sexta-feira, 4 de março de 2016

JORGE VEIGA




Este post encerra a trilogia iniciada com o texto "Hardcore"



JORGE VEIGA
Em alguma reunião mais informal ou roda de conversa, um colega comentou comigo: -"Olha lá! O 'Mauro' (nome fictício) está prestando mais atenção que cachorro na canoa". Comecei a rir e perguntei que maluquice era essa. Rindo também, ele explicou:

- "Você nunca reparou quando tem um cachorro em uma canoa? Ele fica só olhando para a água, na maior atenção”

Esse sujeito fazia comentários muito inesperados e frases meio amalucadas, como essa:

- "Se até o Jean Jacques Rousseau, porque eu também não posso ruçar"?  Ou esta outra:

- "Aquele cara é mais velhaco que pulga de hotel"! 


Perguntei o que ele queria dizer com aquela idiotice, e ele respondeu:

- "Você nunca dormiu nesses hoteizinhos de beira de estrada? Não? Eles têm umas pulgas que te mordem a noite toda, mas você nunca consegue pegar, de tão treinadas que elas são".

Um dia ele surgiu com uma nova maluquice. Assim do nada, soltou -"'O trabalho dignifica, enobrece e mata o homem'. Jorge Veiga". 

Dito dessa forma parecia que ele estava lendo uma "Caras" qualquer (que tem uma página só de citações). E essa era a piada. 

Achei graça e perguntei o que o Jorge Veiga tinha com a história. Rindo, disse-me que era o "autor" da frase (não era, lógico. Para quem não sabe, Jorge Veiga foi um cantor famoso da década de 1950, cujas características principais eram uma voz muito anasalada e músicas bem humoradas). 

Para realçar a estrutura da piada, lembrou a frase manjada "To be or not to be", seguida do nome do autor. A partir daí, qualquer besteira que dizia era logo seguida do "autor" - Jorge Veiga, sempre. Hoje, talvez usasse a frase "Não existe nenhum brasileiro vivo mais honesto do que eu", completando com o nome do autor - "Jorge Veiga", claro.

Embora esse colega aparentasse não ter muita cultura e tivesse um jeitão simplório de matuto ou peão, ganhou mais dinheiro que todos nós, ao abrir para a esposa uma confecção de roupa masculina. Mais esperto que pulga de hotel!


HAJA CU
Um dia o Pintão nos contou que teve um colega cujo sobrenome era Jakoud. Segundo esse sujeito, seu pai teria protagonizado um caso idiota, que já não me lembro se foi fruto de um ato voluntário ou não. O pai do cara chamava-se Alberto Jakoud. Até aí, nada de mais. O problema surgiu quando resolveu mandar um telegrama ao Getúlio Vargas logo após a instauração do “Estado Novo”. O texto tinha a seguinte frase:
ESTOU COM A DITADURA
A JAKOUD
Devido ao duplo sentido da frase, o autor teria ficado preso durante três meses.


Outro comentário do Pintão, referindo-se a alguém famoso que tinha fama de pegador:

- "Dizem que esse cara faz muito sucesso com as mulheres. Parece que ele tem tesão de galo, pau de jumento e foda de porco". 

Alguém perguntou o que significava essa "foda de porco" e ele explicou:

- "Você nunca viu porco trepando? É o fim da picada! Demora pra danar. Ele sobe em cima da porca e fica lá, fuçando. Sei lá, acho que fica cansado e dá até uma cochilada, mas sem sair de cima. Aí acorda e continua. Coisa de louco!


Mais uma dele: Quando nasceu a primeira filha do segundo casamento, o Pintão estava trabalhando no norte do país. Por isso, quem providenciou o registro da criança foi o sogro. Quando pôde vir a Belo Horizonte, perguntou ao sogro qual era o nome da criança. O sogro disse que era "Fulana de tal Melo Pinto...". Decepcionado com o mau gosto daquela melada no pinto, reclamou com o sogro:

- "Com efeito, Sr. (nome do sogro), 'Fulana de Tal Melo Pinto'"? O sogro, provavelmente sem graça, perguntou com toda a ingenuidade:

- "Você não gostou de 'Fulana de tal'? O mal já estava feito.  



CARAMBOLA
Um dia, em pleno domingo à noite, fui convocado pelo meu chefe a ir até a sede da empresa, pois aconteceria uma reunião dos diretores a respeito de uma proposta que seria ou não apresentada no dia seguinte. Lá fui eu, puto da vida.

Ao chegar, já encontrei o presidente, dois diretores e dois colegas que haviam acabado de chegar. E todo mundo parado em frente à porta trancada do prédio. O detalhe é que o vigia não estava lá. Bateram na porta, apertaram a campainha, chamaram, e nada. Todo mundo meio puto com a situação, quando alguém sugeriu que um carro fosse encostado no portão de grade que dava acesso à garagem. Isso permitiria que alguém subisse no capô do carro, pulasse a grade, entrasse, fosse até a recepção e abrisse o portão da garagem. Simples assim.

Depois da Caravan encostada, um dos diretores, sujeito de uns cinquenta, sessenta anos, subiu no capô para fazer a escalada da grade. Foi aí que o personagem do post “Hardcore” comentou com um sorriso cínico:

- “Você aí em cima está me lembrando aquela piada do touro Carambola...”

A reação do diretor foi imediata:

- “Heim? É, você tem razão. Ô Botelho, é melhor você fazer isso, pois é o mais novo aqui”.

E lá foi o Marmitão encarar a pedreira. Subir na grade foi relativamente fácil, pois tinha umas pontas no alto que dava para segurar (se vacilasse, dava também para enganchar o saco); duro foi pular de uma altura de quase três metros (mas eu era jovem e magro). Desci a rampa da garagem no mais absoluto breu, encostado na parede, cheguei até a recepção (iluminada) e abri o portão. Bem a tempo de ver a cara de cachorro que peidou na igreja do vigia, que tinha saído para comprar algum rango.

Quer saber o resto? A proposta não foi entregue, pois a obra já tinha dono (uma das empresas da Lava Jato...). E o vigia foi demitido.


CASINHA
Para finalizar, um caso bem no estilo hardcore, contado às gargalhadas por um diretor. Segundo ele, o vice-presidente da empresa, um senhor seríssimo, velhinho, verdadeiro gentleman, sempre de terno, sempre afável, resolveu visitar alguma obra de terraplenagem. Lá pelas tantas, a bexiga deu sinais que precisava de atenção.

Indicaram para ele um sanitário feito de tábuas, verdadeiro muquifo, bem no meio do nada. As paredes internas da "casinha" eram cobertas com fotos de mulheres nuas e a porta não fechava direito. Estava ele lá se aliviando, quando um engenheiro totalmente aloprado enfiou a cabeça pela porta entreaberta e cinicamente exclamou :

- Aí, Dr. Fulano! Batendo uma punhetinha?

2 comentários:

  1. Melo Pinto? e você reclamando do seu Botelho...
    E a piada do boi carambola é um clássico, valeu pela lembrança.

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