terça-feira, 24 de novembro de 2020

PUXANDO FERRO

 
Tenho um amigo virtual que imagino ser um dedicado “puxador de ferro”, um sujeito que malha metodicamente, toma suplementos vitamínicos legais (nada de anabolizantes!) e deve ter o corpo marombado. Admiro as pessoas que têm essa determinação e cuidado com o aspecto físico, pois há muito abandonei ideias como essa, até porque, se resolvesse mesmo fazer um upgrade jotabélico, precisaria descartar o corpo todo e ficar apenas com o cérebro (pensando melhor, talvez nem com ele!).
 
Mas já tive essa veleidade, o desejo de ficar com um corpo musculoso, admirado por todos, ou melhor, por todas. Antes que esse desejo se manifestasse de forma mais consistente e desde quando aprendi a ler, cansei de ver em revistas que lia ou folheava na casa de minha avó a propaganda de um método miraculoso criado por um tal de Charles Atlas. O autor, aparentando já ter uns cinquenta anos, normalmente era mostrado todo sorridente, sem camisa, braços cruzados, meio de perfil, forte pra caramba e com aquela expressão de “sou muito foda!”.  Em algum momento devo ter lido uma “reportagem” que falava de seu método, suas origens e coisas assim. Não vou transcrever nada, mas a internet traz algumas notícias sobre ele caso alguém se interesse em conhecer esse dinossauro do fisiculturismo.
 
A coisa mudou um pouco quando eu já estava com uns dezesseis, dezessete ou dezoito anos, pois era muito magro (IMC menor que 18). Um dia comecei a ver nas revistas que havia um concorrente do Charles Atlas velho de guerra. Chamava-se Joe Weider e fazia a mesma pose (braços cruzados, sem camisa, de perfil, etc.) A única coisa que mudava era a ausência de sorriso. E havia um preço razoável a pagar na compra de seu método, além da promessa de uma mudança fabulosa em apenas sete semanas. Impossível resistir.
 
Devo ter convencido minha mãe a comprar aquela merda, o que efetivamente foi feito. Recebi pelo correio um envelope pardo cheio de dicas sobre alimentação, motivação, estilo de vida e coisas do gênero, além de seis fascículos com a série de exercícios para cada uma das sete semanas. Se alguém notou o sublinhado, eu tinha recebido o pacote incompleto, faltando justamente os exercícios da segunda semana!
 
Por inexperiência, ignorância e desejo de pegar musculatura rapidinho, nem pensei em reclamar ou devolver o material. Meu irmão também se empolgou com a ideia e começamos diligentemente a fazer os exercícios da primeira semana. Era uma sequência demorada, pois você precisava aplicar a força de um braço contra a resistência do outro, de forma lenta mas intensamente. Nem todos os exercícios eram dessa forma, mas dava para suar legal.
 
Concluída a primeira semana, preparamo-nos para a começar a segunda, mas cadê o fascículo correspondente? A falta dessa série de exercícios teve um efeito broxante, pois começamos a repetir os mesmos exercícios, agora sem nenhum entusiasmo. Curiosamente, só hoje me ocorreu que poderíamos ter desprezado a segunda e passado direto para a terceira semana. Mas não pensamos nisso e o resultado foi ter abandonado aquela merda para lá. E continuei magro e esquelético como um espeto (embora hoje esteja "gordo como um major", como diria Luiz Gonzaga).

Guardei aquele material inútil por algum tempo, até dá-lo de presente para um de meus primos (e não me lembro de como surgiu essa ideia). O que sei é que um dia ele apareceu lá em casa (casa da minha avó, na verdade) forte igual a um touro. Ele é baixinho (para mim, pelo menos), mas estava super musculoso.
 
Assustado com a mudança, perguntei o que tinha feito para ficar assim. A resposta foi surpreendente: fez duas vezes as séries de exercícios dos fascículos que dei a ele de presente. Quatorze semanas! Filho da puta!

Depois disso, começou a montar uma mini academia em sua casa e o resto não sei mais, pois só nos encontramos em velórios de tios, artigo cada vez mais escasso hoje em dia. E fim.

