sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

PRÊMIO DARWIN

Conversando outro dia com um de meus filhos sobre o “Prêmio Ignobel” (objeto de texto recente neste blog), fui informado de outra “premiação” mais irônica ainda, que é o “Prêmio Charles Darwin” (Darwin Awards). O que esse prêmio perde em visibilidade para o Ignobel, ele ganha disparado em humor negro.

E o motivo é bastante simples: esses “prêmios” são atribuídos de forma simbólica às pessoas que cometeram erros absurdamente improváveis ou que se descuidaram de forma tão estúpida que acabaram pondo fim à própria vida ou, no caso de terem sobrevivido, se auto-esterilizando.

O humor negro decorre do pressuposto de que os “laureados” – ao se autodestruírem ou se mutilarem – contribuíram para a evolução da espécie humana, pois eliminaram o risco de deixar descendentes. Puta e divertidíssima sacanagem.

Segundo a Wikipédia, “estes prêmios começaram a ser atribuídos a partir de 1991, não obstante terem sido atribuídos a indivíduos que preencheram os critérios anteriormente. O caso mais antigo remonta a 1874, quando o aluno de uma universidade que iria fantasiar-se de vampiro para uma festa e, para fingir que havia sido caçado, tentou prender uma estaca de madeira na camisa e acabou atravessando-a no peito”.

Outra curiosidade desse prêmio é o fato de ser uma criação “coletiva” surgida na internet. Por isso, existem vários sites sobre o assunto. O mais conhecido é o "darwinawards.com", criado por uma bióloga (Wendy Northcutt). Mostrando ser dona de uma “alma empreendedora”, essa moça já escreveu alguns livros sobre o assunto (nesse caso, ganhar dinheiro com a desgraça dos outros não é demérito nenhum).

Mas o que ela fez de melhor foi sistematizar os critérios para concessão da “láurea post-mortem” (ou pós-hospitalização), provando com isso que humor é coisa de gente séria. E os quesitos são os seguintes:

¾ Incapacidade de gerar descendência – em decorrência da própria morte ou esterilização;
¾  Excelência – forma sensacional e estúpida com que comete o erro. Incrível desuso da lógica e da razão.
¾ Auto-seleção – Causa o desastre por si mesmo; com mérito incondicionalmente individual.
¾ Maturidade – O indivíduo deve estar em total uso das suas capacidades mentais e físicas. Deve possuir capacidade de julgamento e raciocínio.
¾  Veracidade – O evento tem de ser verificável.

E o “melhor” vem agora: o vencedor do prêmio de 2008 foi o padre brasileiro, Adelir Antônio de Carli. Para quem não se lembra ou é analfabeto funcional, esse padre amarrou-se em trocentos balões de gás, desses que as crianças pequenas sempre deixam escapar e depois ficam enchendo o saco querendo outro.

Segundo li, o padre queria bater o recorde de permanência no ar nessa modalidade (já imaginou quantas mortes ou mutilações de malucos e idiotas o Guiness Book já deve ter provocado indiretamente?).

Para encurtar a conversa, ele atendeu todos os quesitos para ser premiado, pois, antes de cair, pediu orientações para operar o aparelho de GPS que levava e ainda teve tempo de informar que a bateria estava acabando. Um “Amir Klink” do voo com balões de festa em matéria de planejamento! Devo completar, para que não reste dúvida: “Bazinga!

Fico imaginando a reação do mala sem alça Galvão Bueno ao saber dessa premiação  deve ter exclamado daquele modo contido de que só ele é capaz:
É DO BRASIL !  É DO BRASIL !!!


quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

DESABAFO

Hoje recebi um e-mail de meu filho, cujo título era “dá vontade de chorar”. O e-mail trazia apenas um link de uma notícia sobre a destruição de obras da civilização assíria em um museu do Iraque. Eu não consegui ler a notícia, pois fui invadido por uma tristeza profunda, imensa. A tristeza de quem não suporta mais a intolerância, o obscurantismo, a ignorância, o fundamentalismo, o desprezo e a repulsa por aquilo que não entendemos, não valorizamos, não sabemos, não compreendemos. E por isso nos julgamos no direito de destruir, mutilar, aniquilar, decapitar. E tome destruição de pessoas, de obras de arte, de vestígios da História.

Quantas caças às bruxas já aconteceram motivadas pelo obscurantismo e pela intolerância? Quantos livros, papiros, pergaminhos e pessoas já foram destruídos ao longo do tempo? Sinceramente, não aguento mais ler esse tipo de notícia. Nessas horas eu me lembro da cena final do filme de humor (negro) DR. STRANGELOVE OR HOW I LEARNED TO STOP WORRYING AND LOVE THE BOMB, multiestrelado pelo maluco e genial Peter Sellers. 

Nesse filme, um avião militar americano voa em direção à Rússia para soltar uma bomba atômica em Moscou, se não me engano. O comandante, um texano que usa chapéu de caubói, tenta inutilmente abrir o compartimento da bomba com os comandos instalados na cabine. Como não consegue, vai até lá, faz a abertura manualmente e desce montado na bomba, como se estivesse sobre um cavalo em um rodeio. E aí começa um festival de explosões nucleares para lá e para cá. É uma cena muito engraçada e clássica (já foi parodiada até nos Simpsons). Mas é uma graça com muita melancolia.

Mas é isso, nessas horas de tristeza imensa, que vejo como solução para a raça humana: uma guerra nuclear que extinguisse TODA a espécie. Nós não merecemos a inteligência e o cérebro que a evolução nos concedeu. Nós não merecemos.



domingo, 22 de fevereiro de 2015

VOCÊ SABE O QUE É CONCIERGE?

