quarta-feira, 18 de novembro de 2020

JOEL SILVEIRA ERA O CARA! (APRESENTADO POR OZYMANDIAS REALISTA)

 
Como tenho pós-doutorado em ignorância, nunca tinha ouvido falar em Joel Silveira. Descobri na internet que foi um jornalista e escritor brasileiro que morreu em 2007 - depois de ter acompanhado a FEB na Itália, escrito 40 livros, recebido algumas premiações e ter sido preso várias vezes durante o Estado Novo e, depois, na ditadura militar. Sinal de que tinha a língua afiada. Tão afiada que ao contratá-lo para os Diários Associados o lendário Assis Chateaubriand o chamou de Víbora (“Seu Silveira, o senhor é uma víbora! O senhor vai trabalhar comigo!").
 
Graças à gentileza de meu amigo virtual Ozymandias, tomei conhecimento de alguns elogios imerecidamente a mim dirigidos, mas, principalmente, de algumas das frases inteligentes e cortantes do jornalista. Para não plagiar meu amigo Ozy, escolhi algumas das que transcreveu em seu blog, retirei  as que faziam referências a personalidades do cenário político brasileiro e mundial, coloquei em ordem alfabética (TOC) e resolvi postá-las aqui no velho Bloogson, como se fossem doses de vacina (nacional!) contra a mediocridade dos textos que escrevo e publico no blog da solidão ampliada. 
 
E agora, as frases selecionadas: 

As unanimidades no Brasil são tão unânimes que sequer admitem suplentes.
 
Cada dia conheço menos gente e cada dia me conheço melhor. Lucro no primeiro caso, perco no segundo.
 
De seis em seis meses tudo muda no Brasil. Só o Brasil não muda.
 
Desconfio muito da caridade trombeteada, dessa espécie que só se manifesta com a presença da mídia e sob a luz dos refletores.
 
Em certos livros o prefácio mais parece um pedido de desculpas.
 
Estar vivo é estar condenado. E ter certeza de que a última batalha será perdida.
 
Estou penosamente fazendo o meu imposto de renda quando sou surpreendido por um amigo que vive a glória de uma maturidade sadia e operosa – e que me diz:
-- Você é um privilegiado. Já setentão, pode enfileirar uma porção de vantagens, isenções, e tudo o mais que a velhice tem direito.
Respondo:
-- Pode ser. Mas prefiro as desvantagens dos quarenta, e mais ainda os percalços, desatinos e temeridade dos trinta, nenhum deles isento, todos a declarar.
 
Eu nunca vi na vida um rei que não estivesse nu.
 
Eu sou eu e meus efeitos colaterais.
 
Há muita gente por aí confundindo (ou fingindo confundir) notável com notório.
 
Há um tanto de pesadelo em toda lembrança antiga.
 
Hoje, a cautela é minha principal virtude.
 
Jornalista que vira assunto passa, como jornalista, a não merecer a menor confiança.
 
Lembrança velha dói tanto quanto remorso.
 
Me peçam o que quiserem, mas não me peçam para pedir. Pedir violenta a minha natureza e desmantela o meu metabolismo.
 
Não fazendo dela uma inimiga, a insônia pode se tornar um excelente investimento.
 
Ninguém pode proclamar-se livre se não tem direito de dormir pelo menos uma hora após o almoço.
 
Nunca dou conselhos – Ou não os dou mais. Pois agora já sei que todo conselho pedido nunca é aquele que se espera receber.
 
O ciúme não é mais que um acúmulo de hematomas, sempre renovados.
 
O desagradável no suicídio é que o corpo raramente toma uma posição decente.
 
O mais irritante na morte é a sua absoluta falta de senso de humor. A morte talvez seja o único profissional que não brinca em serviço.
 
O que pesa não são os anos – o que pesa mesmo são os quilos.
 
Os fracassos no Brasil doem mais porque somos um país de triunfalistas por antecipação. Por isso, quando perdemos, o que acontece quase sempre, o apressado “já ganhou” ganha cores mais funéreas, e as derrotas, as proporções mais catastróficas.
 
Por ser sincera, por não ser hipócrita – como é intolerante a moral dos pobres!
 
Pouco adianta se a palavra é leve quando a mão é pesada.
 
Quem esteve numa guerra de verdade sabe que o que nela primeiro se perde é o pudor. Em seguida, os escrúpulos, todos eles.
 
Recém-saída de uma clínica especializada em recauchutagem corporal, a socialite proclama aos quatro ventos, exultante:
-- Meu bumbum está uma coisa!
Só falta acrescentar:
-- Sirvam-se!
 
Se você não sabe nadar, é arriscado ou no mínimo imprudente dizer que dessa água não beberei.
 
Sei por experiência própria: passar dos setenta nos dá a sensação de estarmos usufruindo de um tempo que não nos pertence mais. O que não deixa de ser um roubo.
 
Simplifiquemos as coisas e economizemos nas palavras: idiota é todo aquele cujas opiniões não coincidem com as nossas.
 
Velho não precisa mentir, nem ser hipócrita. Não precisa mais disso.
 
Velório: encontro de hipócritas, maus piadistas e parentes que se detestam.


Se gostou da amostra, vale a pena acessar o texto completo de meu amigo Ozy para ler o restante das ótimas frases e textos do jornalista. O link é este:

2 comentários:

  1. Opa, Jotabê, só agora deu pra vir aqui, já que esse sistema de comentários não me permite comentar lá pelo trabalho. Fiquei surpreso pelo Marreta também não conhecer o Joel. Tô sentindo que esse ano finalmente leio esse livro até o fim. Mas, lembra bastante o blog aqui, nossa plataforma foi lançada em 1999. Se Joel tivesse esperado mais 5 anos, tinha lançado o primeiro Blogson na rede.

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    1. Ele era muito bom, muito melhor que todos os blogueiros (o cara escreveu 40 livros, pertenceu à nata do jornalismo, ganhou prêmios por suas reportagens! Ele nunca precisou de um blog tipo Blogson ou qualquer outro. Ele era o cara!

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