domingo, 27 de março de 2016

JOTABÊ & SONS

Quando tinha uns sete ou oito anos, meu cunhado mais novo sumiu por uma hora, pouco mais, pouco menos. Minha sogra, mãe de nove filhos, provavelmente se tocou do sumiço do caçula só pouco antes de ele reaparecer. Tardiamente preocupada (assim imagino), perguntou onde ele tinha ido ou estado. Com a tranquilidade despreocupada das crianças, respondeu que estava em cima do telhado ou coisa parecida. Perguntado sobre o motivo, esclareceu:

- Eu estava conversando comigo mesmo.

Lembrei-me disso depois de concluir mais um post da seção "Diálogos de Spamtar", ao constatar (mais uma vez) que texto do Blogson é sempre uma conversa comigo mesmo. Nada de errado nisso, pois cada vez mais tenho a certeza de ser egocêntrico e voltado basicamente para mim mesmo. Mesmo assim, imagino que ao tornar públicas as minhas inquietações, idiotices, crenças, rabugices e preconceitos estou falando de sentimentos que a maioria das pessoas normalmente tem mas busca ocultar ou não deixar à mostra

Ou seja, estaria sendo "universal", no sentido de ser igual a todo mundo; ou ainda, estaria de alguma forma criando algum tipo de sintonia com os escassos leitores desta bagaça. Essa associação de ideias surgiu depois de perceber que os personagens ocultos que sempre aparecem nos diálogos que crio são espelhados em mim e em meus filhos.

Ao contrário do pai, meus filhos são ponderados, centrados e equilibrados (acho que puxaram minha mulher). Mesmo sendo super bem-humorados e muito engraçados, são um pouco severos e até impacientes quando começo a falar muita asneira ou a exercer minha faceta politicamente incorreta da forma mais radical possível. Um deles gosta de dizer que "menino criado em casa de vó é problema". Outro já diz, batendo a mão no meu ombro: - "Menos, menos"!

Foi isso que percebi depois de me lembrar que em quase todos os diálogos que crio um dos participantes é mais sério, ponderado e impaciente com a falta de bom senso ou alheamento do amigo, que é sempre idiotizado ou descompensado. Assim, os diálogos seriam uma versão caricata dos ótimos papos que sempre tenho com nossos filhos. Nem preciso dizer quem é o sem noção nesta história, não é?

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MARCADORES DE UMA ÉPOCA - 4