Eu preferiria que
uma equação de mil incógnitas, um software ou um super computador decidissem o que é melhor para
o país a ver um presidente sem compaixão, sem empatia, incapaz de deixar suas
crenças, interesses pessoais e preconceitos de lado fazer isso, pois a nossa
maior tragédia é ter elegido um sujeito que aparenta não entender ou não se
importar com a desgraça que se abateu sobre a população do país.
Parafraseando
(de forma espelhada) um texto lido recentemente e ao contrário do que muitos
pensam, a nossa maior tragédia é o
presidente, não é o povo burro, indisciplinado ou semianalfabeto que o
segue e nele se inspira, um povo que não é capaz, que não quer, que se recusa
em seguir protocolos mínimos de segurança, justamente por acreditar nas
sandices que o primeiro mandatário diz e, com isso, pondo em risco a própria
vida ou de seus familiares ao tomar medicamentos mundialmente condenados por
sua ineficácia contra a covid apenas porque seu ídolo insiste em preconizar seu
uso mesmo sem ter curso sequer de auxiliar de enfermagem.
A partir de
agora, a transcrição de trechos de uma entrevista feita pelo site da BBC News
Brasil com a médica infectologista Denise Garrett, atual vice-presidente do
Sabin Vaccine Institute (Washington), pois ela disse tudo o que penso e sinto
de forma muito mais clara e com mais propriedade e autoridade (por motivos
óbvios).
“Com a experiência de quem trabalhou no CDC por mais de 20 anos, Garrett
não poupa críticas ao governo federal em relação ao combate à pandemia de
covid-19. No órgão, ligado ao Departamento de Saúde dos EUA (equivalente ao
Ministério da Saúde no Brasil), ela atuou como conselheira-residente do
Programa de Treinamento em Epidemiologia de Campo (FETP) no Brasil, como líder
da equipe no Consórcio de Estudos Epidemiológicos da Tuberculose (TBESC) e como
conselheira-residente da Iniciativa Presidencial contra a Malária em Angola”.
O Brasil é o exemplo de tudo o que podia dar errado numa pandemia. Temos
um país com uma liderança que, além de não implementar medidas de controle,
minou as medidas que tínhamos, como distanciamento social, uso de máscaras e,
por um bom tempo, também as vacinas.
A situação hoje é extremamente preocupante. Temos uma população que está
exausta. E fizemos um lockdown 'meia boca'.
Um ano depois, estamos no pior lugar em que poderíamos estar, com uma
transmissão altíssima, com uma variante extremamente alarmante e com sistema de
saúde à beira de colapsar.
O Brasil parece viver em um universo paralelo. Enquanto todos os países
estão indo numa direção, seguimos na contramão.
Um fator decisivo para isso, além daqueles sobre os que eu já falei, foi
o incentivo do uso de medicações sem nenhuma comprovação cientifica com a
população acreditando nelas como uma medida de proteção.
Ou seja, em vez de praticar o distanciamento social e usar máscara,
muita gente acreditou no presidente da República e achou que se protegeria com
ivermectina e hidroxicloroquina. Não vi nenhum outro país do mundo fazendo
isso.
De fato, aqui nos Estados Unidos, o ex-presidente Donald Trump também
chegou, em determinado momento, a recomendar esse medicamento. Mas, no Brasil,
houve um protocolo recomendado pelo Ministério da Saúde.
O impacto dessa fake news é imenso - e faz com que até colegas médicos
sofram pressão do próprio paciente.
Além de tudo isso, não temos vacina. O governo não fez acordos quando
deveria fazer. O presidente disse que não se vacinaria. O estoque que o Brasil
tem agora não é proveniente do governo federal.
O Brasil virou uma grande ameaça global. O país se tornou um caldeirão
para novas variantes. Vírus estão sempre mutando. As mutações que forem
favoráveis a ele, quando não há restrição à transmissão, serão selecionadas e
vão predominar.
Eventualmente, e isso ainda não aconteceu, uma vez que as novas cepas
estão respondendo às vacinas, que protegem contra a forma mais grave da doença,
podemos ter variantes que comprometam a eficácia das vacinas.
Claro que num ambiente onde a taxa de vacinação é baixa e a taxa de
transmissão alta, como no Brasil, esse risco é muito mais elevado.
Ninguém está seguro até que todos estejam seguros. Nenhum país vai se
sentir seguro enquanto houver um país como o Brasil, onde não há nenhum tipo de
controle.
Todos os esforços louváveis de outros países que estão funcionando podem
simplesmente ser perdidos por causa de um país que não se importa com a
pandemia. E onde não existe uma sensibilização pela vida por parte da liderança
do país.
O Brasil precisa de um lockdown estrito a nível nacional. Passou da hora
de um lockdown a nível municipal ou estadual. E quando eu falo em lockdown, eu
me refiro a não sair de casa, só em caso de urgência. De esvaziar as ruas,
mesmo. Só funcionar serviços essenciais.
Existiu uma época em que poderíamos até fazer confinamentos a nível
municipal ou estadual, quando a pandemia no Brasil ainda era "muitas
pandemias".
Explico: somos um país enorme e houve um momento em que tínhamos
diferentes estágios da pandemia em diferentes localidades. Ou seja, medidas
localizadas poderiam ser tomadas.
No estágio atual, essa possibilidade não existe mais. O país inteiro
está à beira do colapso. Não adianta fechar um Estado e os outros continuarem
abertos. E as pessoas transitando de um para outro.
O Brasil precisa retomar o controle sobre o vírus. O vírus está solto -
e isso é urgente. Só assim vamos reduzir os casos e, por consequência, as
mortes.
Outra coisa é vacinar a população.
Precisamos de planejamento e estratégia. Mas, infelizmente, não tenho
esperança quanto ao governo federal sobre isso.
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