ninguém nem usá-lo para catilinárias pessoais. Pensando bem, se tivesse feito isso ficaria igual ao bíblico João Batista: “a voz que clama no deserto”.
 
Quando muito, sempre optei pela ironia – mesmo que às vezes enraivecida -, pelo trocadilho infame, coisas assim, bem a cara do Blogson. Mas a pandemia acentuou muito minha irritação, meu desespero, minha ansiedade, tirou minha espontaneidade e vontade de viver e me fez (com máxima razão) deplorar falas, atitudes e decisões, a detestar e criticar mais acidamente um presidente em quem votei, voto que me enche de vergonha e arrependimento.
 
Por isso, peço sinceras desculpas aos que ainda se aproximam do blog, aos que ainda conseguem ler os textos de terceiros que transcrevo ou os que tenho escrito ultimamente.  O que hoje salva o Blogson são os posts da época de sua criação e que tenho movido para os dias atuais. São esses que têm a verdadeira cara do blog que imaginei, um legítimo BA – Blog de Amenidades. Mesmo que ninguém os aprecie.

EQUAÇÃO DE MIL INCÓGNITAS

Eu preferiria que uma equação de mil incógnitas, um software ou um super computador decidissem o que é melhor para o país a ver um presidente sem compaixão, sem empatia, incapaz de deixar suas crenças, interesses pessoais e preconceitos de lado fazer isso, pois a nossa maior tragédia é ter elegido um sujeito que aparenta não entender ou não se importar com a desgraça que se abateu sobre a população do país.

 

Parafraseando (de forma espelhada) um texto lido recentemente e ao contrário do que muitos pensam, a nossa maior tragédia é o presidente, não é o povo burro, indisciplinado ou semianalfabeto que o segue e nele se inspira, um povo que não é capaz, que não quer, que se recusa em seguir protocolos mínimos de segurança, justamente por acreditar nas sandices que o primeiro mandatário diz e, com isso, pondo em risco a própria vida ou de seus familiares ao tomar medicamentos mundialmente condenados por sua ineficácia contra a covid apenas porque seu ídolo insiste em preconizar seu uso mesmo sem ter curso sequer de auxiliar de enfermagem.

 

A partir de agora, a transcrição de trechos de uma entrevista feita pelo site da BBC News Brasil com a médica infectologista Denise Garrett, atual vice-presidente do Sabin Vaccine Institute (Washington), pois ela disse tudo o que penso e sinto de forma muito mais clara e com mais propriedade e autoridade (por motivos óbvios).

 

“Com a experiência de quem trabalhou no CDC por mais de 20 anos, Garrett não poupa críticas ao governo federal em relação ao combate à pandemia de covid-19. No órgão, ligado ao Departamento de Saúde dos EUA (equivalente ao Ministério da Saúde no Brasil), ela atuou como conselheira-residente do Programa de Treinamento em Epidemiologia de Campo (FETP) no Brasil, como líder da equipe no Consórcio de Estudos Epidemiológicos da Tuberculose (TBESC) e como conselheira-residente da Iniciativa Presidencial contra a Malária em Angola”.

 

 

O Brasil é o exemplo de tudo o que podia dar errado numa pandemia. Temos um país com uma liderança que, além de não implementar medidas de controle, minou as medidas que tínhamos, como distanciamento social, uso de máscaras e, por um bom tempo, também as vacinas.

A situação hoje é extremamente preocupante. Temos uma população que está exausta. E fizemos um lockdown 'meia boca'.

Um ano depois, estamos no pior lugar em que poderíamos estar, com uma transmissão altíssima, com uma variante extremamente alarmante e com sistema de saúde à beira de colapsar.

O Brasil parece viver em um universo paralelo. Enquanto todos os países estão indo numa direção, seguimos na contramão.

Um fator decisivo para isso, além daqueles sobre os que eu já falei, foi o incentivo do uso de medicações sem nenhuma comprovação cientifica com a população acreditando nelas como uma medida de proteção.

Ou seja, em vez de praticar o distanciamento social e usar máscara, muita gente acreditou no presidente da República e achou que se protegeria com ivermectina e hidroxicloroquina. Não vi nenhum outro país do mundo fazendo isso.

De fato, aqui nos Estados Unidos, o ex-presidente Donald Trump também chegou, em determinado momento, a recomendar esse medicamento. Mas, no Brasil, houve um protocolo recomendado pelo Ministério da Saúde.

