Um ano antes de sua morte, Franz Kafka viveu uma experiência singular. Passeando pelo parque de Steglitz, em Berlim, encontrou uma menina chorando porque havia perdido sua boneca. Para acalmar a garotinha, inventou uma história – a boneca não estava perdida, mas viajara, e ele, um "carteiro de bonecas", tinha uma carta em seu poder que lhe entregaria no dia seguinte. Naquela noite, ele escreveu a primeira de muitas cartas que, durante três semanas, entregou pontualmente à menina, narrando as peripécias da boneca vividas em todos os cantos do mundo.
Durante
anos, Klaus Wagenbach, um estudioso de Kafka, procurou a menina pela região
próxima ao parque, investigou com os vizinhos, colocou anúncio nos jornais, mas
nunca conseguiu encontrar a pista da menina ou dos originais das cartas.
Segundo Dora Dymant, sua última companheira, Kafka se envolveu com tanta
seriedade na tarefa de consolar a pequena Elsi como se escrevesse mais um de
seus romances ou contos que nunca foram publicados em vida. Toda essa inusitada
situação, verdadeira ou não, acabou inspirando Jordi Sierra a escrever este
livro e inventar as supostas cartas, criando desta forma um final imaginário
para esta estranha e bela história.
O
livro é dividido em quatro partes: primeira ilusão: a boneca perdida – quando
Kafka encontra a menina chorando no parque; segunda fantasia: as cartas de
Brígida – quando se torna o carteiro de bonecas, e passa a escrever as cartas
da então boneca perdida que se tornou viajante; terceira ilusão: o longo
percurso da boneca viajante – quando começam as cartas de despedida da boneca;
quarto sorriso: o presente – quando há a aceitação e superação da perda.
“Quanto a mim, permiti-me a transgressão:
inventar essas cartas, terminar a história, dar-lhe um final imaginário. Pode
ter sido este ou outro qualquer, não acho que seja muito importante. O que
aconteceu é tão belo em si mesmo que o resto carece de importância. A única
coisa evidente é que aquelas cartas devem ter sido mais lúcidas que as
recriadas por mim.” – Jorri Sierra i Fabra, declara no final do livro “Kafka e
a Boneca Viajante”.
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