LEMBRANÇAS ESPARSAS
Recentemente, conversando sobre meu falecido
amigo Pintão, lembrei-me de dois casos que ele me contou quando trabalhávamos
na mesma empresa. Por serem muito curtos, resolvi deixá-los de fora quando resolvi
registrar as histórias hilárias que nos contou ao longo do tempo. Bora lá.
Meu amigo ficou viúvo muito moço. Um dia,
provavelmente conversando sobre nossa descrença no espiritismo e afins, ele
contou um caso ocorrido quando já estava casado novamente (com uma senhora
simpaticíssima). Como era um autêntico bibliófilo, converteu um dos cômodos da
casa em biblioteca, onde ficavam expostos e organizados em prateleiras
metálicas seus amados livros (mais de cinco mil). Provavelmente, um lugar onde
passava a maior parte de suas horas de folga.
Era dia de seu aniversário e ele estava
sentado nessa biblioteca quando, sem nenhuma explicação plausível (rajada de vento,
netos ou filhos brincando de esconde-esconde, ratos ou gatos, tremor de terra,
etc.), um livro caiu da estante. Levantou-se, apanhou o livro para recolocá-lo
no lugar quando viu que era um livro dado a ele de presente de aniversário por
sua primeira esposa. E tinha uma dedicatória que era algo assim: “para o meu amado (ou ‘querido’) Luiz Felipe,
etc.”. Surpreso com a coincidência, teria murmurado “Obrigado, Silvinha”.
E ficamos ali, pensando sobre os mistérios e
coincidências do mundo. Esse caso, tão delicado e íntimo, eu preferi nunca
registrar, pois era muito, muito pessoal. Hoje, passados tantos anos desde seu
falecimento, achei que seria mais uma oportunidade para homenagear sua lembrança
e de mantê-lo “vivo”.
HAJA CU!
A desvantagem de contar lembranças é a chance
de já tê-las contado antes e não se lembrar disso. É outro caso “made in” Pintão. Trata-se de um episódio
acontecido durante o Estado Novo com o pai de um de seus amigos de juventude. O
sujeito chamava-se Alberto Jacoud. Sabe
lá Deus por qual motivo, mandou um telegrama irônico para o Getúlio Vargas com
essa mensagem: “Estou com a ditadura. A.
Jacoud”. O trocadilho sacana teria rendido ao pai de seu amigo alguns meses
na cadeia.
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