Para passar o tempo enquanto estava internado no hospital com minha amada, comecei a ditar o texto a seguir, para ser formatado quando
voltássemos para casa. É um ótimo recurso do whatsapp, melhor ainda quando não se tem hesitação ao falar. E
trabalhoso por não ter pontuação nenhuma. Só hoje é que eu me lembrei dele. E
resolvi formatar, pois não tenho mais nada para publicar. Tenho usado muito esse recurso para enviar mensagens escritas para um filho, mas já aviso antes: "estou ditando, sem pontuação".
Eu conheci a Eliane no carnaval de 1969. Já
contei esse caso aqui, mas vou recontar, reviver “a
saudade que eu gosto de ter. Só assim sinto tê-la bem perto de mim outra vez”.
Só para lembrar um pouquinho mais: no
primeiro ou segundo dia do baile de carnaval da Sociedade Mineira de
Engenheiros eu vi aquela deusa passando. Ela me confundiu com um rapaz que
conhecia só de vista, pois ele e eu tínhamos uma enorme pinta, um nevo cabeludo
no rosto. E foi isso que chamou sua atenção Ela olhou para a pinta, mas eu
acreditei que ela estava olhando para mim por interesse. Por absurda incompetência
e inocência, parti para cima dela.
Naquela época, o carnaval da classe média em
diante era brincado em clubes. Ao som das marchinhas, as pessoas ficavam
marchando (ninguém fazia malabarismos de passistas de escola de samba), rodando e ocupando o centro do salão, movimento que lembraria o de
uma galáxia, uma galáxia carnavalesca. Nas bordas ficavam os homens
desacompanhados, de olho naquela ciranda, esperando a hora de dar o bote em
alguma garota desacompanhada.
E ela passou linda, linda, linda, vestindo um
pareô colorido. Não me lembro de detalhes, só que ela e mais algumas amigas estavam
vestidas de forma igual. Mas ela se destacava pela beleza – e olhou para “mim”!
Eu avancei, pus a mão em seu ombro (fly me to the moon!), que não se fez de rogada
e nós ficamos rodando/ marchando pelo salão. Quando ela disse que iria parar eu
entendi que estava me chamando para parar junto com ela. Foi engraçado observar
o risinho e as expressões de deboche das amigas que estavam sentadas à mesa
quando eu cheguei atrás dela.
No dia seguinte a história se repetiu, mas eu
já estava me sentindo o rei da cocada. Só que não. Tentava pegar na mão, tentava um
beijinho, mas ela só na retranca, só me repelindo.
Por total incompetência e inexperiência comecei
a dizer que pularia da sacada (morte certa) se ela não ficasse de mãos dadas
comigo, coisas assim. E ela parece ter acreditado (imagino que eu sempre tive
cara de desequilibrado, louco).
No último dia de carnaval disse que iria à sua
casa - e realmente fui. Começamos a namorar, eu, um ogro com ela, uma princesa. Creio que
no final da Quaresma minha sogra nos viu de mãos dadas e fez com que ela
terminasse o namoro.
Eu fiquei desesperado, pois já
estava irremediavelmente apaixonado por aquela menina absurdamente linda. Ficamos
um ano sem namorar. Aliás, namorei depois uma menina que também me deu um
pé na bunda. Ela também namorou um cara, mas tudo bem. Em abril de 1970 nós nos
encontramos na ótima hora dançante do Barroca Tênis Clube; Naquele momento ela
já estava pensando em mim e eu nunca tinha deixado de pensar nela. Ali nós recomeçamos, reatamos o nosso namoro e nunca mais nos separamos.
Não sei se quero expandir essas lembranças,
mas só uma curiosidade boba: No início deste texto eu a chamei de Eliane, que é
como os parentes e amigos a chamam. Mas o nome real é Eliany. Colegas de
serviço e de escola sempre a chamaram assim. Eu, de sacanagem ou puro carinho
já a chamei de Dindi, Ly, Lily, Lilica, Liliquinha e Héliciane – por ser muito
agitada e elétrica. Essa é a menina que coloriu minha vida e me fez sonhar os
melhores sonhos.
Mas não sei se quero continuar a falar dela, contar
casos sobre ela, pois dói um pouco.
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