O impacto dessa fake news é imenso - e faz com que até colegas médicos sofram pressão do próprio paciente.

Além de tudo isso, não temos vacina. O governo não fez acordos quando deveria fazer. O presidente disse que não se vacinaria. O estoque que o Brasil tem agora não é proveniente do governo federal.

 

O Brasil virou uma grande ameaça global. O país se tornou um caldeirão para novas variantes. Vírus estão sempre mutando. As mutações que forem favoráveis a ele, quando não há restrição à transmissão, serão selecionadas e vão predominar.

Eventualmente, e isso ainda não aconteceu, uma vez que as novas cepas estão respondendo às vacinas, que protegem contra a forma mais grave da doença, podemos ter variantes que comprometam a eficácia das vacinas.

Claro que num ambiente onde a taxa de vacinação é baixa e a taxa de transmissão alta, como no Brasil, esse risco é muito mais elevado.

Ninguém está seguro até que todos estejam seguros. Nenhum país vai se sentir seguro enquanto houver um país como o Brasil, onde não há nenhum tipo de controle.

Todos os esforços louváveis de outros países que estão funcionando podem simplesmente ser perdidos por causa de um país que não se importa com a pandemia. E onde não existe uma sensibilização pela vida por parte da liderança do país.

 

O Brasil precisa de um lockdown estrito a nível nacional. Passou da hora de um lockdown a nível municipal ou estadual. E quando eu falo em lockdown, eu me refiro a não sair de casa, só em caso de urgência. De esvaziar as ruas, mesmo. Só funcionar serviços essenciais.

Existiu uma época em que poderíamos até fazer confinamentos a nível municipal ou estadual, quando a pandemia no Brasil ainda era "muitas pandemias".

Explico: somos um país enorme e houve um momento em que tínhamos diferentes estágios da pandemia em diferentes localidades. Ou seja, medidas localizadas poderiam ser tomadas.

No estágio atual, essa possibilidade não existe mais. O país inteiro está à beira do colapso. Não adianta fechar um Estado e os outros continuarem abertos. E as pessoas transitando de um para outro.

O Brasil precisa retomar o controle sobre o vírus. O vírus está solto - e isso é urgente. Só assim vamos reduzir os casos e, por consequência, as mortes.

Outra coisa é vacinar a população.

Precisamos de planejamento e estratégia. Mas, infelizmente, não tenho esperança quanto ao governo federal sobre isso.

 

 


domingo, 21 de março de 2021

O GRANDE ARTISTA QUE O MUNDO PERDEU - CARLOS HEITOR CONY

Depois de mencionar o imperador Nero (gente boa!) em um post recente, encontrei uma crônica de um craque da literatura brasileira totalmente dedicada ao romano. Não sei o que a motivou (precisa saber?), só sei que gostei demais. Por isso, resolvi transcrevê-la aqui no Blogson. Foi publicada em 02/08/1996 no jornal Folha de São Paulo. Muito boa!