(Ainda estou sentindo os efeitos do fim do horário de verão)

Outro dia, passeando por um shopping de BH, vi um pequeno balcão onde encontrava-se um funcionário do local e uma plaquinha onde li a palavra “concierge”. Achei muito chique, mas fiquei me perguntando o que isso significa (sou um caipira notório). Na internet descobri isso:

Mas…o que exatamente é um concierge ? 
fonte: http://www.lesclefsdor.com.br
Na hotelaria moderna, a palavra que mais se aproxima de uma possível tradução da palavra francesa " concierge" é zelador, ou "zelador de hóspede" pois o concierge zela pelo hotel e, principalmente pelo bem estar dos hóspedes."...

O concierge tem sido costumeiramente descrito por ser um facilitador de sonhos. O Concierge é a “alma” da recepção, um verdadeiro elo entre o hóspede e o hotel. E, sem dúvida, o cargo mais importante.
Dentre suas funções, segundo o mesmo texto, estão (grifo meu):
- Cuidar de bagagem, incluindo assegurar de que as malas estão em lugar seguro, enviá-las para outras localidades e até mesmo enviar para conserto.
Aluguel privado de jatos, helicópteros e iates.
Correio e entregas expressas tanto locais quanto para localidades distantes.
Manusear e encaminhar faxes, mensagens e e-mails.
Fazer e garantir reservas em hotéis.
- Dicas de compras, bem como compras personalizadas.

Foi aí que eu me dei conta de uma coisa: o que o Marcos Valério, o Alberto Youssef e outros “operadores” envolvidos e citados nos esquemas Mensalão e Petrolão são realmente é concierges da corrupção.
Chiquérrimo! 


LITERAL

Quando eu ainda era pré-adolescente, xingar alguém de filho da puta durante uma discussão era a melhor forma de começar uma briga de porrada. O motivo ficava explícito na reação imediata – “minha mãe não é puta!”. E o pau comia. O tempo passou e ser chamado de filho da puta virou também um grande elogio, ou melhor, um puta elogio: – “aquele sujeito é filho da puta de competente!

Então, para quem não é bitolado ou fundamentalista, ouvir e falar coisas contrárias à sua crença não causa nenhum desconforto (a mim, pelo menos, não causa). Estou dizendo isso por conta das inúmeras vezes que fiz ou ri de piadas que ironizam o catolicismo (sou católico) e outras religiões, pelo simples fato de saber que quando faço isso não estou discutindo a essência daquilo em que creio.

Na década de 1990, trabalhei na mesma seção de um evangélico convicto, que estudava para ser pastor (batista, mais precisamente).  Era um sujeito grandão, meio simplório, mas muito simpático e que gostava de conversar comigo. Já comentei que falar de religião comigo é o mesmo que oferecer cachaça para alcoólatra  eu não resisto. E o papo rolava solto.

Pois bem, em uma dessas conversas fiquei sabendo que ele era um ex-católico, que era criacionista e que tinha calculado por conta própria a idade do mundo. Segundo ele, a Bíblia fala que a Terra tem doze mil e não sei quantos anos, mas isso está errado. Segundo meus cálculos, o mundo foi criado há dez mil e bolinha”. Essa imprecisão é minha, pois não me lembro dos números exatos. Ele não, ele “sabia” o número “exato”, tipo “10.384” anos.

Eu ficava fascinado com aquela visão simplista da vida e sempre o cutucava com questões a que ele respondia com sorrisos. Um dia perguntei a ele se tinha filhos. Diante da afirmativa, perguntei se eram crianças e ele confirmou. Aí saiu essa “pregação” meio desengonçada:
 Quando você conversa com seus filhos pequenos, você usa o mesmo vocabulário que usa comigo ou adapta suas palavras à idade mental e ao entendimento que eles conseguem ter agora? 
Com um pouco de hesitação, por não saber o que viria depois, concordou comigo. E eu continuei.
– Agora, imagine Deus tentando se comunicar com aquele povo. Faltava luz elétrica, água encanada, conhecimentos médicos decentes, muita gente vestia pele de carneiro, andava descalça, não tinha papel higiênico para limpar a bunda, uma zona, enfim. E Deus lá, tentando se comunicar  com aqueles broncos, com aqueles caipiras. Só podia fazer isso através de alegorias, de imagens, exatamente como você faz hoje com seus filhos! Por isso, meu caro ..., você não pode acreditar piamente em que tudo o que lê na Bíblia, pois ali existem  muitas alegorias, muitas metáforas e muita maluquice, você não deve fazer uma leitura puramente literal da Bíblia. 
E ele ficou me olhando com um sorriso entre bondoso e irônico, como se dissesse –“sabe de nada, inocente!

Um dia, de pura sacanagem, mandei a esse amigo uma piada muito boa (para mim, pelo menos), a história de Jesus caminhando sobre as águas. A coisa é mais ou menos assim: Estava Jesus sentado com seus discípulos à beira do lago de Tiberíades, quando se levantou e saiu caminhando sobre as águas. Pedro ficou muito impressionado e disse:
Senhor...
E Jesus responde:
Aquele que crê em mim que me siga.
E Pedro entrou na água, mas notou que, ao contrário do Mestre, estava com água pelas canelas. E chamou de novo:
Senhor!
E ouviu a mesma resposta.
Aquele que crê em mim que me siga.
Pedro não teve dúvidas continuou, mas a água chegou aos joelhos. Chamou de novo e, de novo a mesma resposta. Por isso, continuou. Quando a água já estava pelo meio do peito, já desesperado, suplicou:
Senhor!!!
E Jesus, de novo, com a calma da sabedoria repetiu:
Aquele que crê em mim que me siga.
Foi quando um dos discípulos, já penalizado, disse:
Pô, Jesus, não sacaneia! Ensina para ele o caminho das pedras!

Quando o encontrei, perguntei se tinha lido meu e-mail. Disse-me que sim. E o filho da puta aqui cutucou de novo:
E aí, gostou da piada? Muito boa, né?
E ele me respondeu com uma ponta de repreensão na voz:
É, mas não faça isso de novo.

