terça-feira, 25 de junho de 2024

O CHARLATÃO DA IA

 
O assunto ChatGPT está dando quase tanto ibope quanto o show da Madona na praia de Copacabana! O leitor Eduardo Medeiros disse ter “atualmente uma relação de amor e ódio com a IA”. O Ricardo Marreta foi curto e grosso ao chamar de charlatão o ChatGPT. E ainda bateu boca com ele (bateu unilateralmente, pois até onde sei a IA não tem boca). E o Ryk@rdo, nosso Camões do século XXI, disse simplesmente nem saber o que é o ChatGPT, ao que o Marreta retrucou:
 
- Pois, Ricardo, um conselho: podes morrer sem saber.
 
O leitor Fabiano Caldeira também tem seus considerandos sobre esse assunto, mas não consegui localizar seus comentários.
 
De minha parte já disse e repito que o chato do GPT é um software caretão, moralista e, principalmente, canastrão, pois os textos e poesias que pedi para que fizesse ficaram horríveis e piegas, mesmo que o tempo de resposta gasto tenha sido inacreditavelmente curto. Mas gosto de usá-lo para correções gramaticais, avaliação de estilo ou como fonte de pesquisas mais difíceis de achar no Google.
 
Para acabar com esse assunto, resolvi fazer este post para apresentar ao Ryk@rdo seu concorrente na arte de fazer sonetos. Ao lê-lo, meu amigo lusitano poderá dormir em paz. E a todos os que malham essa IA, diria que é melhor ter uma inteligência artificial na mão que uma burrice natural dentro da cachola.
 
E o equivalente “poético” deste texto que acabaram de ler é este soneto, assim encomendado:
 
“Por favor (eu sou gentil até com um software), poderia transformar este texto em um soneto?” E o resultado obtido foi este (em trinta segundos):
 
O ChatGPT, tal qual show na praia visto,
Ganha ibope como Madona encanta,
Eduardo com amor e ódio misto,
Já Marreta o chama de charlatão e espanta.
 
Discutem com a IA, boca não tem,
Ryk@rdo, Camões moderno, o desconhece,
Marreta avisa: "Morrerás sem saber, meu bem",
Fabiano some, mas sobre o tema tece.
 
Eu digo e repito, com veemência,
Que o chato do GPT, caretão,
Faz versos horríveis, com eficiência.
 
Porém, serve bem para correção,
Estilo avaliar, pesquisa em carência,
Melhor que burrice na mão.

segunda-feira, 24 de junho de 2024

CACHORRO DE DUAS CAUDAS

 
Fiz este pedido ao ChatGPT:
Um conhecido me pediu para escrever sobre os exames de endoscopia e colonoscopia que fiz recentemente. Disse-lhe que estava sem inspiração para escrever alguma coisa que fosse levemente divertida. Os exames, feitos com uso de sedação são super tranquilos. Horrível é o preparo necessário para sua realização. Poderia me ajudar e fazer um pequeno texto detalhando esses exames mas com humor e descontração?
 
E a resposta foi esta:
Claro! Vamos transformar essa experiência de exames médicos em algo leve e descontraído. Aqui vai um texto para seu conhecido:
 
 
Ah, a vida adulta! Entre pagar contas e tentar entender como aquele botão misterioso do micro-ondas funciona, às vezes precisamos enfrentar desafios verdadeiramente épicos. E por épicos, quero dizer... exames médicos. Recentemente, embarquei na emocionante jornada de uma endoscopia e uma colonoscopia, dois exames que, por incrível que pareça, envolvem câmeras entrando por lugares onde, honestamente, câmeras não foram feitas para entrar.
 
Vamos começar com a estrela da festa: a endoscopia. Este exame é basicamente uma oportunidade de ouro para que o médico possa ver seu esôfago, estômago e início do intestino delgado de pertinho, como se estivesse assistindo a um documentário sobre a vida selvagem no Discovery Channel, só que estrelado pelo seu trato gastrointestinal. Tudo começa com um jejum. Isso mesmo, você não pode comer nada antes. Já imaginou um encontro desses sem um jantar romântico antes? Bem, é assim que eles fazem.
 
E então vem a colonoscopia. Se a endoscopia é um documentário, a colonoscopia é uma saga épica. Ela permite que os médicos explorem o interior do seu intestino grosso. A preparação? Ah, a preparação é algo digno de nota. Primeiro, você começa uma dieta restritiva. Adeus alimentos sólidos, olá líquidos claros! E, claro, você deve beber um líquido que promete "limpar" seu intestino. Vamos ser sinceros: a palavra "limpar" aqui é um eufemismo. O que realmente acontece é uma revolução intestinal. É uma experiência que te faz relembrar todas as vezes que disse que comeria de tudo e nunca mais reclamaria de nada.
 
Chega o grande dia. No hospital, colocam você em uma maca e, para a sua sorte, administram uma sedação. E, de repente, você se sente leve como uma pluma e mais feliz do que um cachorro com duas caudas. Quando acorda, é como se tivesse tirado um cochilo revigorante. Mal se lembra dos exames. “Super tranquilo”, você pensa.
 
Então, eis a verdade nua e crua: os exames em si são tranquilos graças à sedação. A verdadeira aventura é a preparação, uma jornada que te faz desejar nunca mais ver caldo de galinha na vida. Mas, no final, tudo vale a pena. Você sai mais leve (literalmente), com a saúde em dia e histórias engraçadas para contar.
 
E assim termina minha epopeia médica. Espero que tenha sido tão divertido para você ler quanto foi para mim viver (ou, pelo menos, lembrar depois). A vida é feita dessas pequenas aventuras, afinal de contas. Até a próxima!

 

domingo, 23 de junho de 2024

CONHECE-TE A TI MESMO

 
Creio que para atender um pedido de minha avó, meu pai e seus irmãos formaram-se em medicina, mas nenhum deles quis exercer essa profissão. Preferiram trabalhar como farmacêuticos, possibilidade existente na época em que não havia separação desses cursos. Criaram um laboratório de produtos farmacêuticos e abriram quatro farmácias. Quando eu nasci todos esses negócios tinham quebrado ou fechado. Deve ser praga de mãe...
 
Talvez por isso ou por suas convicções, meu pai disse para eu nunca estudar medicina  e eu obedeci. Hoje eu vejo que ele tinha um pouco de razão em querer nos poupar do contato permanente com a dor e o sofrimento alheios. A velhice é pródiga em fazer surgir dores e sofrimentos nunca imaginados, pois quando somos jovens e saudáveis a nossa irresponsabilidade, displicência e vaidade nos fazem acreditar que somos imbatíveis, invencíveis. Nossa presunção nos faz ter orgulho da nossa força, da nossa saúde, mas nem desconfiamos ou sabemos que ela pode ser muito frágil que ela pode ser atingida por acontecimentos que nós não temos normalmente condições de prever.
 
Na Escolinha do Professor Raimundo o personagem Paulo Cintura tinha o bordão “Saúde é o que interessa, o resto não tem pressa”. Cara, como hoje isso soa verdadeiro para mim! Por volta de 1980, no período de trinta dias eu emagreci 10 kg. Em dois dias distanciados de um mês, eu evacuei e vomitei sem parar. Consultado um gastroenterologista, ele, achando que eu poderia estar com hepatite, por causa do olho amarelo, pediu uma série de exames. Até de AIDS, o sacana teve a audácia de pedir. Ocevê! Logo eu o sujeito menos promíscuo, o homem de uma mulher só (pelo menos, fisicamente).
 
