Já disse uma vez que quem entende o real significado
de “saúde” é quem a perdeu. Na mesma linha de raciocínio, quem entende o que
significa uma dor intensa é quem a está sentindo ou já sentiu, pois não dá para
terceirizar essas sensações – seja sua falta ou o excesso delas. A coisa mais
irritante acontece quando você está rolando de dor devido a um cálculo renal,
com dificuldade até de respirar e vem alguém e sugere para tomar um chazinho de
folha de abacate. Eu já estive assim e fiquei até verde de tanto chá que tomei.
Mas a pedra só foi removida em uma clínica de urologia, quando estava apagado
com uma sedação.
A dor, as dores, as doenças podem ser tão
temidas, que desde os primórdios da humanidade o curandeirismo, a pajelança e o
charlatanismo andaram de braços dados com as boas práticas médicas.
A vantagem é que a Medicina está sempre
evoluindo, descobrindo novos remédios e tratamentos, mesmo que à custa de custa
do sacrifício e sofrimento de cobaias não humanas. Nesses casos, grosseiramente
poderia lembrar um ditado usado por um funcionário predador que conheci em uma
empresa, preocupado unicamente com sua ascensão profissional, quando dizia grosseira e descaradamente que “se o cu não é meu, pau nele”.
Como disse antes, a Medicina nunca para de
evoluir. Quando tinha uns dezesseis anos fiz uma consulta com um oftalmologista
mais velho que o rascunho da Bíblia. Durante a consulta, contou um caso ótimo
para rir nos dias atuais. Disse que guardava em sua casa a “mesa de amputação”
que fora de seu avô. Segundo ele, o tampo era uma prancha de madeira com uns 10
centímetros de espessura, com quatro argolas de ferro presas nos cantos da
mesa. As amputações tinham este ritual: primeiro o “paciente” era embebedado
com cachaça até ficar inconsciente; depois, dois escravos parrudos amarravam os
pés e mãos do infeliz nas argolas de ferro e o seguravam para que o médico,
fazendo uso delicado de serrote, facão ou sei lá o que separasse do corpo o
braço ou perna gangrenada. Davam-se os pontos necessários para parar o
sangramento e coisa e tal e a cirurgia terminava com pleno êxito. Provavelmente arrematada com o consumo da “anestesia” que tinha sobrado.
Um caso engraçado de curandeirismo e crendice
aconteceu na casa onde nasceu meu pai. Para entender melhor a situção, meu pai nasceu em um distrito com ruas de chão batido, onde viviam não mais que mil almas. Bem no início do século XX, trabalhavam
e moravam na casa de meu avô paterno duas irmãs, filhas ou netas de antigos escravos.
Segundo meu pai, todos tinham por elas o maior carinho e consideração. Um dia,
estranhando a ausência de uma delas, uma de minhas tias foi até seu quarto e a
encontrou deitada, esfregando folhas secas de alguma planta “medicinal” na barriga exposta.
Perguntada sobre a finalidade daquela pajelança, ouviu a explicação de que era
um santo remédio para acabar com cólicas. Não sei se funcionou, mas fico
tentado a imaginar que a coitada estava fazendo uma espécie de peeling pré-histórico na barriga.
Mas o que pega mesmo é a presença ainda hoje
do charlatanismo mais nocivo e mais abjeto. Um exemplo recente, de triste
memória, foi a defesa do uso da cloroquina para salvar as milhares de pessoas atingidas
pela Covid, que estavam morrendo sem poder ser vacinadas. Nem preciso citar
nomes, pois até as emas de Brasília conhecem essa triste história. Mas deixemos
essas lembranças para serem registradas e imortalizadas em livros de História.
Este assunto talvez continue em algum dos próchimos posts, quando
falarei rapidamente dos exames a que fui submetido hoje, pois estou sem vontade de escrever sobre isso. Hasta la vista, baby!
Talvez no meu blog, se eu não esquecer, eu coloco uma coisa sobre doenças e diagnóstico e tratamento. Provavelmente irei esquecer, mas pode ser que não.
ResponderExcluirAmanhã eu devo publicar um post sobre meus exames de hoje, mas tenho andado com tanta preguiça e sem inspiração que provavelmente sairá um texto merda e sem graça. Vamos ver.
ResponderExcluirÀs vezes pode ser depressão. Cuidado com isso. E o senhor já não precisa mais ser tão exigente consigo mesmo. Às vezes menos é mais.
ExcluirProvavelmente é, mas a falta de inspiração ajuda muito.
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