Como
tenho pós-doutorado em ignorância, nunca tinha ouvido falar em Joel Silveira.
Descobri na internet que foi um jornalista e escritor brasileiro que morreu em
2007 - depois de ter acompanhado a FEB na Itália, escrito 40 livros, recebido
algumas premiações e ter sido preso várias vezes durante o Estado Novo e,
depois, na ditadura militar. Sinal de que tinha a língua afiada. Tão afiada que
ao contratá-lo para os Diários Associados o lendário Assis Chateaubriand o chamou de Víbora (“Seu
Silveira, o senhor é uma víbora! O senhor vai trabalhar comigo!").
As unanimidades no
Brasil são tão unânimes que sequer admitem suplentes.
Cada dia conheço
menos gente e cada dia me conheço melhor. Lucro no primeiro caso, perco no
segundo.
De seis em seis
meses tudo muda no Brasil. Só o Brasil não muda.
Desconfio muito da
caridade trombeteada, dessa espécie que só se manifesta com a presença da mídia
e sob a luz dos refletores.
Em certos livros o
prefácio mais parece um pedido de desculpas.
Estar vivo é estar
condenado. E ter certeza de que a última batalha será perdida.
Estou penosamente
fazendo o meu imposto de renda quando sou surpreendido por um amigo que vive a
glória de uma maturidade sadia e operosa – e que me diz:
-- Você é um privilegiado. Já setentão, pode enfileirar uma porção de vantagens, isenções, e tudo o mais que a velhice tem direito.
Respondo:
-- Pode ser. Mas prefiro as desvantagens dos quarenta, e mais ainda os percalços, desatinos e temeridade dos trinta, nenhum deles isento, todos a declarar.
Eu nunca vi na
vida um rei que não estivesse nu.
Eu sou eu e meus
efeitos colaterais.
Há muita gente por
aí confundindo (ou fingindo confundir) notável com notório.
Há um tanto de
pesadelo em toda lembrança antiga.
Hoje, a cautela é
minha principal virtude.
Jornalista que
vira assunto passa, como jornalista, a não merecer a menor confiança.
Lembrança velha
dói tanto quanto remorso.
Me peçam o que
quiserem, mas não me peçam para pedir. Pedir violenta a minha natureza e
desmantela o meu metabolismo.
Não fazendo dela
uma inimiga, a insônia pode se tornar um excelente investimento.
Ninguém pode
proclamar-se livre se não tem direito de dormir pelo menos uma hora após o almoço.
Nunca dou
conselhos – Ou não os dou mais. Pois agora já sei que todo conselho pedido
nunca é aquele que se espera receber.
O ciúme não é mais
que um acúmulo de hematomas, sempre renovados.
O desagradável no
suicídio é que o corpo raramente toma uma posição decente.
O mais irritante
na morte é a sua absoluta falta de senso de humor. A morte talvez seja o único
profissional que não brinca em serviço.
O que pesa não são
os anos – o que pesa mesmo são os quilos.
Os fracassos no
Brasil doem mais porque somos um país de triunfalistas por antecipação. Por
isso, quando perdemos, o que acontece quase sempre, o apressado “já ganhou”
ganha cores mais funéreas, e as derrotas, as proporções mais catastróficas.
Por ser sincera,
por não ser hipócrita – como é intolerante a moral dos pobres!
Pouco adianta se a
palavra é leve quando a mão é pesada.
Quem esteve numa
guerra de verdade sabe que o que nela primeiro se perde é o pudor. Em seguida, os
escrúpulos, todos eles.
Recém-saída de uma
clínica especializada em recauchutagem corporal, a socialite proclama aos
quatro ventos, exultante:
-- Meu bumbum está uma coisa!
Só falta acrescentar:
-- Sirvam-se!
Se você não sabe
nadar, é arriscado ou no mínimo imprudente dizer que dessa água não beberei.
Sei por
experiência própria: passar dos setenta nos dá a sensação de estarmos usufruindo
de um tempo que não nos pertence mais. O que não deixa de ser um roubo.
Simplifiquemos as
coisas e economizemos nas palavras: idiota é todo aquele cujas opiniões não
coincidem com as nossas.
Velho não precisa
mentir, nem ser hipócrita. Não precisa mais disso.
Velório: encontro
de hipócritas, maus piadistas e parentes que se detestam.
-- Você é um privilegiado. Já setentão, pode enfileirar uma porção de vantagens, isenções, e tudo o mais que a velhice tem direito.
Respondo:
-- Pode ser. Mas prefiro as desvantagens dos quarenta, e mais ainda os percalços, desatinos e temeridade dos trinta, nenhum deles isento, todos a declarar.
-- Meu bumbum está uma coisa!
Só falta acrescentar:
-- Sirvam-se!
Se gostou da amostra, vale a pena acessar o texto completo de meu amigo Ozy para ler o restante das ótimas frases e textos do jornalista. O link é este:
Opa, Jotabê, só agora deu pra vir aqui, já que esse sistema de comentários não me permite comentar lá pelo trabalho. Fiquei surpreso pelo Marreta também não conhecer o Joel. Tô sentindo que esse ano finalmente leio esse livro até o fim. Mas, lembra bastante o blog aqui, nossa plataforma foi lançada em 1999. Se Joel tivesse esperado mais 5 anos, tinha lançado o primeiro Blogson na rede.
ResponderExcluirEle era muito bom, muito melhor que todos os blogueiros (o cara escreveu 40 livros, pertenceu à nata do jornalismo, ganhou prêmios por suas reportagens! Ele nunca precisou de um blog tipo Blogson ou qualquer outro. Ele era o cara!
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