Entre os exames pedidos constava uma endoscopia. Foi nesse momento que aconteceu o que o Sócrates orientava em termos filosóficos – “Conhece-te a ti mesmo”. No dia do exame, ao vivo e a cores, eu me vi por dentro, eu me conheci por dentro. Depois de fazer o preparo necessário (ficar tantas horas em jejum, não beber água, etc.), o médico me deu dois comprimidos e falou para que eu me deitasse em uma cama para dar uma relaxada.
- Daqui a pouco a gente chama o senhor.
Não sei quanto tempo esse “daqui a pouco” levou, só sei que estava até babando de tanto dormir quando fui chamado.
- Acorde, Senhor José! O senhor dormiu bem, heim?
 
Ai fui conduzido à sala aonde iria ser feito o exame. Nada de sedação, a coisa iria acontecer comigo acordadão. Um ajudante passou algum anestésico na minha boca e começaram a enfiar goela abaixo o tubo de endoscopia.
- “Engole!”
E eu lá grunhindo, sem poder fechar a boca. Concluído o exame perguntou-me se eu queria ver meu estômago por dentro. Grunhi afirmativamente:
- Ugh... rrrrgghhh!.
A sonda possuía um “apêndice” transversal à mangueira que me permitiu ver até os comprimidinhos tomados momentos antes, quase intactos. Mucho loco!
 
Hoje esses exames são feitos com sedação. Você simplesmente apaga, não vê nada, não sente nada. Para quem vai fazer exames de endoscopia e colonoscopia o preparo é uma das mais desagradáveis experiências, pois durante três dias você vai restringindo cada vez mais a alimentação e a ingestão de líquidos.
 
Dois dias antes do exame você corta leite, manteiga, queijo, carne vermelha, frutas, feijão, coca-cola e frituras. Em compensação, está liberado para comer frango cozido, peixe, torrada, biscoito água e sal, ovo cozido, macarrão sem molho, arroz em papa, suco claro coado, guaraná, água de coco (coada) e água. Impossível não ficar feliz com essa dieta!
 
No dia anterior fui obrigado a tomar um copo de água (ou suco claro, coado) de hora em hora. Às 22h tudo o que eu queria era estar perdido no Saara. No dia do exame, seis horas antes, tomei um litro de água misturado com um produto “do demônio”, que me faz visitar o banheiro umas dez ou quinze vezes.
 
Meu exame estava agendado para as 8h15. Por isso, a partir das duas da madruga fiquei acordado, impossibilitado de dormir, só “mandando ver”. E o final feliz foi assim: fizeram-me deitar de lado, colocaram um bocal na minha boca para impedir que eu mordesse a sonda de endoscopia e me disseram que eu iria ser anestesiado. Fechei os olhos e fiquei quieto, mas estava demorando muito. Abri os olhos e perguntei à enfermeira quando iriam começar os exames, e a resposta foi:
- Já acabou!
 
Este é o texto que consegui escrever. Por não achar graça nenhuma nele, pedi ajuda ao ChatGPT para tentar fazer um texto bem humorado sobre esses exames. Ele fez e descobri que até uma inteligência artificial está sendo mais engraçada que eu. Foda!

sábado, 22 de junho de 2024

A VOZ DO DONO




Referindo-se à Suno, inteligência artificial que cria melodias a partir de algumas escolhas do usuário (e que nunca ficam tal como gostaríamos que ficassem), o talentosíssimo Fabiano Caldeira disse que “adoraria bolar uma musiquinha com a voz do Jotabê!”. Que posso dizer?

Eu também gostaria, Fabiano, mas minha voz é mutante. Quando acordo eu tenho voz de barítono de zona, voz grave, muito "sessual". O dia passa e a voz muda para mais aguda.
 
O que pega mais é que eu sou muito maneiroso para falar. Às vezes meus filhos riem quando solto um "ui" afetadíssimo. Quando comecei a namorar minha mulher um de seus irmãos machões disse para ela que eu era viado; não sei se pela voz afetada ou pela postura delicada ou pelas roupas. Em compensação, minha sogra dizia que eu tinha uma voz linda quando fazia leituras na igreja.
 
Algumas pessoas (mulheres) elogiam meu "alô" quando atendo ao telefone, mas até hoje nenhuma quis dar para mim. Minha mulher fica puta quando converso com mulheres desconhecidas pelo telefone. Ela sempre diz ter certeza que estou falando com mulher, porque minha voz adquire a suavidade de quem está dando uma cantada, mesmo que eu só queira agendar uma consulta ou saber um preço.
 
E já aviso que sou afinadíssimo, qualidade que desenvolvi tocando violão. Uma vez, cantando e tocando uma música em uma festa com muita gente desconhecida, ouvi uma mulher comentar com outra que eu tinha uma voz fininha, mas linda.
 
Agora, Fabiano, você pode pensar o que quiser da minha voz.

TAVARES

 
Não quero mais essas tardes mornas, normais
Não quero mais vídeo tapes, mormaço, março, abril
Eu quero pulgas mil na geral, eu quero a geral
Eu quero ouvir gargalhada geral
 
Estes versos iniciais da música "Cinema Olympia", do Caetano Veloso, definem bem meu pensamento, como eu me sinto hoje, pois não curto muito a normalidade. Já disse algumas vezes que tenho pouca paciência para gastar com gente careta. Não tenho interesse por pessoas muito normais, muito certinhas, muito religiosas e puritanas. Pessoas normais são geralmente muito chatas, cheias de preconceitos e de certezas absolutas. É o caos que me seduz. 
 
Atraem-me as verdades inconvenientes, as pessoas descompensadas, alternativas, meio loucas, irônicas, sarcásticas, cínicas e com pensamento crítico afiado. Esse é o motivo da minha simpatia por gente como o Ricardo Marreta e o Fabiano Caldeira, e outros que atendam esses requisitos.
 
Apesar disso, 90% das pessoas que me conhecem ao vivo e a cores gostam de mim, falam bem de mim e me tratam super bem. E a explicação é por estar sempre sorrindo, sempre falando mal de mim mesmo, sempre tratando bem qualquer desconhecido com quem tenha o mínimo de contato.
 
Outro dia, por exemplo, fui à noite na padaria perto de minha casa. O balconista que me atendeu me chamou de “homem bom”, talvez pelo fato de ter conversado com ele, contado alguma piada e de tê-lo tratado com cortesia na noite anterior. Em outra padaria, há muito, muito tempo, quando ainda era jovem, a sogra do proprietário, que ficava sempre no caixa, disse uma vez: “Deve ser muito bom ser sua mãe!”
 
Acho que a explicação para isso é o fato de me comportar como imagino que será do agrado das pessoas com quem convivo. Camaleão emocional, mais falso que nota de três reais. Sinceridade? Só no mundo virtual, só no Blogson Crusoe. Fora dele, um autêntico puxa-saco profissional. Mas, como diria Tavares, o personagem canalha criado por Chico Anysio: “Sou, mas quem não é?”

sexta-feira, 21 de junho de 2024

MORDA-SE DE INVEJA, CICERONE!