Aos 17 anos, só pensava em poesia, música e dança. Acreditava-se um artista e acreditou nisso até o fim, quando pediu a um de seus escravos que lhe metesse um punhal na garganta. Tinha então 31 anos, um a mais do que o habitual para ser confiável aos jovens da época.
Odiava a guerra, detestava a política, desdenhava as futricas palacianas de sua família.
Tantas e tamanhas, essas futricas o fizeram, com pouco mais de 16 anos, imperador de Roma. De certa forma, imperador do mundo e dos homens que nele viviam.
Quatorze anos depois, escorraçado, amaldiçoado por todos, foi obrigado a fugir. Encurralado, com repugnância de cometer qualquer violência contra si mesmo, pediu ao escravo que o matasse, mas não o desfigurasse no rosto.
Consta que pronunciou a frase que ficou sendo um epitáfio e um ridículo: "Que grande artista o mundo vai perder!"
Sim, foi um artista, ao gosto de sua época e de seu próprio gosto. Ficou em aberto a qualidade de sua arte, falta-nos elementos para julgá-la.
Seus poemas são medíocres, seus cantos e sua voz não foram gravados. O depoimento dos contemporâneos é suspeito: todos o bajulavam ou o odiavam.
Mesmo assim, há indícios de que sua voz era suave e sua habilidade na lira ou na cítara davam para o gasto.
Não promoveu campanhas enquanto imperador: tinha horror às guerras. Contudo, fez questão de participar, como simples menestrel, nos Jogos Olímpicos de 68, em Corinto.
Poesia e canto eram modalidades olímpicas naquele tempo. Esse seria o seu único triunfo, o único que comemorou, mandando erguer um arco em homenagem a seus poemas, tal como Tito, Vespasiano e Constantino fariam para perpetuar no mármore a glória obtida nos campos da guerra.
Apesar disso, não escapou do politicamente correto de seu tempo e lugar. Transou com a mãe, Agripina, a mulher mais bela e sensual de Roma, que atravessara e vencera a cólera de três imperadores (Tibério, Calígula e Claudio).
Mandou matá-la, depois, não porque tenha desgostado da transa, mas por motivos de Estado. E também mandou matar os dois mestres (Burro e Sêneca), aos quais dedicava um afeto de filho e uma admiração de pupilo.
Era piromaníaco: gostava de iluminar os jardins de sua casa com tochas humanas: mandava embeber escravos em petróleo; o cheiro não era lá essas coisas, mas a luz era excelente.
Por essas e outras, foi considerado a encarnação do Anticristo. Primeiro imperador romano a colocar o cristianismo fora da lei. Oficializou a perseguição aos seguidores de um tal de Crestus -que os romanos não sabiam exatamente quem era nem o que pregava.
A vingança veio mais tarde, mas veio. Os cristãos tomaram o poder e como vencedores escreveram a história. E a ele foi atribuído o incêndio de Roma.
Era pouco. A tradição garante que ele aproveitou o espetáculo, subiu na torre mais alta de seu palácio, empunhou a cítara e teve seus melhores momentos de poeta e cantor. Dois mil anos depois, nenhum artista o superaria nesse "happening".
Pudesse, não cantaria apenas a destruição da cidade dos Césares. Sendo um deles, cantaria a própria destruição dos Césares. Um monstro, sem dúvida, mas um esteta.
Ninguém como ele desprezou o lado marcial do poder e o próprio poder. Usou de sua força para ampliar e melhorar a qualidade dos espetáculos do circo que tinha seu nome.
Benfeitor das artes e protetor dos artistas, favoreceu o teatro e os torneios de música e dança. A ele deve ser creditado o uso da cor para tornar mais atraente o show.
O número mais atraente era duplo: enquanto um touro mantinha relações sexuais com uma jovem, do alto de uma torre jovens escravos se atiravam ao ar, nus, com asas de cera cobertas de penas de ganso -e se esborrachavam no chão, uns mais depressa que outros.
Por mais que hoje nos pareça extraordinário, havia alguns que se sustinham no espaço mais tempo.
Suetônio garante que ele apreciava esse número final e teve a revolucionária idéia de levar duas enormes esmeraldas que colocava à frente dos olhos. Por meio do prisma esverdeado, o espetáculo ficava mais emocionante.
Foi um ancestral do LSD: o imperador via a realidade com mais cor.
Tantas ele fez, tantas inventou e tantas deixou que outros fizessem com menos arte e criatividade que, aos 30 anos, sentiu que não dava mais pé.
Tentou negociar sua vida: renunciava ao império, a tudo, trocaria o poder por um cargo obscuro e mal remunerado numas das províncias, na Hispânia, na Gália, em qualquer lugar bem longe do Forum, do Capitólio.
Era impossível. Roma só conhecia dois tipos de imperadores: o vivo e os mortos. Lucio Domizio Enobardi, mais conhecido como Nero, não teve coragem de se matar.
Pediu que o escravo lhe metesse o punhal na garganta. O mundo perderia um grande artista, mas seu nome teria excelente serventia.
Cinco em dez cachorros de todo o mundo têm o seu nome. E, com um pouco de boa vontade, corrigindo-se uma ou outra aberração própria de sua época e condição, ele poderia ser o patrono da juventude de todos os tempos e modos.
 


sexta-feira, 19 de março de 2021

A INUSITADA E SINGULAR ESTÓRIA DE FRANZ KAFKA E A BONECA VIAJANTE - ANÔNIMO

 


Minha mulher enviou-me pelo whatsapp o texto abaixo. Não sei quem é o autor e creio que isso pouco importa. O que realmente importa é a delicadeza e o lirismo contidos na história brevemente narrada no texto que recebi. Como sou de natureza sonhadora e romântica pois é...), resolvi publicá-lo no Blogson, como antídoto ou contraponto a todo desespero, tragédia, burrice, estupidez e filhadaputagem noticiados diariamente.