E o pior é que eu fiz de novo, relembrando essa excelente pessoa.


sábado, 21 de fevereiro de 2015

EQUÍVOCO

Hoje eu estou meio atacado (deve ser pelo fim do horário de verão). Mas eu estive pensando sobre as notícias que têm balançado tanto a cena política nacional. Primeiro, foi o Mensalão; agora, o Petrolão. É muito "ão" pro meu gosto (nessa nova confusão já temos a delação, a única coisa que ainda falta é a detenção – sem apelação).

O que me ocorreu é o seguinte: os socialistas do PT aparentemente abominam a livre iniciativa, a liberdade de imprensa e o capitalismo (que vamos chamar de "clássico", para facilitar). Isso é intriga da oposição!

Que socialismo o quê, o que os petistas gostam mesmo, o que eles amam sem pudor é o capitalismo selvagem, da espécie mais selvagem que existe, aquele onde vira e mexe algumas das "joias mais vistosas da coroa" da Construção ficam "engastadas". 

E o pessoal ainda fica fazendo mau juízo deles. Sacanagem, pô!


VADE RETRO!

Alguns anos atrás, assistindo as “colegas de trabalho” do Silvio Santos tentar adivinhar músicas a partir de uma palavra contida na letra, creio ter entendido  porque as músicas bregas fazem tanto sucesso. As moças da plateia, embora sabendo a letra de cor, quase nunca conseguiam reproduzir a linha melódica das músicas que lembravam, mesmo que a melodia fosse extremamente simples. E as letras desses sucessos são o segundo motivo, talvez o mais determinante. Todas ou quase todas falavam de amores não correspondidos, corneamento, abandono, solidão e todo tipo de sofrimento possível em relacionamentos amorosos ou em sua ausência.

Matutando sobre isso, cheguei à conclusão que o sucesso de músicas de gosto extremamente duvidoso e popularesco deve-se ao fato de a maioria da população ser um espelho do que dizem os temas: é mal amada, solitária, abandonada ou traída. Se a história cantada encontra sintonia com o dia a dia, com a vida dessas pessoas, é até desejável que a melodia seja simples. Essa visão é correta? Não sei. É apenas minha opinião.

Comecei a falar desse assunto por conta de um fato curioso que me divertiu bastante. Em um post recente contei como conheci meu Amor no carnaval de 1969. Nele eu explicito o que sempre senti e sinto por minha Amada. Embora seja um texto meio assim assim, Ela leu, gostou muito e o compartilhou no Facebook. E aí é que vem a curiosidade: pelos padrões “feicibucanos”, ela tem mais de duzentos “amigos”. Quantos desses “curtiram” a história do sapo e da princesa? Dois ou três, se não me engano. E olha que nessa lista de “amigos” estão irmã(o)s, primo(a)s, amigo(a)s de infância, ex-alun(a)os, vizinhos, filhos, noras, conhecidos, o escambau.

É claro que nem todos viram essa compartilhada, até porque o Facebook parece uma cachoeira de posts, links, curtidas e sei lá mais o que, que não pára nunca. Creio que é quase impossível ler tudo que os amigos postam. Mas deixo claro que também não estou me queixando por não ter sido lido. Para o bem da verdade, acredito até que vários desses "amigos" leram a história. Apenas ficaram mudos, apenas fingiram-se de mortos, ninguém deu feed back.

O Otto Lara Resende disse uma vez que “o mineiro só é solidário no câncer”. Creio que ele quase acertou na mosca. Se, em lugar de “mineiro” tivesse dito “ser humano”, aí o tiro acertaria o centro do alvo. Porque o que me divertiu (sinceramente) nessa história toda foi perceber que falar de amor correspondido, de felicidade, é quase ofensa. Não importa a classe social a que pertencem – a maioria das pessoas parece ser realmente mal amada.

Se meu Amor tivesse escrito que foi assaltada, que quebrou a unha do dedinho, que viu um passarinho lindinho morto na rua ou qualquer coisa do gênero “tragédia” ou “peninha”, acredito que haveria uma avalanche de comentários e curtidas. Mas compartilhar a prova de que é (muito) amada, ah, isso não! Isso é extremamente ofensivo, constrangedor. Vade retro, credo em cruz!

COREOGRAFIA

Há um (inter)ditado que diz que "não há idade melhor que a Melhor Idade". Ah, é? Então, som na caixa!

Ai ! (mão direita apoiada na nuca); Ai ai ai ! (mãos apoiadas na região lombar, logo acima da bunda); Ai ai ai ai ai ai ai ! (sequência: mão direita no joelho direito, mão esquerda no joelho esquerdo, mão esquerda no ombro direito)

- "Em cima, embaixo e puxa e vai!” Maneira essa sua coreografia, tio, se fosse no carnaval, ia bombar!

- O que?

- Sua coreografia! Maneira pra caramba!

- Que coreografia?

- Ué, essa que o senhor estava fazendo agora (repete os movimentos): Ai Aiaiai Aiaiaiaiaiaiai! Só faltou falar “Em cima, embaixo e puxa e vai!” Legal mesmo.

- Isso não é coreografia, idiota! Eu estou é com dor no corpo todo!

- Desculpa aí, foi mal! 





sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

CULTURA (MUITO) INÚTIL

O Angeli, cartunista genial, criou vários personagens de histórias em quadrinhos (quem não sabe disso?). Para mim, os mais engraçados são dois hippies velhos chamados Wood e Stock. O legal é que a piada já começa com o uso do nome do mais famoso festival de rock do mundo, acontecido em 1969, para nomear os dois malucos.

Recentemente encontrei outro exemplo dessa partição de um nome para designar uma dupla, só que de forma muito mais sutil e refinada, mas nem por isso menos criativa e engraçada.