 
Talvez este post tenha vida efêmera, tão curta quanto um copo cheio de cerveja em uma roda de bebuns (ainda não me decidi). E por falar em cerveja, aprendi duas coisas sobre essa bebida que tem gosto de cerveja (e eu não gosto do gosto de cerveja!). A primeira delas é a descoberta do nome correto para designar os que se pretendem conhecedores das “baratas mas boas”.
 
Segundo o chato do GPT, “O termo ‘sommelier de cerveja’ é uma adaptação do termo usado para especialistas em vinhos (sommeliers), enquanto "cicerone" é um título específico usado no contexto de cervejas, criado pela Cicerone Certification Program, uma organização que certifica profissionais no conhecimento e serviço de cerveja. Ambos os termos referem-se a profissionais que possuem conhecimento profundo sobre a fabricação, os diferentes estilos, a degustação e a harmonização de cervejas com alimentos”

E eu que iria morrer sem saber disso!
 
A segunda descoberta está ligada a uma rede de hortifruti de BH, com lojas espalhadas pela cidade. Os produtos que vende são excelentes, mas bem caros. Outro dia descobri que criaram uma cerveja com o nome da rede: BEM. Infelizmente só existe na versão garrafa de 600ml, vendida por R$5,99. Mas fica o registro: não sei se é Bem boa ou Bem ruim, mas é Bem exclusiva. E essa exclusividade me leva a dizer: Morda-se de inveja, Cicerone! Olha a cara dela aí (imagem tirada do folheto de ofertas):



quinta-feira, 20 de junho de 2024

CURANDEIRISMO, PAJELANÇAS E CHARLATANISMO

 
Já disse uma vez que quem entende o real significado de “saúde” é quem a perdeu. Na mesma linha de raciocínio, quem entende o que significa uma dor intensa é quem a está sentindo ou já sentiu, pois não dá para terceirizar essas sensações – seja sua falta ou o excesso delas. A coisa mais irritante acontece quando você está rolando de dor devido a um cálculo renal, com dificuldade até de respirar e vem alguém e sugere para tomar um chazinho de folha de abacate. Eu já estive assim e fiquei até verde de tanto chá que tomei. Mas a pedra só foi removida em uma clínica de urologia, quando estava apagado com uma sedação.
 
A dor, as dores, as doenças podem ser tão temidas, que desde os primórdios da humanidade o curandeirismo, a pajelança e o charlatanismo andaram de braços dados com as boas práticas médicas.

A vantagem é que a Medicina está sempre evoluindo, descobrindo novos remédios e tratamentos, mesmo que à custa de custa do sacrifício e sofrimento de cobaias não humanas. Nesses casos, grosseiramente poderia lembrar um ditado usado por um funcionário predador que conheci em uma empresa, preocupado unicamente com sua ascensão profissional, quando dizia grosseira e descaradamente que “se o cu não é meu, pau nele”.
 
Como disse antes, a Medicina nunca para de evoluir. Quando tinha uns dezesseis anos fiz uma consulta com um oftalmologista mais velho que o rascunho da Bíblia. Durante a consulta, contou um caso ótimo para rir nos dias atuais. Disse que guardava em sua casa a “mesa de amputação” que fora de seu avô. Segundo ele, o tampo era uma prancha de madeira com uns 10 centímetros de espessura, com quatro argolas de ferro presas nos cantos da mesa. As amputações tinham este ritual: primeiro o “paciente” era embebedado com cachaça até ficar inconsciente; depois, dois escravos parrudos amarravam os pés e mãos do infeliz nas argolas de ferro e o seguravam para que o médico, fazendo uso delicado de serrote, facão ou sei lá o que separasse do corpo o braço ou perna gangrenada. Davam-se os pontos necessários para parar o sangramento e coisa e tal e a cirurgia terminava com pleno êxito. Provavelmente arrematada com o consumo da “anestesia” que tinha sobrado.
 
Um caso engraçado de curandeirismo e crendice aconteceu na casa onde nasceu meu pai. Para entender melhor a situção, meu pai nasceu em um distrito com ruas de chão batido, onde viviam não mais que mil almas. Bem no início do século XX, trabalhavam e moravam na casa de meu avô paterno duas irmãs, filhas ou netas de antigos escravos. Segundo meu pai, todos tinham por elas o maior carinho e consideração. Um dia, estranhando a ausência de uma delas, uma de minhas tias foi até seu quarto e a encontrou deitada, esfregando folhas secas de alguma planta “medicinal” na barriga exposta. Perguntada sobre a finalidade daquela pajelança, ouviu a explicação de que era um santo remédio para acabar com cólicas. Não sei se funcionou, mas fico tentado a imaginar que a coitada estava fazendo uma espécie de peeling pré-histórico na barriga.
 
Mas o que pega mesmo é a presença ainda hoje do charlatanismo mais nocivo e mais abjeto. Um exemplo recente, de triste memória, foi a defesa do uso da cloroquina para salvar as milhares de pessoas atingidas pela Covid, que estavam morrendo sem poder ser vacinadas. Nem preciso citar nomes, pois até as emas de Brasília conhecem essa triste história. Mas deixemos essas lembranças para serem registradas e imortalizadas em livros de História.
 
Este assunto talvez continue em algum dos próchimos posts, quando falarei rapidamente dos exames a que fui submetido hoje, pois estou sem vontade de escrever sobre isso. Hasta la vista, baby!

quarta-feira, 19 de junho de 2024

PEQUENA CRÔNICA DA MADRUGADA

 

Estou deitado em minha cama tentando dormir. Já passa da uma da manhã, mas o sono não vem. Quem chega é Laura, a lembrança de Laura.

Nós nos conhecemos no mês de junho, em uma festa junina. Ela estava linda e eu me senti totalmente hipnotizado por ela. Não sei por que não nos encontramos mais. Da última vez em que estivemos juntos ficamos de mãos dadas, beijamo-nos longa e apaixonadamente, rimos das tolices que dissemos um ao outro. Ela me chama de Glenn, nome de astronauta, por achar que eu vivo sempre no mundo da lua.

Sinto falta de sua boca, de seus beijos, de seu bom humor e alegria serena. Por que não nos vemos mais? Preciso reencontrá-la, descobrir onde mora.

Mas ao virar-me na cama abro os olhos e me assusto com a Realidade. A linda e encantadora Laura não existe, nunca existiu. Nem eu sou o jovem Glenn, sou apenas um idoso que precisa descansar e dormir sem ter pesadelos.

sábado, 15 de junho de 2024

DEPOIS DE TANTO TEMPO


Tenho andado tão cansado, sonarento,
Que adormeço em qualquer lugar onde me ajeito
Como se a dura cadeira onde me assento
Fosse o mais macio e king size leito.
 
Talvez por isso, manter o equilíbrio
De um cérebro exausto e desatento
Seja difícil; o raciocínio se embota
Se transforma, se confunde e fica lento

quinta-feira, 13 de junho de 2024

MR. SANDMAN, BRING ME A DREAM


Não sei bem explicar por que a música "Mr. Sandman" exerce um fascínio tão grande sobre mim. Ela me faz lembrar de filmes da Sessão da Tarde, matinês no Cine Metrópole, suco de maçã, milk-shake sabor abacaxi com leite de coco... Prazeres inocentes e, principalmente, suaves e delicados.