Um ano antes de sua morte, Franz Kafka viveu uma experiência singular. Passeando pelo parque de Steglitz, em Berlim, encontrou uma menina chorando porque havia perdido sua boneca. Para acalmar a garotinha, inventou uma história – a boneca não estava perdida, mas viajara, e ele, um "carteiro de bonecas", tinha uma carta em seu poder que lhe entregaria no dia seguinte. Naquela noite, ele escreveu a primeira de muitas cartas que, durante três semanas, entregou pontualmente à menina, narrando as peripécias da boneca vividas em todos os cantos do mundo.

Durante anos, Klaus Wagenbach, um estudioso de Kafka, procurou a menina pela região próxima ao parque, investigou com os vizinhos, colocou anúncio nos jornais, mas nunca conseguiu encontrar a pista da menina ou dos originais das cartas. Segundo Dora Dymant, sua última companheira, Kafka se envolveu com tanta seriedade na tarefa de consolar a pequena Elsi como se escrevesse mais um de seus romances ou contos que nunca foram publicados em vida. Toda essa inusitada situação, verdadeira ou não, acabou inspirando Jordi Sierra a escrever este livro e inventar as supostas cartas, criando desta forma um final imaginário para esta estranha e bela história.

O livro é dividido em quatro partes: primeira ilusão: a boneca perdida – quando Kafka encontra a menina chorando no parque; segunda fantasia: as cartas de Brígida – quando se torna o carteiro de bonecas, e passa a escrever as cartas da então boneca perdida que se tornou viajante; terceira ilusão: o longo percurso da boneca viajante – quando começam as cartas de despedida da boneca; quarto sorriso: o presente – quando há a aceitação e superação da perda.

“Quanto a mim, permiti-me a transgressão: inventar essas cartas, terminar a história, dar-lhe um final imaginário. Pode ter sido este ou outro qualquer, não acho que seja muito importante. O que aconteceu é tão belo em si mesmo que o resto carece de importância. A única coisa evidente é que aquelas cartas devem ter sido mais lúcidas que as recriadas por mim.” – Jorri Sierra i Fabra, declara no final do livro “Kafka e a Boneca Viajante”.

PEGA NA MENTIRA

Imagino que desde que o mundo é mundo (clichê!) todo mundo mente (claro, menos o Bolsonaro, pois demente). De mãos dadas com a fofoca, talvez a mentira talvez tenha sido outra ferramenta necessária para o desenvolvimento da linguagem (de nada, Harari!).
 
E há mentiras para todos os gostos. Algumas são ditas como forma de defesa enquanto outras pretendem destruir o adversário. Há mentiras piedosas, como aquelas que são ditas para alguém que está na "tábua da beirada" ("Você está com uma aparência ótima!") ou as que são ditas para simplificar uma narrativa mais inverossímil (mesmo que verdadeira). Muitas vezes as mentiras são ditas por educação, para não decepcionar alguém que te pediu opinião sobre a roupa que está vestindo (“Estou bem assim?” A resposta óbvia só pode ser “Nossa, você está lindx!”).
 
Há mentiras revestidas da mais pura humildade e compaixão. Por exemplo, para não causar inveja à maioria das pessoas eu finjo não ter uma beleza clássica, de estátua grega. Em vez disso, digo que sou feio pra caralho - o que evidentemente é uma mentira, apesar das sacolas sob os olhos (as"bolsas" são um pouco avantajadas) , do nariz meio torto, orelhas de dumbo e um queixo que um cunhado chamou de “esquisito”. Sem falar na barriga sarada de um gomo só. Ou seja, mesmo não me chamando Heleno, tenho uma beleza helênica que finjo desconhecer. Mas há também mentiras com resultados imprevisíveis, como acontece quando alguém diz suavemente “só vou botar a cabecinha" (estamos falando de uma linha de produção de brinquedos, claro).
 
Os maiores especialistas na arte da mentira são as grandes personalidades da política. Quando Nero disse "Que grande artista o mundo vai perder!" estava deixando para a História duas mentiras grandiloquentes, pois só Deus sabe se disse isso mesmo ou se foi algum aspone que resolveu criar um antepassado das fake news atuais. Mesmo também grandiloquentes algumas mentiras são muito engraçadas, como aquela dita por Lula antes de ser preso por corrupção - "Não existe ninguém mais honesto que eu!". Fala sério, dá para rir bastante, concordam?
 