Eu imagino que todo mundo já tenha ouvido falar do Tico e do Teco (não, não estou falando dos neurônios da Dirma). Esta semana, vendo no Youtube alguns desenhos do Pato Donald feitos durante a Segunda Guerra, fiquei pasmo ao descobrir que o nome original dos esquilos é “Chip and Dale” ou “Chip an' Dale”. Eu já tinha ouvido o nome “Chipendále” ou coisa parecida, relacionado a decoração, móveis, sei lá. Aí, fui pesquisar no Google e achei isto:

Thomas Chippendale foi um marceneiro e designer de móveis britânico, famoso por seu “senso absoluto de linha e proporções”. Em 1754 publicou um livro com seus projetos, intitulado "The Gentleman and cabinet-marker's Director", reeditado e copiado muitas vezes. O estilo criado por ele ficou conhecido por “Chippendale”. Bacana, não? (obrigado, Google!)

Para mim, cultura inútil é tudo de bom, mas o que realmente chama a atenção é o humor sutil na escolha dos nomes citados. Ninguém precisa saber de onde vieram, mas se você tem alguma referência sobre o assunto, a coisa fica muito mais legal. E fico pensando que os desenhistas e roteiristas da Disney divertiam-se muito mais na época quando os desenhos não eram criados só para crianças pequenas ou para vender bonecos e todo tipo de tralhas relacionados a esses personagens. 

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

AVISO PRÉVIO

Este blog começou sob o signo da contradição, pois em um dos posts iniciais eu transcrevi trechos de um texto encontrado na internet, onde o autor explicava porque parou (ou estava parando) de escrever em seu blog.

Pois bem, não é isso o que eu pretendo fazer (pelo menos, não ainda), mas já deu no saco. E a culpa é minha, pois o que no início foi excitante, prazeroso, tornou-se um fardo que não estou a fim de carregar.

Acho que já escrevi que tenho TOC moderado, muita ansiedade e desconfio que talvez seja meio bipolar (eu acho que hoje estou na fase maníaca). Por conta disso, logo desisti da ideia inicial de fazer um post por semana. Estava tão empolgado que comecei a postar diariamente. Mais um pouco e comecei a acordar mais cedo e a dormir mais tarde, só para alimentar o blog.

A maioria desses textos já existia antes do Blogson, mas a obsessão de atualizá-los, revisar e corrigir antes de os postar fez com que eu me tornasse um burocrata, um funcionário (não remunerado). Assim, acabou a diversão.

A única vantagem que ficou foi parar de aporrinhar as pessoas de quem conheço o endereço da caixa postal, pois cheguei a enviar até seis e-mails por dia. Depois do blog, acredito, fui desmarcado como spam.

O blog teve ainda um curioso efeito colateral: logo no início, por ser genuinamente anti-social (mesmo que não aparente), comecei a me sentir patrulhado por conta dos comentários que começaram a surgir a respeito desse ou daquele texto. Aí tirei a caixa de comentários do blog, só para acabar com a ansiedade provocada pela “invasão de privacidade”. Coisa de maluco, concordam? Depois, desencanei e liberei geral (os comentários, bem entendido), mas aí era tarde, porque ninguém mais (ou quase isso) se animou a comentar alguma coisa.

Mas há algumas curiosidades que vale (?) a pena comentar: em 257 dias de existência, foram divulgados 265 posts. Estranhamente, a maioria permaneceu praticamente “inédita” (assim dizem as estatísticas do Blogger). E para sacanear, o post que teve mais acessos (298) não foi um texto de minha autoria, mas de J.R. Guzzo, que encontrei na revista Veja. Sou fã desse cara, mas a magnífica literatura do Rubem Braga teve apenas dois acessos. Com o Bandeira, Fernando Pessoa e outros homenageados foi ainda pior, pois tiveram apenas um (!!!) único e solitário acesso cada. O que é o máximo do paradoxo, porque o texto mais acessado tem justamente o título “Analfabetos Voluntários”.

Então, para mim, a maioria das pessoas está cagando mole para a literatura tradicional (seja ela em prosa ou poesia), para o lirismo, para o humor e para a música (de qualidade). O que todos procuram de fato (NÃO ESTÃO ERRADOS!) é o manifesto, a opinião, a análise crítica da situação atual. Eu também gosto de ler isso, mas prefiro levar minha vida (ou o que resta dela) “na flauta”, na base do humor e da ironia.

Porque a Vida pode ser uma merda, uma coisa incompreensível, sujeita que está a muita decepção, muita dor e muito choro. E, por já ser depressivo, para mim choro só vale a pena se for de “flauta, violão e cavaquinho, como teria dito o Noel Rosa.

Como estava visualizando o blog umas quinze vezes por dia (olha o TOC) para ver se estava tudo OK, resolvi agora fazer uma “volta às origens”, para conseguir me divertir de novo com o blog. Assim, a sopinha de um texto por dia termina no próximo domingo, dia 22/03. A partir daí, o blog será alimentado quando me der na telha. Bom, essa é a ideia no momento atual. E já que Blogson Crusoe tem tudo a ver com Sexta-Feira, pode ser que a proposta inicial de apenas um post por semana vingue definitivamente. Entretanto, como sou pendular e ansioso crônico, pode ser que saia tudo diferente.

Fui. (engraçado, tive agora a sensação de estar falando para ninguém).

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

COLOMBINA - ED MOTTA / RITA LEE

Já disse antes que não sou saudosista, não tenho saudade de épocas ou lugares. Só tenho saudade de mim mesmo. Tem gente que ama repetir que "no meu tempo é que era bom!", só falta chorar. Se eu quisesse falar alguma coisa parecida, diria que naquele tempo eu é que era bom. Então, saudosismo não funciona comigo.