Eu a ouvi pela primeira vez ao acordar de madrugada. Na televisão do nosso quarto (ela fica ligada a noite toda), a Globo exibia um filme ambientado na década de 1950. O som estava alto, dei uma olhada no filme, mas não me interessei, pois estava querendo voltar a dormir (nessa época eu tinha um sono muito bom). Foi quando essa música começou. Tinha aquele toque nostálgico das músicas dessa década e era interpretada por vozes femininas magnificamente harmonizadas.
 
A música era tão linda que acabei ficando acordado até o filme acabar, só para ver nos créditos finais seu título. Chamava-se "Mr. Sandman" e teria sido originalmente gravada pelo grupo vocal The Chordettes, uma espécie de Spice Girls da década de 1950.
 
Depois disso, um de meus filhos encontrou uma versão instrumental magnífica e eu descobri no YouTube um vídeo com uma versão atualíssima feita pelo grupo Foxes and Fossils, com o mesmo arranjo das Chordettes. Gostei tanto que publiquei o link desse vídeo aqui no blog (recomendo!).
 
Hoje, por acaso, encontrei no YouTube a versão instrumental que meu filho um dia baixou para mim. O intérprete é (era) um excelente guitarrista e ídolo do Mark Knopfler, tendo gravado uma penca de álbuns. Curiosamente, ele fez parte da banda de apoio do Elvis Presley (para mim, isso conta como ponto negativo). E essa versão que compartilho hoje é a melhor de todas as que encontrei no YouTube.
 
O dedilhado é delicadíssimo e cheio de variantes à linha melódica original. Por isso, se alguém quiser ouvir uma música agradável e suave como suco de maçã, acesse o link abaixo. E antes que eu me esqueça (estou esquecendo de tudo!), o cara chama-se Chet Atkins.




quarta-feira, 12 de junho de 2024

DIA DOS ENAMORADOS

 
Em 1969, começou um namoro que perdura até hoje. Nem sempre foi fácil aparar as arestas, nem sempre foi fácil contornar os obstáculos surgidos, mas sempre foi bom. E hoje se comemora o Dia dos Namorados. Longa vida aos namoros! E que sempre haja muito amor a comemorar.
 
Não sei nem tenho mais o que dizer. Por isso, pedi ajuda a um especialista em amor, casado que foi por nove vezes: o poeta Vinicius de Moraes. E a ajuda prestada é o poema "Para Viver um Grande Amor".
 

Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso - para viver um grande amor.
 
Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... - não tem nenhum valor.
 
Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro - seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada - para viver um grande amor.
 
Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.
 
Para viver um grande amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fieldade - para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.
 
Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô - para viver um grande amor.
 
Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito - peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.
 
É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista - muito mais, muito mais que na modista! - para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...
 
Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs - comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica, e gostosa, farofinha, para o seu grande amor?
 
Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto - pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente - e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia - para viver um grande amor.
 
É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que – que não quer nada com o amor.
 
Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva escura e desvairada não se souber achar a bem-amada – para viver um grande amor.

terça-feira, 11 de junho de 2024

SÓ POR DIVERSÃO

Hoje, mais do que em qualquer outra época da minha vida, sinto uma preguiça mental e física de aprender qualquer coisa nova. Admito que esse não é um comportamento muito nobre, mas fico impaciente se demoro mais de três minutos para entender como ligar um aparelho novo, usar um novo aplicativo ou até mesmo abrir uma caixa de bombons ou biscoitos sem espalhar o conteúdo por toda parte. Sou uma besta, enfim.

Foi exatamente isso que aconteceu quando recebi do leitor Fabiano Caldeira a dica de uma nova IA para criação de músicas. Entrei no site (previsivelmente em inglês), tentei criar uma música com um texto escrito por mim, mas me exasperei ao não entender o que fazer e desisti em apenas três minutos. Creio estar vivendo tal como cantado pelos Titãs: “só quero saber o que pode dar certo, não tenho tempo a perder”.

Irritado com meu insucesso, decidi seguir a sugestão da minha mulher: pedir à SUNO AI uma música utilizando os versos de uma canção conhecida. Ela sugeriu a letra de “Garota de Ipanema”, mas não me animei muito, pois não tenho paciência para ouvir novamente uma música que já ouvi umas trezentas mil vezes.

Em vez disso, resolvi utilizar como letra o “Soneto da Fidelidade”, apenas declamado pelo Vinícius de Moraes. As duas primeiras versões criadas com a escolha de “bossa nova” como estilo musical ficaram horríveis. Então, tentei criar uma música usando a opção “jazz”. Uma das duas versões também ficou um lixo, mas a segunda ficou bacaninha, apesar da voz horrível utilizada. E essa é a diversão do dia. Escutaí.



domingo, 9 de junho de 2024

ENGASGO CRIATIVO

 
Hoje, após a festa de 75 anos da minha mulher – momento que aproveitei para compartilhar com alguns dos presentes a versão musicada criada pela IA Suno para meu texto "Cromo Soma" –, me peguei imerso em pensamentos um pouco incômodos, desconfortáveis.
 
A experiência de tentar musicar outros textos escritos por mim me levou a refletir sobre a falta de criatividade que às vezes sentimos e a tentação de recorrer a uma inteligência artificial para preenchê-la. Essa prática, embora fascinante à primeira vista, me fez questionar se é moral ou "politicamente correta" (agora eu ferrei!) delegar à tecnologia o papel de criador.
 
“Ao ponderar sobre o uso da IA, surge a dúvida sobre a autenticidade e a ética dessa escolha. Será que estamos, de alguma forma, traindo nossa própria capacidade de criar ao depender de algoritmos para trazer à tona o que deveria vir de nossa mente e coração? Ou estamos apenas utilizando uma nova ferramenta para expandir nossas possibilidades artísticas?”
 
O parágrafo anterior é um exemplo disso, pois, por preguiça mental e física, pedi ao ChatGPT que organizasse as ideias que apresentei a ele. Essas questões me deixaram absorto, pensando sobre o equilíbrio entre inovação tecnológica e integridade criativa. E a conclusão é simples para mim: mesmo que já seja possível contar com a parceria de uma IA para suprir uma carência ou deficiência criativa, o resultado será sempre um embuste – mesmo que você faça segredo disso e se alegre com os louvores e elogios recebidos por algo que não fez.
 
Isso ficou claro para mim ao me irritar com as diversas versões para um mesmo texto criadas pela Suno AI. O texto tinha, em minha mente, uma cadência e um estilo musical que a inteligência artificial nunca soube traduzir, com o agravante de não aceitar edições ou alterações nas opções criadas.
 
Em outras palavras, uma melodia criada pela Suno AI a partir de um texto seu – ou um texto, crônica, poesia, mensagem filosófica ou fantasia, (sempre apresentado em poucos segundos) após você alimentar o ChatGPT – por mais elaborado e brilhante que seja o resultado, jamais será a expressão do que se entende ser a sua essência.

sexta-feira, 7 de junho de 2024

AGRADECIMENTO A TODES

O post de hoje é um agradecimento endereçado a todes (piada!) que acessam o Blogson, mas, em especial ao Fabiano Caldeira e ao John Ramalho pelos longos e educativos comentários que fizeram recentemente.
 
 
 
Fabiano, antes de qualquer coisa, obrigado pelo testemunho, pelas dicas e pela permanente sinceridade. Hoje o Blogson comemora(?) dez anos de existência. E eu rememoro algumas coisas vividas nos setenta e quatro anos que deveria comemorar hoje, mas acho isso idiota. Comemorar o quê? Velhice, falta de inspiração? Falta do que dizer, falar, de amigos? Sinceramente, não sei.
 
