sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

A MAIS IMPORTANTE

 
Sua ausência é tão imensa, tão dolorosa, que parece ter impregnado cada canto da casa, cada centímetro quadrado, cada traça agarrada no teto ou nas portas (e que você sempre me pedia para tirar), cada casca de pão que deixo cair quando me sento à mesa ou em frente à tela do computador para tomar meu solitário café da manhã.
 
Uma ausência tão assustadora, tão densa, tão espessa que quase dá para pegar com as mãos, matéria escura não quantificada, capaz de ocupar mente, coração, estômago, tudo, enfim.
 
Agora, sem você, a televisão do nosso quarto só fica desligada. Como desligadas ficam todas as luzes da casa, pois quem dormia de luz acesa antes de nos casarmos era você – ao contrário de mim, que sempre gostei da escuridão total.
 
Nossa cama – onde você queria voltar a dormir - ainda não foi remontada. Nossos filhos dizem que mereço dormir em cama confortável, mas conforto mesmo existia quando ao acordar eu via você ao meu lado.
 
Hoje as cores vivas que você tanto amava estão foscas, opacas, esmaecidas, desbotadas, sem brilho, pois é assim que as vejo, assim estão os meus dias.
 
Não ouvirei mais você me chamar, nem seu riso alegre de olhos apertadinhos. Tampouco ouvirei os casos contados e comentários feitos em alta velocidade, os assuntos mudando sem aviso, o gosto pela “cervejinha” gelada tomada em festas com as amigas, ou quando cismava de lixar alguma coisa, realizar algum trabalho mais enfadonho ou cansativo. Nada disso acontecerá mais, nunca mais.
 
Fico triste ao ver o estoque de latões de cerveja na gaveta da geladeira, comprados antes da descoberta em março de 2023 dessa doença maldita que tirou você de mim. Filha da puta! Com tanta gente má, cruel, sem escrúpulos para abater, por que escolheu logo uma menina linda e ensolarada? Doença filha da puta!
 
Quando comemoramos bodas de prata eu escrevi que se os primeiros 25 anos de casamento tinham sido tão bons, eu queria mais. E realmente tivemos, pois vivemos mais vinte e cinco anos, comemorados quando já sabíamos de sua doença.
 
Agora, no final, quando eu descobri que teríamos muito pouco tempo para ficar juntos, eu confirmei uma crença antiga: você, meu Amor, foi e é a pessoa mais importante da minha vida, mais até que nossos filhos, muito mais que meus pais.
 
O que me conforta é ter declarado diariamente o amor que sentia e sinto por você. Ah. Lily, como dói não poder gritar, sussurrar ao seu ouvido ou, simplesmente, embevecido ao olhar para os olhos lindíssimos que você possuía, te dizer: Como eu te amo, meu Amor!

2 comentários:

  1. Bom dia:- relato Comovente de quem perdeu a pessoa (mulher) que amava e ama. O meu lamento pela perda. O meu aplauso pelo sentimento.
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    Continuação de boas festas
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