sábado, 21 de fevereiro de 2015

VADE RETRO!

Alguns anos atrás, assistindo as “colegas de trabalho” do Silvio Santos tentar adivinhar músicas a partir de uma palavra contida na letra, creio ter entendido  porque as músicas bregas fazem tanto sucesso. As moças da plateia, embora sabendo a letra de cor, quase nunca conseguiam reproduzir a linha melódica das músicas que lembravam, mesmo que a melodia fosse extremamente simples. E as letras desses sucessos são o segundo motivo, talvez o mais determinante. Todas ou quase todas falavam de amores não correspondidos, corneamento, abandono, solidão e todo tipo de sofrimento possível em relacionamentos amorosos ou em sua ausência.

Matutando sobre isso, cheguei à conclusão que o sucesso de músicas de gosto extremamente duvidoso e popularesco deve-se ao fato de a maioria da população ser um espelho do que dizem os temas: é mal amada, solitária, abandonada ou traída. Se a história cantada encontra sintonia com o dia a dia, com a vida dessas pessoas, é até desejável que a melodia seja simples. Essa visão é correta? Não sei. É apenas minha opinião.

Comecei a falar desse assunto por conta de um fato curioso que me divertiu bastante. Em um post recente contei como conheci meu Amor no carnaval de 1969. Nele eu explicito o que sempre senti e sinto por minha Amada. Embora seja um texto meio assim assim, Ela leu, gostou muito e o compartilhou no Facebook. E aí é que vem a curiosidade: pelos padrões “feicibucanos”, ela tem mais de duzentos “amigos”. Quantos desses “curtiram” a história do sapo e da princesa? Dois ou três, se não me engano. E olha que nessa lista de “amigos” estão irmã(o)s, primo(a)s, amigo(a)s de infância, ex-alun(a)os, vizinhos, filhos, noras, conhecidos, o escambau.

É claro que nem todos viram essa compartilhada, até porque o Facebook parece uma cachoeira de posts, links, curtidas e sei lá mais o que, que não pára nunca. Creio que é quase impossível ler tudo que os amigos postam. Mas deixo claro que também não estou me queixando por não ter sido lido. Para o bem da verdade, acredito até que vários desses "amigos" leram a história. Apenas ficaram mudos, apenas fingiram-se de mortos, ninguém deu feed back.

O Otto Lara Resende disse uma vez que “o mineiro só é solidário no câncer”. Creio que ele quase acertou na mosca. Se, em lugar de “mineiro” tivesse dito “ser humano”, aí o tiro acertaria o centro do alvo. Porque o que me divertiu (sinceramente) nessa história toda foi perceber que falar de amor correspondido, de felicidade, é quase ofensa. Não importa a classe social a que pertencem – a maioria das pessoas parece ser realmente mal amada.

Se meu Amor tivesse escrito que foi assaltada, que quebrou a unha do dedinho, que viu um passarinho lindinho morto na rua ou qualquer coisa do gênero “tragédia” ou “peninha”, acredito que haveria uma avalanche de comentários e curtidas. Mas compartilhar a prova de que é (muito) amada, ah, isso não! Isso é extremamente ofensivo, constrangedor. Vade retro, credo em cruz!

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