Mesmo assim, minha reverência hoje é para as antigas músicas de Carnaval, aquelas que eram compostas e lançadas especificamente para essa festa (e que eram cantadas por todo mundo). Algumas extrapolaram a “folia momesca” e permaneceram na memória musical brasileira. Caso da marchinha “As Pastorinhas”, por exemplo (Noel Rosa e João de Barro).

As opções hoje (no Sudeste!) são os sambas de enredo e o axé da Bahia. Da primeira ninguém se lembra direito e a outra opção é um pé no saco. Por isso, minha homenagem é indireta, pois a música (ótima) que eu escolhi tem a temática dos antigos carnavais, embora não seja marcha, samba ou axé. É “Colombina”, composta por Ed Motta – o melhor soulman brasileiro e Rita Lee - a roqueira que tem voz de bossa nova, segundo o João Gilberto. 

Quem quiser ouvir, o link do Youtube está no final. Vê aí.

Se você voltar pra mim,
Juro para sempre ser arlequim
E brincar o carnaval
Viver uma fantasia real

Sou um triste pierrot mal-amado
Mestre-sala desacompanhado
Um bufão no salão a cantar...

Colombina, hey!
Seja minha menina, só minha
Bailarina, hey!
Mandarina da China, rainha
Quero ser seu rei!
Um rei momo, sem dono, sem trono
Abram alas pro amor!

Minha vida sem você
É uma canção de amor tão clichê
O meu "bem-me-quer" não quis
Fez de mim um folião infeliz

Sou um triste pierrot mal-amado
Mestre-sala desacompanhado
Um bufão no salão a cantar...

Colombina, hey!
Seja minha menina, só minha
Bailarina, hey!
Mandarina da China, rainha
Quero ser seu rei!
Um rei momo, sem dono, sem trono
Abram alas pro amor!


terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

FOTOGRAFANDO

Hoje é segunda-feira de carnaval; por isso, eu e minha amada resolvemos dar uma chegada na praça principal do bairro onde moramos, pois é ali que nos três últimos anos tem rolado espontaneamente uma muvuca carnavalesca. As ruas de acesso ficam proibidas ao tráfego de veículos, banheiros químicos são instalados em vários pontos, etc.

Pra nós isso não é problema. Deixamos o carro na garagem e fomos caminhando (apesar do joelho reclamar um pouco). Estávamos quase chegando quando começamos a ouvir o som cada vez mais próximo de um rock anos cinquenta, tocado em um piano. Uma caminhonete com um piano enfurecido colocado na carroceria aproximava-se. O pianista era um ilustre morador de Santa Tereza: Gabriel Guedes, músico excepcional (toca uns dez instrumentos!), filho do Beto Guedes, neto do Godofredo Guedes. A caminhonete parou do nosso lado e ele desceu com um jarro de liquidificador na mão, com cerveja até a metade. 

Mais tarde, com um bando de gente atrás, continuou seguindo em direção à praça. Mas começou uma chuva mais forte e desistimos de acompanhar essa quizumba. Penso que é nesse tipo de esculhambação e improvisação que reside o verdadeiro espírito do Carnaval.

Enquanto corríamos da chuva, lembrei-me do carnaval do ano passado, quando coincidentemente, na segunda feira, sem chuva, eu e minha mulher fomos acompanhando outro bloco desse tipo: improvisado e espontâneo como tantos outros que, a despeito dos esforços contrários das autoridades municipais, fizeram ressurgir o carnaval de rua de BH. 

Uma coisa que chamou minha atenção foi a quantidade de gente tirando fotos com seus smartphones e até tablets. Beleza. Deu-me a impressão de que alguns se divertiam tanto em participar daquela muvuca quanto em provar (via redes sociais) que estavam mesmo ali. Meio bizarro, mas tudo bem.

Até o início da década de 1970 era possível encontrar pelas ruas do centro de BH fotógrafos profissionais que tiravam retrato (instantâneos) das pessoas que passavam. Em seguida, ofereciam a elas a revelação da foto. Hoje em dia, com o surgimento dos tablets e smartphones, esses profissionais desapareceram (talvez até antes disso).   

Como a maioria das fotos que a moçada tira para colocar nas redes sociais são o que se convencionou chamar de “selfies”, eu penso que esse hábito obsessivo de se auto-fotografar em vários lugares, em vários momentos, tudo isso em um mesmo dia, bem que poderia ser chamado de selfie service.
(de vez em quando, Jotabê queima o filme por conta das idiotices que pensa).


segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

EVOÉ MOMO!

Quando eu e meu irmão éramos bem pequenos, minha mãe nos levava ao centro da cidade para ver a muvuca do carnaval. Ao longo da Avenida Afonso Pena um serviço de alto-falantes alternava propagandas e músicas de carnaval. Nessa avenida e também nas ruas transversais encontravam-se barracas que vendiam máscaras, colares, apitos, serpentina, confete e... lança-perfume. Por toda a região central encontravam-se pessoas fantasiadas, alguns apenas com um chapéu ou quepe de marinheiro, outros com “máscara de zorro”, etc. 

A fantasia mais comum (e mais barata) era a de “gatinha(o)”. Normalmente, eram vistas em grupos de três ou quatro pessoas. Uma fronha ou saco de pano branco (assim imagino) era o componente principal: com as duas pontas opostas à abertura eram feitas duas orelhas; três furos definiam a boca e os olhos; alguns riscados em forma de arco, saindo da boca e estavam feitos os bigodes. Uma camisa branca de manga comprida, um par de luvas brancas e calça comprida preta completavam a fantasia. A esse conjunto às vezes era adicionada uma varinha, usada para conter os mais abusados ou aqueles interessados em identificar o sexo da(do) gatinha(o) pelo método Braille (sabe como é, né?).

Eu nunca consegui identificar se os "gatinhos" eram mulheres ou homens, de que raça eram nem se eram dragões  de feiura ou gatinhas mesmo  (ao contrário do Erasmo Carlos, eu era uma criança e não entendia nada).