Identifiquei-me com seu comentário, pois me sinto como aqueles animais que vivem isolados, sozinhos e que só se reúnem para procriar. Um tigre, por exemplo (claro, sem a beleza e poder dos tigres). Há pessoas que são como os leões, que vivem em bando. Eu não sou assim. E o blog serviu para dar vazão às minhas ideias delirantes ou ridículas. E sempre fui eu quem mais gostou do que escrevi!
 
Agora isso acabou, acabou a espontaneidade, acabou o prazer. Mas, como diriam os moradores do Tibet ocidental, c’est la vie. Repetindo, obrigado pelo testemunho, pelas dicas e pela permanente sinceridade.
 
 
 
John, obrigado pelo comentário, dicas e pelas visitas. Muito legal mesmo. Mas talvez você não saiba que eu tenho quase a idade da Terra, pois hoje (pois é...) completam-se 74 anos que eu surgi na Terra. Ou seja, sou velho, muito velho. E o pior é que a inspiração acabou, os neurônios estão endurecidos, as sinapses não mais se formam.
 
Imagine então que se tenho dificuldade em atender as eventuais expectativas dos malucos como você, que ainda insistem em acessar o Blogson, que terei para oferecer para os menores de 25 anos? Estou rindo só de pensar nisso, pois tenho três vezes a idade de quem está com 25 anos!
 
Na minha cabeça, o Blogson (que completa hoje 10 anos de atribulada vida) é como um sítio arqueológico, onde a areia ou a mata cobriram os sinais de uma antiga civilização. Por baixo pode haver alguma coisa interessante, mas por cima é um zero absoluto.
 
  
 

quinta-feira, 6 de junho de 2024

O RAP DA GRAMÁTICA

 

Esperando que ninguém tenha "fugido para as montanhas", apresento mais uma música fruto da parceria Suno-Jotabê (o compositor sempre vem em primeiro lugar). Trata-se de um Rap utilizando a letra dos versos do "Rap da Gramática". A primeira versão ficou ótima, com voz de rapper, mas nem todos os versos tinham o ritmo dos demais. Tentei corrigir e refazer a melodia, mas sempre ficou um lixo, com voz masculina mais aguda, com sotaque latino. Perdi assim quatro tentativas, todas infrutíferas. Descobri que um poema precisa ser lido antes para ver se é aproveitável como letra de uma canção. Por isso, resolvi postar a versão que mais me agradou, mesmo com os problemas de quebra de rítmo mencionados. Escutaí.

https://sunoai.ai/music/185117890f0945bfae890e1775727050



quarta-feira, 5 de junho de 2024

VIREI COMPOSITOR!

 
Depois me surpreender com um link que o talentoso Fabiano incluiu em um de seus comentários, resolvi correr atrás para descobrir como funciona a Suno AI, inteligência artificial de composição musical. Encontrei, testei e – Surprise! – virei compositor.
 
Escolhi um "poema" que escrevi pensando em minha mulher e pedi à IA para criar uma música. Surgiram duas opções, mas a segunda era ruim. Na primeira descobri que métrica e rima ajudariam bastante, mas ficou legal.
 
Quando meu filho mais velho ficou sabendo disso, comentou:
- Quer dizer que você descobriu o Suno? Fujam para as colinas!
 
Agora, posso não saber desenhar como o Marreta, mas, além de poeta, escritor e filósofo com a ajuda do ChatGPT, posso também “compor” músicas com o auxílio luxuoso da SUNO AI. 

Chupa, Marreta!
 

https://suno.com/song/5d2f797e-0fe8-46f6-a4fb-a6b27188b021

EU TAMBÉM NÃO ESCREVI ISTO

 
Hoje, assim do nada, bateu uma saudade de pessoas que acessaram o Blog por algum tempo e depois desapareceram. Primeiro fiz um comentário sobre isso no post sobre o padre rebelde Teilhard de Chardin. Depois, resolvi pedir ajuda ao ChatGPT para expandir o comentário feito. Tendo "passado a bola" para a IA recebi de volta um “cruzamento na cara do gol” (até parece que eu entendo e gosto de futebol!). Olhaí:
 
Por favor, poderia escrever uma crônica sobre a amizade surgida entre pessoas que nunca se encontraram, que nunca se encontrarão e que perderam o contato, um texto que fala de saudade e da esperança de que esse contato virtual se restabeleça um dia. Utilize partes ou todo o texto a seguir:
 
“Engraçado, assim do nada me bateu uma saudade enorme de leitores que me divertiram, comentaram e se divertiram com o que eu publiquei e depois sumiram para nunca mais. Não vou citar nomes, apenas reproduzirei o título da da música composta pelo gaúcho Lupicínio Rodrigues: ‘Volta!'"
 
E o texto criado pela IA é este:
Engraçado, assim do nada me bateu uma saudade enorme de leitores que me divertiram, comentaram e se divertiram com o que eu publiquei e depois sumiram para nunca mais. Não vou citar nomes, apenas reproduzirei o título da música composta pelo gaúcho Lupicínio Rodrigues: "Volta!"
 
A internet tem esse poder estranho de unir pessoas que, de outra forma, nunca se encontrariam. Através de uma tela, estabelecem laços, trocam ideias, riem juntos e, muitas vezes, se tornam amigos virtuais. Mesmo sem nunca se verem, criam uma conexão que, de alguma forma, se torna parte da rotina de cada um.
 
Lembro bem dos primeiros comentários, das conversas animadas e das risadas compartilhadas. Esses leitores, que de repente sumiram, deixaram um vazio inesperado. Suas palavras, mesmo que virtuais, tinham peso. Eram mais do que simples comentários; eram interações que faziam meus dias mais interessantes e que, de certa forma, me incentivavam a continuar escrevendo.
 
Com o tempo, muitos desapareceram. Talvez a vida tenha levado cada um para um caminho diferente, talvez o interesse tenha mudado. O fato é que essas ausências deixaram uma marca. Sinto falta dessas trocas espontâneas, dessas pessoas que, mesmo distantes, faziam parte do meu cotidiano.
 
O título da canção do Lupicínio Rodrigues resume bem esse sentimento: "Volta!". Voltem para que possamos retomar aquelas conversas, para que possamos rir novamente e, quem sabe, criar novas memórias. Não é uma questão de nostalgia barata, mas de reconhecimento do valor dessas interações que um dia foram tão presentes.
 
Este é um pedido simples, quase um desabafo. Se vocês, que um dia acessaram o Blogson  ainda leem essas palavras, saibam que sua presença fez diferença. E que, apesar do tempo e da distância, seria ótimo reencontrá-los por aqui. Por isso eu repito: Volta!
 


terça-feira, 4 de junho de 2024

ELE NÃO ESCREVEU ISSO!

 
Se há uma coisa que me entristece - e tristeza é um sentimento que está muito além da raiva -, é saber, descobrir que algumas pessoas atribuem a autoria de textos apócrifos a personalidades famosas, só para aparentemente dar credibilidade ao que produziram em seu anonimato. E agem impunemente, despreocupadamente.
 
O caso mais recente aconteceu quando li no Facebook (alô, Catiaho.Alc!) um texto atribuído ao padre Teilhard de Chardin, nome que ouvi lá pelos idos de 1960, talvez por ser malvisto pela alta hierarquia da Igreja Católica.
 
