quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

A PRIMEIRA VEZ

 
Creio que ninguém discordará de mim se eu disser que a primeira vez de cada atividade é sempre cercada de insegurança e até de desconforto. O primeiro dia no novo emprego, o primeiro beijo – quando não se sabe bem o que fazer quando uma língua estrangeira invade sua boca, o primeiro intercurso sexual – que pessoas menos contidas chamam de a primeira trepada, o primeiro passeio de automóvel depois de habilitado (o que não o salva de um eventual amassado ou arranhão ao manobrar o carro na garagem estreita).
 
Algumas primeiras vezes podem provocar choros convulsivos ou explosões de raiva, que é quando o filhão ou a filhinha querida decide que está na hora de contar para os pais que o armário foi aberto. Conheço um caso em que o pai expulsou o filho de casa, para logo depois readmiti-lo.
 
Mas algumas primeiras vezes são apenas aborrecidas ou constrangedoras. Por exemplo, quando as tias e tios ficam sabendo que você está de namorada nova ou namorado novo. Aí o bicho pega, pois começa a inquisição: Como é ela? É bonita? Quantos anos? Mora onde? É baixaaltamagragordalouramorena?
 
Nosso filho mais novo está mais ou menos nesse processo. Quando ficaram sabendo da novidade nossas netas mais velhas (sete anos) mandaram mensagem para ele
- Tio Dani, você está namorando? Eu faço questão de conhecê-la!
 
A explicação para isso é simples: nosso filho começou a namorar uma menina quando tinha uns quatorze, quinze anos. Namoro longo que só terminou quando entrou na faculdade, pois logo começou a namorar uma colega. Outro namoro longo, só terminado quando a menina quis sair de casa para morar com ele. Ele recusou, argumentando não ter condições de manter uma casa, pois estava ganhando uma merreca.
 
Depois disso foi só “ficância”, azaração, balada. Fase que durou tempo suficiente para a Cacá, uma das netas mais velhas ter levado esse papo com as amigas, no vestiário, depois da aula de natação:
- Sabia que meu tio tinha uma namorada quando a gente morava na barriga da minha mãe?
- É?
- Aí ele desnamorou e agora está namorando de novo.
 
Agora, dureza mesmo é quando um tio tem a finesse de um rinoceronte e a sutileza de um hipopótamo. Conheci um sujeito que ao ser apresentado ao namorado de uma das muitas sobrinhas, fazia os comentários de praxe, afastava-se um pouco e, ao retornar, soltava um barulhento flato, ou melhor, peidava e acusava a sobrinha, roxa de constrangimento:
- Que coisa feia, Marília/Odete/Vera/Maga Patalógica, não tem vergonha não? Fazer isso na frente do rapaz? Assim ele acaba terminando o namoro!

E ele achava isso engraçado!

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