Pois bem, foi justamente essa capacidade de tornar incógnita a pessoa assim vestida que condenou a fantasia. Seu uso foi proibido, sob a alegação de que ladrões e gente mal intencionada podiam se beneficiar de seu uso.

Nem preciso falar que o lança-perfume, cujo cheiro era delicioso, foi criminalizado e proibido, pois era utilizado como droga por algumas pessoas. Eu mesmo flagrei um tio cheirando a substância em um lenço, na companhia de dois amigos. Agora, morrer de tanto beber cachaça, isso podia. E continua podendo.

Nessa época desfilavam pela avenida os blocos caricatos, gente com o rosto pintado, de uniforme, montada em um caminhão e mandando ver na batucada. Imagino que devia existir alguma escola de samba. Mas, de tão indigente e pobre, ninguém nem dava notícia. E carnaval bom era o de clube.

Por volta de 1980, o prefeito resolveu incrementar a folia de BH. Arquibancadas provisórias (com camarotes e acesso pago) foram erguidas ao longo da avenida. Uma decoração cheia de lâmpadas e plásticos e cores imitando o que se fazia no Rio inundou a cidade. Verbas foram dadas para blocos e escolas de samba. E a coisa pegou fogo (no sentido figurado). Mas a indigência das escolas continuou. Bastou o prefeito ser trocado para acabar essa mamata.

Em 1990 ocorreu nova mudança: o desfile de blocos e escolas foi enxotado para uma tal de "Via 240", na saída da cidade (fruto talvez de um desejo inconsciente de expulsar definitivamente o Carnaval de BH). Só voltou para a Avenida Afonso Pena em 2014.

Enquanto isso, ao longo dos anos, talvez fruto de tantas intervenções, BH foi se transformando em cidade-fantasma durante esse período, pois o carnaval de clube já não atraia quase ninguém; quem queria se divertir viajava para cidades onde o carnaval de rua realmente acontece (com ou sem apoio das prefeituras). E quem queria ver desfile de escolas de samba tipo ostentação, ia para o Rio.

De uns dois anos para cá, entretanto, o carnaval de BH ressuscitou, graças aos blocos de rua e ao Facebook. Ainda bem, pois eu nunca consegui entender as diversas providências tomadas pela PBH para acabar de forma definitiva com a comemoração do que é (para mim) a última festa pagã, a última orgia liberada do mundo ocidental (nada sei do resto).

Mas, contrariando a ideia de que “se está bom, não mexe”, a PBH resolveu “organizar” o carnaval de rua, resolveu definir horários e locais para os blocos informais que surgiram. Justamente os blocos que trouxeram de volta a espontaneidade, a irreverência (e as pessoas que viajavam para outras cidades).

Minha previsão: não demora e começa outra debandada daqueles que querem se divertir despreocupadamente, sem se preocupar com horários ou locais permitidos. Para mim, o verdadeiro espírito do Carnaval passa longe das escolas de samba do Rio e São Paulo, que apresentam um espetáculo tipo exportação. O Carnaval verdadeiro, aquele cheio de ironia, esculhambação, crítica social e descontração está presente nos blocos de rua. Querer organizar essa zona é prova de autoritarismo, rabugice, mau humor. 

A melhor definição que me ocorre para explicar o Carnaval encontra-se em um poema transcrito a seguir, de autoria do Manuel Bandeira. O nome é "Bacanal" (como disse, para mim, o Carnaval é a última orgia permitida, a última festa pagã do mundo atual. Por isso, apesar do nome escolhido provocar algum desconforto em alguns, o poema reflete bem o espírito dessa festa). Saca só:
   

BACANAL

Quero beber! Cantar asneiras
No esto brutal das bebedeiras
Que tudo emborca e faz em caco…
Evoé Baco!

Lá se me parte a alma levada
No torvelim da mascarada,
A gargalhar em douro assomo…
Evoé Momo!

Lacem-na toda, multicores,
As serpentinas dos amores,
Cobras de lívidos venenos…
Evoé Vênus!

Se perguntarem: Que mais queres,
além de versos e mulheres?
- Vinhos!… o vinho que é o meu fraco!…
Evoé Baco!

O alfange rútilo da lua,
Por degolar a nuca nua
Que me alucina e que não domo!…
Evoé Momo!

A Lira etérea, a grande Lira!…
Por que eu extático desfira
Em seu louvor versos obscenos,
Evoé Vênus!


Evoé” é uma palavra do tempo de nossos avós e é como que uma exclamação para exprimir alegria, entusiasmo, etc. O que se espera que as pessoas sintam no Carnaval.


domingo, 15 de fevereiro de 2015

BOMBA, BOMBA, BOMBA!!!

Pode ser rabugice de gente velha (ou só rabugice mesmo), mas sempre fico espantado com esses caras que usam anabolizante e curtem muita tatuagem (é muita mesmo o que eu quis dizer). Claro, as academias são seu ecossistema natural. Todo mundo de camiseta justinha do tipo "mamãe, sou gay", só para exibir a musculatura. Há homens tão bombados que fico pensando que a a ocupação principal deles é de candidato a "participante de reality show" - ou outdoor móvel de estúdios de tatoo, tal a quantidade de tatuagens que ostentam. Mas com as mulheres a coisa complica um pouco mais. Essa questão fica mais visível (e como fica!) quando rola um bebebê da vida. Ou quando chega o Carnaval. 

Porque época de Carnaval é sempre a mesma coisa: programas matinais ensinando como dar uns passinhos de samba, telejornais mostrando como vai ficar o tempo durante a festa em várias localidades, programas culturais tipo Nelson Rubens exibindo flashes de ensaios de bateria das escolas de samba do Rio e São Paulo, etc.

