sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

ÁGUA E ÓLEO

Às vezes fatos recentes despertam pensamentos que estavam meio esquecidos, meio adormecidos. É o caso do traficante brasileiro que foi executado na Indonésia e da provável execução de mais um brasileiro pelo mesmo motivo. 

Antes que alguém me acuse de ter ideias nazistas, quero lembrar que abomino todo tipo de extremismo, seja ele de direita ou de esquerda, que reprovo e condeno comportamentos radicais, fundamentalistas, calcados em racismo ou ideologia ou em religião. Meu desejo, meu sonho é o bem da raça humana, de toda a espécie humana.

Esse alerta deve-se ao fato de que recentemente o país se dividiu entre os que aprovaram a execução do traficante (creio que a maioria da população) e aqueles que acharam isso um absurdo, blá, blá, blá. Imagino que os que reprovaram são os mesmos que defendem a manutenção da atual maioridade penal e coisas do gênero.

Mas existem casos tão escabrosos, existem criminosos tão violentos, cruéis, psicopatas ou seja lá o que for, que acredito serem eles incompatíveis com a sociedade onde vivem e onde surgiram. Um assassino serial, um homicida sádico, um estuprador recorrente, um sequestrador e um traficante são antíteses do Bem, pessoas que considero incompatíveis, imiscíveis com o resto da sociedade.

Não importa que tenham sido abusados na infância, que tenham passado fome, que nunca tenham conhecido o pai, que nunca tenham podido mudar de vida, que tenham sofrido todo tipo de violência que se noticia nos jornais, que tenham sido "vítimas da sociedade". Nada disso importa.  Pelo simples motivo de que certamente existem outras pessoas com o mesmo perfil, mas que nunca se tornaram criminosos.

Eu sou contra a pena de morte. Mas só quando ela é vista e tratada como castigo, como forma de punição. Sou contra a violência, contra a crueldade, contra o sofrimento mental dos condenados. A diferença é que, apesar disso, sou a favor de sua morte, de sua eliminação (extirpação). E a lógica desse raciocínio apresenta-se a seguir.

Uma vez alguém deu de presente para minha mulher o excelente e divertidíssimo livro “Diário de um Cucaracha”, de autoria do Henfil. Para os muito novos que nunca ouviram falar dele, Henfil foi um maravilhoso cartunista, criador do Fradim e outros personagens hilariantes, que morreu em 1988 em consequência da AIDS adquirida através de transfusão de sangue contaminado, pois era hemofílico.

Em determinado momento da vida, mudou-se para os EUA, para tratar da hemofilia e para tentar lançar-se no mercado americano. Durante esse período, escrevia cartas diariamente para os amigos. A compilação dessas cartas, sempre inteligentes e bem-humoradas, deu origem ao livro “Diário...”. Segundo ouvi dizer, esse livro foi lançado com duas capas diferentes. A versão “masculina” trazia belíssima foto de uma barata, que ocupava quase toda a capa; já a versão “feminina” não tinha essa “decoração”.

Pois bem, o presente dado à minha Amada era “masculino”, tinha o baratão na capa. Algum problema? Todos. Logo de cara, fui incumbido por ela de encapar o livro, pois, de outra forma, não conseguiria sequer encostar a mão nele.

Como deu para perceber, minha mulher tem fobia, pavor de barata, não suporta sequer ver uma. Assim, barata em nossa casa é uma intrusa total. A aparição desse inseto provoca uma operação de localização, cerco e extermínio tão intensa, cautelosa e abrangente, que daria até um enredo bacana de filme policial.

Enquanto a barata não é morta e desovada no vaso sanitário, ninguém dorme, ninguém faz mais nada. E todos os lugares por onde ela passou têm de ser desinfetados com álcool. Se tiver vasilha na história, aí fodeu. Tudo é lavado de novo. Parece loucura, paranoia? Pode ser. O fato é que em nossa casa não há nenhuma possibilidade de coabitarmos com a velha e boa periplaneta americana. Quando vejo uma, fixo o olhar nela para não perdê-la, peço que tragam o inseticida spray e “tshiii” nela. Logo após o casamento, eu usava sapato ou chinelo nessa “operação”. Mas aquele “splash” e demais detalhes repulsivos provocavam um pouco de nojo.

Que eu quero dizer com isso, afinal? Isso: eu não tenho medo de barata, não tenho raiva de barata. Apenas sei que ela e eu não podemos viver na mesma casa. Minha mulher também não sente raiva, sente horror. Por isso, quando uma dessas aparece, o pensamento é um só: “traz o chinelo aí!

Por isso, como medida higiênica, profilática, usando o mesmo raciocínio da incompatibilidade de convivência com a barata (ou com o mosquito transmissor da dengue), penso que pessoas como aquelas citadas no início deste texto deveriam ser eliminadas, mortas, extirpadas, visando o bem da sociedade

Aqueles que são contrários à pena de morte argumentam que a criminalidade não diminui nos lugares onde ela é aceita e aprovada. Pode ser. Eu até acredito nisso. Mas, repito, não vejo isso como medida punitiva ou repressora, vejo como medida profilática, quase de saúde pública.

É óbvio que cada caso precisaria ser exaustivamente discutido, estudado, analisado, antes de se chegar a uma decisão. Mas, depois de tomada, deveria ser executada sem direito a recurso. Mas, sem raiva, sem vingança, sem sadismo. E, se possível, sem sofrimento. Mais ou menos o que acontece com as baratas que tentam entrar em nossa casa.

Por isso, vi com um misto de tristeza e, paradoxalmente, aprovação a morte do traficante brasileiro na Indonésia. As autoridades indonésias apenas identificaram sua incompatibilidade com a legislação e sociedade locais. A partir disso, foi como se dissessem: “Traz a chinela aí!




2 comentários:

  1. Eu tô falando que você está a se tornar um exímio marretador...
    Dessa vez, você pegou pesado e certeiro : medida profilática!
    E o pior : os que se condoeram pelo brasileiro executado não demonstram a menor emoção pelos mais de 50 mil brasileiros assassinados todos os anos pelo crime, pelas crianças e inocentes pegos por balas perdidas.
    Medida profilática... gostei!

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    1. Eu sempre fui a favor da pena de morte, mas sempre vi com estranheza aquele lance de vingança que, por exemplo, os familiares de vítimas de assassinos expressam. Tem gente que faz questão de ver o sujeito esturricar (maneira de dizer) na cadeira elétrica! Acho doentio, pois o que os familiares querem mesmo é uma vingança pessoal, particular. Estão puco se lixando para o resto.
      Para mim, um sujeito que faz, por exemplo, um "microondas" em um rival, tem uma crueldade tal que o faz merecedor pleno da "chinelada". Para mim, é irrecuperável e, principalmente, incompatível com a sociedade, com qualquer sociedade. Mas o caso, repito, não é de punição. É problema de saúde pública. A sociedade não melhorará nem mudará com a morte de gente assim, só não piorará mais.

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