22 comentários:

  1. malhar é bom - esvazia a mente
    nao sou marombado, mas to evoluindo

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    1. Imagino que não é o seu caso, mas o que me deixa preocupado é que nem sempre a preocupação com a saúde anda de mãos dadas com os músculos. Conheço um sujeito que era mega musculoso, mas tomava bomba direto.Para ele, saúde era uma coisa para se preocupar no futuro.

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    2. Tenho um velho amigo que era faixa-preta de judô, federado e tudo e que dava aulas numa academia, aulas de judô e de condicionamento físico. Certa vez, nem me lembro como, ele me convenceu a treinar com ele, fazer uns exercícios localizados etc e tal. Tentei por duas longas semanas e deixei para lá. Tínhamos nem trinta anos na época.
      Hoje, ele é responsável pelo setor de informática de uma faculdade e engordou uns trinta quilos - e talvez eu esteja sendo bonzinho. Eu, que também já tive IMC abaixo de 18, e que nunca fui de maromba, o mantenho em torno de 20, 21. Nunca quis ser fortão, mas, agora que você falou, me lembro do método Charles Atlas, acho que tinha propaganda dele na quarta capa dos gibis.

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    3. Confesso que não me lembro onde saiam as propagandas desse método, mas na Wikipédia diz que “seu método de exercícios que ficou mais conhecido pelos anúncios em revistas em quadrinhos, numa das mais memoráveis campanhas publicitárias de todos os tempos”.

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    4. esses metodos funcionam, mas hoje tem-se ainda mais facilidades
      não acho q todo mundo devia fazer musculação, mas praticar atividade física regular já é recomendação médica
      nadar, correr, jogar tenis - há muitas opções...

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    5. Eu nadava duas vezes por semana até a pandemia chegar. Agora, só depois de tomar a coronavac.

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    6. vc ainda pode treinar em casa
      flexoes
      abdominais
      corrida estacionária etc

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    7. Meu caro, eu tenho 70 anos e artrose no joelho, não consigo correr e às vezes ando mancando. Quanto às flexões, vou pensar.

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    8. instala um piscina de plastico (decente) e faz exercícios para as pernas deitado/boiando na água

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    9. Vou acabar te contratando como meu personal trainer! Gostei da sugestão. Aqui em casa existe um cachorro com defeito congênito na articulação do osso da perna com o quadril. Ele toma um remédio veterinário chamado Condroton, alguma coisa de condroitina, se não me engano (caro pra caramba), que vem no formato de pílula ou comprimido. Curiosamente, até onde sei não há essa versão para humanos, só um pozinho chato pra caramba. Há médicos que torcem o nariz para ele, mas o Zulu é uma prova de que a coisa funciona. às vezes penso em tomar a versão veterinária.

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    10. https://www.google.com/search?q=condroitina&oq=condroitina&aqs=chrome..69i57j69i65l2&sourceid=chrome&ie=UTF-8

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    11. Rapaz, você é um gênio! Eu só conhecia a versão "sachê", bastante desagradável para tomar, pois precisa ser misturada com água (e não se mistura, a não ser com muito esforço). Valeu!

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    12. https://www.instagram.com/p/CHsWTA_htnu/

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    13. cara, normalmente o sache vem com gosto de laranja
      já tomei muito assim da oficial farma, por exemplo
      o gosto é razoável
      as vezes misturava com limao pra melhorar o sabor

      abs!

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    14. Sim, é verdade, mas quem chegou a tomar alguns foi minha mulher, (que detestou, pois era difícil de misturar).

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    15. Os joelhos de minha mulher sempre foram problemáticos, muito antes dos meus começarem a "guinchar". Hoje, por exemplo, ela não consegue mais ajoelhar. Ela ganhou amostras de "Condroflex", mas refugou. Chegou a pensar na hipótese de encapsular o pó nessas farmácias de manipulação, mas o preço pedido era caríssimo. por isso, abandonou a ideia, deu para uma cunhada as amostras que tinha ganhado e o assunto morreu por aí.

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    16. testa esse:
      https://www.google.com/search?q=uc+ii+40mg&oq=uc+ii&aqs=chrome.1.69i57j0i433j0l6.5683j0j4&sourceid=chrome&ie=UTF-8

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    17. esse cara deixa minha mania de organização no chinelo:
      https://www.ime.usp.br/~vwsetzer/muscu.html

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