É lógico que a equipe de reportagem está pouco se lixando para os integrantes e seus instrumentos sinfônicos; o que querem mesmo é mostrar as rainhas de bateria e outras musas carnavalescas, muitas delas classificadas genericamente como "personalidade da mídia" ou "modelo" (eufemismos frequentes para puta de luxo). Geralmente são mulheres bombadíssimas, saradíssimas, com músculos tão definidos que lembram mais um travesti.

Teve muita gente que criticou o Ronaldo Fenômeno por ter sido visto uma vez na companhia de três travecos. Puta preconceito! Muito pior é você namorar ou casar-se com uma "madrinha" dessas. Essas mulheres têm a coxa da grossura da minha barriga (rá rá rá o que?) e a voz é mais grave que a do Nelson Gonçalves ou Tim Maia. 

Sem sacanagem, se eu fosse casado com uma assim, certamente pensaria até em comprar um fuzil para me defender! Sei lá, vai que um dia ela resolve liberar a porção homem "que até então se resguardara"...

Uma coisa eu sei: esse pessoal toma ou tomou tanta bomba que quando morrer, penso que não podem nem devem ser cremados. Você pergunta por quê? Pode até ser que não ocorra um novo Chernobyl ou uma nova Fukushima, mas que o crematório vai pro saco, isso vai.



CONHECE A HISTÓRIA DA PRINCESA E DO SAPO?

Para mim, foi outro dia mesmo que eu a vi pela primeira vez. Neste ano de 2015 estamos comemorando 46 anos do dia em que nos conhecemos. E parece mesmo que foi ontem, tal o encantamento e amor que sempre senti por essa menina (não importa quanto tempo tenha se passado, ela sempre será a minha menina), a ponto de eu dizer que ela faz parte do meu DNA.

A maioria das pessoas declara que os filhos são o que há de mais importante em suas vidas. Há os que dizem que o pai ou a mãe (ou ambos) é que são. No meu caso, não tem essa. A pessoa mais importante da minha vida é meu Amor. Ela é a concretização do melhor sonho que eu já tive. 

E foi assim que tudo começou: em 1969, fui ao baile de carnaval da Sociedade Mineira dos Engenheiros graças, provavelmente, a um convite arranjado por meu irmão ou por meus primos, que já estudavam engenharia. Eu era um sujeito magro, muito magro, desengonçado e feio. Além de feio, bobo, muito bobo. Pensando bem, à exceção da magreza – convertida depois em obesidade, as outras características só se acentuaram com o passar do tempo.

Em Beagá, naquela época, carnaval bom era o de clube. Na avenida, o que rolava eram os blocos caricatos. Escola de samba nem era considerada. A música predominante era a marchinha, muito melhor para abraçar a menina enquanto se davam voltas no salão. Aliás, o povo que brincava nos clubes ficava como uma galáxia ou nebulosa, girando, girando, enquanto a banda (som ao vivo, por favor!) cantava “foi bom te ver outra vez, está fazendo um ano, foi no Carnaval que passou...”

Então, foi nesse clima, em um dia 15 de fevereiro, que eu vi aquela maravilha de menina, com os olhos lindíssimos ainda mais acentuados pela maquiagem. Ela estava vestindo um pareô verde e azul, se não me engano. Havia mais alguém com o mesmo traje, uma ou duas meninas, mas só fiquei ligado nela, não só pela beleza incrível, mas por um detalhe meio ridículo: Eu achei que ela tinha olhado para mim com algum interesse. Na prática, o que tinha chamado sua atenção era a pinta (nevo) que tenho no rosto, na época coberta de pelos pretos e muito chamativa (“chamativa” como sinônimo de feia).

Não me lembro do motivo exato, não sei se ela achou que a pinta era uma cicatriz ou se a achou parecida com a pinta de um sujeito que morava no bairro Calafate, filho de um coronel ou coisa assim. O fato é que na segunda vez que passou por mim eu já avancei e coloquei a mão em seu ombro, como era o procedimento carnavalesco. Ela não recusou e seguimos em frente, cantando e saracoteando pelo salão, até que ela deu sinal que iria parar.

Mais outro detalhe ridículo: com meu desconfiômetro do Paraguai e minha total falta de traquejo, acreditei que ela tinha me chamado para parar. Fui atrás e continuei ao lado dela. Lembro-me apenas de ter notado um ar de ironia no riso em suas amigas. Aí começamos a conversar e eu lá, na maior felicidade. Afinal, eu estava ao lado de uma menina lindíssima, que eu acreditava ter se interessado por mim. Certamente não era esse o sentimento dela. O fato é que ficamos o resto da noite juntos, eu grudadão nela, tentando pegar em sua mão e ela lá, na maior retranca. Pular abraçado, tudo bem, mas mãos dadas nas paradas para descansar, nem pensar.

Na segunda noite, estava eu lá, na marcação, doido para rever e me aproximar daquela maravilha. E ela surgiu, linda como sempre foi, linda como é até hoje. 

Começamos a pular juntos, de novo. Quando parávamos eu tentava avançar, tentava ficar de mãos dadas, sinal inequívoco de interesse mútuo em namorar. Naquela época, não existia essa coisa de ficar, nem no Carnaval! Como ela sempre resistia, comecei a dizer asneiras, ameacei pular da sacada do prédio, supliquei e todo tipo de coisas que a minha inexperiência provocava. E o mais engraçado é que ela acreditou no papo de pular da sacada!!

E, de tanto insistir, aquele sapo esquálido, desnutrido, desajeitado e feio acabou namorando a princesa...

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

O ELOGIO DA LOUCURA

Por conta de um texto despretensioso que escrevi sobre o Prêmio Nobel, o blog “A Marreta do Azarão” não só o reproduziu como recebi do blogueiro um elogio que me deixou envaidecido e orgulhoso (era final de mês). Meu ego ficou tão inchado que precisei tomar anti-inflamatório para que ele voltasse ao normal (para o bem da verdade ele já é normalmente muito inflado, mais ou menos como uma barriga cheia de gases. Ou como minha barriga, com ou sem gases. Mas, vamos voltar à trilha original).

