sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

ELA!

 
Para passar o tempo enquanto estava internado no hospital com minha amada, comecei a ditar o texto a seguir, para ser formatado quando voltássemos para casa. É um ótimo recurso do whatsapp, melhor ainda quando não se tem hesitação ao falar. E trabalhoso por não ter pontuação nenhuma. Só hoje é que eu me lembrei dele. E resolvi formatar, pois não tenho mais nada para publicar. Tenho usado muito esse recurso para enviar mensagens escritas para um filho, mas já aviso antes: "estou ditando, sem pontuação". 
 
Eu conheci a Eliane no carnaval de 1969. Já contei esse caso aqui, mas vou recontar, reviver “a saudade que eu gosto de ter. Só assim sinto tê-la bem perto de mim outra vez”.

 
Só para lembrar um pouquinho mais: no primeiro ou segundo dia do baile de carnaval da Sociedade Mineira de Engenheiros eu vi aquela deusa passando. Ela me confundiu com um rapaz que conhecia só de vista, pois ele e eu tínhamos uma enorme pinta, um nevo cabeludo no rosto. E foi isso que chamou sua atenção Ela olhou para a pinta, mas eu acreditei que ela estava olhando para mim por interesse. Por absurda incompetência e inocência, parti para cima dela.
 
Naquela época, o carnaval da classe média em diante era brincado em clubes. Ao som das marchinhas, as pessoas ficavam marchando (ninguém fazia malabarismos de passistas de escola de samba), rodando e ocupando o centro do salão, movimento que lembraria o de uma galáxia, uma galáxia carnavalesca. Nas bordas ficavam os homens desacompanhados, de olho naquela ciranda, esperando a hora de dar o bote em alguma garota desacompanhada.
 
E ela passou linda, linda, linda, vestindo um pareô colorido. Não me lembro de detalhes, só que ela e mais algumas amigas estavam vestidas de forma igual. Mas ela se destacava pela beleza – e olhou para “mim”!
 
Eu avancei, pus a mão em seu ombro (fly me to the moon!), que não se fez de rogada e nós ficamos rodando/ marchando pelo salão. Quando ela disse que iria parar eu entendi que estava me chamando para parar junto com ela. Foi engraçado observar o risinho e as expressões de deboche das amigas que estavam sentadas à mesa quando eu cheguei atrás dela.
 
No dia seguinte a história se repetiu, mas eu já estava me sentindo o rei da cocada. Só que não. Tentava pegar na mão, tentava um beijinho, mas ela só na retranca, só me repelindo.
 
Por total incompetência e inexperiência comecei a dizer que pularia da sacada (morte certa) se ela não ficasse de mãos dadas comigo, coisas assim. E ela parece ter acreditado (imagino que eu sempre tive cara de desequilibrado, louco).
 
No último dia de carnaval disse que iria à sua casa - e realmente fui. Começamos a namorar, eu, um ogro com ela, uma princesa. Creio que no final da Quaresma minha sogra nos viu de mãos dadas e fez com que ela terminasse o namoro.
 
Eu fiquei desesperado, pois já estava irremediavelmente apaixonado por aquela menina absurdamente linda. Ficamos um ano sem namorar. Aliás, namorei depois uma menina que também me deu um pé na bunda. Ela também namorou um cara, mas tudo bem. Em abril de 1970 nós nos encontramos na ótima hora dançante do Barroca Tênis Clube; Naquele momento ela já estava pensando em mim e eu nunca tinha deixado de pensar nela. Ali nós recomeçamos, reatamos o nosso namoro e nunca mais nos separamos.
 
Não sei se quero expandir essas lembranças, mas só uma curiosidade boba: No início deste texto eu a chamei de Eliane, que é como os parentes e amigos a chamam. Mas o nome real é Eliany. Colegas de serviço e de escola sempre a chamaram assim. Eu, de sacanagem ou puro carinho já a chamei de Dindi, Ly, Lily, Lilica, Liliquinha e Héliciane – por ser muito agitada e elétrica. Essa é a menina que coloriu minha vida e me fez sonhar os melhores sonhos.
 
Mas não sei se quero continuar a falar dela, contar casos sobre ela, pois dói um pouco.

2 comentários:

  1. Seu relato me fez lembrar de uma engavetada que tenho. Na verdade, ela já foi publiada uma vez, numa tiragem ínfima em que consegui vender quase tudo, em 2017. Mas ela foi publicada em preto e branco, formatinho, ficou horrível. Quero pintá-la e remodê-lar algumas letras nos balões, para dar harmonia ao texto e não deixá-lo poluído. Que bom que me lembrei disso. A história é um menino que vai para o carnaval de salão e conhece uma menina. É legal porque mostra um pouquinho dos bailes à moda antiga, as marchinhas tal.

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  2. Quer dizer que a pinta que a Angélica tem na coxa você tem no rosto? E uma pinta de respeito!
    Eu nunca fui a bailes na juventude, pois quem era de igreja não ia a bailes. Mas rolava muita paquera e namoros nas igrejas, principalmente nas programações de vigílias e shows gospel.

    Tua história é fofa. Dizem que os opostos se atraem. Não sei se isso funciona muito em matéria de amor, mas às vezes acontece.

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