Enfim, a mentira é uma ferramenta de mil e uma utilidades (novo clichê). Triste é quando você ouve um sujeito medíocre dizer uma mentirinha de colegial, uma mentira que mostra a exata dimensão de sua mediocridade, uma mentira que foi gravada (deve ser por isso que não gosta da imprensa). Como aconteceu com nosso intrépido presidente - um motorista sem carteira de habilitação para dirigir o sucateado ônibus brasileiro (gostou, Ozy?). Olha a notícia:
 
“A mãe do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Olinda Bunturi Bolsonaro, de 93 anos, recebeu a segunda dose da CoronaVac, vacina contra a Covid-19, nesta segunda-feira (8) em sua própria residência em Eldorado, no interior de São Paulo. As informações foram confirmadas pela prefeitura. Olinda recebeu a primeira dose da vacina CoronaVac no dia 12 de fevereiro, segundo o cartão de vacinação da idosa. Após 24 dias (grifo meu), ela recebeu a segunda dose do imunizante, por volta das 10h30.
Em uma transmissão ao vivo nas redes sociais no dia 18 de fevereiro, Jair Bolsonaro apresentou o cartão de imunização da mãe, Olinda, afirmando que ela teria sido imunizada pela vacina de Oxford, fornecida pela Fiocruz.
No entanto, de acordo com informações do cartão de vacinação de Olinda, o número do comprovante da dose aplicada corresponde a um lote compatível com o imunizante do Instituto Butantan, vindo de São Paulo.
Quando qualquer negacionista vir te falar de remédio de verme e remédio de malária, divida essa notícia com ele.
Vacina é o único método comprovadamente eficaz contra a Covid-19".
 
Só para esclarecer um pouco mais: conheço um médico e uma farmacêutica que são casados. Por trabalharem em postos de saúde da PBH já foram vacinados . A diferença está na vacina que cada um recebeu. Ele foi vacinado com Coronavac enquanto ela foi vacinada com a da Astra Zeneca. Ele já recebeu a segunda dose (24 dias depois da primeira), mas ela receberá a segunda dose só 90 dias após ter recebido a primeira.
 
Para que falar uma bobagem dessas? Só porque a Coronavac é uma vacina chinesa? Não é à toa que ele é chamado de mito, pois parece que é só isso que ele consegue produzir - mitos. E alguns, para dizer a verdade, bastante ridículos.

quinta-feira, 18 de março de 2021

CONFISSÕES DE UM ELEITOR ARREPENDIDO


 
Uma das músicas que o Milton Nascimento gravou tem versos perfeitos para o texto transcrito a seguir. A música composta por ele e pelo falecido Tunai traz a seguinte letra:
Certas canções que ouço cabem tão dentro de mim que perguntar carece “‘Como não fui eu que fiz?”
 
Pensei comigo ao ler este artigo publicado em 17/mar/21 no portal da revista Isto É: “Esse cara sou eu!”, pois ele votou exatamente igual a mim nas eleições de 2018, ou seja, no Henrique Meirelles no primeiro turno e (cheio de vergonha e constrangimento) no Bolsonaro no segundo turno.
 
Eu sei que poderei ser criticado por alguns amigos virtuais, seja por detestar e criticar o mito ou por criticar e detestar o deus do PT. Paciência. Apenas deixo clara minha opinião de que há vida inteligente fora dos extremos e que não há vergonha ou erro em ter essa ou aquela visão ideológica (só não deve ser radical!). Por isso resolvi fazer a transcrição literal do texto que tão bem me impressionou e retratou. Olhaí.

