Alguns anos atrás,
assistindo as “colegas de trabalho” do Silvio Santos tentar adivinhar músicas a
partir de uma palavra contida na letra, creio ter entendido porque as músicas bregas fazem tanto sucesso. As
moças da plateia, embora sabendo a letra de cor, quase nunca conseguiam
reproduzir a linha melódica das músicas que lembravam, mesmo que a melodia
fosse extremamente simples. E as letras desses sucessos são o segundo motivo, talvez
o mais determinante. Todas ou quase todas falavam de amores não correspondidos,
corneamento, abandono, solidão e todo tipo de sofrimento possível em
relacionamentos amorosos ou em sua ausência.
Matutando sobre isso,
cheguei à conclusão que o sucesso de músicas de gosto extremamente duvidoso e
popularesco deve-se ao fato de a maioria da população ser um espelho do que
dizem os temas: é mal amada, solitária, abandonada ou traída. Se a história cantada
encontra sintonia com o dia a dia, com a vida dessas pessoas, é até desejável
que a melodia seja simples. Essa visão é correta? Não sei. É apenas minha opinião.
Comecei a falar desse
assunto por conta de um fato curioso que me divertiu bastante. Em um post
recente contei como conheci meu Amor no carnaval de 1969. Nele eu
explicito o que sempre senti e sinto por minha Amada. Embora seja um texto meio assim assim, Ela leu, gostou muito e o compartilhou no Facebook. E aí é que vem a curiosidade: pelos
padrões “feicibucanos”, ela tem mais de duzentos “amigos”. Quantos desses “curtiram”
a história do sapo e da princesa? Dois ou três, se não me engano. E olha
que nessa lista de “amigos” estão irmã(o)s, primo(a)s, amigo(a)s de infância,
ex-alun(a)os, vizinhos, filhos, noras, conhecidos, o escambau.
É claro que nem todos viram
essa compartilhada, até porque o Facebook parece uma cachoeira de posts, links,
curtidas e sei lá mais o que, que não pára nunca. Creio que é quase impossível
ler tudo que os amigos postam. Mas deixo claro que também não estou me
queixando por não ter sido lido. Para o bem da verdade, acredito até que vários desses "amigos" leram a história. Apenas ficaram mudos, apenas fingiram-se de mortos, ninguém deu feed back.
O Otto Lara Resende disse
uma vez que “o mineiro só é solidário no câncer”. Creio que ele quase acertou na
mosca. Se, em lugar de “mineiro” tivesse dito “ser humano”, aí o tiro acertaria
o centro do alvo. Porque o que me divertiu (sinceramente) nessa história toda
foi perceber que falar de amor correspondido, de felicidade, é quase ofensa. Não importa a classe social a que pertencem – a maioria
das pessoas parece ser realmente mal amada.
Se meu Amor tivesse escrito
que foi assaltada, que quebrou a unha do dedinho, que viu um passarinho lindinho
morto na rua ou qualquer coisa do gênero “tragédia” ou “peninha”, acredito que
haveria uma avalanche de comentários e curtidas. Mas compartilhar a prova de que
é (muito) amada, ah, isso não! Isso é extremamente ofensivo, constrangedor. Vade
retro, credo em cruz!
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