Não quero me gambá (lembrança do Pasquim), mas sou “obrigado” a transcrever o elogio para dar sequência ao post (boa desculpa!):

“Descobri recentemente - na verdade, foi ele quem me descobriu - o blog Blogson Crusoe, de autoria de um declarado misantropo do qual só sei que se chama Zé, de Belo Horizonte. No blog, o Zé registra lá seus pensamentos, suas elucubrações, seus insights, as suas sacadas, tudo em textos curtos, leves, claros, concisos, agradáveis de se ler, escritos em bom e correto português (coisa rara na net) e sempre muito inteligentes e espirituosos”.

Não sei se sou um misantropo genuíno, pois sou bastante vaidoso e exibicionista (não, não uso casaco comprido nem faço “tcharã!” quando uma mulher vem na direção contrária à minha). Sou um exibicionista apenas intelectual, emocional.

Por conta desse comentário, ocorreu-me a ideia de que o Blogson é para mim o substituto de um consultório de psicologia. Na mesma linha de raciocínio, os textos e desenhos que divulgo funcionariam como terapia, como sessões terapêuticas. Só que paciente e terapeuta fundem-se em mim mesmo.

E o exibicionismo deve-se a esse desnudamento de emoções e pensamentos que exponho aos 2,4 leitores do blog. Até mesmo os textos de outros autores são como que “pijamas” que visto, pela sintonia que encontro neles com o que penso e sinto.

O Mário Quintana definiu de forma magnífica esse sentimento quando disse que “minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão”.

Então, numa boa, é querer demais que um sujeito que está sempre expondo publicamente suas entranhas queira também ser identificado civilmente, cartorialmente. “” (ou Jotabê) já está de bom tamanho.

E o comentário de que eu seria um misantropo me fez lembrar uma crônica genial do meu ídolo Rubem Braga (“Eu, Lúcio de Santo Graal”) da qual, para fechar e enriquecer este post, transcrevo um pequeno trecho:

Sim, eu serei misterioso; magnífico e irredutível, quer me chame “Dr. Mefisto", quer me chame “Johnny", ou, o que talvez prefira, “Lúcio de Santo Graal". (...)
E lá atrás de seu pseudônimo fabuloso ficará escondido, mergulhado na escuridão, ferido e medroso, o pobre coração do Braga.



quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

NIGHT AND DAY - COLE PORTER

Já faz um tempo que eu não reverencio um compositor. Pensei nisso enquanto ouvia uma música lindíssima. Aí resolvi homenagear um dos grandes compositores do século XX, o genial Cole Porter, pois a música que estava escutando é justamente “Night and Day”, de sua autoria.

Não sei quando a ouvi pela primeira vez. O que sei é que uns vinte ou trinta anos atrás, estava assistindo o programa "Plantão da madrugada", do Goulart de Andrade, Talvez por falta de matéria para apresentar, resolveu colocar um vídeo que tinha a apresentação de um músico de jazz, um sujeito baixinho (assim me pareceu), meio gordinho, velhinho, francês, com cara de avô, que entra no palco todo risonho, carregando um violino.

Stephane Grapelli era um nome era totalmente desconhecido para mim, mas, naquele dia, tornou-se inesquecível. Acompanhado de uma guitarra discreta e uma bateria, o sujeito começou a tocar Night and Day, mais ou menos como eu a conhecia. Na segunda passada da música, entretanto, começou a fazer tantas e tão lindas variações e improvisações em cima da linha melódica original que eu fiquei até babando. Infelizmente, mesmo depois de muito procurar, nunca mais consegui rever esse vídeo.

Mas, com meu temperamento compulsivo, descobri um monte de coisas sobre essa música e sobre seu compositor. Descobri, por exemplo, que foi gravada "trocentas" vezes, ora cantada ora só instrumental. E que, constrangedoramente, teria sido composta ou dedicada a um militar do exército americano, namorado de Cole Porter na época. Fazer o que, não é mesmo? (Coincidência ou não, o nome da cidade onde o compositor nasceu é Peru, mas a insinuação boba só vale em português). Não importa. A música é linda e o autor compôs muitas outras músicas inesquecíveis.

Quem se interessar, dê uma procurada no Youtube que encontrará diversas versões. No primeiro link, uma belíssima apresentação ao vivo. Night and Day é a segunda música e começa aos cinco minutos do vídeo.



A segunda versão, mais antiga (1937) e com um andamento mais acelerado mas não menos linda, é uma gravação da orquestra de Tommy Dorsey:



E se alguém se interessar em conhecer a letra (sem a parte inicial), aí vai:
  

NIGHT AND DAY
NOITE E DIA
Night and day, you are the one
Noite e dia, você é a única
Only you beneath the moon or under the sun
Somente você, sob a lua ou sob o sol
Whether near to me or far
Quer próxima de mim ou distante
It's no matter darling where you are
Não importa, querida, onde você esteja
I think of you night and day
Eu penso em você noite e dia
Day and night, why is it so
Dia e noite, noite e dia, por que é
That this longing for you follows me wherever I go
Que esta saudade de você me segue aonde quer que eu vá
In the roaring traffic's boom
No barulho ensurdecedor do tráfego
In the silence of my lonely room
No silêncio do meu quarto solitário
I think of you night and day
Eu penso em você noite e dia
Night and day
Noite e dia
Under the hide of me
Sob a minha pele
There's an oh such a hungry yearning burning inside of me
Há, oh, como que um desejo faminto queimando-me por dentro
And this torment won't be through
E este tormento não acabará
'Till you let me spend my life making love to you
Até que você deixe que eu passe minha vida fazendo amor com você
Day and night, night and day
Dia e noite, noite e dia





MARCADORES DE UMA ÉPOCA - 4