Tenho por habito checar quem realmente é o autor do texto que pretendo postar no Blogson. Tentando fazer o mesmo com o texto publicado a seguir, descobri que Teilhard de Chardin foi um padre jesuíta, teólogo, filósofo e paleontólogo francês que tentou reconciliar a teoria da evolução com a teologia cristã.
 
Através de suas obras, legou para a sua posteridade uma filosofia que reconcilia a ciência do mundo material com as forças sagradas do divino e sua teologia. Disposto a desfazer o mal entendido entre a ciência e a religião, conseguiu ser mal visto pelos representantes de ambas. Muitos colegas cientistas negaram o valor científico de sua obra, acusando-a de vir carregada de um misticismo e de uma linguagem estranha à ciência. Do lado da Igreja Católica, por sua vez, foi proibido de lecionar, de publicar suas obras teológicas e submetido a um quase exílio na China
 
Nem preciso dizer que com um “currículo” desses, conquistou minha simpatia imediata. O problema foi tentar descobrir se realmente escreveu as reflexões a seguir. E descobri que não escreveu. Parece que essas frases são geralmente atribuídas a várias fontes na internet e seriam uma combinação de pensamentos modernos sobre espiritualidade em contraste com a religião organizada. Foda!
 
Mesmo assim, são boas reflexões para um ateu católico como eu. Lêaí:
 
 
A religião não é apenas uma, existem centenas.
A espiritualidade é uma.
 
A religião é para os que dormem.
A espiritualidade é para os que estão despertos.
 
Religião é para aqueles que precisam de alguém que lhes diga o que fazer e querem ser guiados.
A espiritualidade é para aqueles que prestam atenção à sua voz interior.
 
A religião tem um conjunto de regras dogmáticas.
A espiritualidade convida a raciocinar sobre tudo, a questionar tudo.
 
A religião ameaça e assusta.
A espiritualidade dá paz interior.
 
A religião fala de pecado e culpa.
A espiritualidade diz: "Aprenda com o erro".
 
A religião reprime tudo e em alguns casos é falsa.
A espiritualidade transcende tudo, te aproxima da sua verdade!
 
A religião fala de um deus; não é Deus.
A espiritualidade é tudo e, portanto, está em Deus.
 
A religião inventa.
A espiritualidade descobre.
 
A religião não indaga nem questiona.
A espiritualidade questiona tudo.
 
A religião é humana, é uma organização com regras.
A espiritualidade é Divina, sem regras.
 
A religião é causa de divisões.
A espiritualidade une.
 
A religião lhe busca para que acredite.
A espiritualidade é preciso buscá-la para crer.
 
A religião segue os preceitos de um livro sagrado.
A espiritualidade busca o sagrado em todos os livros.
 
A religião se alimenta do medo.
A espiritualidade se alimenta na Confiança e na Fé.
 
A religião faz viver no pensamento.
A espiritualidade vive na Consciência…
 
A religião se ocupa com fazer.
A espiritualidade se ocupa com Ser.
 
A religião alimenta o ego.
A espiritualidade nos faz Transcender.
 
A religião nos faz renunciar ao mundo.
A espiritualidade nos faz viver em Deus, sem desistir de nós.
 
A religião é adoração.
A espiritualidade é Meditação.
 
A religião sonha com a glória e com o paraíso.
A espiritualidade nos faz viver a glória e o paraíso aqui e agora.
 
A religião vive no passado e no futuro.
A espiritualidade vive o presente.
 
A religião enclausura nossa memória.
A espiritualidade liberta nossa Consciência.
 
A religião nos faz acreditar na vida eterna.
A espiritualidade nos torna conscientes da vida eterna.
 
A religião promete vida após a morte.
A espiritualidade é encontrar Deus em Nosso Interior durante a vida.

 

segunda-feira, 3 de junho de 2024

GUERRA CIVIL - MIGUEL TORGA

 
A melhor descoberta que fiz recentemente foi não me sentir obrigado a escrever textos líricos, emocionados, divertidos ou "emocionantes", nem ter mais a necessidade de ser engraçado, sedutor, original ou criativo. Livre dessas amarras que eu mesmo criei para mim, estou tranquilo e feliz por publicar o que outras pessoas escreveram ou disseram de forma muito mais elegante do que eu jamais conseguiria. Isso significa que o marcador "Produção Terceirizada" vai inchar muito.
 
Foi no Facebook (alô, CatiahoAlc!) que descobri este poema de um autor de quem nunca tinha ouvido falar. Para dizer a verdade, eu nunca ouvi falar da maioria dos escritores e poetas que existem ou existiram neste mundo de meu Deus.

E o autor é Miguel Torga. Segundo as boas línguas, Adolfo Correia da Rocha, conhecido pelo pseudônimo Miguel Torga, foi (faleceu em 1995) um dos mais extraordinários poetas e escritores portugueses do século XX. 
Lêaí

 
É contra mim que luto
Não tenho outro inimigo.
O que penso
O que sinto
O que digo
E o que faço
É que pede castigo
E desespera a lança no meu braço
 
Absurda aliança
De criança
E de adulto.
O que sou é um insulto
Ao que não sou
E combato esse vulto
Que à traição me invadiu e me ocupou
 
Infeliz com loucura e sem loucura,
Peço à vida outra vida, outra aventura,
Outro incerto destino.
Não me dou por vencido
Nem convencido
E agrido em mim o homem e o menino.

domingo, 2 de junho de 2024

CHAMANDO O APLICATIVO

 
Às vezes eu me surpreendo com a criatividade de alguns empresários. Aparentemente, os caras conseguem tirar leite de pedra, bolando coisas de deixar meu "queixinho esquisito" caído (alguém já disso isso de mim!). Um desses “cases” é o Boate Bus. Já vi rodando aqui em BH um ônibus desses utilizados em viagens interestaduais, grandão, pintado na cor lilás ou cor-de-rosa, que funciona como boate móvel. O busão parece ter iluminação de uma discoteca, isolamento sonoro para não incomodar quem está fora da "balada" e tem ainda as janelas pintadas, talvez para eliminar a noção de noite e dia. Se isso é bom ou divertido e se vale a pena, não sei. Só fico imaginando que uma freada mais brusca talvez provoque algumas encoxadas. O problema é que não dá para escolher previamente o “alvo”.
 
Outra modernidade surgida não faz muito tempo (para mim, pelo menos) é o Uber, que tenho utilizado quando vou ao dentista, muito prático e não muito caro. Por estar ainda engatinhando nessa área, fico sendo monitorado pelo meu filho mais novo quando resolvo chamar algum. Nesses momentos é comum tomar um pequeno e educativo esporro: “Esse aí não, é mais caro!” ou “Você já indicou onde pretende ir? Cadê o endereço?” ou ainda “Se tiver dúvida na hora de voltar, me ligue que eu peço daqui de casa”. Sinto-me confortado e com a sensação de ser um jumento batizado, mas tudo bem.
 
O que chamou minha atenção é que existem várias opções na hora de utilizar esse aplicativo – Uber X, Uber Black e sei lá que mais. Existe até um Uber Eats. Mas tenho uma mente inquieta, às vezes propensa a pensar sacanagem. Por isso, fiquei matutando que as inovações nessa área não param. Imagino que qualquer hora dessas lançarão um motel bus, um ônibus convertido em uma espécie de motor home diferenciado, um motor room, dividido em dois ou três confortáveis quartos, ideal para uma rapidinha com a coleguinha de trabalho, no centro da cidade, durante a hora do almoço, sem os transtornos do deslocamento, pois pelo menos aqui em BH a maioria dos motéis fica mais na periferia da cidade.
 
