sexta-feira, 4 de março de 2016

MAIS DIVERTIDO QUE HAPPY HOUR

Depois de republicar os casos do meu amigo Pintão e pelo sucesso que fazem os textos relacionados às minhas lembranças (o ibope chega a 3,8 leitores!), resolvi registrar em três posts algumas das besteiras ditas por antigos colegas, com a certeza de que se não o fizesse, ninguém mais se lembraria dessas bobagens. O primeiro dessa série ("Hardcore") foi um blogsoniano sucesso de visualizações e comentários (em Lilliput, "blogsoniano" é um adjetivo para designar grandes quantidades). Os dois posts restantes, mesmo que sejam mais bobinhos, mais "família", tem também sua dose de humor (blogsoniano, claro). Vê aí.


Os doze melhores e mais divertidos anos de minha vida profissional foram passados em uma construtora que chegou a figurar entre as quinze maiores do país. Para melhor dimensioná-la devo dizer que ela não era da turma das grandonas, era mais uma "média-grande". Talvez por isso, por ser mais ou menos como o marisco que fica entre a rocha e as ondas que nela arrebentam, acabou do mesmo jeito que outras "médias-grandes": foi pro saco - ou quase isso.

Durante esse tempo, tive contato diário com profissionais de altíssima competência, praticamente todos mais velhos que eu e que apesar da idade e da respeitabilidade, naquele ambiente masculino, falavam as maiores e mais divertidas barbaridades.


EAMOS AD MONTEM
Um desses colegas gostava de dizer uma frase em latim, talvez uma citação mais latrina que latina de verdade (trocadilho muito ruim!). Com toda pompa, recitava: 

- "Eamos ad montem fodere putas cum porribus nostrae". E traduzia: -"Vamos aos montes plantar batatas com nossas enxadas".

Um dia, não faz muito tempo, resolvi jogar isso no Google Tradutor para ver a tradução "correta". Não deu certo. Aí joguei no Google simplesmente e achei no site "Consultor Jurídico" a tal frase, ligeiramente modificada, associada a uma curiosidade que repasso "de grátis" para os leitores. Abre aspas:  

"Adeamus ad montem fodere putas cum porribus nostrus" -- foi a frase empregada como fecho de uma petição judicial, na comarca de Soledade (RS).
Na ação se discutia a indenização pela destruição de uma plantação de batatas, invadida pelo rebanho de gado da propriedade vizinha. Por cautela, o juiz da causa solicitou que o advogado explicitasse e traduzisse o suposto ditado latino.
O profissional da Advocacia manifestou ao juiz que não se preocupasse e explicou: "essa frase de aparente linguajar incompatível com o vocabulário forense significa 'vamos à montanha plantar batatas com as nossas enxadas'".

Fecha aspas. Mesmo que eu não entenda porribus nenhum de latim, está na cara que a frase é um exemplo de uso inadequado do latim vulgar por um profissional do Direito. De acordo com minhas lembranças de cursinho pré-vestibular (1969, meu!), esse latim atropelado seria uma das origens das línguas neolatinas. A expressão “sermo forensis” vem junto com essas lembranças, mas não sei se essa expressão existiu ou se é só memória recriada.

Independente disso há um chute muito grande na frase, que é a referência à batata. Essa puta era desconhecida dos antigos romanos, pois foi levada à Europa pelos mesmos espanhóis que barbarizaram os povos andinos (Jotabê esguicha cultura por todos os poros, mas toma banho todos os dias e usa desodorante).


Esse colega às vezes só de sacanagem, dizia também que "O saco do chefe é o corrimão da vida". Apesar de cínica, sempre achei meio estranha essa comparação de "objetos" com formas tão diferentes (talvez a frase ficasse mais lógica se fosse dito que "o pau do chefe é o corrimão da vida". Sabe como é, mesmo que feitos de materiais distintos, canos e tubos sempre tem uma aparência semelhante...).

Ah!, e ele acabou chefe mesmo. Mas era (e é)  competente pra caralho (sem duplo sentido, por favor!).


O HÉLICE
- "Você conhece o Hélice"? Assim começou um diálogo com o sujeito mais excêntrico com quem já trabalhei. Excêntrico e gente finíssima. Esse sujeito costumava dizer que a empresa onde trabalhávamos crescia à noite, quando não tinha ninguém para atrapalhar. Como "ninguém", entenda-se: diretores e gerentes. Um dia, a propósito de mais uma maluquice com que ele não concordava, comentou que o "Hélice" devia estar girando muito. Já imaginando alguma sacanagem, perguntei de quem estava falando.

- Você não sabe quem é o Hélice? É o "Sô Arcindo"! Toda vez que alguém faz uma burrada na empresa ele dá um giro dentro da sepultura. Ultimamente, deve estar sendo usado como ventilador pelos "morto". 
Caguei de rir, pois o "Sô Arcindo" - como falou fazendo sotaque caipira - era o fundador da empresa, falecido uns trinta anos antes.


Outra lembrança desse sujeito era sua capacidade de fazer humor só alterando palavras ou criando verbos com nomes próprios (essa história eu já contei aqui). Ele era o responsável oficial por fazer as reivindicações (claims) para alterar ou aditar os contratos. Mesmo sem usar linguagem rebuscada ou malabarismos lógicos, era extremamente eficiente  na simplicidade com que apresentava o choro da empresa. Sempre havia aquele papo de restabelecer o equilíbrio econômico-financeiro, etc. 

Algumas vezes, valia-se de um artigo escrito por Hely Lopes Meirelles, um jurista fodão, tão competente que, segundo meu amigo Pintão, seria até meio desacreditado, pois argumentava com a mesma eficiência tanto a favor como contra qualquer coisa, dependendo da fonte pagadora.


Pois bem, nesse artigo havia referência a uma firula jurídica conhecida como "rebus sic standibus", que não vem ao caso detalhar aqui (na wikipédia tem). A graça desse caso é que ele, ao tratar com o diretor da empresa, dizia de forma gaiata coisas como - "Você quer que use o 'sic rebustandi'"? Não tinha como não rir dessa besteira (e o diretor ria).


3 comentários:

  1. Muito bom, JB. Essa turma da diretoria devia ser mesmo hilária e o jurídico, bom é pouco canalha rsrs, por aqui os colegas se reúnem num barzinho chamado "escritório", daí você tira: "Relaxa querida, que eu tô aqui no escritório".
    "J"

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  2. Rapaz, coloquei a tal frase no tradutor do google e o resultado é algo como "vamos para a montanha cavar". O tal do fodere putas, que me sugere obviamente outra atividade, outro tipo de escavação, deve ser um daqueles falsos cognatos.
    Imagino o cara saindo para a lavoura, carpir e arar a terra e dizendo pra esposa : estou ir a fodere putas.

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    Respostas
    1. Se falasse isso, ia tomar uma voadora na altura do pescoço! O tal do latim é cheio de artimanhas. Lembro-me de ter tentado inclusive grafar como "foedere", mas não deu certo. É claro que a frase é engraçada, mas a sacada da batata indica sua incorreção. A menos que "puta" pudesse ser entendida como "tubérculo" ou algum tipo de vegetal que os antigos romanos conhecessem (nabo, trufa, etc.). Apesar de "nabo" já ter sido associado à Babilônia, né? ("Não confunda Nabucodonosor com nabo no cu do senhor").

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