quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

AQUELA LÚCIA HELENA

 
Meu filho mais velho nasceu às 11h30 de um dia 25 de dezembro, criando um novo significado do Natal para mim.
 
Meu sogro faleceu em 02 de dezembro de 1980, deixando o Natal daquele ano muito chocho, triste.
 
Minha para sempre amada Eliany me abandonou em um tristíssimo 8 de dezembro. Que posso esperar deste Natal?
 
Por isso, por mim, ficaria enfurnado dentro de casa, tomando leite com toddy e biscoito maisena, e vendo os especiais de fim de ano que nunca pude ver. Talvez isso escandalize meus filhos e filhas. Por isso, escrevi esta mensagem para eles:
 
Pessoal, por brincar muito, talvez eu tenha mais dificuldade de me expressar com seriedade. Natal e Ano Novo, talvez por algum complexo adquirido ainda na infância, sempre foram datas que nunca me sensibilizaram muito. Para ser sincero, sempre achei uma chatice ter de ficar acordado para a mudança de segundo, transformador de ano velho em ano novo. De Natal nem preciso falar muito, basta lembrar o contraste dos presentes legaláticos que meus primos ricos ganhavam com a indigência dos que recebíamos.
 
Isso mudou depois que vocês nasceram, pois conseguíamos comprar presentes tão legais quantos meus primos ganharam. Para ser sincero, fiquei também com um complexozinho de culpa ao comparar o que vocês ganhavam com o que o Lipe ganhava. E olha que a Erê ralou para não deixar o filho infeliz ou complexado.
 
Agora, tudo mudou outra vez. A perda da para sempre saudosa Eliany fez com que eu voltasse a não me ligar muito nessas festividades tão cheias de clichês. Hoje, agora, eu me permito decidir se quero ou não ir aqui ou acolá. Por exemplo, nem a gancho, nem sob tortura, nem privado de leite com toddy eu pretendo estar na passagem de ano na casa da Dona Lourdes.
 
Ao mesmo tempo, pretendo não atrapalhar a comemoração de vocês, pois vocês são jovens e têm amigos, enquanto eu sou velho e não tenho ninguém da minha faixa etária com quem comemorar a mudança de calendário. O que isso significa? Que estou pensando em ficar em casa e talvez até ligar a televisão. Isso será ruim? Claro que não, pois um litro de leite gelado com toddy e biscoitos cura qualquer depressão. E eu não estou deprimido. Triste sim, deprimido não.
 
Hoje, para que todos saibam, estou totalmente desapegado de tudo a que dava valor, pois o maior valor eu perdi. Por isso, 90% do que tem nesta casa pode ser doado ou jogado fora. E eu não ligo a mínima. Talvez isso cause perplexidade, irritação ou desconforto em quem quer me ajudar. O prazo para limpeza e descarte de objetos inúteis ou vencidos é qualquer um. Apenas acho e desejo que o “ataque” seja feito cômodo por cômodo, serenamente, de forma definitiva. Isso para mim é um pouco difícil, por ter mania de fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo, o que deixava a Eliany puta da vida. Mas era assim que eu agia no tempo da Convap. Naquela época até dava certo, pois o cérebro ainda estava zero bala.
 
Que mais eu queria falar? Talvez dizer que estou me sentindo muito paparicado, o que me faz lembrar da propaganda do Unibanco, com a Débora Bloch como mãe do Luis Fernando Guimarães, dizendo:
 
–“Aquela Lúcia Helena do Unibanco mima você demais!”.
 
E é isso que estou sentindo. E é muito bom! Por isso, fiquem tranquilos, eu estou bem, tanto quanto é possível estar. Beijão.
 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

AQUELA LÚCIA HELENA

  Meu filho mais velho nasceu às 11h30 de um dia 25 de dezembro, criando um novo significado do Natal para mim.   Meu sogro faleceu em 02 de...