sexta-feira, 18 de março de 2016

ESPERANDO SENTADO

Como sabem os 2,3 malucos (ou ma.lu.cos) que o acessam de vez em quando, este é um blog de inutilidade pública. Pensando bem, dizer "pública" é querer ofender a inteligência dos leitores, pois não há nada mais "criptografado", mais invisível que o Blogson. Ampliando um pouco mais a definição, diria que sua "inutilidade" é total e absoluta.

Pois bem, tenho pensado que este blog é muito fragmentado e inconstante, feito de "pedaços" mal costurados, uma coisa assim meio Frankenstein. Os estados de espírito alternam-se demais, criando talvez uma estranheza em quem o acesse. Mas, antes de continuar nessa linha, preciso voltar um pouco no tempo.

Já comentei neste blog que meu pai gostava de escrever, o que fazia “catando milho” com os dedos indicadores em uma máquina de escrever Remington comprada em um leilão. Aparentemente, ele tinha a mesma necessidade que eu. Ou, para adotar a ordem correta, acredito que tenho a mesma necessidade que ele tinha, a necessidade de aprovação, de demonstrar uma cultura que talvez nem fosse tão extensa assim (no meu caso, pelo menos). Não importa.

O fato é que depois de escrever seus textos, primeiro os submetia à minha apreciação. Acredito que meu irmão também era exposto a essa tortura. Parece maldade e sacanagem falar dessa forma sobre meu pai e sua produção literária, mas é assim mesmo que eu me sentia. E o motivo é simples.

Ele trabalhava como químico em uma fábrica de cimento situada em cidade próxima a Beagá. Tinha boa fluência e os textos que escrevia eram descrições detalhadas sobre a fabricação de cimento e sobre seus componentes. Algum problema nisso? Nenhum, não fosse o fato de inserir nesse material puramente técnico, comentários irônicos sobre personagens e acontecimentos históricos de alguma forma relacionados a uma das matérias primas usadas, o calcário. E tome comentários sobre fósseis, Dr. Lund, Gruta da Lapinha, Cleópatra e sei lá mais o que.

Eu achava um saco a parte técnica e me divertia com as ironias, mas é indiscutível que se essa mistura era terrivelmente indigesta para mim, provavelmente também o era para as pessoas que desejava impressionar - os diretores da fábrica onde trabalhava. Chego mesmo a pensar que isso pode ter servido para queimar seu filme com a direção da empresa.

Eu herdei esse mesmo vício, pois até nos textos mais sérios que escrevo não deixo de inserir piadinhas(?). Além disso, o velho Blogson é uma autêntica colcha de retalhos, pois mistura "remendos" de estilos variados, de acordo com meu esgarçamento emocional do momento. A meu favor existe o fato de que estou aposentado e, mesmo desejando ardentemente, não preciso causar boa impressão a ninguém nem dependo do blog para sobreviver financeiramente.

Mesmo assim, depois de quase dois anos de existência e mais de seiscentos textos e desenhos produzidos (sessenta ainda inéditos), cada vez mais me convenço de que essa não é a melhor forma de buscar leitores para meu “lixo acidental”, pois quem curte humor navega na web em busca de sites e blogs que surfam nesse mar. E quem gosta de, por exemplo, literatura, provavelmente achará um porre um blog cheio de piadinhas e desenhos amadorísticos.

Acredito que o foco bem definido em determinado tipo de assunto poderia explicar o sucesso de alguns sites e blogs que acompanho (além da qualidade que têm, claro). Exemplificando: o Kibe Loco é dedicado exclusivamente ao humor; No Um Sábado Qualquer, a praia são as tirinhas (excelentes) de humor; no Mixidão o negócio são as receitas culinárias magnificamente desenhadas e explicadas. E vai por aí afora.

Quando os blogs têm enfoque ou visão generalista (e o Blogson é um desses), a coisa se complica ou se embaralha. E se os donos ainda não são ociólogos (aposentados) como eu, correm (essa é minha opinião) o risco de detonar a própria imagem profissional, ao alternar posts sérios e bem transados com textos e imagens que ficariam melhor aninhados em conversas com amigos, na mesa de um bar. 

Já li que algumas empresas acessam o Facebook para avaliar o perfil de um candidato a emprego, só para sacar qual é a dele fora do ambiente profissional. Se isso for verdade, mais complicado ainda será se o sujeito for dono de blog. Basta ver o meu caso: tenho quase certeza de já ter causado constrangimentos e vergonha em algum parente mais próximo, por conta de algum post particularmente tosco e vulgar publicado no Blogson. Imagine-se então o efeito daninho que essas barbaridades provocariam no meu currículo, se eu ainda estivesse na batalha.  

Certamente existem autores que conseguiram resolver esse conflito entre seriedade e esculhambação; um deles é o jornalista carioca Sérgio Porto (de quem nunca li nada) e seu alter ego Stanislaw Ponte Preta (de quem li alguns livros). Com a persona de Stanislaw, é considerado o patrono e inspirador do jornal O Pasquim. Nesse caso, curiosamente, a criatura acabou ficando mais conhecida que seu criador.

Matutando sobre essa tralha toda, tenho pensado em segmentar minha criação literária(?). Para isso, imaginei criar mais um blog, para o qual transferiria os desenhos, diálogos idiotas e posts sem noção. Deixaria no velho Blogson só os textos mais sérios e reflexivos. Até cheguei a criar esse novo endereço, ao qual dei o “criativo” título de “Espaço Jotabê”. Entretanto, depois de descobrir que existem vários jotabês na web, excluí o blog ainda virgem de posts.

Por conta desta nova maluquice, gostaria muito que os 1,3 leitores (o outro está de férias), especialmente aqueles que são donos de blog, opinassem sobre essa ideia.

E então, quem vai encarar esta provação, ou melhor, esta provocação?

Quem se animar a responder e quiser comentar alguma coisa, criticar e até ofender, fique à vontade. Aliás, eu vou gostar demais. Mas se quiser que o comentário não seja publicado, é só falar. Dependendo das respostas e comentários o Blogson ficará como está ou passará por um processo de "meiose"(?).

Cartas urgentes para a redação! (mas acho melhor esperar sentado)

3 comentários:

  1. É o dito " se todo mundo soubesse o que o outro faz na intimidade ninguém falava com ninguém "
    "J"

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    Respostas
    1. Isso é contra ou favor? (não me refiro às manifestações).

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  2. Isso é aquele amigo pra quem você liga três da manhã e diz "vamo assaltar um banco?" e ele diz "levo casaco ou vou de bermuda?"
    "J"

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