O texto de hoje tem a característica de boa
parte ou quase tudo do que foi publicado aqui no Blogson: fala de mim, de
minhas lembranças. Talvez isso possa ser considerado uma espécie de jotabecentrismo, mas tenho certeza de
que um leitor em particular gostará: o organizadíssimo e metódico Scant, meu amigo
virtual.
Nos últimas semanas fui sequestrado e
intimado por minha mulher a organizar um cômodo que temos nos fundos da casa. Sua
destinação original era para ser o “quarto da empregada”, um quarto onde a
funcionária conseguisse dormir na horizontal, sem precisar ficar em posição
fetal. Havia (há) também um banheiro com entrada independente, equipado com todos os equipamentos sanitários e utilidades necessários. Resumindo, instalações dignas e confortáveis para quem nos auxiliasse nas
tarefas domésticas e quisesse dormir no emprego. Esqueci-me de dizer que há uma cama de solteiro feita de
alvenaria, ideal para tornar desnecessária a varrição debaixo dela.
O problema é que nunca tivemos empregada, pois
minha mulher nunca gostou dessa ideia. Por isso, o quartinho foi aos poucos se
transformando em biblioteca, saleta para ouvir discos de vinil (a cama virou sofá), arquivo
morto, depósito de objetos provisoriamente descartados e, mais recentemente,
almoxarifado e despensa para guardar as compras estrategicamente feitas para suportar um isolamento iniciado em março deste ano sem precisar nem abrir o portão da rua. Resumindo, aquele ambiente
outrora acolhedor e confortável acabou virando uma zona.
E é aí que eu entro. Nessa arrumação redescobri as caixinhas
de fósforos esquecidas em uma prateleira alta e minha coleção de revistas HQ,
objetos que motivaram alguns posts recentes neste blog sem assunto. A guarda de
nada disso foi contestada por minha mulher (ainda bem). Mas, em determinado
momento da faina organizatória, depois de bater o olho em uma caixa-box (há
várias) onde está escrito “Imposto de Renda”, perguntou o que eu pretendia fazer
com aquilo. A primeira reação foi dizer que iria pegar a papelada espalhada em
meu armário, juntar com as velharias da caixa, organizar tudo e jogar fora o que
fosse inservível (“recibo da dentista...” com data de 1997, por exemplo).
Mas aí meu TOC moderado se manifestou e eu
resolvi descobrir ao longo de minha vida profissional o que meu trabalho
assalariado representou quando convertido em dólares e em salários mínimos (meu TOC é relacionado a números e estatísticas, nunca a organização). E
me diverti horrores fazendo isso, pois a constante mudança de moedas ocorrida entre
as décadas de 1985 e 1994 provocou a necessidade de pesquisar séries
históricas e conversões, dando um trabalho do cacete (mas divertidíssimo). O que resultou disso? Algumas curiosidades
que passo a registrar/relembrar:
- Recebi meu primeiro salário como engenheiro em 1974 (recém formado), mas desde o final da minha adolescência até os dias atuais o Brasil dançou ao
tilintar das seguintes moedas (eu estava lá!):
Cruzeiro (Cr$): até fevereiro de 1967
Cruzeiro Novo (NCr$): de fevereiro/1967 a maio/1970
Cruzeiro (Cr$): de maio/1970 a fevereiro/1986
Cruzado (Cz$): de fevereiro/1986 a janeiro/1989
Cruzado novo (NCz$): de janeiro/1989 a março/1990
Cruzeiro (Cr$): de março /1990 a julho/1993
Cruzeiro Real (CR$): de agosto/1993 a junho/1994
Real (R$): desde julho/1994
Duas dessas mudanças mereceram um comentário
irônico do pessoal do Pasquim: “Cruzeiro,
Cruzeiro Novo e Cruzeiro de novo”.
- No ano de 1998 o salário mínimo foi
alterado doze vezes(!), um novo valor a cada mês daquele ano. E seu valor no mês de dezembro era (foi) quase nove vezes maior que o de janeiro (CZ$4.500,00 e CZ$40425,00).
- A zona causada pela inflação descontrolada esteve tão braba que em três daqueles anos (1992 a 1994) a declaração de rendimentos para fins de imposto de renda fornecida pela empresa onde eu trabalhava foi expressa em UFIR
– Unidade Fiscal de Referência.
- E esse é o dado pessoal (e final) resultante
da minha “pesquisa histórica”:
Ao me aposentar (2009), minha renda (mesmo
com complementação de aposentadoria) sofreu uma queda de 40% em relação à média
salarial dos anos “trabalhados” (1974 a 2009). Depois disso, só me falta
encerrar este post com a excelente reflexão de meu amigo Scant:
“na
vida não há lucro real - todo mundo sai com menos do que carregava quando
chegou, ou seja, nem o corpo se leva”.
não sei como vc resistiu em fazer um gráfico com números fictícios , mas talvez proporcionais, a sua remuneração em todos esses anos
ResponderExcluirsempre imaginei que engenheiros tivessem taras por essas curvas
Eu fiz, só não divulguei.
ExcluirE te dou mais uma informação: não sei explicar o motivo, mas convertidos em dólar, eu "ganhei" mais como aposentado que quando trabalhava. Os economistas de plantão talvez tenham uma explicação para isso, mas não tive saco de procurar a resposta.
Excluirse deu bem
Excluirtomara que eu tenha essa sorte!
fiz um post semelhante em 2019 (concursos públicos salvaram minha vida)
(https://scantsa.blogspot.com/2019/04/minha-carreira-profissional-como.html)
ExcluirSenti até o cheiro dos gibis daqui. Quais deles encontrou?
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