Agora, a cereja do bolo seria mais uma modalidade de uber, um substituto dos automóveis com vidros embaçados pelo vapor resultante de você sabe o quê. Esses carros, depois de adaptados para a função a que se destinam (vidros opacos, com ar condicionado, etc.), seriam uma versão econômica e individualizada dos “motel bus”. E até imagino um nome matador para esse novo serviço: Suruber. Garanto que faria sucesso!

sábado, 1 de junho de 2024

PESSOAS QUE ADMIRO - WASHINGTON OLIVETTO

 
Já aviso que este é um texto longo, mas você PRECISA lê-lo! São trechos de uma entrevista (a reportagem é de Ingrid Fagundez) que a BBC Brasil fez em 2017  com o sujeito que foi duas vezes eleito “Publicitário do Século” e que, de alguma forma, ao contratar o Jorge Bem(jor) para se apresentar na festa de fim de ano de sua agência W/Brasil, foi um dos inspiradores da música “W/Brasil (Chama o Síndico)”.

Sou e sempre fui fã da criatividade e inteligência que alguns publicitários possuem, qualidades que utilizam para criar campanhas publicitárias e propagandas engraçadíssimas ou  emocionantes, mas sempre surprendentes. E Washington Olivetto é um deus nessa área. Lêaí.