 
DEUS, O QUE FIZEMOS? QUE ERRO TERRÍVEL COMETI COM BOLSONARO. PERDÃO

RICARDO KERTZMAN

Robert Lewis (1917-1983) foi o piloto americano da missão secreta que culminou na explosão da primeira das duas bombas atômicas que dizimaram o Japão em 6 de agosto de 1945.
Ele estava a bordo da aeronave B-29, responsável por carregar o artefato nuclear “Little Boy” que, tão logo foi detonado, pulverizou instantaneamente 150 mil moradores de Hiroshima.
Essa era uma bomba de Urânio. Três dias depois, em 9 de agosto, uma outra carga atômica, de plutônio, chamada “Fat Man”, explodiu sobre Nagasaki incinerando 80 mil vidas.
Lewis retratou o horror a que assistiu – e que fora responsável – em um diário. Nele, além de desenhos do “cogumelo atômico”, relatou a missão e escreveu: “Deus, o que fizemos?”.
Somadas as duas bombas, numa comparação simplista, forçada e diria esdrúxula, a Covid já matou mais brasileiros que a tragédia atômica da Segunda Guerra: 280 mil a 230 mil mortos.
Ao pensar no meu voto no segundo turno da eleição presidencial de 2018, me ocorreu a frase: “Deus, o que fizemos”? Na verdade, eu pensei: Deus, o que (que merda) eu fiz?
Os americanos são mestres em criar frases: “Um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para humanidade”, Neil Armstrong, em 20 de julho de 1969 ao pisar na lua.
No primeiro turno votei em Henrique Meirelles. No segundo, com os olhos fechados e o nariz tampado, pedi para minha filha, então com 12 anos, apertar o 1 e o 7, pois não tive coragem.
Minha ojeriza ao lulopetismo e a tudo o que ele representa me fez, assim como a milhões de outros brasileiros, fingir que Jair Bolsonaro era melhor, senão menos pior, do que Haddad.
No começo do governo, diante uma boa formação ministerial e alguns acertos, até cheguei a elogiar o atual verdugo do Planalto – e a criticar o excesso de má-vontade da imprensa.
Contudo, a partir dos desatinos subsequentes, e sobretudo após o desembarque do maldito novo coronavírus no País, o que já não era doce se tornou amargo; um féu intragável.
O amigão do Queiroz, pai do senador das rachadinhas e da mansão de 6 milhões de reais, é um dos maiores erros da minha vida. E olhem que a concorrência é grande e variada.
Eu não vou adentrar ao mérito do compadrio com o Centrão, a demonização de Sergio Moro, a extinção da Lava Jato e o boicote à prisão em segunda instância. Isso é pouco.
Tampouco irei me ater às catastróficas medidas econômicas e ao maior estelionato eleitoral da nossa história. Muito menos lamentar os pensamentos toscos e as falas desconexas.
Minha “treta” com Bolsonaro é outra! E começou com as seguidas tentativas de autogolpe em 2020, para chegar até os dias de hoje, com seu comportamento insano e infame.
Seja como presidente ou ser humano (ele é?), em relação à Covid-19, às vítimas fatais e aos familiares e amigos, suas falas e atitudes são abjetas, eivadas de ódio, violência e mentiras.
Desconheço, inclusive, nos dias de hoje, ao menos, ditadores e facínoras, mundo afora, que reproduzem o comportamento vil que Jair Bolsonaro impõe ao Brasil e aos brasileiros.
Já são 3 mil mortos por dia por Covid-19. Quase 300 mil vidas que se foram. Sem vacinas, o maníaco da cloroquina nos lidera a uma catástrofe sem precedentes em nossa história.
A mim me parece que o sujeito opera em duas frentes: a loucura, que acredito lhe ser nata. E o método, a fim de levar o País ao caos sanitário, econômico e social. E ao golpe!
Não à toa investe tanto em desinformação, mentiras e cisão da sociedade. Como não é à toa sua obsessão armamentista, e o populismo financeiro com as Polícias e as Forças Armadas.
Bolsonaro sonha, planeja, trabalha e tentará, mais cedo ou mais tarde, de uma forma ou de outra, golpear a democracia. Por isso me penitencio tanto. Não só, mas também por isso.
As perdas nesta pandemia, materiais e humanas, são terríveis e irrecuperáveis para milhões de brasileiros. E o presidente é incapaz de um gesto de consolo, uma palavra de carinho.
O sujeito só pensa em si, na sua prole enrolada com a Justiça e em sua reeleição. Se em 2022 o Brasil contar com menos 500 ou 600 mil brasileiros, e daí? Ele não é coveiro.
O País atirou no lixo, graças a Bolsonaro e a Pazuello, mais de uma centena de milhão de doses de vacinas, ainda em 2020. Quantas vidas isso já está custando e ainda custará?
Entendem, caros leitores, por que escrevo tanto sobre esse energúmeno e sou tão ácido nas palavras? É um misto de indignação e de raiva. Uma espécie de… culpa! E como não sentir?
Encerro com um sincero pedido de desculpas pelo que fiz. E ainda que eu considere meu erro imperdoável, apelo à boa vontade daqueles que também erraram como eu errei. Perdão.

