Outro dia fiquei surpreso e até incomodado ao
ler no Facebook comentários seríssimos, sisudos, provocados por um texto de puro humor, uma
piada engraçadíssima, pois nunca imaginaria que um texto destinado apenas a
provocar risos em quem o lê seria objeto quase de uma dissertação de mestrado.
E mais uma vez levantei esta questão: “Estamos
perdendo a capacidade de rir?” Essa minha impertinência pode ser explicada
pela matéria prima utilizada para construir o esqueleto do Blogson. Nessa
matéria primeva estavam embolados o humor, a sátira e a ironia que – mesmo de
má qualidade – esguichavam de e-mails encaminhados para meus filhos e um
pequeno grupo de amigos.
Depois de esgotar essa lavra, continuei
perseguindo a ideia de tentar entreter e seduzir os raros leitores do blog com
textos e desenhos com foco no mesmo tipo de humor que utilizava nos antigos
e-mails. Para ser sincero, fazendo uma comparação dos resultados assim obtidos,
diria que a nova produção sempre foi apenas “mais do mesmo”. Mas isso nunca me incomodou,
pois continuo perseverando na tentativa de divertir os leitores do Blogson (e a
mim mesmo).
Talvez por achar a Vida uma merda (a minha,
pelo menos) eu precise de algum antídoto (mesmo que seja de fabricação chinesa)
para suportar o dia a dia. E esse antídoto é o riso, o sorriso, a risada, a
gargalhada, o relincho provocado pelo humor em todas as suas opções, desde a piada mais light e bem comportada, passando pela ironia, pelo sarcasmo, pelo deboche
e pelo politicamente incorreto, até chegar ao humor mais negro e doentio (que os gringos chamam de dark humour).
Por isso meu espanto e preocupação descritos
no início. Às vezes eu penso que o humor – uma das maiores provas da existência
de vida inteligente – é malvisto e mal tolerado por uma imensidão de pessoas,
como se o riso, o deboche e a ironia fossem “provas” de irresponsabilidade,
inconsequência e imaturidade, pois para muitos não é de “bom tom” alguém sentir
vontade de rir despreocupadamente. Qual é o problema se isso acontece? Afinal,
só existe uma rainha da Inglaterra!
Hoje, apesar da onipresença dos smartphones, utilizados
para fazer uma selfie (sempre) sorridente, fico tentado a pensar que estamos
voltando a um tempo em que o riso talvez não fosse tão bem tolerado, tempo do escritor Mark Twain (logo ele!), que considerava
condenável exibir um sorriso ao ser fotografado, coisa de gente
estúpida no seu entendimento: “Uma fotografia é um documento importante, e não há nada mais
condenável para a posteridade do que um sorriso tolo capturado e mantido para
sempre”. Para ele, mesmo sendo extremamente irônico, não pegava bem registrar que as pessoas podem não ser sérias e sisudas o tempo todo. Ou que podem ser capazes de rir mesmo sem ser tolas.
Eu não tiro selfies e sou pouco fotografado
em festas (não por vontade própria, talvez por julgamento estético de quem maneja a câmera), mas me atiro no blog com toda a falta de
vergonha possível. Se isso faz com que eu pareça ser um tolo, um ingênuo ou alguém digno de
pena, não estou nem aí. Quando o número de “seguidores” (detesto essa palavra!) do Blogson passou de dois para nove eu me assustei e comecei a me autopoliciar para não
“manchar” minha imagem. Comecei a escolher textos e assuntos (melhor forma de se
castrar a criatividade) que pudessem estar à altura dos novos amigos.
Mas resolvi mudar. Vou cada vez mais focar em
piadas idiotas, trocadilhos deploráveis e comentários que um idoso nunca
deveria fazer. Foda-se! Como minha expectativa de tempo de vida é baixa, eu quero é rir,
mesmo que seja sozinho, mesmo que seja de mim mesmo, em qualquer lugar. Back to
basic! Porque agora o que eu quero mesmo é entrar para uma confraria que
cultive e aprecie o riso. E que ele seja crítico e politicamente incorreto, provocado
pela ironia, sarcasmo, deboche ou maledicência. Se não existir, vou acabar
criando uma. E, lembrando-me de uma piada antiga sobre um grupo de crianças no
zoológico, já tenho até nome: Confraria
das Hienas.
Falando em hienas:
ResponderExcluirhttps://ozymandiasrealista.blogspot.com/2020/11/apresentando-joel-silveira-ao-jotabe.html
Adorei o texto! E obrigado pelos elogios. Aguarde-me.
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