segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

FESTA NA COLÔNIA

Graças a uma casualidade própria das redes do Facebook, acabei fazendo contato com um dos genros do meu saudoso amigo Luis Felipe Pintão. Mandei para ele o link do primeiro dos quinze posts dedicado a seu sogro e parece que gostou. Mas “desafiou-me” a lembrar de mais casos. O maior problema é que já se passaram mais de vinte anos desde o tempo em que trabalhávamos na mesma empresa. As lembranças vão ficando esmaecidas, desbotadas, borradas como uma folha de papel impressa a jato de tinta e que foi respingada com água. Dá para lembrar de alguma coisa, mas muitos trechos ficam “ilegíveis”.

Apesar dessa limitação, fiquei com isso na cabeça e acabei por me lembrar de um caso em que o protagonista não foi meu amigo, mas um de seus irmãos (aparentemente, tão aloprados quanto ele). A história é a seguinte:


Um de seus irmãos foi comandante de navio da marinha mercante. Nas idas e vindas pelos mares e portos do mundo, conheceu uma alemã, com quem se casou. Creio que fixou residência no sul do país, em cidade com forte presença de alemães e, obviamente, de seus descendentes. Muito bem.

Um dia, foi a uma festa de aniversário de um dos ilustres membros da colônia local, um alemão já bem velhinho. Segundo meu amigo Pintão, depois de devidamente calibrado, seu irmão resolveu fazer um discurso em homenagem ao aniversariante. Nenhum problema haveria nisso, não fosse o fato do discurso ter sido feito em “alemão” e que o orador não soubesse porra nenhuma dessa língua.

Já chapado, começou seu discurso com um entusiasmo que só aumentava, gesticulando de forma teatral e dizendo coisas desse tipo (lembrando-me do Pintão a imitar os gestos e o discurso, peguei um texto em alemão e saí trocando letras, só para dar a sensação de um discurso inacreditavelmente sem noção):

Mein fichndicht dor wort dichetrch ichn ranichr lotanicichn form thichodircich ichrrtmolr ichm einsbein ichm rynodichn bichricht dichr päprtlichchichn nenticher???
Mein enichrt ollichrdichngr bichr hichetich, ob domolr marlene dietrich toträchlichch da rprochich dichr wolkichr ichn dichetrchlond (ichm dichetrichn rprochroem) gichmant wor???
As aftas ardem e doem wichnichg dichetlichchichr wichrd das wichrbichndeng zem lond dichr dichetrchichn ichrrt zwa johrich rpätichr...
Fohnichnflecht eod thichodichrco lichngeo horichrlichz dichcichter an andichetichgichr bichlichg bichratr anich wondleng won eichnsbeichn ichn zu dichetrchich prochich wollzogichn sprach wor deutsche leben!!! Obrigado!

Segundo o Pintão, seu mano foi entusiasticamente aplaudido (já devia estar todo mundo bêbado mesmo!). O homenageado aproximou-se com os olhos lacrimejantes e agradeceu:

- “Fiquei muito comovido e emocionado com suas palavras, mas confesso que não entendi nada do que o senhor disse. Imagino que deve ter falado em um dialeto que desconheço”.

- “Claro, claro”, teria sido a provável resposta do brother, capaz de fazer coisas tão sem noção quanto meu amigo Pintão.


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