 


ESTADO DE SÍTIO

Não tinha pensado em mover este texto (publicado originalmente em 20/07/2014), pois hoje me diz muito pouco. Mesmo assim, resolvi fazer sua migração para 2021 por um único motivo: ele documenta que em 30/07/2014  surgiu a parceria entre o Blogson Crusoe, "micro empresa (ME)" mirradíssima e anêmica  e o "grande atacadista" A Marreta do Azarão (um legítimo blockbuster - ou "blogbuster"), parceria que elevou os acessos diários ao Blogson a níveis nunca dantes esperados por mim, ou seja, de zero a 15. Olhaí.


Domingo passado um pensamento estranho roubou minha concentração durante a missa das nove. Fiquei Imaginando um cenário de guerra onde uma cidade, uma fortaleza ou um exército, está cercado por forças inimigas que, ainda que estejam em menor número, fazem várias manobras para conquistar ou subjugar os resistentes. Bem, isso não é enredo de filme B sobre a Segunda Guerra. Eu estava pensando em como é complicado ser católico, hoje em dia.

De um lado, somos cercados pelo ”exército” de evangélicos com sua versão digital dos “vendilhões do templo” – os tele-pastores, muitos deles proprietários de mansões, jatinhos e fazendas (deve ser porque gostam muito de rebanhos...), que prometem a realização de “milagres” por atacado, que fazem a cura de coisas como uma dor de cabeça de fundo emocional ser transformada em “milagre”, que prometem riqueza e prosperidade através de suas “Correntes” (da Fé, da Prosperidade, da Cura, etc.), que tentam arrebanhar e seduzir seguidores de outras seitas e religiões com orações na hora do almoço (“nessa oração...”). Curioso é que, sendo cristãos, falam em “descarrego” com a solenidade de um macumbeiro. Deve ser porque eles não têm mesmo nada a perder.  

Do lado oposto, vemos avançar em nossa direção batalhões de ateus, tropas de agnósticos, tentando desqualificar a fé dos que a possuem, tentando nivelar aqueles que creem em um mesmo patamar (baixo) de inteligência e cultura, que minimizam os efeitos benéficos da prática religiosa, que esquecem ou omitem as contribuições do catolicismo em favor da cultura, da defesa dos perseguidos e outras mais. Jamais, entretanto, se esquecem das falhas e equívocos da Igreja em épocas distantes, provocadas por ignorância e fundamentalismo, tais como “conversão” de judeus e indígenas na marra, cruzadas para reaver o controle de Jerusalém, destruição de monumentos e templos de outras religiões, a “Santa Inquisição”, que de santa não tinha nada, e por aí vai. Mas, longe de mim (até mesmo por questões afetivas) querer nivelar todos os ateus e agnósticos no mesmo patamar de intolerância e superioridade em que muitos se colocam.

Se só esses ataques já seriam suficientes para disseminar a dúvida, para minar a autoestima dos católicos, notícias vindas de lugares distantes (ainda bem para nós) falam de terroristas fundamentalistas assassinando, explodindo e se auto-explodindo em nome de um ódio irracional e como forma de intimidar pelo medo os que não professam o seu credo.

Agora, duro mesmo é não desequilibrar com a ação de sabotadores da fé escondidos e abrigados bem no centro da comunidade católica, justamente aqueles que deveriam nos orientar e aconselhar – mas que nos atingem com seu comportamento repulsivo e criminoso, que nos constrangem e envergonham – eles, eles mesmos, os padres pedófilos.

Com tanto assédio vindo de tantos lados diferentes, fica até fácil não prestar muita atenção em fantasmagorias e no mundo dos espíritos...

quarta-feira, 17 de março de 2021

QUASI MODO


Quasi Modo (latim)  - “do mesmo modo”

Possuo todas as imperfeições de que ouviu falar,
Todas as deformações, pode examinar
Todas as perversões que conseguir imaginar
Todas as mutilações que tentar quantificar
Todos os defeitos que quiser relacionar 
Pode fazer um check list, se quiser
 
Imperfeições indesculpáveis
Deformações de dar pena
Perversões abjetas
Mutilações inconfessáveis
Defeitos inenarráveis 
E o maior de todos foi te amar sem medidas
 
Descontroladamente.
 

MARCADORES DE UMA ÉPOCA - 4