 
BBC Brasil - A publicidade adotou temas que antes eram exclusivos de movimentos sociais, como diversidade sexual e o feminismo. O que acha dessa tendência?
Washington Olivetto - A publicidade, seja quando começou, seja hoje, tem uma característica fundamental: a presença de uma grande ideia. É a ideia que provoca aquele efeito de 'como não pensei nisso antes', e ela é pertinente. É algo que tem a ver com o produto e com seu consumidor. Não é uma grande ideia algo que seja simplesmente sensacionalista ou oportunista.
Dentro desse critério, tudo o que está na vida pode estar na publicidade, desde que seja pertinente. Tem música na vida? Tem sexo? Pode ter (na publicidade).
Ciclicamente, mesmo antes desses movimentos que acontecem hoje, a melhor publicidade sempre foi aquela que soube perceber isso.
Quando fiz o Garoto Bombril, em 1978, tinha detectado que as mulheres estavam cansadas de serem tratadas como idiotas pela propaganda dos produtos de limpeza. E que a presença de um homem seria surpreendente. Se ele fosse doce e delicado, melhor ainda.
BBC Brasil - Como o Woody Allen? Em outras entrevistas, você disse que o estilo dele estava em alta na época.
Olivetto - As mulheres estavam achando mais interessante a inteligência do Woody Allen do que os músculos do John Wayne.
Nos últimos anos, aconteceram outras coisas, incluindo duas que considero muito ruins: surgiu fortemente a presença do politicamente correto, que muitas vezes é bem-educado, mas é chato; e a detecção do politicamente incorreto, que às vezes é engraçado e mal-educado.
No meio disso, tem um negócio que batizei de politicamente saudável, que são ideias que tenham irreverência, senso de humor, mas respeitem a inteligência das pessoas.
A publicidade no Brasil, por exemplo, durante um grande tempo desconheceu a presença do negro - temos tantos negros no país e poucos na publicidade. Nos últimos tempos, uma pressão dos movimentos sociais fez com que a publicidade participasse de determinadas causas. Isso pode ser feito de maneira oportuna ou oportunista, essa é a grande questão.
Tivemos uma experiência interessante no ano passado, que lutei para que não ficasse oportunista e acabou muito oportuna. Minha diretora de arte do Rio de Janeiro, que atende a L'Oréal, descobriu uma transgênera, fez um comercial dela com sua primeira carteira de identidade no dia internacional da mulher. Falei 'Não pode acabar nisso. Não pode ser um comercial que ganhe um prêmio, tem que virar uma coisa grande'. Ela virou a primeira porta-voz mundial transgênera da L'Oréal, virou capa da Vogue francesa, enfim, se tornou um fato verdadeiro.
BBC Brasil - Hoje é mais oportunista do que oportuno?
Olivetto - Sempre será assim. Em causas sociais, a maior parte delas contém um componente de oportunismo, infelizmente.
BBC Brasil - Há alguns anos, você deu a declaração de que o politicamente correto estava matando a publicidade. Ainda pensa isso?
Olivetto - Sim, porque principalmente o pessoal mais verdinho não cogita que tem o politicamente saudável no meio, então elimina qualquer ideia que tenha uma conotação de irreverência.
Anos atrás fizemos um comercial do (protetor solar) Coppertone, mostrando um cara que só usava Coppertone. Ele estava com a mulher na praia e ela tinha esquecido de comprar o protetor. De repente, vinha um gordo, muito gordo, passando Coppertone no corpo. (O homem) saia correndo, gritando 'Alfredo', abraçava (o homem gordo) e se esfregava nele. E, na verdade, eles não se conheciam.
Era só uma adorável brincadeira. Mas se a gente fosse pensar 'ah, mas os gordos do Brasil vão ficar chateados, vamos fazer com um magro', ia ficar sem graça.
Hoje essa capacidade da publicidade de aderir a causas está vivendo um momento modal. Está na moda, depois tem outra.
Hoje, muitas editoras têm um personagem chamado leitor sensível. Sabe o que é isso? É um cara para ler os livros e detectar se tem algum trecho que vai dar problema com uma minoria. O leitor sensível é um censor disfarçado.
BBC Brasil - Você acha que a publicidade perde ou ganha com a maior interação do público pelas redes sociais?
Olivetto - A relação sempre foi de monólogo e nesses anos virou mais de diálogo, mas evidentemente alguém tem que liderar essa parada. Até porque eu, como publicidade, sou intromissão. Você não comprou jornal para ver meu anúncio, você quer a notícia. O mínimo que o intrometido tem que fazer é ser bem-educado. Isso é sedutor.
No fundo, muita coisa não mudou. Olha, 99,9% das mulheres no mundo gostariam de namorar com um homem bonito, inteligente, charmoso, rico, simpático, bem humorado e bom de cama. Agora, se um rapaz convidar uma moça para jantar e falar 'você já reparou como eu sou bonito, rico, charmoso?', ela vai responder 'na verdade, você é um babaca'. Se ele, sem dizer nada disso, conseguir passar tudo isso, ela vai se encantar. É exatamente isso que faz a boa publicidade.
Publicidade não vende, cria predisposição de compra. Quem vende é o dono da marca. Para criar predisposição você tem que ser sedutor.
BBC Brasil - Não mudou o conteúdo, mas a forma como ele é apresentado? A abordagem da publicidade precisa ser mais sutil?
Olivetto - Não, acho que cada vez mais a honestidade é uma ferramenta de venda fabulosa. Cada vez mais a sedução é eficiente. E não mudou a coisa de que você precisa ter uma grande ideia.
Outra coisa insuportável que a publicidade cria ciclicamente, que a sociedade cria, são clichês constrangedores do tipo "pensar fora da caixa", "quebrar paradigmas", "desconstruir", agora o "empoderamento feminino". Que são todos primos-irmãos de um baixo nível intelectual, são primos-irmãos do "beijo no seu coração". A gente tem que fugir desses clichês.
As pessoas ciclicamente saem repetindo essas loucuras. Eu brinco aqui, "se alguém falar em quebrar paradigma, vou jogar pela janela. Deixa o coitado do paradigma lá".
BBC Brasil - O empoderamento feminino seria o clichê mais recente?
Olivetto - O empoderamento feminino está participando de qualquer reunião. Empoderamento feminino se pratica, não se prega. Ele já existia na (campanha) Valisere Primeiro Sutiã. Existia no Garoto Bombril.
BBC Brasil - Na sua opinião, quando se fala sobre empoderamento feminino e não se mostra o que é, a mensagem fica mais pobre?
Olivetto - Exatamente. É que as pessoas não têm a cultura disso. As meninas que falam sobre empoderamento feminino precisariam saber uma história curiosa. No ano em que comecei a trabalhar, existia nos Estados Unidos um cigarro chamado Eve, um cigarro para mulheres. Foi um sucesso.
Anos depois, a Souza Cruz resolveu lançar um cigarro para mulheres chamado Charm. Quem fez a primeira campanha foi o José Zaragoza. Ele fez uma campanha brilhante que dizia 'No Brasil, toda mulher tem Charm'. Tinha um outdoor que tinha desde a Leila Diniz, o tesão do planeta da época, até a Clementina de Jesus, sambista negra maravilhosa. Charm foi lançado e foi um fracasso. Por quê? As mulheres acharam que era um cigarro para mulherzinha. Elas queriam fumar cigarros que nem de homem: empoderamento feminino.
Fui trabalhar na agência e tivemos que mudar a campanha. Ficou: "no Brasil, toda mulher tem Charm, só deixa de fumar se você gostar muito dele", e botamos um homem junto. Salvamos o Charm. Depois pusemos "o importante é ter Charm", que era genérico.
Tem que ter bom senso. Acho que a vida, cada vez mais, é um gesto atrelado ao bom senso.
BBC Brasil - Mas estamos vivendo um momento de extremos, de polarização. Falta bom senso?
Olivetto - Vai ter cada vez mais (extremismos), desde que não haja lideranças em cada uma das áreas. O consumidor pode e deve dar palpite, mas a principal função dele é consumir. Quero saber da opinião dele? Claro! Mas se a opinião dele for estapafúrdia e mais cinco estapafúrdios quiserem (o mesmo), não vou abrir mão das convicções da boa persuasão.
BBC Brasil - Você nunca fez campanhas políticas nem se candidatou a cargos públicos. Hoje, vários publicitários e comunicadores estão na política ou demonstram pretensões eleitorais, como João Doria, Luciano Huck e Roberto Justus. O que acha dessa tendência?
Olivetto - São fenômenos individuais. Nunca fiz nenhuma campanha política por atitude, mas acho que se fizesse faria mal, porque sou treinado para tomar decisões profissionais. E as decisões na política são políticas, não me daria bem.
O que vejo hoje é uma ansiedade do quadro social por novidades nessa área e uma necessidade dos partidos tradicionais de dizer que as novidades acontecerão. João Doria está no PSDB e ainda temos uma possibilidade do Luciano Huck, (passa a mensagem) 'a gente está de olhos abertos para o novo'.
BBC Brasil - Mas a estrutura partidária ainda é a mesma, não?
Olivetto - É, mas (o que acontece) é uma mistura da ansiedade da população com uma necessidade do partido. A questão da política é complicada, a capacidade de fazer acordos. Não me encanto com essa ideia das pessoas estarem se xingando e dois anos depois estarem se beijando.
BBC Brasil - Em outras entrevistas, você falou do conceito de "ética elástica" na política. É isso?
Olivetto - Ética elástica é muito bom....
Fui fazer uma vez uma palestra para o (sociólogo italiano) Domenico De Masi. O tema de todo seminário era desconstrução: da política, da sociologia, da lógica e a da comunicação, que era minha palestra.
Nessa palestra, contei uma história que preparei (para a ocasião), dizendo que tudo poderia estar na comunicação se tivesse vida inteligente, se fosse feito de forma inteligente.
É uma história aparentemente machista e que, no entanto, poderia ser feita, seria eficiente, encantaria os homens, que seria o público, e não desagradaria as mulheres. É a ideia de um monólogo do 'Por que Porsche é melhor do que mulher que, diga-se de passagem, é excelente'.
O target do Porsche é 100% dos homens. Mas por que Porsche 'é melhor do que mulher que, diga-se de passagem, é excelente'? É como um teorema, há uma comprovação.
Por que 2017 está sendo visto como ano da 'revolução psicodélica' na saúde
A primeira prova é que, se você tem um Porsche, que é muito bom, e você tem dinheiro para comprar mais um, você compra, e o Porsche que você já tem não fica aborrecido. Já (se) você tem uma mulher que, diga-se de passagem é excelente, e fica com vontade de ter mais uma mulher, você vai ter um problema. É a primeira prova da superioridade do Porsche.
A segunda prova é mais dramática. O sujeito tem um Porsche e resolve que não quer mais ter aquele Porsche. Ele vende o Porsche e ganha o dinheiro. Já (se) ele tem uma mulher que, diga-se de passagem é excelente, e resolve que não quer mais ter mais aquela mulher, ele perde o dinheiro.
A terceira prova é a mais dramática de todas. Quantos homens você conhece que têm um Porsche? Pouquíssimos. Quantos você conhece que têm mulher? Um monte. No entanto, todos os que têm Porsche têm mulher e nem todos os que têm mulher têm Porsche.
A história é essa e claro que as pessoas riem. Só que uma história dessa você teria que complementar no público feminino. Você faz o quê? Você contou isso nos cinemas, que seria o público do Porsche, e nas revistas femininas você faz o anúncio do Porsche conversível, com uma linda mulher de cabelos esvoaçantes e o título "um homem realmente interessante te dá de presente um secador de cabelos como esse".
BBC Brasil - Pensando no que as mulheres querem hoje, e falando também como mulher, essa ideia não pode ser vista como ultrapassada?
Olivetto - Isso está calcado num target muito fechado. Você controla isso com a mídia onde você veicula. Porque o Porsche é um produto totalmente segmentado. Você não põe o Porsche na novela das oito. Os consumidores de Porsche você sabe exatamente onde estão.
BBC Brasil - Mas para uma parte das mulheres esse tipo de propaganda seria inaceitável em qualquer meio, porque você está comparando uma mulher a um Porsche.
Olivetto - Mas aí você tem que cancelar a vida. Se partir desses princípios, você cria um mundo totalmente antisséptico. Vai chegar à conclusão dos caras do Fahrenheit 451 (romance de Ray Bradbury), que vale a pena queimar os livros.
A única maneira de você criar gente bacana, do bem, é as pessoas terem acesso a diversos tipos de informação e depois elegerem a que preferem. É a mesma (lógica) de quando surgiu o controle remoto. Falavam para mim: 'como vocês vão fazer agora que as pessoas podem mudar de canal?'. Eu respondia 'gente, antes de ter um controle remoto na mão, as pessoas têm na cabeça. Se não querem (ver), desligam a cabeça, não prestam atenção'

O CHARLATÃO DA IA

  O assunto ChatGPT está dando quase tanto ibope quanto o show da Madona na praia de Copacabana! O leitor Eduardo Medeiros disse ter “atualm...